segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Higiene na Habitação

Os conceitos de higiene desenvolveram-se nos meios médicos a partir de meados do século XVIII. Na base destas noções estiveram teorias como o racionalismo científico e outras, que se deviam às novas transformações sociais e industriais.
Em Portugal não se pode falar deste tema sem mencionar Ricardo Jorge (1858-1939), um pioneiro, como os seus livros «Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa» de 1884 e a «Demografia e Higiene da cidade do Porto» (1899). Mais tarde foi criado o Instituto Central de Higiene, que posteriormente foi o Instituto Superior de Higiene e que grande influência teve na divulgação e estudo desta matéria.
A divulgação na Europa, nas primeiras décadas do século XIX, da chamada doutrina higiénica ou higiene científica teve influência, numa primeira fase, no espaço urbano. Na segunda metade do século XIX essa preocupações alargaram-se também ao espaço doméstico, abrangendo sobretudo as cozinhas e as casas de banho.
Apesar dos conselhos às donas de casa para aceitarem estes princípios foram os publicitários quem primeiro assimilou estas ideias. Os anúncios aqui reproduzidos demonstram-no e têm que ser compreendidos dentro dos conceitos de divulgação da sanidade, instalações eléctricas e canalizações, que então davam os primeiros passos.
O anúncio à casa Ramiro Pinto & Cª publicado na contracapa do «Programa das Festas da República de 1913» é um bom exemplo. Situada na Rua Augusta 143-146, em Lisboa, vendia todo o tipo de candeeiros de iluminação mas também tudo o necessário para construir uma moderna casa de banho, para além de fazer a instalação de água, gás, esgotos e eletricidade.
 Como noticiado na revista «Occidente» de 1908, este estabelecimento tinha sido inaugurado a 1 de Outubro desse ano (1). Esta casa foi uma das primeiras do género o que o redactor atribuía ao facto de os seus proprietários António Cardoso de Oliveira e o sócio Ramiro Montes Pinto serem conhecedores nestas áreas do comércio e indústria. O segundo, em particular, tinha grande experiência nas actividades referidas, tendo antes trabalhado durante dez anos na casa Júlio Gomes Ferreira & Cª (2).
E o jornalista terminava o artigo regogizando-se com este progresso na nossa capital e convidando os leitores a visitarem a magnífica exposição de candeeiros e todos os artigos de bom gosto que podiam permitir a modernização das habitações.
Em 1913 esta já não era a única casa do género, como o comprovam mais dois anúncios publicados no Programa das Festas da República. Na Rua Augusta, nº 118, 3º, a firma Lobo da Costa oferecia também os seus serviços na mesma área. Com uma publicidade mais simples e cheia de humor, mas saída da mesma mão (assinadas Afonso), contrastava com a magnificência da arte–nova utilizada para a Ramiro Pinto & Cª.
Um outro anúncio menos elaborado representava o interior de uma casa de banho num modelo da casa Sampaio & Mattos, situada no Porto, na Rua Elias Garcia, 59. Nela se mostravam vários tipos de banheira e um chuveiro complexo, primórdio dos duches de jacto hoje existentes.
A higiene regular do corpo começava a ser uma preocupação.

(1) Fotos da casa Ramiro Pinto & Cª publicadas na «Occidente» tiradas da Hemeroteca Digital e trabalhadas.
(2) Responsável por obras importantes como a canalização de esgoto da Casa Professa de São Roque (Igreja e Museu de São Roque), a instalação eléctrica do Aviz Hotel e a montagem de elevadores no Hotel Aliança e do Hotel Sul Americano, entre outros.

5 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...

Delicioso 'limpo' este post!

Boa Páscoa!

Ana Marques Pereira disse...

Acácia Rubra,
Obrigada.
Uma Boa Pascoa para si também.

T disse...

Alonso, o grande ilustrador e caricaturista:)

Ana Marques Pereira disse...

Teresa,
Obrigado pela corecção subtil. Trata-se efectivamente de Alonso.
Um bj

T disse...

Estava eu a ler um livro de André Brun ilustrado pelo dito cujo Alonso. Dois mestres. E a Ana é outra:) Aprendo sempre quando aqui venho e por isso gosto de cá vir. Um beijo:)