Há peças que passam por nós sem que algumas vezes as consigamos identificar. Olhamos, mas não vemos. Passou-se comigo isso com o “Frasco do vidreiro», até o conhecer.
O frasco do vidreiro é um frasco achatado utilizado pelos vidreiros para nele pôr água ou vinho, para as suas refeições no trabalho ou para beber água nos momentos de secura provocados pelo calor dos fornos. No fábrica, o operário tirava o frasco do bolso, segurava na garrafa pelo gargalo de vidro (marisa), com um ligeiro rebordo e, segurando-o entre os dedos indicador e médio, saciava a sede.
No site da Câmara da Marinha Grande recolhi a informação de que já em catálogos do século XVIII surgia descrição destes com o nome de «frascos chatos». Trata-se de uma referência aos catálogos de João Beare, que estabeleceu a sua actividade na Marinha Grande, em 1748, após o encerramento da Fábrica de Vidros de Coina e ao catálogo dos irmãos Stephens que o seguiram a partir de 1769.
Quando consultei as tabelas encontrei a designação de «frascos quadrados e chatos com rolha», o que me fez crer que se trataria de um tipo semelhante de frascos para bebidas.
É provável que o chamado frasco ou garrafa de vidreiro seja uma adaptação destes frascos, usados para viagem. O frasco do vidreiro não se justificaria ser apresentado num catálogo porque não era destinado à venda. Era feito pelo próprio para uso pessoal. O que explica que alguns fossem personalizados, com o nome ou outro tipo de identificação.
Não deviam contudo apresentar a beleza e minúcia de trabalho de gravação de alguns, feitos posteriormente, estes já destinados a venda ou a oferta.
De qualquer modo tratava-se de um objecto inteligente que aliava em si as funções de guarda de bebida e de copo, adaptando-se de forma prática, achatada para caber no bolso, à sua função. Um objecto de design avant la lettre.
Bibliografia: Joaquim Correia, A Fábrica de Vidros de João Beare na Marinha Grande. Edição da Câmara Municipal da Marinha Grande, 1999.
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