Quando olhei para ele reconheci-o imediatamente. Mas ao observar melhor, notei algumas diferenças.
Falo do “cozinheiro preto”, como naquela altura se dizia. Não tinha ainda surgido o eufemismo “negro”, que só viria a usar-se umas dezenas de anos depois.
Para quem em criança leu a «Mariazinha em África», de Fernanda de Castro, com ilustrações de Sarah Afonso, sabe bem o sentido carinhoso de «pretinho».
Enfim, conversas que não têm nada a ver com a lista de compras em plástico, pois é sobre isso que falo.
Refiro-me portanto a uma prática lista em que figuravam alimentos e produtos domésticos e que as donas de casa dos anos 60 ostentavam na sua cozinha.
Ao lado de cada um dos produtos existia um pequeno orifício onde se colocava uma espécie de dardo em plástico encarnado, posicionados na parte inferior, e que já desapareceram, para marcar as faltas. O cozinheiro fazia-se acompanhar por um pequeno bloco de papel e um lápis, também já não existentes, onde se registavam depois as faltas, antes de ir ás compras.
Tenho um destes cozinheiros na parede da minha cozinha desde há alguns anos juntamente com outros cozinheiros que tinham outras funções.
Quando surgiu o segundo cozinheiro preto senti-me como quando folheamos o jornal e encontramos um daqueles passatempos:«Veja as 10 diferenças». È que este cozinheiro era igual mas tinha mais alguns produtos escritos que eu não me lembrava de ver no anterior.
Fui comparar e lá estavam alguns furos, perfeitos, que haviam sido adicionados e, ao lado, escrito à mão, sem relevo, produtos como “solarine, Tide, café, peixe, carne, vinho e bacalhau”.
Percebi então que esta lista tinha pertencido a uma dona de casa meticulosa que a havia personalizado, para nada faltar na sua cozinha.
Apenas posso imaginar a ordem e organização daquele lar e agradecer-lhe esta surpresa.
2 comentários:
Lembro-me desse boneco pendurado em mais do que uma cozinha. A estética causava impacto, a utilidade, não sei, nunca os usei.
O que sei é que tradicionalmente os marcadores iam-se perdendo até ao boneco deixar de ser usado perdurando, contudo, dependurado do mesmo lugar de sempre.
Por curiosidade, intriga-me a razão pela qual os proprietários do teu boneco "customizado" terão precisado de fazer um buraco suplementar para o café, quando o boneco já lá tinha um...
A. Teixeira,
Vê-se que és um bom observador. Na realidade o "café" fica repetido. Penso que deve ter sido distração, porque apesar do precisosismo não acredito que comprassem dois tipos de café.
Mas tudo é possível.
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