Há imenso tempo que eu não ia ao British Bar. Costumava descer a pé do Campo de Santana para o Cais do Sodré com uma amiga minha. Ela ia apanhar o comboio e eu seguia o meu caminho para casa. Quando chegávamos ao Cais do Sodré ao fim da tarde aproveitávamos e íamos ao British Bar beber um “Gin Fizz”.
Depois ela morreu e eu mudei de local de trabalho. Fiquei a prometer a mim mesma lá voltar, o que aconteceu uma vez ou outra, mas a intenção foi sempre maior.
Há poucos dias finalmente decidi-me a lá voltar. Está tudo na mesma. O British é um bar que se caracteriza por nunca ter estado na moda, o que lhe permite ser autentico. Inaugurado em 17 de Fevereiro de 1919, tem agora a idade respeitável de 91 anos. Ao longo deste tempo muitas pessoas por lá passaram. Foi no início o Bar Britânico e ficava mesmo em frente do Bar Americano, que já desapareceu. Era então frequentado preferencialmente por marinheiros.
Hoje a grande maioria dos seus clientes são anónimos que trabalham ali perto, ou que no seu caminho para casa decidem ir beber uma cerveja. Depois há os estrangeiros esporádicos que por lá passam, dão uma olhadela, e entram.
Mas foi também sempre um lugar de preferência de escritores e artistas. José Cardoso Pires foi um dos frequentadores que deixou as suas memórias sobre o British Bar no «Lisboa. Livro de bordo». Antes dele Bernardo Marques e Carlos Botelho também o foram. Tal como Fernando Pessoa que foi cliente do vizinho Americano.
Alain Tanner descobriu-o e usou-o no filme «Cidade Branca», nome que deu a Lisboa por causa da sua luz intensa. Lá estava Teresa Madruga por trás do balcão a fazer de empregada.
O interior do bar mantém-se inalterado com o grande balcão de madeira e as prateleiras com garrafas bem alinhadas. Na parede de trás o célebre relógio, que Alain Tanner também mostrou, com os números do mostrador em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
Meia dúzia de mesas completam o espaço de dimensões limitadas para os padrões de hoje. Mas isso não incomoda ninguém. As pessoas chegam e bebem sobretudo cerveja, de entre as dezenas de variedades que a casa possui. Famosa é a cerveja de gengibre (Ginger Beer), uma especialidade da casa. Há também quem prefira um whisky. Eu confesso que nunca bebi outra coisa que não fosse o Gin Fizz, com muito limão, que é óptimo. Para acompanhar pode comer uma empada, ou outro salgado, para preparar o estômago para o jantar. Ou para um segundo Gin Fizz.
2 comentários:
Ana, este post faz-me voltar a memória aos finais dos anos 60, quando trabalhei durante três anos na zona.
Este bar era fequentado também por gente das agências de Navegação que por alí existiam.
Com a minha tenra idade da época, 17 anos a minha bebida preferida e permitida pelopessoal mais velho era o Pirata da ordem.
Bons tempos e boas memórias que tenho do outro Cais do Sodré.
Carlos Caria,
Se foram boas recordações há que repetir, embora nunca volte a ser igual.
Como bons portugueses vamos matando a saudade.
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