segunda-feira, 13 de julho de 2009

A pintura de Paolo Veronese reinventada

Paolo Veronese (1528-1588) foi o nome porque ficou conhecido o pintor Renascentista italiano Paolo Caliari, por ter nascido em Verona.

A sua obra sempre me fascinou, pela força das suas personagens e pelo pormenor da sua pintura. A sua representação de banquetes como o «As bodas em Caná» ou a «Festa em Casa de Levi», temas bíblicos transportados para a Renascença, permitem um estudo apurado dos trajes, objectos e costumes dessa época. Voltarei a este tema, mais tarde, para falar dos banquetes venezianos.
Hoje este post tem outro fim. Divulgar como a técnica pode imitar a arte.
O quadro «As bodas em Caná» ficou terminado em 1563, como resposta a uma encomenda dos monges beneditinos de San Giorgio Maggiore, em Veneza. O quadro, de grandes dimensões (9,94 x 6,77 metros) foi pintado para uma das paredes do refeitório do mosteiro.

O convento, fundado em 982, foi durante séculos um importante centro teológico e cultural.
Entre 1560 e 1562 Andrea Palladio foi encarregue de construir o refeitório e mais tarde a igreja. Foi para este refeitório que foi encomendada aquela que viria a ser uma das obras primas de Veronese.

Após a queda da república veneziana, em 1797, Napoleão ocupou o mosteiro e apoderou-se de vários dos seus bens, como os livros e a pintura. O quadro «As bodas em Caná», apesar das suas dimensões, foi levado para Paris, tendo recolhido ao do Museu do Louvre onde permanece.

Em 2006 o museu do Louvre estabeleceu um acordo com a Fondazione Giorgio Cini, italiana, com o intuito de entregar a uma empresa espanhola de nome “Factum Arte” a missão de reproduzir fielmente a importante obra afim de ser colocada no seu local original, isto é, na parede do refeitório, em Veneza. As condições de reprodução eram exigentes e passavam pela utilização de um método em que não houvesse contacto com a pintura, nem uso de luz externa , de forma a não danificar a pintura e ao mesmo tempo não fosse perturbadas as visitas do público. O problema logístico foi solucionado com um sistema de scan que registou toda a obra, com a maior resolução possível. O processo complexo pode ser avaliado consultando o sítio da empresa http://www.factum-arte.com/eng/conservacion/cana/Default.asp.
O resultado foi uma reprodução fidelíssima da obra, graças à tecnologia digital.
Ultrapassando discussões legais para recuperação de obras saídas do país, morosas e na maior parte das vezes infrutíferas, esta fundação cultural veneziana resolveu o problema de uma forma inovadora. O original mantém-se no Louvre, de onde dificilmente sairá, e a cópia fiel ocupa agora a parede do refeitório do convento, devolvendo-lhe o esplendor original.
De momento todos lucram e no futuro as contendas ir-se-ão resolvendo.

4 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

Utilidades... ou utilitarices!


Ou modernidades...
modernices.


toda a teoria da arte leva assim, alegremente, um pontapé no ... (posso dizer?)

Ana Marques Pereira disse...

Não. Não podes porque ias descer o nível do blog. Quando um dia visitar o mosteiro, se tal for possível, vai ser mais agradável e integrador ver a reprodução exacta no local onde devia estar do que as paredes brancas.
Mas aceito outras opiniões mais puristas.

Anónimo disse...

Não há dúvidas quanto à necessidade de fruição da Arte perante os originais.Mas até lá?E os manuais,os catálogos,as reproduções(Picasso recomendava-as utilizando a foto a preto e branco que respeitaria melhor os valores)milhentas na base de qualquer percurso artístico?A boa digitalização pode aproximar-se(nos)muito do original quando não lhe acedemos.

Ana Marques Pereira disse...

A nossa vida seria muito mais triste sem as cópias que nos rodeiam, no trabalho, em casa ou nos locais que visitamos.
Para não falar nas cópias indistinguíveis dos originais, que até os especialistas têm dificuldade em distinguir.