Tenho constatado que muitas das visitas do meu blog são de nacionalidade brasileira.
Embora os temas que abordo não sejam exclusivamente portugueses, devo confessar que fiquei surpreendida.
As influências gastronómicas portuguesas sobre a culinária brasileira são importantes e vice-versa, em especial após a estada da corte portuguesa no Brasil. Mas esse é um tema muito vasto sobre o qual não posso agora debruçar-me.
Pensei assim em falar num tema que tivesse interesse para os leitores brasileiros. Pensei em vários assuntos, mas não cheguei a ter tempo para me interrogar. O acaso deu-me a resposta.
De dois em dois meses recebo a visita do meu encadernador que leva os livros para encadernar e me traz os livros encadernados. Na ultima vez recebi, completamente renovados, dois livros brasileiros de culinária, que eu comprara um pouco maltratados.
Embora os temas que abordo não sejam exclusivamente portugueses, devo confessar que fiquei surpreendida.
As influências gastronómicas portuguesas sobre a culinária brasileira são importantes e vice-versa, em especial após a estada da corte portuguesa no Brasil. Mas esse é um tema muito vasto sobre o qual não posso agora debruçar-me.
Pensei assim em falar num tema que tivesse interesse para os leitores brasileiros. Pensei em vários assuntos, mas não cheguei a ter tempo para me interrogar. O acaso deu-me a resposta.
De dois em dois meses recebo a visita do meu encadernador que leva os livros para encadernar e me traz os livros encadernados. Na ultima vez recebi, completamente renovados, dois livros brasileiros de culinária, que eu comprara um pouco maltratados.
Desconhecia completamente a autora e resolvi fazer uma pesquisa. Com grande surpresa minha descobri que foi uma autora importante com cerca de doze títulos publicados, na década de 50. Não há dúvida que foi um sucesso editorial porque continuaram a publicar-se nas décadas seguintes e ainda hoje está à venda a edição inglesa de: The Art of Brazilian Cookery, considerado uma boa fonte de receitas tradicionais brasileiras. É uma reedição de 1993 de um livro de 1960.
Mas antes deste outros títulos surgiram. Para além dos já referidos menciono: «Prenda seu Marido cozinhando» e « Bandejas de salgadinhos, doces e balas».
Mas a sua verdadeira arte foi a de confeiteira. Os «Bolos Artisticos» tiveram várias séries, parecendo ser um tema inesgotável para a autora, que chegou mesmo no livro «Boas Maneiras» a acrescentar um «Apêndice com novos modelos de bolos».
Os seus bolos são de grande complexidade e como afirma a confeiteira brasileira Élide Macêdo, o uso de «muito glacê de bico em estruturas altas» fazem parte da tendência que se estendeu até os anos 50 por influência de Dolores Botafogo, que introduziu os primeiros livros sobre o tema no Brasil. Para simplificar a execução destas obras de confeitaria, numa espécie de Antonin Carême do século XX, a autora adicionava aos seus livros folhas soltas com desenhos dos moldes de partes dos bolos.
Não há dúvida que estamos perante uma confeiteira de excepção. Mas quando pesquisei sobre a biografia da autora nada encontrei. Sei que viveu na Urca, que hoje é um bairro do Rio de Janeiro, mas que foi a génese dessa cidade.
Mas vejamos de que modo vamos encontrar uma ligação a Portugal. A familia Botafogo tem origens portuguesas. O patriarca da família chamava-se João Pereira de Souza Botafogo (15407-1605) e nasceu na cidade alentejana de Elvas. Teria recebido a alcunha Botafogo por ser o responsável pela artilharia das tropas lusitanas no século XVI. A invasão da baía de Guanabara pelos franceses comandados por Villegagnon, levaram Portugal a enviar uma expedição para os expulsar. A missão portuguesa era comandada pelo Capitão-mor Estácio de Sá. Os portugueses desembarcaram no dia 1 de Março de 1565 na entrada da barra do Rio de Janeiro. Aí foi fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Era uma faixa de terra que se situava entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Na altura era uma ilha e só mais tarde foi feito o aterro que a ligou ao que hoje é a cidade do Rio de Janeiro.
Em 1590 João de Souza Botafogo adquriria terras no local e seria o seu nome que iria ficar ligado ao bairro, que se chamou Botafogo desde então.
Mas da sua descendente mais nada consegui saber. Da sua extensa obra a Biblioteca Nacional do Brasil tem apenas três exemplares, dos anos 50.
Mas a sua verdadeira arte foi a de confeiteira. Os «Bolos Artisticos» tiveram várias séries, parecendo ser um tema inesgotável para a autora, que chegou mesmo no livro «Boas Maneiras» a acrescentar um «Apêndice com novos modelos de bolos».
Os seus bolos são de grande complexidade e como afirma a confeiteira brasileira Élide Macêdo, o uso de «muito glacê de bico em estruturas altas» fazem parte da tendência que se estendeu até os anos 50 por influência de Dolores Botafogo, que introduziu os primeiros livros sobre o tema no Brasil. Para simplificar a execução destas obras de confeitaria, numa espécie de Antonin Carême do século XX, a autora adicionava aos seus livros folhas soltas com desenhos dos moldes de partes dos bolos.
Não há dúvida que estamos perante uma confeiteira de excepção. Mas quando pesquisei sobre a biografia da autora nada encontrei. Sei que viveu na Urca, que hoje é um bairro do Rio de Janeiro, mas que foi a génese dessa cidade.
Mas vejamos de que modo vamos encontrar uma ligação a Portugal. A familia Botafogo tem origens portuguesas. O patriarca da família chamava-se João Pereira de Souza Botafogo (15407-1605) e nasceu na cidade alentejana de Elvas. Teria recebido a alcunha Botafogo por ser o responsável pela artilharia das tropas lusitanas no século XVI. A invasão da baía de Guanabara pelos franceses comandados por Villegagnon, levaram Portugal a enviar uma expedição para os expulsar. A missão portuguesa era comandada pelo Capitão-mor Estácio de Sá. Os portugueses desembarcaram no dia 1 de Março de 1565 na entrada da barra do Rio de Janeiro. Aí foi fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Era uma faixa de terra que se situava entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Na altura era uma ilha e só mais tarde foi feito o aterro que a ligou ao que hoje é a cidade do Rio de Janeiro.
Em 1590 João de Souza Botafogo adquriria terras no local e seria o seu nome que iria ficar ligado ao bairro, que se chamou Botafogo desde então.
Mas da sua descendente mais nada consegui saber. Da sua extensa obra a Biblioteca Nacional do Brasil tem apenas três exemplares, dos anos 50.
Nenhum dos seus livros faz parte do espólio da Biblioteca Nacional de Lisboa.
Para que tenham ideia do que falo apresento-lhes algumas imagens da sua obra.
Para que tenham ideia do que falo apresento-lhes algumas imagens da sua obra.
11 comentários:
Obrigada pela preocupação em procurar algo sobre essa autora que merecia ter uma atenção do público brasileiro, estou lendo sua publicação anos depois mas ela me serviu muito bem,sou estudante de gastronomia e ganhei um dos livros da Dolores de meu pai que comprou em um sebo, pesquisarei mais sobre ela. Continue publicando pois na internet as informações são atemporais, Parabéns.
Obrigada pela preocupação em procurar algo sobre essa autora que merecia ter uma atenção do público brasileiro, estou lendo sua publicação anos depois mas ela me serviu muito bem,sou estudante de gastronomia e ganhei um dos livros da Dolores de meu pai que comprou em um sebo, pesquisarei mais sobre ela. Continue publicando pois na internet as informações são atemporais, Parabéns.
Julyane,
Obrigada pelo seu incentivo. Quando posso publico temas brasileiros porque gosto e sei que tenho vários leitores interessados.
Volte sempre.
Acabei de abrir as caixas que minha mãe deixou após falecer e encontrei dois livros de Dolores Botafogo - 1a. e 2a. séries. Aí me veio a lembranças aqueles bolos enormes que minha mãe fazia lá em casa, especialmente os de noiva. Eram lindos! Pena que ninguém da nossa família se interessou em dar continuidade ao que ela fazia.
Parabéna pelo site.
Acabei de abrir as caixas que minha mãe deixou após falecer e encontrei dois livros de Dolores Botafogo - 1a. e 2a. séries. Aí me veio a lembranças aqueles bolos enormes que minha mãe fazia lá em casa, especialmente os de noiva. Eram lindos! Pena que ninguém da nossa família se interessou em dar continuidade ao que ela fazia.
Parabéna pelo site.
Ewgenofre,
Infelizmente as pessoas têm cada vez menos tempo para se dedicarem a tarefas como esses grandes bolos.
Agradeço o seu comentário.
Olá!
Eu também tenho um blog sobre livros de receitas antigos e comecei a fazer uma busca sobre o meu próximo post, sobre um livro da Dolores Botafogo, quando achei seu blog. Fiquei encantada em saber que mais pessoas fazem essas pesquisas!
Vou colocar um link para o seu artigo!
Se puder, siga-nos!
O blog se chama Comemos - Comida Cultural e o endereço é:
comemoscultura.blogspot.com
Obrigada!
Fui criado num ambiente simples e adorava ver minha maē Zeli e a tia Zenir a confeitar lindissimos e gostosos bolos artisticos influnciadas pela obra de Dolores Era tempo bom!!
Tenho um livro dessa autora de 1957. Se alguem desejar entre em contato para doacao.
Olá Ana.
Acabei de ver hoje, na feira do livro no metro do Parque das Nações, os 8 volumes da colecção da Dolores Botafogo dos bolos artísticos e afins. Muito giros. Estão lá à venda a 4 euros cada. Estive vai não vai para comprá-los...
José daniel,
Deve se uma edição nova. Pode ser que algum brasileiro os descubra e os queira comprar porque são muito apreciados. Obrigada
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