quarta-feira, 2 de julho de 2025

Separadores de pratos

Confesso que nunca tinha visto separadores de pratos feitos especialmente para esse fim. Em tecido branco, de piqué de um lado e feltrado do outro, ou com belos tecidos coloridos, todos se apresentam orlados. Mais frequentemente com fita de seda, por vezes com gorgorão, ou mesmo com franja.

Outros modelos são duplos, abertos num dos lados, e com fitas que permitem acondicionar no seu interior um prato especial que se quer proteger. Embora a maioria sejam circulares, existem também ovais para travessas.

Hoje em dia as pessoas colocam, de forma prática, folhas de rolos de papel de cozinha para separar os pratos que se desejam empilhar. Funciona, mas não corresponde ao mesmo efeito protector. Podem também encontrar-se, em raras lojas, protectores em feltro, mas não têm a beleza destes exemplares.

Datados alguns do final do século XIX e outros do início do século XX, são espelho de um requinte e cuidado de protecção de pratos de qualidade.

Para mim, foi uma descoberta e um encantamento pelas coisas simples, cuidadas. Sempre a aprender!



 

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Congresso da Associação Hispânica dos Historiadores de Papel

 

Vai ter lugar em Lisboa, na Biblioteca Nacional, nos dias 26, 27 e 28 de Junho, o referido congresso internacional. Irei apresentar o tema “Marcas de água em manuscritos de culinária”.

É um tema importante que muito esclarece sobre as obras conhecidas e que ajuda a adicionar muitas mais informações do que o mero estudo das receitas. O seu estudo evita muitos dos disparates que às vezes se dizem por aí.

Nas minhas publicações sobre livros de receitas antigos procurei sempre completar o estudo com estas informações.

O resto do programa é muito interessante e pode ser consultado em:   https://ahhp.es/xv-congreso-internacional-ahhp-programa-definitvo/ 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Brincar às casinhas

Tenho ao longo dos anos adquirido várias caixas com conjuntos de cozinha ou sala destinadas a brincadeiras de meninas, algumas já aqui apresentadas. São conjuntos fabricados em Portugal, na grande maioria de meados do século XX. São normalmente reproduções simples de objectos em uso na época. 

Fiquei por isso surpreendida ao ver esta caixa com utensílios destinados à decoração de uma mesa, com tantos pormenores. O objecto em causa faz parte da colecção do Dr. Carmelo Aires que me permitiu fotografá-lo. Aparenta datar do início do século XX e pormenores, como o papel destinado ao menu e o guardanapo com a sua argola, tornam-no raro. 

O uso do alumínio, que se generalizou no final do século XIX, e que ocupou um lugar importante na cozinha (utensílios vários) e na mesa (sobretudo em talheres), remetem-nos para essa época de deslumbramento pelo novo metal. Na tampa da caixa pode observar-se que se trata de um produto de fabricação francesa (C.B.G.), com múltiplos prémios ganhos em Exposições Universais, desde 1878 a 1900, a grande Exposição de Paris. 

Um presente de luxo na época.

 

terça-feira, 10 de junho de 2025

Um cartão pop-up

 

À primeira vista parece um cartão normal, com uma temática infantil, a Branca de Neve e os Sete Anões, acentuado pela letra de menina que escreveu nele o  nome da amiga (“para a Lúcia”).

Quando se abre percebe-se que é uma carteira de agulhas especial. Para a menina, está visto, que devia aprender a cozer e a bordar desde pequenina.  

Ao abri-lo temos a surpresa de visitar o interior da casa onde vive a Branca de Neve e os seus sete amigos. Completa: com o quarto com as caminhas alinhadas, a cozinha com o grande forno e, em relevo, a mesa onde todos se sentam para comer.

Nas costas, acentuando a infantilidade, dois gatinhos que brincam com novelos de lã. 

É nestas alturas que regressamos à infância.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Um “Pantagruel” espelho da alma

 

Este livro em péssimo estado, com lombada arrancada, folhas soltas, etc. suscitou-me várias sensações. Na realidade, só um livro de culinária se permite chegar a este estado. Provavelmente acarinhado no início, foi tantas vezes consultado que se desmoronou.

Dificilmente um romance sofre um estado de degradação semelhante, ainda que lido várias vezes. E se tal acontecesse seria descartado. Mas os livros de culinária estão habituados a tractos de polé. Consultados em ambiente hostil como é uma cozinha, próximos de alimentos, raramente escapam à aquisição de nódoas. Muitos chegam-me à mão bastante deteriorados, a necessitar de encadernação e transformam-se em belezas. Mas neste estado, acho que nunca vi.

Como a minha saúde não tem sido a melhor, olhei para ele e solidarizei-me com o seu estado. Este vai ficar assim. Fica na classe dos “atados” que ultimamente me têm chegado à mão: atados de receitas; atados de cartas, etc. Uma união espiritual de semelhantes. Já sei que vão pensar que não é o que se espera que se diga de um velho livro de receitas. São dias.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Uma ementa dos anos 20

 

Fiquei entusiasmada com esta ementa de um grupo, aparentemente fundado em 26 de Novembro de 1922, designado “Grupo dos 15 amigos de S. Bento”.  O jantar realizou-se em 11 de Janeiro de 1925 e era o 8º jantar de confraternização, pelo que posso supor que teria tido lugar duas vezes por ano.

Os promotores da iniciativa foram João Alves e António Branco, mas infelizmente não consegui descobrir a que se dedicava esta associação. A ementa apresentava uma fotografia de qualidade, provavelmente relacionada com o grupo, onde se podia ver o antigo Arco de S. Bento.

Este arco foi construído em 1758, na Rua de S. Bento, levando ao abastecimento de água da zona, incluindo o Convento de S. Bento, actual Palácio da Assembleia. Em 1938, forma feitas obras na zona que levaram ao seu desmantelamento e, em 1993, foi reconstruído e passou a ocupar um espaço estranho e desadequado na Praça de Espanha, onde ainda se encontra.

Vejamos então o “Menu” que é descrito de forma humorística com designações que nos remetem para o espírito bem-humorado deste tipo de associações. Ficamos a conhecer a ordem da refeição mas no que respeita à confecção é um mistério dadas as designações usadas.

O jantar teve lugar no Restaurant Sport, em Sete Rios, em Lisboa. Esta designação à francesa, só começou a divulgar-se em Lisboa depois de 1870, usando-se em vez disso a designação de “casa de pasto”, enquanto o café era designado “botequim”. Ao consultarmos o Novo Guia do Viajante em Lisboa, de 1872, escrito por Júlio Cesar Machado, no que respeita aos hotéis, casas de pasto, botequins ou cafés, encontramos referência a um total de 46 estabelecimentos, mas apenas três destes se designavam “restaurant”.

Estávamos agora na década de 1920, e a designação à francesa mantinha-se. Infelizmente não consegui encontrar qualquer informação sobre o estabelecimento, mas a designação remete-nos para um gosto sobre o desporto que começava a despontar.

Uma pequena foto no cimo da fotografia deixa-nos ainda a dúvida de quem se tratará. De um dos promotores? Do fundador da associação dos 15 amigos?

Por aqui nos ficamos, pelo menos por agora.

 

terça-feira, 8 de abril de 2025

Marylin Monroe em triplicado

 

Ementa desdobrável

Este conjunto dos três elementos certamente que pertenceu a algum admirador de Marylin Monroe, que não é difícil encontrar. Trata-se de duas cartas de restaurante, de comidas e de bebidas e de um envelope de cartas.

Provavelmente até nem era um coleccionador de ementas mas não resistiu ao apelo da imagem desta estrela luminosa. As cartas de restaurante são mais difíceis de adquirir que as ementas, pelo que as que surgem são mais frequentemente roubadas.

Carta de vinhos

O restaurante em causa já não existe há, pelo menos, 10 anos e sobre ele nada descobri. A sua história também não devia ir além do título. Situava-se no Hotel Holiday Inn junto ao aeroporto de Paris-Orly.

A embalagem com papel de carta, com a imagem velada da artista que se repete no interior do envelope, é daquelas coisas que compramos, como acontece com algumas agendas e que achamos bonitas demais para uso. Ficam intactas.


Como conjunto é interessante, devido à presença da imagem da sempre fascinante Marylin Monroe. Não será a ementa a despertar qualquer curiosidade, seguramente.
Papel de carta e envelopes com a sombra de Marylin Monroe