Falei a primeira vez no
Kumquat no Dicionário Gastronómico «Do comer e do falar…» que escrevi com a
minha amiga Graça Pericão. Cada um dos capítulos, que corresponde a uma letra
do alfabeto, tem uma representação de um alimento começado por essa letra. O K
esteve para ser o Kumquat mas acabou por ganhar o mais conhecido Kiwi.
Na altura ainda eu não tinha
provado este fruto que agora já se cultiva em Portugal. Originária da China,
tal como outros citrinos, passou depois para o Japão. Kumquat ou chin can significa em chinês «laranja de
ouro», tal como o vocábulo japonês kinkan.
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Gravura de 1874 de Hood Fich |
O seu nome científico é Citrus japonica que veio substituir a
designação antiga Fortunella margarita,
nome atribuído a uma das suas variantes trazida da China para Londres em 1846
por Robert Fortune[1],
um explorador de plantas pertencente à Royal Horticultural Society. Em 1850 já
era conhecido nos Estados Unidos.
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Laranja do Algarve, de Setúbal e Kumquat |
Na literatura chinesa foi
mencionado em 1178. E nós os portugueses, os responsáveis por ter divulgado a
laranja a partir da China, também conhecemos precocemente o kimquat como afirmou
um escritor europeu, de que desconheço o nome, que em 1646, lhe havia sido
referido por um missionário português que se encontrava na China.
Em 1712 este fruto já fazia
parte das plantas cultivadas no Japão e daí a sua designação. A planta de
pequeno porte foi durante séculos apreciada como planta ornamental. Os
japoneses fazem com elas lindíssimos bonsais, porque uma pequena árvore dá
imensos frutos.
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Nagami. Planta enxertada. Foto tirada da internet. |
Existem quatro variedades principais
que são: a “Marumi”, de frutos redondos; a “Nagami”, de frutos elipsóides a
ovais; a “Fukushu”, de frutos redondos a piriformes e a “Variegada”, de frutos
variegados de listas amarelas.
No meu último almoço no
restaurante Cotrim, em São João da Talha, um lugar escondido onde se come
óptima comida portuguesa, experimentei a variante oval ou Nagami. Come-se com
casca e é deliciosa. As que experimentei tinham vindo de Mação mas há já outros
locais onde é cultivada.
Para além de muito agradável
ao natural (embora haja quem a considere ácida) deve ser muito boa em conserva
doce. Guardei as sementes porque pode ser cultivada em vasos mas é preferível
comprar a planta já desenvolvida. Fiquei fã.
[1] A quem
se atribui também a introdução do chá, trazido da China, na Índia na região de
Darjeelling, em 1848.