A
Padaria de S. Carlos foi fundada no século XIX por Francisco Rufino de Almeida e já
não existe há muito. Situava-se na Baixa de Lisboa, na Travessa da Parreirinha
nº 7, designação que foi alterada em 1885 para Rua Capelo, em homenagem ao
explorador Hermenegildo Capelo, e refere-se à rua que vai da Rua Ivens para o
Largo de S. Carlos.
A
primeira menção que encontrámos a esta casa, ainda com a morada mais antiga,
data de 25 de Maio de1884 e consta de uma lista com as qualidades de pão que aí
era confeccionadas. Esta informação foi publicitada no jornal Diário Illustrado e espanta pela sua
variedade. Dela constam ao preço de 50 réis a carcasse française, o corchu
(crochet) francês, o duchesse, as
tranças francesas, as formas e as flautas abiscoitadas. Quanto ao pão de
família tinha o preço de 45 réis. Tanto o pão abiscoitado francês como o pão de
água eram vendidos em três tamanhos com preços que variavam ente 5 e 20 réis.
Vendiam também uns pães doces a que chamavam laureanas a 20 réis e umas bolachas especialidade da casa, as “bolachas
de S. Carlos” a 600 réis o Kg. Os clientes podiam utilizar o serviço de entrega
ao domicílio a qualquer hora do dia. A Padaria recebia encomendas para almoços,
lunchs e jantares assim como estavam
aptos a fazer fornecimentos para bordo.
A 25
de agosto de 1890 no mesmo jornal noticiava-se que era um das padarias que não
tinha aumentado o seu preço, o que podia ser confirmado pela tabela publicado
como publicidade e que tive o cuidado de comparar com a anterior.
Em 5
de Julho de 1894 uma extensa notícia em primeira página no jornal dava conta
que a Padaria S. Carlos era agora pertença de António da Silva Mendes, enquanto
o fundador se encontrava como gerente de uma sucursal em Sintra. António Silva
Mendes que havia começado esta actividade poucos anos antes tinha já conseguido
abrir as seguintes sucursais: na rua de S. Sebastião da Pedreira, na rua de
Santa Marta, na rua de S. Vicente, na travessa do Cabral, na rua S. João da Mata,
na rua das Gáveas e em Arroios. Para quem pensa que a moda das padarias é de
agora é porque não conhece os portugueses. Veja-se o importante papel que os
imigrantes portugueses tiveram no Brasil, desde o século XIX até aos nossos
dias, em que dominaram toda a produção e comércio do pão.
Apesar
de todas estas sucursais era na sua sede que se reuniam as melhores condições e
a prova mais evidente do progresso tinha sido a aquisição de um filtro
Chamberland para 1500 litros para a manipulação do pão. Esta designação
devia-se ao nome do inventor Charles Chamberland, colaborador de
Pasteur, que idealizou o primeiro aparelho de esterilização a vapor de água,
tendo utilizado um filtro de porcelana com o intuito de separar bactérias. Os
filtros para água acompanharam as preocupações de higienismo do século XIX e
obtiveram grande sucesso na purificação da água. Podemos encontrar em Portugal
menção à sua utilização em anúncios de hotéis e restaurantes da época, como
forma de promoção e sinal de progresso (Ver o poste sobre O Grande HotelContinental).
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Rua Capelo Nº 7, com fachada no piso inferior visivelmente alterada |
Este tipo de filtro concorria com um outro o filtro Mallié que
alguns consideravam superior mas que nunca atingiu a divulgação do primeiro. O
que impressiona aqui são as grandes dimensões do filtro pelo que o proprietário
afirmava com orgulho que este «podia ser visto no estabelecimento a qualquer hora». Mais
um modo de publicidade inteligente deste empresário de sucesso que não sabemos
como acabou.