sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A Confeitaria «A Lisbonense», na Covilhã

Pormenor de fotografia do Pelourinho vendo-se à esqª a montra e porta da Confeitaria Lisbonense
Só numa das últimas idas à Covilhã descobri que já não existia a confeitaria «A Lisbonense». No meu tempo de liceu, fazia um desvio depois das aulas, antes de voltar para casa para passar por lá e comer um mil-folhas. Naquele tempo era um pastel folhado de grandes dimensões, recheado com um verdadeiro creme pasteleiro e coberto com um glacé branco e de chocolate, marmoreado, com um ligeiro toque a limão, delicioso.
O milfolhas mais parecido que encontrei na internet mas com 3/4 do tamanho
Nunca mais comi um mil-folhas como aquele. Ao longo dos anos fui também constatando que, quando pedia um bolo semelhante numa pastelaria, ele ia sendo cada vez mais pequeno e cada vez menos saboroso. Acabei por desistir e já não me lembro quando comi o último.
Quando vi o edifício em obras e a confeitaria fechada pensei que tinha que reavivar esta memória. Soube que o último proprietário ainda era vivo e na última ida à Covilhã consegui finalmente falar com ele. Refiro-me ao sr. José Correia Cunha, nascido na Sortelha em 1929, e portanto hoje com 85 anos. Contou-me que a confeitaria foi fundada em 1912 por um espanhol, Francisco Munhoz Gomes, com quem o sr. José Correia começou a trabalhar em 1948. 
O sr. José Correia em frente à Confeitaria, vendo-se as duas portas, no edifício agora em obras
Na mesma data entrou também ao serviço o pasteleiro Joaquim Duarte de Oliveira que seria o responsável pelos bolos que tornaram aquela casa tão apreciada. No atendimento estava o sempre gentil sr. José Correia que ainda hoje recorda todas as pessoas da Covilhã. E, a avaliar pelas pessoas que o cumprimentavam, quando com ele se cruzavam, pode-se perceber que deixou uma boa recordação nos seus clientes.

O proprietário inicial, também conhecido por “o espanhol” morreu em 1956, e a  confeitaria passou para as mãos de Artur de Almeida Campos, o maior empresário de restauração e hotelaria daquela zona, nessa época. Em 1969 constituiu-se uma nova sociedade de que faziam agora parte o sr. José Correia e o pasteleiro Joaquim Oliveira.
A confeitaria «A Lisbonense», situada no Largo do Município, 31-32, era um espaço de pequenas dimensões para os nossos padrões actuais. Lembro-me de ser um espaço rectangular com uma pequena montra e com o balcão à esquerda da entrada e mesinhas na parede oposta. Segundo o sr. José Correia anteriormente o balcão ficava atravessado e, por trás, ficavam as mesas, junto a uma lareira eléctrica.

Em 2008 a casa fechou para o edifício ir para obras que se arrastam até aos dias de hoje. Com o fecho da casa acabaram os pastéis de molho que aí se compravam, as  empadas e os deliciosos folhados de carne, bem como  os doces regionais. 
O sr. José Correia lembrou-me alguns que eu já havia esquecido como os bábas, com calda de açúcar e rum, com uma pequena tampa de massa no cimo, sobre um pico de chantilly, e que nesta casa se chamavam os Hermínios; os bolos de arroz com o seu papel envolvente, feitos mesmo com farinha de arroz; as gargantas de freira; os fios de ovos; as lampreias de ovos; os bolos de amendoim feitos com uma massa achocolatada misturada com amendoins sobre uma folha de folhado e que eram designados «farta-brutos»; as pirâmides de chocolate e os ratinhos feitos igualmente com a massa de bolos secos, moída e com chocolate e tantos outros que já não recordo.


Quando as obras acabarem já não restará nada do local excepto as recordações do sr. José Correia, que agora passeia os seus tempos livres pelo Pelourinho, e a dos clientes mais antigos, como eu. Para quem não conheceu este espaço fica esta memória.

2 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Uma lástima.

J. BOAVIDA disse...

Fui centenas de vezes à. Lisbonense.
Amava o mil folhas e o café