quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Votos de Feliz Natal

 Os meus votos de um Feliz Natal 2020 em segurança, isto é, nuclear. (E está bom de ver que me refiro ao núcleo familiar)



domingo, 20 de dezembro de 2020

Uma irritação transformada em tigelada que mais parece uma queijada

 

Não quero fazer concorrência ao programa “Irritações” onde os intervenientes ao fim de vários programas parecem ter de inventar factos que os irritam. Esta é uma irritação verdadeira que advém da compra de dois queijos num mercado biológico. Muito bonitos e apelativos, mas caríssimos, porque estamos a pagar, além do produto, crenças e convicções. Como ficaria espantado um verdadeiro queijeiro, daqueles lá da Serra da Estrela, se visse estes preços.

Mas tudo bem. Quando as coisas são de qualidade, tendemos a secundarizar os preços. O pior é que um aspecto importante nos queijos é o seu sabor e esse não estava lá. Sabiam os dois ao mesmo, isto é, a nada.

O queijo de cabra, que cheirava intensamente a cabra, não sabia a cabra. Concluí que devia ter leite de vaca misturado, mas estranhamente o sabor não acompanhava o cheiro.

Decidi fazer uma tigelada de requeijão com o queijo, uma estreia absoluta. A tigelada da Beira Baixa, sobre a qual já falei, (Ver: :https://garfadasonline.blogspot.com/2015/06/tigelada-da-beira-baixa.html), não leva habitualmente requeijão. Em minha casa, na Covilhã, era sempre a de requeijão que comíamos. Estranhamente nunca falei nela, o que prometo fazer proximamente.

Hoje é só para lhes mostrar a minha experiência, feita com o queijo de cabra biológico a fazer o papel do requeijão. Não dou a receita porque a fiz a olho, em dose menor para me caber num pequeno forno e evitar ligar o forno grande. Fá-lo-ei quando voltar a este tema.

A tigelada ficou boa, embora não o suficiente para de futuro tomar o lugar do requeijão. Cheirava a queijo e até sabia a queijo, talvez detectado pelo gosto inusitado naquela receita. Foi uma boa solução, mas a não repetir.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O Bolo-rei no Porto

Hoje os locais comerciais estão ávidos de história. Ter um passado valoriza o local e o produto. Nalguns países é assim há muitos anos, mas os portugueses forma-se esquecendo disso e paulatinamente foram destruindo sem qualquer apego as antigas lojas, cafés, drogarias, livrarias, etc. Foram registadas já tardiamente as “lojas históricas”, mas nem isso as salvou da destruição. Em seu lugar surgiram lojas turísticas algumas semelhando um passado que não tinham. 

Esta introdução vem a propósito do bolo-rei e da sua introdução em Portugal hoje atribuída à Confeitaria Nacional, por Baltazar Roiz Castanheiro, na década de 1870. Esta antiga confeitaria tem sabido manter-se e apresenta uma história que hoje dificilmente pode ser rebatida e que lhes permite com orgulho vender um produto com passado.

Mas as origens de doces ou de pratos que os restaurantes e pastelarias hoje tomam como suas com o tempo pode revelar-se diferente. Em História, como na Medicina, o que hoje é verdade amanhã pode não o ser. É isso que ambos os ramos do conhecimento têm de entusiamante.

Pastelaria Lisbonense. Foto Guedes AHCMP

Passemos então ao Porto onde a primeira introdução do bolo-rei terá tido lugar em 1890 na Confeitaria Cascais, na Rua de S. António, de acordo com os autores do blogue Porto de Antanho.

Num papel publicitário de 1897, o proprietário da Confeitaria e Pastelaria Lisbonense, J. Augusto Ferraz de Menezes, que tinha loja na Rua Formosa 404, no Porto, onde também existia uma refinação de açúcar e onde eram feitas conservas de frutas, contava a história do bolo-rei em forma de lenda.

A lenda explicava a história do bolo que fora encontrado por uma fada nos jardins do seu palácio. Tocado pela sua varinha mágica revelou-se ser o bolo-rei da Confeitaria Lisbonense. A fada, proclamada rainha do bolo-rei pela sua comitiva, fez saber aos seus vassalos que incorriam num crime de lesa-majestade se deixassem de comprar o bolo-rei da Confeitaria Lisbonense nos dias 3, 4, 5 e 6 do mês de Janeiro de 1897.

Embora não saibamos as datas do início da produção do bolo-rei ficamos assim esclarecidos da sua origem, e bem mais descansados. A Confeitaria parece datar de 1882, mas a presença de duas medalhas ganhas em Exposições no Palácio de Cristal, no Porto, a da Exposição Hortícola que teve lugar em 1877 e a Industria Portuguesa em 1897, situam-na, provavelmente como conservaria ou  refinaria, pelo menos na década de 1870.

Pormenor das medalhas ganhas em Exposições
Em 1897, J. Augusto Ferraz de Menezes, era mencionado no Jornal dos Cegos, referindo uma notícia publicada na Voz Pública, e quem este teria oferecido ao grupo de cegos, que visitaram os seus trabalhos na Exposição patente no Palácio de Cristal, «uma grande quantidade de doces».

Voz Pública, 23 de Dezembro de 1900
O que percebemos é que este bolo era no final do século XIX vendido apenas no início de Janeiro, destinando-se a ser consumido no dia de Reis. Num anúncio publicado em 23 de Dezembro de 1900 no jornal "Voz Pública" a Confeitaria Lisbonense disponibilizava já o bolo-rei a partir dessa data e até ao dia de Reis, fazendo crer que então o hábito se estendia já ao Natal.

Curiosamente na mesma publicidade era dito que já fabricavam aquele bolo há vários anos e que tinham sido os primeiros a produzi-lo no Porto.

Confusos? O tempo esclarecerá as contradições.