segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

No Reino da Lambarice

 


 Os jogos da Majora povoaram muitos dias da minha infância. Lembro-me por exemplo do aquário com peixes, feito em cartolina, claro, onde pescávamos peixes com uma cana que terminava num íman magnético. Mas muitas outras variedades destes jogos de tabuleiro, infantis, foram surgindo ao longo do tempo.

 A fragilidade do material, usado tão frequentemente, fez com que muitos jogos não resistissem. Começava por se estragar a caixa e depois as peças, a pouco e pouco, iam-se perdendo. As mães, diligentes,  olhavam para aquilo e achavam que já tinha chegado ao fim da  sua vida. E lá ia o jogo!

A marca, criada em 1939, por  rio José de Oliveira, usando as letra do início e fim do seu nome, surpreendia os portugueses com a diversidade que apresentava. Ainda hoje me surpreendo com jogos que nunca vi.

Este é um desses raros jogos que devia mexer com o imaginário das crianças, sobretudo numa época em que os doces, só estavam presentes em datas especiais.

Percorrer esse caminho sinuoso, do Reino da Lambarice, por entre a visão de doçarias apetitosas, jogando os dados para avançar as marcas até ao final, onde o vencedor se podia deleitar com as mais variadas gulodices devia ser uma excitação. Mesmo não existindo na realidade qualquer doce verdadeiro sobre a mesa.

Mas naquela época todas as coisas simples tinham mais valor. Os doces eram mais doces e mais valorizados por serem raros. Hoje o seu consumo quotidiano tirou-lhes o valor e a magia. Se hoje uma criança jogasse este jogo seguramente que ia negociar com os pais comer, no final, uma guloseima da sua predilecção. Não perdoava.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Luís de Sttau Monteiro Gastrónomo – 2ª edição

 

É com imensa alegria que dou a conhecer a 2ª edição do livro inicialmente lançado em Outubro de 2022, numa edição de autora. Três meses passados, e sem qualquer editora por trás a mexer os cordelinhos, isto é, tudo feito com a “prata da casa”, a 1ª edição, que felizmente despertou muito interesse, esgotou. E isto sem qualquer distribuição a nível nacional.

Eu, que não estou habituada a escrever sobre temas que gerem um interesse tão transversal, consegui despertar a curiosidade de muitos outros leitores, para além dos que se entusiasmam com a História da Alimentação.

Na realidade não sou eu que estou a vender o livro. É mesmo o Sttau Monteiro.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

A marmelada da Tentadora

 

É verdade que a marmelada tem, em Portugal, um estatuto à parte entre os vários doces, do tipo conserva de fruta. A nossa marmelada foi sempre feita com o fruto Cydonia oblonga,  provavelmente originária da Ilha de Creta.[1] Já era mencionada desde o século XVI, no Auto da Feira de Gil Vicente, mas o seu conhecimento em Portugal seria seguramente anterior.[2]

Podemos encontrar o primeiro registo de um receita no manuscrito que pertenceu à Infanta D. Maria de Portugal, então já feita com açúcar.  A etimologia[3] da palavra mostra-nos que vem do latim melimellu, tomado do grego melimelon, composto de meli, «mel» + melon, «maçã», mencionando o marmelo para conserva, cozido com mel, usado desde a Antiguidade.

Avancemos na história da nossa marmelada para justificar a existência de objectos próprios para a sua apresentação e consumo. Desde logo o mais clássico nos domicílios: a tijela da marmelada. Deitado o doce no seu interior ficava depois ao sol a secar, afim de formar uma ligeira crosta e impedir que criasse bolor. Mas os confeiteiros utilizavam também recipientes próprios para a sua confecção. Durante a primeira metade do século XX surgiram várias casas comerciais em que a marmelada era vendida em recipientes de louça.

Em Lisboa esses objectos foram sobretudo feitos pela Fábrica de Sacavém e pela Fábrica Viúva Lamego, apesentando forma variadas.

Pormenor da fachada com azulejos de J. Pinto. Foto tirada da internet

Neste caso, o recipiente em forma de caixa redonda com tampa foi feito para a Casa Tentadora, em Campo de Ourique,  em Lisboa. O prédio desta casa comercial foi projectado por Ernesto Korrodi (1870-1944), arquitecto e designer de origem suíça contractado pelo governo português para dar lições no ensino industrial, inicialmente, em 1889, na Escola Industrial de Braga e a partir de 1894 na Escola de Leiria. 

Painel Arte Nova que estava no exterior e que foi colocado no interior.

Este arquitecto foi responsável por várias construções ao estilo Arte Nova, em todo o país. Mas numa determinada fase foi na região onde vivia que teve maior intervenção. Assim projectou par firma João Leal & Irmãos em 1906, uma casa, na freguesia de Coimbrão, em Leiria.  Para a mesma empresa, viria a ser responsável por um belo edifício, misto de habitação e comércio no gaveto da Rua Saraiva de Carvalho com a Rua Ferreira Borges em Lisboa.  Foi nesse edifício que, em 1910, a empresa João Leal & Irmãos, viria a abrir a Pastelaria A Tentadora.[4]

Aproveitamos para mostrar uma parte de outros exemplares que possuo, com o mesmo fim, destinados a uso no domicílio ou comercial. Memórias doces!



[1] Em Inglaterra a mesma designação aplica-se ao Doce de laranja, provavelmente por confusão, uma vez que foram os portugueses que introduziram a laranja nesse país, a par da marmelada.

[2] FERREIRA, Maria Valentina Garcia. (2004). “A história doce de uma alcunha do Sul”. Centro de linguística da Universidade de Lisboa. Lisboa: Actas do XX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística: 573-589. A autora sugere que a palavra existiria já no galego-português medieval.

[3] MACHADO, José Pedro. (1987). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte.

[4] TEIXEIRA, José Manuel. (2018). Arquiteto Ernesto Korrodi Vi(n)da e Obra. Tese. Porto:  Universidade Fernando Pessoa.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Luís de Sttau Monteiro no Nada Será Como Dante

Uma entrevista minha, muito bem feita pelo João Carlos Barradas, sobre o meu livro Luís de Sttau Monteiro Gastrónomo.
Ao minuto 13,40. 
É só carregar no link abaixo.