terça-feira, 28 de junho de 2011

Alfacinhas. Um convite para lisboetas e não só

Alfacinhas é o nome da primeira exposição do Centro de Artes Culinárias que resulta de uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a associação «As Idades dos sabores», de que eu faço parte.
A CML disponibilizou o espaço do Mercado de Santa Clara à Associação para aí funcionar o centro de Artes Culinárias.
O espaço destina-se a reunir o espólio da associação e a funcionar como pólo de dinamismo e exposição de objectos e temas ligados á Gastronomia.
A primeira exposição inaugura hoje às 21 horas, no Mercado de Santa Clara, mesmo no coração da Feira da Ladra, em Lisboa.
O tema Alfacinhas, foi escolhido por se aplicar aos lisboetas, grandes apreciadores de alface, cultivadas pelos mouros nas hortas limítrofes da cidade. Segue-se um baile e cocktail de alfaces.
Nos dias 29, 30 de de Junho e 1 de Julho, a partir das 14 horas há vários workshops para crianças onde serão criadas alfaces, um outro de culinária com receitas de molhos de alfaces, também para crianças, outro de escrita criativa para crianças, etc.
Ao fim tarde e à noite o programa para adultos inclui um show cooking com cozinheiros e convidados, e um período com contadores de história, investigadores de gastronomia e hortelãos.
A iniciativa termina no dia 1 de Julho com um banquete de alfaces das 20 às 23 horas, com receitas confeccionadas na hora e que se destina a quem quiser ir, embora limitado ao espaço e a inscrições prévias.

Pode ainda inscrever-se em alfacealfacinhas@gmail.com.

Considerem-se convidados.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conservas de Sardinha «Motor Girl»


Está calor. As pessoas passam agora mais tempo no exterior e a internet passou para 2ª opção.

Para não cansar muito os cérebros deixo uma foto de um rótulo de caixa de conserva de sardinhas em azeite.

Sem identificação de origem, mas incluída num lote de papéis de conservas da União Industrial, Lda, de Portimão, faz-me crer ser da mesma proveniência.

A marca «Motor Girl» remete-nos para os anos 30 e mostra ser um produto para exportação.

Um exemplar interessante, para esquecer o mar de má publicidade com que ultimamente nos têm inundado, em especial a televisão.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O gelo dos neveiros

É domingo de manhã. Acordo cedo. São ainda 8 horas mas tenho muito que fazer e decido levantar-me. Enquanto ainda estou estremunhada aproveito para ir acordando lentamente e abro a televisão. A minha atenção recai numa reportagem sobre os vulcões do Equador. Fico a ver o périplo do jornalista pelos vários vulcões e a vida das pessoas que vivem nas faldas destas montanhas.
Humbolt com o Chimborazo ao fundo
De repente surge um camponês que vive num aldeia perto do vulcão Chimborazo. Enquanto a maior parte dos camponeses se dedica à agricultura, este homem descende de uma família que desde há muito se dedica à recolha e venda de gelo das encostas do vulcão.

 É Baltazar Hushca, tem 64 anos e desde os 15 anos que se dedica a esta actividade. Percebo depois, enquanto procuro alguma informação na internet que este é o último neveiro. O resistente de uma profissão em desaparecimento, tornada inútil pela industrialização. Mas no mercado de Riobamba aonde vai vender o seu gelo para ser usado em batidos de fruta, as pessoas não pensam assim.
Este gelo é um fóssil com milhares de anos conservado debaixo da lava do vulcão e portanto de grande pureza. Após horas de caminhada pela montanha, o neveiro, acompanhado pelos seus dois burros, descobre o gelo sob a camada de lava seca, corta grandes pedaços que depois apara com uma picareta, limpa a terra da mesma forma, e dá-lhes um forma rectangular, que facilita o transporte e a venda. Antes preveniu-se cortando arbustos secos, a palha, com que fez à mão as cortas e com que vai envolver os cubos de gelo.
De regresso a casa, no vale, mete numa cova os blocos, tapa-os e no dia seguinte parte para o mercado de Riobamba, onde no meio do colorido dos produtos, recebe o fruto do seu trabalho e tem o prazer de beber um xarope de sumo de fruta (“raspagem”), refrescado pelo seu gelo.
Fiquei fascinada. Ainda hoje se faz o que se fazia há vários séculos atrás. Corri a buscar a máquina fotográfica para fotografar o processo mas o programa já ia adiantado. Sabia que em Portugal desde o século XVII, sobretudo por efeito das exigências da corte dos Filipes em Portugal tinha havido um comércio importante de gelo.
Escrevi sobre isso na “Mesa Real”. Sabia que o gelo era cortado nas neveiras da Serra da Estrela, embrulhado em palha e transportado em burros até chegar aos barcos que desciam o rio Tejo e o traziam até Lisboa. Mas ali estava a prática, a forma como se fazia há vários séculos atrás e que se manteve até hoje inalterada. Um fascínio neste mundo tecnológico.

PS:
Já depois de ver o programa descobri que Batazar Huscha se transformou numa figura nacional, objecto de várias reportagens e de videos no youtube, de que aqui fica um para melhor compreeensão.

sábado, 18 de junho de 2011

Objecto Mistério Nº 25. Resposta: Descansos para Talheres

Acertaram rapidamente como eu já esperava.

Na realidade são “descansos de talheres”, ou mais precisamente descansos para facas, uma vez que era a estas, sobretudo, que se destinavam.
Tinham por fim ser utilizados entre os pratos para colocar os talheres já utilizados, que iam ser novamente usados num outro prato. Evitava-se assim usar novos talheres lavados e, sobretudo, poupava-se a toalha de receber nódoas de gordura.
Embora se considere que os mais antigos descansos datam do final do século XVIII, estes são muito raros. Alguns terão sido em madeira e na grande maioria destinavam-se a colocar as facas de trinchar.
Foi contudo no século XIX que se deu a sua divulgação e esta moda manteve-se ainda durante a primeira metade do século XX.
Na segunda metade do século XIX foram introduzidos um grande número de talheres com diferentes funções. Muitos deles já não se utilizam presentemente, outros apenas aparecem em jantares requintados. O talher de peixe, de que hoje as pessoas já se começam a “esquecer”, por vezes mesmo em restaurantes com pretensões, incluem-se nesse grupo.
Mas nas casas burguesas em que se comia mais do que um prato, eles demoraram a ser introduzidos. Penso que em Portugal em muitas casas só começaram a ser usados nos anos 40-50 do século XX.
Os descansos de talheres não foram muito utilizados em Portugal, ao contrário, do que aconteceu em França, onde se divulgaram mais e se mantiveram até mais tarde.
A moda, no século XIX, era colocá-los sobre a mesa, em frente ao prato, e só depois de utilizada a faca, enquanto se mudavam os pratos, se colocavam ao lado do prato com a lâmina sobre estes, até à chegada do novo prato. 
O que têm de mais raro os exemplares apresentados é serem em vidro.
Se em França, os descansos em vidro mais considerados foram produzidos por René Lalique, em Portugal encontramos-los feitos pela Fábrica Stephens.
No “Catálogo elaborado em 1901 pertencente à Companhia da nacional e nova Fábrica de Vidros”, surge, com o número 102 este modelo, e com o número 103, um outro, semelhante, em folha de trevo de 3 folhas.
Mais frequentemente estes descansos de talher eram em metal ou prata como os que aqui se apresentam.
Os descansos de talheres tomaram formas muito variadas e hoje são, apenas, objecto de coleccionismo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Objecto Mistério Nº 25

Apresenta-se a imagem de um objecto mistério para identificação.

Neste caso são dois objectos iguais e são em vidro.

Medem cerca de 9 cm de comprimento.

Como se chamam, ou para que servem, o que é o mesmo, uma vez que a sua designação já diz tudo.

Eu sei que é fácil.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Frasco do Vidreiro

Há peças que passam por nós sem que algumas vezes as consigamos identificar. Olhamos, mas não vemos. Passou-se comigo isso com o “Frasco do vidreiro», até o conhecer.
O frasco do vidreiro é um frasco achatado utilizado pelos vidreiros para nele pôr água ou vinho, para as suas refeições no trabalho ou para beber água nos momentos de secura provocados pelo calor dos fornos. No fábrica, o operário tirava o frasco do bolso, segurava na garrafa pelo gargalo de vidro (marisa), com um ligeiro rebordo e, segurando-o entre os dedos indicador e médio, saciava a sede.
No site da Câmara da Marinha Grande recolhi a informação de que já em catálogos do século XVIII surgia descrição destes com o nome de «frascos chatos». Trata-se de uma referência aos catálogos de João Beare, que estabeleceu a sua actividade na Marinha Grande, em 1748, após o encerramento da Fábrica de Vidros de Coina e ao catálogo dos irmãos Stephens que o seguiram a partir de 1769.
Quando consultei as tabelas encontrei a designação de «frascos quadrados e chatos com rolha», o que me fez crer que se trataria de um tipo semelhante de frascos para bebidas.
É provável que o chamado frasco ou garrafa de vidreiro seja uma adaptação destes frascos, usados para viagem. O frasco do vidreiro não se justificaria ser apresentado num catálogo porque não era destinado à venda. Era feito pelo próprio para uso pessoal. O que explica que alguns fossem personalizados, com o nome ou outro tipo de identificação.
Não deviam contudo apresentar a beleza e minúcia de trabalho de gravação de alguns, feitos posteriormente, estes já destinados a venda ou a oferta.

De qualquer modo tratava-se de um objecto inteligente que aliava em si as funções de guarda de bebida e de copo, adaptando-se de forma prática, achatada para caber no bolso, à sua função. Um objecto de design avant la lettre.

Bibliografia: Joaquim Correia, A Fábrica de Vidros de João Beare na Marinha Grande. Edição da Câmara Municipal da Marinha Grande, 1999.

domingo, 5 de junho de 2011

Mais cromos de caramelos

Volto novamente ao tema dos cromos de caramelo para apresentar hoje uma nova caderneta. Penso que deve ser bastante rara e uma das primeiras.
Deve datar do final dos anos 40 e foi publicada pela “Fábrica Universal” de António E. Brito. A Confeitaria Universal derivou da “Confeitaria Universo” e situava-se na Rua da Alegria, 22, em Lisboa.
É uma precursora das cadernetas de cromos de artistas de cinema, tal como a aqui apresentada que data de 1955 e foi editada pela Agência Portuguesa de Revistas. Assim como outras, dos anos 60, que me lembro de ter coleccionado, eram cromos simples, comprados em carteiras e já não eram associados aos caramelos.
Mas em matéria de nostalgia nada pode bater a caderneta de cromos “As raças Humanas”, publicada na década de 50. Na minha memória de criança ficou para sempre impressa a imagem de um negro com um prato de madeira inserido no lábio superior. Um dia vou encontrar a caderneta e mostro-o, porque não é possível descrever o resultado, com precisão,  utilizando apenas palavras.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Os chocolates "La Marquise de Sévigné"

Revista «L'Illustration», Natal de 1931
A beleza dos anúncios ao chocolate “Marquise de Sévigné”, dos anos 30, publicados na revista «L’ lllustration», fez-me adiar outros temas, para falar num chocolate que foi sempre um símbolo de luxo. Pela sua qualidade, mas também pela forma artística das suas embalagens.
Esta empresa chocolateira teve o seu início em 1892, pelas mãos de uma filha de chocolateiros franceses. Clémentine, juntamente com Auguste Rouzaud, tomou posse de uma pequena loja numa estância termal em Royat. O nome da futura empresa ficou-se a dever ao facto desta se ter deslocado a Vichy para oferecer uma caixa dos seus chocolates a Edmond Rostand, que a aguardava precisamente no “pavilhão Sévigné”. A atribuição desta designação do local teve origem no facto de a marquesa de Sévigné, nos anos de 1676 e 1677 aí se ter deslocado para uma cura termal nas águas de Vichy. Tendo então problemas de paralisia das mãos, que a impediam de escrever, encontrou aí a cura que lhe permitiria retomar a sua escrita. 
«L'Illustration», Natal de 1933
Antes de conhecer esta história pensava eu que o nome dos chocolates se devia ao facto desta se referir, nas suas cartas, ao seu gosto pelo chocolate. Na realidade, Madame de Sévigné (Marie de Rabutin-Chantal 1626-1696), esta culta e interessante cortesã, por quem sempre nutri uma grande simpatia e cujas cartas para a sua filha, a condessa de Grignan, são uma fonte de conhecimento da corte francesa no século XVII, refere várias vezes o uso do chocolate e aconselha mesmo a sua filha a tomá-lo como estimulante.
Mas voltemos ao tema desta marca de chocolates para realçar a originalidade do produto e das embalagens que a tornaram um sucesso. Entre 1900 e 1914 a empresa inaugurou 14 lojas em França, sendo a de Paris um local requintado procurado pela elite francesa e internacional.
«L'Illustration», Natal de 1938
Quando em 1952 morre Cleméntine a firma passa para as mãos do neto. Em 1970 deixa de ser uma empresa familiar e é adquirida por um grande grupo.
Mas logo em 1973 passa novamente para a posse de uma outra família chocolateira, Burrus, que havia iniciado a sua actividade em 1911. Hoje o sucesso mantém-se, mas é a publicidade dos anos 30 que quero mostrar através destas interessantes imagens, que revelam vários modelos de caixas, concebidas especialmente para a época natalícia.
Falamos de papel, mas podemos imaginar, pelo requinte dos anúncios, o prazer que o presente de qualquer uma destas caixas deve ter proporcionado aos felizes contemplados. Já para não falar dos chocolates em si.