sábado, 31 de dezembro de 2011

FELIZ ANO 2012

Revista «La Familia», Dezembro de 1950

Desejos de
Um Novo Ano Muito Feliz


Muitos brindes a um ano de 2012 que, acreditamos, vai ser vivido em contra-corrente às previsões negativistas.


Mrs Beeton's Book of Household Management, 1906


Uma mesa farta hoje e ... sempre.

Muita Saúde.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma receita para bacalhau...diferente

Esta fotografia foi tirada em Moçambique, em 28 de outubro de 1926, dia do aniversário de um dos fotografados, numa comemoração sui generis.

Tendo como fundo o que parece ser uma palhota, apresenta, no centro, um criado pretinho com um chapéu de papel de jornal, segurando um tabuleiro com dois copos e uma garrafa em madeira.
Em primeiro plano, o aniversariante e o seu amigo tocam guitarra. Um utilizando uma viola e o outro um bacalhau seco. O semblante sério dos dois contrasta com o cenário.
Para complicar a interpretação um coelhinho repousa sobre as pernas do tocador de bacalhau.

Uma alusão à refeição que se seguiria?.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O «Natal» na Alimentação

 

Reconheço que o título é dúbio e que pode levar a pensar que vou falar sobre os chamados alimentos tradicionais de Natal. Não é o caso.

Em 2009 falei na Alimentação do Pai Natal, para concluir que é um ser etéreo, que praticamente não come, apesar de muitos meninos deixarem, na chaminé, copos de leite e outros alimentos do seu gosto.

Falo este ano nos produtos alimentares em que a palavra «Natal» foi registada como uma marca.
Começo com esta bela lata de «Azeite Natal», produzido por Carvalho & Sobrinho, de Elvas, fabricantes e exportadores de Frutas Doces e Secas, Azeitonas e Azeite. Desconheço a sua data, mas talvez tenha sido produzida na década de 1940-1950.

Já anteriormente, em Dezembro de 1930, Agostinho Cabral, comerciante estabelecido na Rua do Bonjardim, 421 a 425, no Porto, tinha pedido o registo da marca «Azeite Natal». 
Como mostrei o ano passado, a firma Salgado & Martins, Lda, comerciantes com sede na Rua Eugénio dos Santos, 61, em Lisboa, pediam o registo da marca «Licor Natal», que aqui se apresenta em imagem repetida do post de 2010, mas que se justifica pela sua beleza.

Também as conservas de peixe não escaparam a este conceito e a Sociedade Peninsular de Conservas, estabelecida em Peniche, registou em 1922, uma marca de sardinhas em conserva denominada «Pai Natal». 
Do mesmo modo, uma firma de comerciantes estabelecida no Porto, designada Moreiras e Barbosa, com sede na Rua Mártires da Liberdade, 216, em Maio 1928, registava a marca «Natal» para os doces que produzia. A imagem associada mostrava uma mulher com uma canastra à cabeça onde se pode ver a palavra Natal. 
E os estabelecimentos de venda de víveres não escaparam a esta tendência. Tenho conhecimento de pelo menos dois deles com o nome de Casa Natal. Um deles situava-se em Beja e era, em 1929, pertença de Armando Inácio Gonçalves, comerciante estabelecido na Rua de Mértola, 16 e 18.
Um outro, com o mesmo nome, era pertença de Agostinho Francisco Cabral, que possuía um estabelecimento de mercearia na Rua do Bonjardim, 421, no Porto, em 1933, e que se manteve durante vários anos
Seguramente que estes são apenas alguns dos exemplos. Com o tempo, estou segura, será possível detectar outros mais.
Não podemos contudo, deixar de estranhar esta escolha que, à semelhança dos filmes de Natal, nos fazem pensar que apenas fazem sentido na época natalícia.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Feliz Natal 2011

Para ilustrar os meus votos de Boas Festas publico uma fotografia do meu presépio, feito com figuras simples, em que sobressaem muitas ovelhinhas e que, apesar de igual a todos os outros, eu acho sempre o mais bonito do Mundo.

Desejos de um Feliz Natal para todos.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Os Rebuçados Peitorais do Dr. Centazzi


O Dr. Guilherme Centazzi (1808-1875) foi um médico que nasceu em Faro e, embora tenha iniciado a sua carreira em Coimbra, acabou por se doutorar em Paris. Sobre este período de estudante, em Portugal, de onde foi obrigado a afastar-se pelos seus ideias liberais e, posteriormente, em Paris, publicou, em 1849, um livro de memórias intitulado: «O Estudante de Coimbra ou relâmpago da História Portuguesa desde 1826 até 1838». Além desta, escreveu outras obras, entre as quais «Hygiene e medicina popular».

Na segunda metade do século XIX e na primeira do século xx, os rebuçados do Dr. Centazzi foram muito famosos. Na época, o fabrico de rebuçados em farmácias era frequente, porque eram sobretudo medicinais. Deve ter sido o que aconteceu neste caso, embora não tenhamos informação sobre o modo de fabrico inicial.

Eram recomendados «muito especialmente aos cantores e oradores». Eram vendidos a peso e não continham essências artificiais.

Em 1924 os irmãos Alberto e Arnaldo Pereira fundaram a A. F. Pereira Lda, que daria origem à Salutem.  Em 1925 adquiriram uma fábrica de rebuçados e criaram a marca Centazzi, com pedido de registo em 9 de fevereiro desse ano (1) e formaram a sociedade Centazzi Lda.
A comercialização destes rebuçados foi acompanhada por algumas preocupações de publicidade e a imagem desta mãe a dar ao filho um xarope, feito com estes rebuçados, data de 1925. Para obter o xarope diluíam-se 6 rebuçados em dois decilitros de leite ou café e tomava-se, de preferência, ao deitar.
Numa das suas imagens usadas para publiciade dizia-se: «Pedir em toda a parte», e realmente a sua venda estava divulgada.
No jornal O Cezimbrense (2), de 1929, a publicidade à Mercearia, Café e Cervejaria da Viúva de Francisco Pinto Coelho & Filho, para além dos seus inúmeros produtos, informava que tinha sempre em depósito «os afamados Rebuçados Peitorais do Dr. Centazzi».
A lata que aqui se apresenta levava 4 kg de rebuçados «contra tosses, bronquites, rouquidões e afecções das vias respiratórias».
Estes rebuçados eram « feitos com um xarope especial e aromático segundo fórmula do Dr. Centazzi».
Nesta altura, década de 1940-1950, eram feitos em exclusivo por esta fábrica da Sociedade Centazzi Lda, situada na Rua da Aliança Operária, Nº 4, Pátio do Cardoso 8, em Santo Amaro, Lisboa.
Embora hoje as pessoas só conhecem os rebuçados do Dr. Bayard, é importante recordar outras marcas que foram igualmente, ou mais, famosas.

(1) Boletim da Propriedade Industrial, 1925, Nº 2, pp. 62-63 e Nº 4, p. 166.
(2) O Cezimbrense, n.º 157, 28.4.1929.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Feira de Natal do Centro de Artes Culinárias

Como informei há alguns dias, prossegue a Feira de Natal do Centro de Artes Culinárias (CAC) no Mercado de Santa Clara, em Lisboa.

Dado ser o primeiro ano que se realiza, e se encontrar pouco divulgada, junto mais alguns pormenores para que possam decidir da vossa visita.

Se ainda não visitaram a Feira de Natal devo dizer-lhes que perderam alguns programas interessantes, mas até dia 23 de Dezembro ainda estão a tempo de fazer uma visita calma. Se já visitaram aproveitem e passem por lá, para assistir a algum dos eventos ou só para comprar uns docinhos para levar, por exemplo, para oferecer quando forem convidados para jantar. Vão surpreender com uns doces menos conhecidos e que serão do agrado de todos.

Aqui ficam algumas das iniciativas.

  • Showcooking”: Guloseimas de Chocolate, por Graça Vasconcellos. Dia 14 Quarta-feira, das 18 às 20 h;
  • Concerto de Natal, pelo Coro Preparatório do Coro Infantil da Universidade de Lisboa, dirigido por Erica Mandilo e acompanhado ao piano por João Lucena e Vale. Quinta 15, 18h30;  .

  • Showcooking”: Filhoses das nossas terras, por doceiras vindas de diferentes regiões do país. Sábado 17, das 15h00 às 17h00; 
  • Ateliê para crianças a partir dos 8 anos: A minha cozinha:  o 1º Ateliê da Michèle, por Michèle Miranda. Sábado 17, das 10h30 às 13h; 
  • Showcooking”: Sabores de alheira, pela Escola de Hotelaria e Turismo de Mirandela. Domingo 18, à tarde; 
  • Ateliê para crianças a partir dos 6 anos – Biscoitos de Natal - ABC: amassar, biscoitar, caixinhar, por Jorge Ribeiro. Segunda 19, das 14h00 às 17h;

  • Showcooking”: Guloseimas de Chocolate e Brownies, por Graça Vasconcellos. Dia 21, Quarta-feira, das 18 às 20 h;

  • Curso de cozinha: Preparar o Peru - do Mercado para a Mesa, onde se aprende a desossar e rechear o peru, por Teresa Pinto Leite . Quinta 22, à tarde.

Para informações mais pormenorizadas consultem o site do CAC que está em Link.


domingo, 11 de dezembro de 2011

O orgulho no frigorífico recheado

Ofereceram-me estas duas fotografias fantásticas.

Pelo que me é dado perceber são retratos de um casal de portugueses, emigrantes, a viver nos Estados Unidos.

Penso que se trata de um fotografia dos anos 50 a avaliar pelo modelo do frigorífico e pela disposição da cozinha, ainda com mesa central.

A mulher fez-se fotografar no centro da cozinha, recortando um tecido sobre a mesa. Por trás podem ver-se os armários preenchidos com a bateria de cozinha. Sobre o fogão pode observar-se um panela de pressão e alguns tachos em alumínio e sobre este, numa prateleira, perfilam-se as caixas em plástico para guardar as mercearias.
A certeza de que é uma cozinha americana e não portuguesa é-nos dada pelo linóleum florido que forra as paredes, substituindo os nossos tradicionais azulejos.

Contudo, a fotografia mais interessante é a do marido, sentado numa cadeira junto ao frigorífico, folheando uma revista americana.

Não por acaso, o frigorífico apresenta a porta aberta, revelando orgulhosamente aos seus familiares o seu recheio, traduzindo uma imagem de abundância.
Por trás da fotografia está escrito: «Felicidade o nosso frigorifiqué está cheio de coizinhas boas é um loivar adeus dá bontadinha de comer e saudinha».

O orgulho de quem ultrapassou momentos difíceis e envia, de forma ternurenta, aos seus, imagens de prosperidade na sua nova vida.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O cometa Halley e a alimentação

 
O cometa Halley foi o primeiro a ser conhecido como periódico. A cada 76 anos aproxima-se da Terra e o seu brilho e forma tornaram-no num objecto de entusiasmo para observação, mas também de temor.  A ele foram sempre associadas catástrofes.

Em Maio de 1910 aproximou-se da Terra, mas já antes as notícias em todo o Mundo vaticinavam desgraças. Uma delas relacionada com a libertação de cianogénio, um gás letal que estaria presente na cauda do cometa.
Foto retirada de Comet Zone
As reações foram de dois tipos: os mais folgazões, antecipando o fim da civilização, organizaram festejos, sendo moda enviar convites para festas privadas ou em hotéis. Contudo os pessimistas, acreditando nos seus efeitos nefastos, esperavam morrer. Os mais previdentes correram a comprar máscaras contra gases, botijas de oxigénio e até pílulas que evitavam os efeitos tóxicos dos gases.

Em Portugal a Ilustração Portuguesa já em 7 de Fevereiro de 1910, fazia capa com o cometa. No seu interior dois textos com títulos assustadores davam o mote intimidatório: «O fim do mundo e os planetas» e «Na eminência de um cataclismo cósmico».
A 16 de Maio, de forma mais cautelosa, anunciava aos leitores em tom sereno: «O cometa Halley aproxima-se da Terra». Por último, a 23 de Maio apresentava fotos do cometa sob o título: «O cometa Halley no firmamento de Lisboa». Encerrava-se assim o tema.

Os comerciantes, no entanto, não deixaram passar em claro este fenómeno. O cometa serviu para marcas de produtos alimentares e outros.
Este rótulo de whisky americano é disso um exemplo, mas felizmente os nossos empresários também não ignoraram esse acontecimento que, como aqui se vê, serviu de marca para vinhos e azeite. O comerciante José António Lopes, estabelecido em Lisboa no Largo do Terreiro do Trigo, Nº16, 2º, pedia o registo da marca «Vinhos e Azeite Halley», em 1910. No rótulo podia ver-se o cometa «a caminho da Terra», facto em que o mesmo, evidentemente não acreditava. 
E a estrela que anunciou o nascimento do Menino Jesus aos Reis Magos, não seria um cometa Halley?
Vejam este postal de Natal de 1907 e digam-me.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Postais publicitários: Chá Lipton

Este postal publicitário ao Chá Lipton era oferecido pelos estabelecimentos Jerónimo Martins & Filho, então situados na Rua Garret, Nº 17 a 19, em Lisboa.
Tendo como tema uma bucólica paisagem japonesa, apresenta no verso a informação de que, contra a devolução de 20 etiquetas dos pacotes de chá, seria oferecido um lindo bule.

Seria o bule da imagem?

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Mercado de Natal da Idade dos Sabores


Começa amanhã, dia 4 e até dia 23 de Dezembro, no Mercado de Santa Clara, o mercado de Natal da Idade dos Sabores.

Vão estar à venda doces tradicionais portugueses, frutos secos e outros produtos que habitualmente se consomem nesta época.
Haverá também venda de alguns objectos antigos relacionados com a cozinha e livros de culinária.

Ao mesmo tempo podem ver uma exposição de utensílios antigos de cozinha, indispensáveis na época natalícia.

Por último, os mais novos terão a oportunidade de ver alguns brinquedos antigos cujo tema é também a cozinha

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Castella ou kasutera, o Pão-de-ló japonês

Quando os portugueses chegaram ao Japão no século XVI, tiveram na cultura japonesa uma influência importante. Embora seja frequentemente referida a introdução das armas de fogo, houve outros  aspectos que foram mais marcantes, entre os quais está sem dúvida a influência na língua. A língua japonesa chegou a ter, segundo Armando Martins Janeira, mais de 40.000 vocábulos de origem portuguesa(1).
Variedade de Castella com chá verde
Muitos desapareceram, tal como iria acontecer com a influência religiosa exercida pelos nosso missionários, mas permanecem ainda muitas palavras no uso comum.
 Experimentem dizer em alto kasutera e está-se mesmo a ver um japonês a dizer castella.
É que uma das heranças portuguesas, que os japoneses mantiveram até hoje, foi o fabrico de um bolo, semelhante ao pão-de-ló, introduzido pelos portugueses no século XVI. É produzido na província de Nagasaki, onde é considerado um bolo tradicional. É feito com farinha, ovos, açúcar e xarope de milho e, tal como o nosso pão-de-ló, tem que ser demoradamente batido.
O bolo sofreu algumas alterações, com variantes que incorporam elementos agradáveis ao gosto japonês, como o chá verde, o côco, ou chocolate. Mas a sua base mantém-se fiel ao preparado inicial e continua a ser produzido pela mesma casa de Nagasaki, a Casa Shooken, fundada em 1681 e que se mantém até ao presente.
Em Portugal, existem variedades regionais de pão-de-ló que se tornaram características das regiões de origem, como o de Alfeizerão, o de Ovar, o de Margaride e o de Arouca. À excepçaõ do de Arouca, todos são feitos em forma redonda com buraco. Contudo o de Arouca, em especial o da freguesia de Burgo, distingue-se por ser preparado em formas rectangulares. É o que acontece também com o pão-de-ló japonês ou castella, o que lhes permite serem vendidos em fatias individuais.
Em Portugal é possível experimentar o castella, graças ao empreendorismo de Paulo Duarte um português que estagiou em Nagasaki, na casa Shooken e que em Lisboa abriu um salão de chá luso-japonês, a  «Castella do Paulo». Fica na Rua da Alfândega e vende vários tipos de doces japoneses. Aí se podem provar três variedades de castella: normal, com chá verde e com chocolate.
Pessoalmente, prefiro o nosso pão-de-ló de Alfeizeirão ou de Margaride, mas não posso deixar de elogiar, e de experimentar com prazer, este regresso à Pátria de um doce nosso tão antigo, interpretado pelos japoneses.

(1) Armando Martins Janeira (1914-1988) foi embaixador de Portugal no Japão e um estudioso das relações luso-nipónicas. O seu livro O Impacte Português sobre a Civilização Japonesa, marcou-me imenso. Infelizmente emprestei-o um dia e nunca mais o vi, pelo que não posso confirmar o número que refiro, que nos parece inacreditável, mas que fixei como verdadeiro.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Actividades de Novembro no Centro de Artes Culinárias

 
Com o título «Novembro com a sabor a Dezembro» realizam-se como de costume no Mercado de Santa Clara em Lisboa.

Um pouco atrasado, mas ainda a tempo, aqui fica o convite para participarem nas actividades do Centro de Artes Culinária para o mês de Novembro.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

As Padarias Inglezas

Dito assim, no plural, «As Padarias Inglezas» afiguram-se como um mistério que, no início, não foi fácil de resolver.

A 4 de Março de 1898 a cidadã Mary Ann Broomfield, de naturalidade inglesa, comerciante, residente em Lisboa, fazia o pedido de registo do nome «Padaria Ingleza», estabelecida na Rua Cais do Tojo, 15(1). Ao mesmo tempo pedia também o registo do nome «English Bakery». Contudo, seria pelo primeiro nome que a sua padaria ficaria conhecida em Lisboa.

Hoje no local, só resta um prédio desinteressante mas foi uma loja considerada pelos seus produtos e ponto de encontro de muitos lisboetas. Entre eles salientava-se Fernando Pessoa que ali se encontrava com a sua amada Ofélia.

Em carta datada de 2 Agosto de 1920, Fernando Pessoa escrevia: «Querida Nininha pequena: Estarei no Conde Barão à tua espera das 8 às 8 1/2. Estou escrevendo de onde vês pelo papel, e o Osório vai fazer-me o favor de te levar isto, a casa da tua irmã.
Olha: estarei no Conde Barão, mas no recanto da Padaria Ingleza entre as duas horas citadas, que, creio, te serão convenientes» (2).
Numa outra carta, de 12 de Agosto de 1920, Ofélia respondia:
«Meu Nininho, Afinal hoje estive à tua espera desde as 5 para as 5 até às 6 h, e não houve forma de te ver, nem tão-pouco te interessaste em combinar forma de nos falarmos amanhã....
Estarei também às 8 horas no Cais do Tojo, ao pé da Padaria Ingleza...»

Foi o sucesso desta Padaria que fez abrir uma outra loja, com o mesmo nome, no Largo de S. Julião, 19. Num prédio pombalino foi feita uma adaptação num estilo “Arte Nova” puro, com uma fachada em ferro e apresentando vitrais no mesmo estilo, ao nível do 1º piso. Estas alterações, realizadas em 1907, ficaram a cargo do construtor Carlos Mestre Rodrigues.
A antiga Padaria Ingleza do Largo de São Julião foi mais tarde comprada para filial do Banco Borges & Irmão, que seria adquirido pelo BPI em 1991, e encontra-se presentemente fechada.

O reconhecimento da qualidade  dos produtos da Padaria Ingleza era grande, como podemos ver pelo anúncio publicado na Gazeta de Coimbra, de 1927, que anunciava a venda de Bolo Rei na Leitaria Conimbricense e um sortido variado de doces e bolos, em que se salientavam os «Bolos ingleses da conhecida e acreditada Padaria Ingleza de Lisboa».
No Natal de 1930, existia ainda a Padaria Ingleza no Cais do Tojo como o mostra a fotografia da sua montra num concurso de Montras Nestlé, publicado na Ilustração Portuguesa, no número de Natal(3).
Em conclusão, existiram ao mesmo tempo, em Lisboa, duas lojas, pertença da mesma proprietária, com o nome de «Padaria Ingleza», como nos revela a peça em cerâmica, produzida pela Fábrica de Sacavém.
Assim termina o mistério da Padaria Ingleza, com duas moradas, correspondendo uma delas a uma filial. Numa época em que estas ainda eram pouco frequentes traduzia, sem dúvida, um negócio de sucesso.

(1) Pedido de registo publicado no Boletim da Propriedade Industrial de 30 de Novembro de 1898, p. 76.
(2) Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo de Maria da Graça Queiroz), Lisboa: Ática, 1994.
(3) Illustração Portugueza, No. 120, Natal, 16 de Dezembro,1930.

domingo, 20 de novembro de 2011

O Café: «The Magic Bean»


O folheto de 16 páginas intitulado «Magic Bean. The Story of Coffee» foi publicado em 1956 pela National Coffee Association e destinava-se à promoção do consumo do café.
A publicidade foi feita em forma de banda desenhada, com uma apresentação extremamente colorida, focando toda a linha de desenvolvimento do produto, desde a sua descoberta até ao consumo nesses dias.
Destinava-se a ser distribuído no dia de Thanksgiving de 1956, dia tradicional de compras para os americanos.

A sua apresentação transmite-nos a impressão de se destinar tanto a adultos como a crianças. 
Não posso contudo deixar de chamar à atenção para a noção, bem adulta, de “intervalo para café” (coffe break), promovida e apoiada em estatísticas, que vão de números como 62% para o aumento de eficiência no escritório, ou 82% das fábricas que achavam que estas pausas diminuíam em 32% os acidentes de trabalho.

Por tudo isto, já então 41 milhões de trabalhadores americanos faziam uma pausa para café.

Numa das páginas podem também ver-se os vários tipos de utensílios para fazer café, mas também já a referência ao café instantâneo.

Tudo isto muito antes do George Clonney ter começado a sua campanha internacional de impingir as máquinas com cápsulas de café.