domingo, 30 de setembro de 2012

Confraternização do Curso Médico de 1923

 Quando olhei para estes três documentos que resumem o Programa da Reunião do Curso de Medicina de Lisboa de 1918-1923, não pude deixar de constatar como tudo mudou.
 O encontro, que comemorava o 22º aniversário do curso, durou o dia inteiro. Começou com um missa às 10 horas da manhã, a que se seguiu a visita ao Laboratório Victória e aos novas pavilhões do IPO e foram almoçar no restaurante Faroleiro no Guincho.

À tarde visitaram o novo Hospital da CUF, o Hospital Júlio de Matos e a Maternidade Alfredo da Costa.
 O encontro terminou com um banquete no Café-Restaurante Tavares. Da ementa deste último, que se apresenta, fazia parte o «Lombo de Vaca à Testut» que explico, para quem não é médico, era o autor do livro de Anatomia da época. No meu tempo já não se usava e estudávamos pelo Rouvière.
 Recordo a propósito o único jantar de curso a que fui. Comemorava-se o 25º aniversário do final do curso e por grande insistência de uma colega lá fui. Quando chegamos ao hotel onde ia decorrer o jantar estavam todos os colegas numa sala que ficava ao fundo de uma escadaria. Quando chegamos ao cima da escada olhamos para baixo e ela diz-me: «Vamos embora». Nessa altura eu não concordei e avançamos estoicamente.
 Eu não via a grande maioria das pessoas há 25 anos. A parte feminina, de cabelos arranjados e pintados, ainda conseguia disfarçar o quarto de século que havia já passado, mas os homens, então sem esses disfarces, mostravam o cabelo branco e as suas barrigas.

Falávamos uns com os outros, sem recordar já os nomes e a frase mais repetida era uma mentira galante: «Estás na mesma».
Não foi fácil e no final pensei: «Talvez fosse melhor vir todos os anos. Assim habituava-me progressivamente». Nunca mais voltei. Estou à espera do 50º aniversário de curso.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Livro «Mesa Real. Dinastia de Bragança»

Vai ser feito o lançamento do livro «Mesa Real» no dia 3 de Outubro, em nova versão, uma vez que a primeira publicação, uma edição de luxo, estava esgotada há vários anos.

Sai agora, por iniciativa da Esfera dos Livros, numa nova forma mais acessível, adaptada aos dias de hoje e destinada a um público mais vasto.

O livro tem a vantagem de ser mais “portátil”, o que significa que pode ser lido mais facilmente, que é o que pretendem todos os autores.

Manteve-se bonito, isto é, não perdeu as imagens que são indispensáveis para perceber a que correspondem os objectos de que falamos.
O  texto mantém-se idêntico no fundamental, apenas com pequenas alterações e correcções, mas a nova forma torna-o num novo livro que sai da esfera académica e dos meios monárquicos, onde fundamentalmente se tinha tornado conhecido.

Para os amigos que não sabem ainda, ou para os leitores do blogue que o desejem, fica aqui um convite para estarem presentes no lançamento.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Adiafa no Centro de Artes Culinárias




Adiafa: nome que se dá (Alentejo, Algarve) à refeição dada aos trabalhadores depois de concluída a vindima.

Neste caso trata-se de um jantar de angariação de findos para o Centro de Artes Culinárias, em que o vinho é soberano.

Se estiverem interessados vejam o link para a reserva de lugares.

domingo, 23 de setembro de 2012

Objecto Mistério Nº 31. Resposta: Palito portátil

O objecto apresentado é um palito de bolso.
Tem 3 dentes de larguras ligeiramente diferentes e destinava-se a ser transportado no bolso.
Insere-se num conjunto de palitos “portáteis” sobre os quais já falei anteriormente (ver poste anterior).

Agora com os “dentinhos” de fora é mais fácil.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

domingo, 16 de setembro de 2012

A vendedeira de mexilhão

 
Quando na última semana comprei no Mercado da Ribeira mexilhão para cozinhar lembrei-me da imagem da preta vendedeira de mexilhão.
Foi uma das extintas profissões de Lisboa. Os negros escravos trazidos para Portugal começaram, pelo menos a partir do século XVI, a exercer a venda de comestíveis pela cidade de Lisboa.
Em 1620 quando foi publicado o Livro da Grandezas de Lisboa, da autoria de Frei Nicolau de Oliveira, este quantificou em mais de 200 o número de «negras que vendem pela cidade toda a sorte de marisco de concha e legumes cozidos.»
Preta que vende pelos logares de Lisboa Mexilhão
Macphail  Lith de M.L. da Cta. R.N. dos Mtes. [c.1842]

Temos que imaginar que as condições das cozinhas da população em geral não permitiam que nelas fossem efectuados grandes cozinhados. Daí a profusão de vendedores ambulantes que percorriam a cidade logo pela manhã. A fava rica, o grão de bico, o cus-cuz, o arroz doce, o mexilhão, o berbigão e outros pratos já cozinhados facilitavam a vida dos habitantes. Até ao final do século XIX continuou esta actividade representada em litografias da época.
A venda de vários elementos úteis no domicílio e a de produtos alimentares não cozinhados como o peixe e as galinhas faziam igualmente parte destas actividades e essas mantiveram-se até meados do século XX.
Álbum de Costumes Portuguezes - 1888
As vendedeiras de mexilhão cozinhado com azeite, alho, cebola e colorau, punham um tacho dentro de uma celha de madeira ou de uma cesta de palha que cobriam com um pano branco e colocavam-no à cabeça. Pelas ruas gritavam: «Éérri éérre, mexilhão! pró petisco do patrão!», os clientes afluíam e o almoço ficava garantido.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Detergente OMO em Portugal


Foto de Southallboard 131 em Flickr
O detergente em pó OMO foi criado pelo grupo inglês Unilever na década de 1930. A palavra OMO era a abreviatutura de Old Mother Owl (velha mãe coruja) e referia-se à imagem que surgia na publicidade com uma sábia coruja que recomendava: «Usem-no», enquanto segurava num pacote deste produto. Para tornar mais implícito o uso da imagem os dois «O» representavam os olhos da coruja e o «M» central o bico estilizado. Contudo a imagem da coruja nunca saíu de Inglaterra.

Registo nacional em 1955
 O primeiro registo em Portugal data de 1950, ainda sem imagem, mas em 1955 foi publicado novo registo da marca, pedido pela Lever’s Zeep-Maatschappj N.V., uma firma holandesa, sediada em Roterdão, em que surgia a imagem da marca com a palavra Omo a preto sobre fundo branco e um espiculado à volta, nas cores encarnado e azul.
Só nessa altura foi feito o lançamento do detergente e se deu início às campanhas publicitárias informativas sobre o modo de utilização.
Foram distribuídos folhetos explicando a forma de lavar a roupa (roupa branca e lãs) em tanque. Por todo o país demonstradoras faziam esse ensino em casa, se assim o desejassem.
Durante as décadas de 50 e 60, de forma a aumentar a adesão ao detergente, foram desenvolvidas várias campanhas publicitárias que passavam pela oferta de utensílios domésticos às donas de casa em troca de cupões retirados das embalagens. Em 1959 foram oferecidos baldes de plástico; em 1960 cestos de roupa e panos de cozinha; em 1961 facas de cozinha; em 1963 tabuleiros para o forno; em 1965 e 1966 ofertas de caçarolas, colheres de chá, etc; em 1970 panos do pó.
Já anteriormente falei sobre estes brindes Omo, vistos como de grande utilidade pelas donas de casa numa época de dificuldades económicas em Portugal.  
Após o 25 de abril de 1974 estas campanhas pararam, porque as condições sociais já eram outras ou porque o consumo do produto estava estabilizado.
Ontem quando vi esta promoção, de data que desconheço (anos 70?), com uma mensagem tão subtil, não pude deixar de voltar ao tema. Em folha impressa, mas com letra manual, parece uma carta escrita para uma amiga por uma Cristina Menezes. Um nome falso, tal como o de Francine Dupré usado pela margarina Chefe.
Incluía-se numa outra forma de incentivo ao consumo que são aos vales e a que, na época referida, todas as empresas recorriam.
As campanhas agressivas de hoje mostram-nos que não há nada de novo à superfície da Terra. Apenas nos adaptamos aos tempos.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Licor de Raspail

Há certos nomes que conhecemos mas sobre os quais temos uma ideia nebulosa. É o caso do Licor de Raspail.
A história é interessante, pelo menos para mim, porque mete um médico e um licorista. Pelo meio entra um português, como em todas as boas histórias.

Tenho percebido que é mais fácil detectar uma pista para a origem farmacêutica dos licores do que descobrir a origem conventual. Este é apenas mais um desses casos.
Conhecido também por Elixir Raspail, a fórmula inicial deve-se a um médico François-Vincent Raspail (1794-1878) que teve um campo de acção vasto, como biologista e estudioso de química orgânica e que em muito contribuiu para o desenvolvimento da ciência no século XIX. Foi um precursor da teoria celular e revelou-se um ecologista «avant la lettre» ao lutar contra a poluição industrial.
Escreveu um livro intitulado «Nouveau système de physiologie végètale et de botanique, fondé sur les méthodes d'observation, qui ont été développées dans le nouveau système de chimie organique…», publicado em Paris por J. B. Baillière, em 1837. A partir de 1845 publicou «Manuel-annuaire de la santé ou Médecine et pharmacie domestiques...,» que foi reeditado como almanaque e que se destinava à população em geral. Nessa obra apresentava um licor higiénico para ser tomado à sobremesa e que tinha fins medicinais.
Um francês chamado Jean-Baptiste Combier (1809-1871) que tinha uma confeitaria em Saumur desde 1834, abriu uma destilaria em 1848 onde começou a produzir um licor aplicando a receita de Raspail. Decide no entanto alterá-la, tornando-a mais doce e agradável.
O licor é um sucesso e Raspail felicita-o por isso. Contudo posteriormente Raspail apercebe-se das modificações e ele, bem como os seus descendentes, põem um processo a Combier que se vê obrigado a comercializar o seu licor com o nome de «Elixir Combier». Esta alteração de nome em nada modifica o sucesso de Combier, mas extingue a produção comercial do Licor de Raspail.
Em Portugal este licor foi comercializado pela firma Francisco Morais & Cª, em 1920. Estes comerciantes estavam estabelecidos na Rua da Vitória, nº 42, 2º, em Lisboa, quando registaram a sua marca. O rótulo da bebida surgia com o nome «Raspail» seguido de «Sa liqueur de dessert crée en 1847» e as indicações «1847-Lisboa-Portugal-1914», dando a entender que fora essa a data da sua introdução no noso país. O nome da empresa por extenso e em abreviatura «FM & C.» indicava que os próprios o produziam. No ano seguinte os mesmos registaram um Triple Sec designado «Curaçao Raspail».
Antes porém desta comercialização um outro nome surgiu associado a este licor: o de João Daniel dos Santos, também conhecido por João Daniel Sines por ter nascido nessa localidade.
Tal como Raspail, que teve um papel político importante, foi um combatente contra o miguelismo tendo estado preso. Nesse período estudou a medicina de Raspail e tornou-se seu seguidor. Após a saída da prisão fundou a Sociedade Humanitária Raspalhista, que teve ação durante as  epidemias de cólera, em 1856 e de febre-amarela, em 1857. Embora sem curso de Medicina transformou-se num médico popular e produziu o «Licor de Raspail» de acordo com a receita inicial, com cânfora. A cânfora, que Raspail chegou a exprimentar em si próprio em 1827, revelar-se-ia mais tarde prejudicial. Bem andou Combier quando a retirou e a substituíu por cascas de laranja.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

De pequenino se torce o pepino


Este curso para crianças vai ter lugar no Centro de Artes Culinárias no Mercado de Santa Clara, em Lisboa.

Alia duas vertentes importantes:
  • Despertar os jovens para o mundo da culinária.
  • Ensinar novas técnicas e uso de energias alternativas.
Não percam e levem as crianças da família.