sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A Ilha dos Cozinheiros

Este livro infantil faz parte da colecção Manecas, o texto é de Henrique Marques Júnior (1881-1953) e os desenhos são da autoria do ilustrador José Félix (1908-1962). Foi publicado pela Romano Torres em 1939 e novamente em 1947.
O nome de Henrique Marques Júnior surge na Biblioteca Nacional em 226 registos, mas a grande maioria são traduções e adaptações. É possível que também este texto tenha sido uma adaptação dada a prevalência de nomes italianos das personagens. O pai do nosso herói, Cesaro, era o duque de San Severo que havia sido favorito do rei de Nápoles e sua irmã chamava-se Teresina.
A narrativa é muito interessante e mostra-nos Cesaro a sair de Itália para tentar ter êxito na vida a fim de evitar a entrada de sua irmã num convento, uma vez que após a morte de seu pai, em desgraça na corte, ficaram sem dinheiro.

A chegada a uma ilha diferente em que todos são cozinheiros e a própria rainha se chamava Marmita e se encontrava rodeada por uma corte com nomes de comestíveis e em que a moeda corrente eram filhós de ouro, introduz-nos num mundo mágico.
Ao apresentar-se à rainha, de forma adequada, não diz ter vindo de Nápoles mas da «Cidade do Macarrão». Esta afirmação levará a rainha que desconhece a massa a pedir-lhe para a executar.
Após grandes esforços consegue finalmente fazer um macarrão tão bom que a rainha o recompensa enchendo de presentes (filhós de ouro, preciosos tecidos e raros frutos) uma caravela para Cesaro poder partir com os seus acompanhantes. 
O nosso herói regressa rico a Nápoles, o que lhe permite adquirir o antigo palácio de seu pai, que oferece a sua irmã, juntamente com um dote para casar com o seu apaixonado.
Para si, que entretanto conseguira os mais elevados cargos, construiu um novo palácio a que deu o nome de «Palazzo Marmitoni» (Palácio dos Cozinheiros).
Uma história de encantar do tempo em que ainda havia cozinheiros. Hoje são todos chefes e deve ser por isso que se perdeu a magia e já não existem ilhas como esta.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Um condessa de ameixas de Elvas

Chama-se condessa a um pequena cesta redonda ou oval de vime ou verga, com tampa e sem asa. Como normalmente não é muito grande a palavra condessinha, que devia indicar um diminutivo, é aqui sinónimo.
Na realidade esta expressão também se aplica a outras cestas com tampa e com asa, apesar desta última não fazer parte da definição. É uma designação antiga que se foi perdendo e quando a encontrava em textos antigos interrogava-me como seria o seu formato.
Foto tirada da internet
Mas ao olhar para esta pequena cesta destinada a conter ameixas de Elvas percebi que esta era uma verdadeira condessa. O seu formato faz-me lembrar uma das variantes de cestas feitas com canas em Odeleite, Algarve. A variedade de cestas aí feitas é grande mas refiro-me a uma com forma cilíndrica, asa e tampa rotativa que Jane Birkin usou como carteira e que fez grande sucesso na época.
A embalagem aqui apresentada, que preserva ainda o rótulo e os papéis recortados interiores, destinava-se a conter ameixas de Elvas confitadas que eram produzidas na fábrica de Manuel Joaquim Candeias, fundada em 1919. Além da transformação da ameixa dedicava-se igualmente à preparação de azeitonas de Elvas. Na década de 1960 dedicou-se à exportação, como o rótulo desta embalagem nos diz. Em 1970 foi comprada pelo encarregado da fábrica, Mário Renato da Conceição que era, afilhado de Manuel Candeias. Presentemente o seu filho Luís Silveirinha é o actual proprietário.
A associação desta ameixa de Elvas, da variedade rainha-claúdia, à sericaia foi, segundo Luís Silveirinha, uma criação do seu pai Mário Conceição e do Director da Pousada de Elvas, na década de 1970. O resultado foi brilhante porque hoje quando se come sericaia achamos que está mesmo a pedir ser acompanhada por ameixas de Elvas.

PS. Este texto surgiu como consequência de um pedido de Mário Cabeças para o arquivo comunitário AIAR (ver facebook) para eu divulgar as minhas caixas de doces de Elvas. Aqui fica a minha primeira contribuição.


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Museu virtual: Prato Pyrex modelo flocos de neve

Nome do Objecto: Prato de ir ao forno

Descrição: Prato oval com asas de cor azul turquesa com desenhos de flocos de neve. Tampa em vidro transparente.
Material: Vidro pyrex.
Época: 1960
Marcas: PYREX®
Origem: adquirido numa loja de utilidades domésticas (Casa Leão) na década de 1960 na Covilhã.

Grupo a que pertence: Equipamento culinário.

Função Geral: Cozinhar alimentos.
Função Específica: A parte inferior destinava-se a cozinhar os alimentos no forno e era utilizada também para o serviço de mesa. A parte superior, para além da função de tampa, funcionava igualmente como base do pyrex, protegendo a mesa. Tinha também utilização individual como travessa, no forno e mesa.
Nº inventário: 1850
Objectos semelhantes: Ainda não classificados.
Observações: Esta linha foi lançada em 1956, antes do Natal de 1956 e designada “flocos de neve”. Este desenho, impresso com uma nova técnica, foi o primeiro da linha opalina e foi produzido nas cores azul turquesa, rosa, preto e em fundo branco com desenhos em azul. Em todos eles a tampa mantinha as características translúcidas dos primeiros objectos Pyrex. O padrão azul turquesa continuou a ser feito até 1967.

Notas: A marca Pyrex®,  um vidro resistente às mudanças bruscas de temperatura, começou a ser produzida pela firma americana Corning Corporation em 1915, tendo sido registada em Portugal em 1919.
Ver também «O Pyrex no serviço de mesa».

sábado, 5 de setembro de 2015

Tabuinhas de Ensaboar

 Um dos brinquedos que tive quando eu era criança foi um pequeno alguidar em lata com uma tábua de lavar roupa em madeira. Acho que nunca brinquei com ele mas ficou-me na memória e hoje dava-me imenso jeito para fotografar.
Recordo-me também de um bolo que fez sucesso nos anos 60-70 que se chamava celha de lavar. 
Tinha o feitio e uma celha de madeira em que as paredes eram feitas com bolachas de baunilha, duas das quais, mais elevadas apresentavam uma abertura para formar as pegas. A toda a volta duas fitas de seda castanhas finas simulavam as aduelas.
Foto tirada da internet
No interior meta-se um creme branco, que penso ser chantilly, que envolvia pedaços de ananás fresco. Tinha o requinte de ter uma bolacha inclinada no bordo que simulava uma tábua de lavar.
Hoje estas peças estão esquecidas mas há dias ao escolher um monte de receitas manuscritas encontrei uma receita de bolachas que se chamava «Tabuinhas de ensaboar». Por coincidência logo no dia seguinte ao folhear o livro Cozinha Portuguesa de Maria Helena Tavares Crato, de 1986, deparei-me com a receita de «Tábuas de lavar». Era precisamente a mesma receita, desta vez apenas com metade da dose. 
Percebi que estas bolachas ao atravessarem-se no meu caminho estavam mesmo a pedir que as fizesse. Meti mão à obra e aqui estão as minhas bolachas de manteiga, que optei por chamar «Tabuinhas de ensaboar» que, convenhamos, é um nome mais apelativo.

A receita é simples e o desenho, feito com um garfo passado por farinha, dá-lhes um ar retro, mas o resultado é delicioso. Ficam apenas algumas recomendações. Não derreter muito a manteiga que deve ser apenas amolecida e usar forno quente para ficarem estaladiças.
Agora é só experimentar. Um último aviso: parecem muitas (fazer a dose manuscrita) mas comem-se num instante.