segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uma receita de Fondue Bourguignonne ... num lenço de assoar

Eu sei que tempo quente não é próprio para esta receita de fondue.
Mas não consegui esperar pelo Inverno para partilhar esta minha descoberta de um lenço de assoar dos anos 70 com uma receita culinária.

É verdade que as receitas estão por todo o lado. Mas num lenço de assoar é completamente inesperado.
No caso presente trata-se da receita da “Fondue Bourguignonne”.

Esta receita de fondue de carne deve o seu nome à região da Borgonha. Vai buscar esta designação ao “Boeuf Bourguignonne”, não pela composição, que inclui sempre vinho, mas pelo tipo de carne de vaca, limpa de gorduras, cortada aos quadrados, que é comum às duas receitas.

Ao contrário da fondue de queijo, que tem vários séculos, só em meados dos anos 50 começou a surgir em livros de receitas. Em Portugal, a época da grande moda foram os anos 70, data que corresponderá à do lenço apresentado. Passo por cima os preparativos referidos no lenço, de todos conhecidos, para salientar os acompanhamentos aconselhados: ovos cozidos, ananás aos quadrados, amêndoas salgadas, frutos marinados, anchovas, alcaparras, azeitonas, pimentos, pepinos e ainda 2 ou 3 molhos picantes: tártaro, vinagreta, Cumberland, bem como várias maioneses trabalhadas.
E a terminar conclui: «A fondue bourguignone nada tem em comum com a de queijo excepto a sua apresentação.» Permito-me aqui discordar. Em comum, embora menos associada à fondue de carne, têm a tradição de castigar quem deixar cair do garfo um pedaço dentro do panela da fondue.
Os castigos variam mas nenhum é tão famoso como o que se desenrola em “Asterix entre os Helvéticos”, uma das obras da dupla René Goscinny e Albert Uderzo. Quem conhece o livro identifica imediatamente a frase . «Para o lago! Para o lago com um peso atado nos pés!”.
Um castigo exagerado, há que reconhecer, mesmo para um comilão.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Toddy e a "Toddymania"

Nada fazia prever um grande sucesso a uma bebida inventada por um natural de Porto-Rico, de nome Pedro Erasmo Santiago, em 1930. Ainda menos se pensarmos que a bebida, uma mistura achocolatada para juntar ao leite, e destinada sobretudo a crianças, ia buscar o nome de uma bebida alcoólica chamada «Toddy».
Com vários séculos de história e muito apreciada pelos escoceses, «Toddy» é uma bebida em que, a uma base alcoólica, se junta água, açúcar e especiarias. É semelhante ao «grog» mas menos alcoólica. Pela descrição parece-me também semelhante ao nosso «ponche». Normalmente é designada por «Hot Toddy» precisamente porque é servida quente.
A origem da palavra vem de taudi, o nome indiano para a bebida alcoólica extraída da palmeira. A palavra em Sanscrito é toldi ou taldi, de tal, suco de palmeira. (Dictionary of Phrase and Fable, E. Cobham Brewer, 1894)
Embora seja esta uma das influências atribuídas para a criação da bebida, com uma associação ao Toddy das Caraíbas, em que ao rum se junta açúcar e cacau, não consigo ver qualquer ligação com o que viria a dar o produto final. A marca foi comercializada no Brasil em 1933 e, em 1940, noutros países como a Venezuela, Espanha e Portugal. Utilizando técnicas publicitárias inovadoras para a época conseguiu um grande sucesso com o seu produto.
Tendo falecido Pedro Santiago em 1966, foi o seu filho que começou a venda de parte das fábricas, inicialmente na Venezuela e, em 1981, vendeu a Toddy Brasil à Quaker Oats. Em 2001 a mesma foi vendida à PepsiCola. Em Portugal a Toddy foi comercializada até, pelo menos, ao final dos anos 80, mas deixou uma doce recordação na mente de todos os que a experimentaram. Vejam-se os exemplos de A. Teixeira e da T.

sábado, 22 de agosto de 2009

Ameixas de Elvas, um doce tradicional - 2

A indústria da ameixa confitada teve o seu início em 1834 com José Guerra, com a fundação da Fábrica José da Conceição Guerra & Irmão, em Elvas.
A fábrica a vapor, um dos progressos do século XIX, produzia frutas em conserva de açúcar, especialmente ameixa, mas também se dedicava à preparação de azeitonas verdes.
Em 1894 fundou a fábrica a vapor de Sopa Juliana, a única então existente em Portugal.
A qualidade dos seus produtos era reconhecida no país e internacionalmente, o que lhes valeu 47 grands prix, 147 medalhas de ouro, para além de medalhas de prata, num total de cerca de 203 prémios. As ameixas eram comercializadas em caixa de cartão circulares, com um grafismo apurado, em que constavam as medalhas com que haviam sido agraciados, muito ao gosto do final do século XIX. Existiram várias outras fábricas, como dissemos no post anterior, mas a grande maioria já deixou de laborar. As caixas de feitio oval, forradas manualmente a papel com um predomínio de temas alentejanos, foram produzidas pela empresa Pina & Martins. As embalagens apresentadas são dos anos 80.
A empresa "Frutas Doces", em Elvas, foi fundada em 1919 por Manuel Candeias e em 1970 a firma passou para o seu afilhado, Mário Renato da Conceição. Em 1999, foi o seu filho Luís Silveirinha da Conceição que tomou conta do negócio. Continuam a produzir ameixas d’Elvas, como é prova a caixa que deu azo a estas notas.

Presentemente encontramos registo de uma empresa localizada na Zona Industrial de Estremoz, a Confibor que produz essencialmente o produto regional denominado Ameixa D’Elvas, com a marca Convento da Serra. Também a APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental), de Elvas, continua a fabricar as célebres Ameixas d’Elvas.

Normalmente as ameixas são comercializadas em caixas de cartão ou madeira, redondas e rectangulares. Para as ameixas em calda, usam-se boiões de vidro com tampas cobertas com arrendado de pano, ou, tampas metálicas correntes. Já lá vai o tempo em que às caixas se associava a arte do papel recortado, como se pode ver uma amostra na foto apresentada.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ameixas de Elvas, um doce tradicional - 1


Tudo começou com uma caixa de Ameixas de Elvas que me ofereceram.
Gosto imenso desta fruta em conserva doce, não só para acompanhar a Sercaia ou Sericá, mas também para acompanhar carne assada.
Foi agradável, porque nem sempre é fácil encontrá-la no mercado.

Olhei para a caixa de cartão e a primeira ideia que me veio à cabeça foi como o tempo, às vezes, piora o aspecto das coisas.
A caixa apresentava-se envolvida em papel transparente, amarelo, a fazer lembrar as antigas caixas de madeira. Fiquei contente de ter uma destas, porque não tenho a certeza de ser ainda produzida.
E mais contente fiquei ainda ao pensar como fiz bem em ir juntando antigas caixas de Ameixas de Elvas, agora desaparecidas, e que mostrarei proximamente.
A “Ameixa d’ Elvas” é hoje uma produto com Denominação de Origem Protegida (DOP). O fruto utilizado é a Prunnus domestica L. ssp Domestica, da variedade “Rainha Cláudia Verde”.

Comercialmente pode apresentar-se sob a forma de:
- Ameixas frescas
- Passas - ameixa seca
- Confitadas (escorrida, em calda ou com cobertura) - ameixa transformada segundo métodos tradicionais e é sobre estas últimas que estamos a falar

Do ponto de vista histórico, a Ameixa d´Elvas, conhecida na região como abrunho, terá tido origem em França. O nome de Rainha Cláudia (1499-1524), foi-lhe dado em honra da filha de Ana da Bretanha e de Luís XII, a Duquesa da Britânia, que se tornou na primeira mulher do rei Francisco I de França.

A receita das Ameixas de Conserva fazia parte do receituário do Convento de Nossa Senhora da Consolação ou das Dominicanas, em Elvas. Fundado em 1528 foi extinguido em 1861.

Nos “Annaes de Elvas”, no capítulo XXIX, dedicado à «Industria» e reproduzido no blog de Jacinto César "Histórias de Elvas" , podia-se ler a seguinte afirmação sobre o estado da fabricação de doces, em Julho de 1852:
«Não é para esquecer, nem para desprezar este ramo da industria que aqui se exerce para nome do lugar, proveito e glória das industrias em doces principalmente no chamado toucinho do céu, e ameixa d'abrunho de frança e guadalupe. Era nos conventos das freiras de S. Domingos ou de Santa Clara, aonde isto se fazia com mais esmero; mas com o acreditado estabelecimento de Sr. José da Conceição Guerra, com fabrica de doces e licores ao arco de Santa Maria, tem afrouxado a fama do que se fazia nos conventos...».

As frases em negrito são da minha autoria e destinam-se a chamar à atenção para a passagem de testemunho dos conventos para a industria privada, na confecção destes doces.

É sobre esta empresa e outras, que se lhe seguiram, que falaremos em breve.

domingo, 16 de agosto de 2009

Um pano da louça próprio para as férias

Dizer que as férias são um período de lazer é um conceito à Monsieur de la Palisse.
Assim é na maioria dos casos e essa ideia é transmitida de diversas formas.

O que eu não estaria à espera era de a encontrar expressa num pano da louça dos anos 60.
Oferecido pela minha amiga Isabel Kiki, e em óptimo estado, mostra uma jovem com uma toilette adequada para as férias e no pano está escrita a palavra «DESCANSO». É frequente nos panos da louça ver escrito os dias da semana. Há alguns anos, faziam parte do enxoval de qualquer jovem casadoura, dando a entender que deviam ser mudados diariamente.

Panos da louça dedicados aos períodos de descanso são uma novidade para mim, que não quis deixar de partilhar com quem lê este blog.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Objecto Mistério Nº 8. Resposta: Afiador de tesouras

Pensei que fosse mais fácil de identificar mas, a avaliar pelas respostas, não era.
O objecto mistério apresentado serve para afiar tesouras.

A vantagem dos objectos com caixas e instruções é que não nos deixam qualquer dúvida.
No caso presente, o folheto é bem ilucidativo da forma do seu uso.
Apesar de pertencer a uma época em que ainda era possível recorrer aos chamados amoladores de facas e tesouras, que corriam as ruas assobiando com o apito característico, o produtor da marca "Famos" era da opinião que «Cada dona de casa deve ter o seu próprio afiador de tesouras».
Muito semelhante, mas com uma ranhura mais vertical, era o afiador de facas, igualmente da marca "Famos".


Visto assim, não parece tão difícil. Não acham?.

sábado, 8 de agosto de 2009

Objecto Mistério Nº 8

O mistério de hoje é descobrir a utilidade de um utensílio doméstico.

Trata-se portanto de uma utilidade doméstica, daquelas que fazem geito em qualquer casa.

Não posso acrescentar nada excepto, como é hábito, as dimensões: 12 x 7,5 cm.

É relativamente fácil. Fico à espera de palpites.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Dama de Copas (The Queen of Hearts)

O folheto que se apresenta conta a história de uma canção inglesa para crianças (Nursery Rhymes).
Mais conhecidas em Portugal por cantigas de roda ou cirandas, são muito importantes na aprendizagem das crianças. Têm como característica serem cantadas em rima, o que facilita a sua aceitação e memorização e são habitualmente cantadas em movimento ou com associação de gestos.
Em Portugal a mais conhecida , nos nossos dias, talvez seja «Atirei o pau ao gato», mas os ingleses têm um grande número deste tipo de canções.

Paula Rego foi sensível a este tema e em 1989 apresentou uma primeira exposição intitulada Nursery Rhymes, em Londres, na Marlborough Graphics Gallery e, em 1990, em Lisboa na Galeria 111.

Desta exposição foi publicado um livro com o mesmo título, que reúne essa fase da sua obra.

A «Dama de Copas» (Queen of Hearts) tem sido apresentada de diversas formas gráficas desde a sua primeira impressão em 1782, mas seria a obra de Lewis G. Carroll no livro «Alice no país das maravilhas», publicado pela primeira vez em 1805, que mais a divulgaria.
Conta a história de uma rainha, a Dama de Copas, que fez umas tartes para o seu rei.
O Valete de Copas roubou-as e levou-as.
O Rei descobriu e bateu-lhe.
O Valete devolveu as tartes e prometeu nunca mais roubar.


Se bem que a história tenha um conteúdo moral, o mais importante é a rima, que entra no ouvido das crianças.
O mais engraçado, e que justifica este e o anterior post, é que, nas várias representações, as tartes são apresentadas como pequenas bolachas redondas, com doce no centro, fazendo lembrar as Bolachas Francesas, o que veio a dar origem ao poste anterior e a esta sequência natural com a apresentação da história.

E para terminar só quero acrescentar que o mesmo tema tem sido também muito utilizado na louça infantil, onde surge representada parte da história, como é o exemplo da caneca apresentada.

domingo, 2 de agosto de 2009

A Bolacha Francesa

O meu bolo de pastelaria preferido é a Bolacha Francesa. Encontra-se em muito poucas pastelarias e, de longe, o melhor é o da Confeitaria Cister.
A pastelaria Cister mudou a decoração, modernizou-se de uma forma discreta, mas mantém alguns dos mimos a que estávamos habituados, para além das ditas bolachas. Refiro-me à geleia e à marmelada que continuam a vender e que tem que ser comprada na época porque esgota. Infelizmente ficou um pouco arredada do meu caminho e é difícil estacionar no local. Mas sempre que posso dou lá um salto para comprar uns exemplares. Havia um outro local em que as referidas bolachas eram óptimas. Apenas quem teve a felicidade de o conhecer pode avaliar como Lisboa ficou mais pobre com o seu fim. Era a «Salão de Chá Imperium» e ficava nas Escadinhas de Santa Justa. Era um local requintado, espaçoso, onde se ia beber chá servido por empregados muito antigos, vestidos a rigor. Funcionava como ponto de encontro e descanso para as pessoas que iam fazer as suas compras à Baixa.
Lembro-me de um dia ter pedido as bolachas por «Olho de Boi», outro nome porque também são conhecidas, e de o empregado me olhar com ar reprovador e dizer que o seu nome era « Bolacha Francesa ou Bolacha Confiture».

Estas minhas recordações, perdidas no tempo, foram suscitadas por um desdobrável com uma pequena história em que vêm representadas as referidas bolachas francesas e que apresentarei no próximo post.


Para já deixo-os com a imagem das ditas bolachas e a recomendação para as experimentarem de preferência acompanhadas por um bom chá.