sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"Phosphatine Falières", um suplemento alimentar para crianças

Este belo cartão publicitário recortado, que me veio parar às mãos, com uma menina sentada à mesa acompanhada pelo seu cão e gato, quase parece um seguimento do post anterior.
É apenas uma coincidência, que nada tem a ver e, como a terrina mostra, trata-se de publicidade a um suplemento alimentar de nome «Phosaphatine Fáliéres».

No século XIX, numa época de carências alimentares, um farmacêutico de nome Emile Falières convenceu-se que os fosfatos tinham uma importância fundamental na alimentação. A sua convicção foi tal que criou um produto à base de fosfato de cálcio designado «Phosphatine Falières».
O produto teve um sucesso enorme e ainda no início do século XX o mesmo foi recuperado pela Casa Chassain, que ajudou na sua promoção e divulgação . Tal como já anteriormente tinha sido feito foi utilizada uma intensa campanha publicitária, em grande parte dedicada às crianças, que incluía cartazes, postais, mas também livros e jogos.
O produto, apresentado sob a forma de uma farinha, servia depois para fazer uma papa, que se comia quente.
Teve grande divulgação em França. Na Bélgica, durante a primeira Guerra Mundial, foi recomendado por uma Comissão que se destinava a solucionar problemas alimentares.

Mais tarde vários médicos vieram a pôr em dúvida o papel dos fosfatos na alimentação, devido a alterações do comportamento em crianças que os usaram.

O grande êxito deste produto ficou a dever-se à utilização de nomes importantes no campo da publicidade, como André Devambez (1867-1944), que além de desenhador e ilustrador era também pintor. Foi ele quem ilustrou Auguste a mauvais caractère e os Contes de la Phosphatine, entre outros.

Uma das surpreendentes afirmações, como a que se pode ver no reverso deste cartão recortado, diz que Phosphatine Fálieres «é um alimento para crianças sábias». Talvez por isso nem a figura de Victor Hugo escapou à publicidade.
Cartão apresentado na exposição «Hugobjects» da MVH de Paris
 Pela mão de Devambez foram criados seis cartões com crianças célebres. Uma delas era Victor Hugo a «dedicar-lhe os primeiros versos», como podemos ver no cartão apresentado numa exposição do Museu da Casa de Victor Hugo, em Paris, que o representa.

E pensamos nós que só nos nossos tempos nasceu a boa publicidade.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Gaticanea ou cruelissima guerra entre os cães e os gatos

No seguimento do post «Barafunda na cozinha» encontrei mais dois postais sobre o tema.

No primeiro, a mãe gata é interrompida na sua função de lavagem da louça, por um dos filhos que, ao atirar-se a um alguidar com leite, faz cair toda a louça do armário.
Bem pode a filha mais velha tentar equilibrar o armário, mas a queda da louça é já inevitável. A outra filha que ajuda a limpar a louça fica perplexa e deixa cair um jarro de louça vermelho com pintas brancas.

Este outro episódio da barafunda na cozinha fez-me lembrar o livro Gaticanea ou cruelíssima guerra entre os cães e os gatos, da autoria de João Jorge Carvalho e publicado em 1781.
Introduzido aqui para dar um ar de seriedade a este post, forçosamente infantil como eu gosto, conta a luta entre cães e gatos que tem lugar frente ao terreiro do Palácio de Mafra e estende-se para a cozinha, representada numa bela gravura. No livro o tema dos gatos e cães foi usado como alegoria sobre as intrigas na corte.

Para finalizar, um segundo postal mostra uma serena refeição com cães e gatos. À volta da mesa, bem direitinhos nas suas cadeiras, nada faz prever o que se passou na cozinha.
Uma história com final feliz, que nos faz falta no tempo presente.

domingo, 18 de setembro de 2011

Os Estabelecimentos Val do Rio

No início do século XX Abel Pereira da Fonseca, um agricultor e empresário que possuía várias propriedades agrícolas na região do Bombarral, fundou a Companhia Agrícola do Sanguinhal. Viria posteriormente a constituir a Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, de que fazia parte uma rede de lojas de distribuição e venda dos seus produtos, designada Estabelecimentos Val do Rio.
Tendo chegado a cerca de cem lojas, distribuídas sobretudo por vários bairros de Lisboa, representavam uma versão moderna das antigas tabernas, mais limpas e higiénicas onde, a par da venda de vinho ao balcão, se passaram a vender outros produtos da sua produção. Na grande maioria, com grandes balcões de mármore, dispunham as garrafas dos vários vinhos, azeite e vinagre em prateleiras fixas nas paredes.
Ainda me lembro de ir a uma delas, situada no Príncipe Real, comprar garrafas grandes de vinagre de vinho, para fazer conservas, numa época em que o vinagre de vinho não estava facilmente acessível como hoje.
Vem esta introdução a propósito do primeiro número deste pequeno jornal de propaganda designado «Val do Rio», enviado pelo correio para a casa dos clientes, onde se divulgavam os produtos e preços e a que se acrescentavam algumas curiosidades e até pequenas receitas. Uma espécie de «Dica da Semana» dos dias de hoje, publicado pela primeira vez em Julho de 1948.
Podemos ver pela lista dos produtos que então, para além dos vinhos, havia uma série de artigos de mercearia, que estendiam já o seu âmbito de venda.
Embora este primeiro número seja de 1948, na introdução é enaltecida a acção destes estabelecimentos no período entre as guerras de 1914 e 1939, em que existiam dificuldades de abastecimento ao público de produtos de primeira necessidade.
Numa época de difícil aquisição de géneros alimentícios as lojas dos Estabelecimentos Val do Rio orgulhavam-se de terem iniciado um sistema de senhas e de capitações, posteriormente desenvolvidos pela Intendência Geral dos Abastecimentos, que só viria a ser criada em 1943.
As chamadas «senhas de racionamento» seriam resultado da acção desta instituição, numa tentativa de reduzir as bichas de compras de alimentos e racionalizar a sua distribuição, de acordo com o agregado familiar.
Memórias perdidas de que aqui se recupera uma pequena parte.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Exposição «Aprestos de Cozinha. A colecção da Idades dos Sabores»

A associação As Idade dos Sabores vai inaugurar uma exposição de utensílios de cozinha do espólio da sua fundadora Maria Proença.
A exposição designa-se «Aprestos de Cozinha: A colecção das Idades dos Sabores» e será inaugurada no Mercado de Santa Clara (Feira da Ladra), sede do Centro de Artes Culinárias, no dia 16 de Setembro, às 19,30.
Os objectos apresentados serão divididos por temas, de que se salientam: os cereais, os lacticínios, a carne e o peixe, os temperos e o sal, frutos e legumes, o açúcar e chocolate, etc.
Aqui ficam algumas fotos do folheto da exposição, juntamente com o convite, para que não percam este oportunidade de ver objectos já esquecidos ou, na grande maioria, desconhecidos da maior parte das pessoas.
As peças estarão expostas até dia 30 de Novembro, com um horário mais alargado nos dias da Feira da Ladra, isto é, às 3ª feiras e aos sábados.
Não deixem de ir.

domingo, 11 de setembro de 2011

Museu Virtual. Lavabo em porcelana

Nome do Objecto: Lavabo (Rince-bouche).

Descrição: Copo e taça em porcelana rosa com decorações florais a ouro. Tem coroa real e iniciais MA (provável pertença da rainha D. Maria Amélia).

Material: Porcelana.

Época: século XIX.

Marcas: Não tem. Francês?

Origem: Mercado português.
Grupo a que pertence: Recipiente para o serviço de mesa.

Função Geral: Acessório de serviço.

Função Específica: Para lavar a boca e os dedos após as refeições.

Nº inventário: 1008.

Objectos semelhantes: Normalmente eram em vidro transparente ou opaco, branco leitoso ou azul. Constituídos por dois objectos, o copo que servia para colocar a água para bochechar a boca, que encaixava no orifício central do objecto inferior, a taça.
História: este tipo de lavabo só surgiu no século XIX, embora o hábito de bochechar a boca seja anterior. O desenho destes objectos surge em catálogos de vidros de meados do século XIX.
Em Portugal, a sua utilização à mesa, após as refeições, foi moda na Casa Real, no século XIX, a partir do reinado de D. Maria II. Surge também na lista dos objectos pertencentes a D. Fernando, feita em 1862, então também designados como rince-bouche ou finger glasses.
Nota: Para mais pormenor consultar o livro «Mesa Real. Dinastia de Bragança», pp. 106-107.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Dona de Casa em música

Pela voz da cantora Lina Maria e com acompanhamento musical da orquestra de Tavares Belo, foi gravado pela Rádio Triunfo um disco de 45 rotações intitulado «Dona de Casa».

Não encontrei qualquer registo à data mas parece tratar-se de uma gravação dos anos 60. A foto da capa é da autoria de Augusto Cabrita que foi também o responsável por outras capas de discos de sucesso na época, como os da Amália Rodrigues e de Simone de Oliveira.
Dona de Casa - Roy Lichenstein
A ideia de «dona de casa» implicava que a mulher não exercia qualquer profissão fora de casa. A sua actividade ficava assim circunscrita ao interior do domicílio, nas suas várias facetas de mãe, mulher, mas sobretudo exercendo funções domésticas. Este último aspecto começou a desenvolver-se no final do século XIX com a redução progressiva do número de criadas.
Com a simplificação das funções domésticas por via da industrialização, no período posterior à segunda guerra mundial, começou a esperar-se mais uma feminilização da mulher no interior doméstico. A publicidade dos anos 50 a 70 apresentavam um dona de casa cuidada, exercendo a sua actividade no lar com saltos altos, cabelo arranjado e vestida com elegância.

Em Portugal o concurso «Mulher Ideal Portuguesa», iniciado em 1966 e que se manteve até 1973, pretendia escolher uma dona de casa que soubesse cozinhar, mas que fosse também elegante e culta. Nos seus conhecimentos exigia-se mesmo que soubesse fazer cocktails e tivesse noções de decoração doméstica. Da iniciativa do Clube da Donas de Casa, de que fazia parte a directora da revista com a mesma designação, incluía no júri outros nomes como o de Maria Emília Cancela de Abreu, então directora da revista Banquete.

Na foto seleccionada para a capa do disco, Lina Maria surge sóbria mas elegantemente vestida, com uma saia preta e blusa branca e com sapatos de salto alto. A mão anelada segura num bloco de apontamentos onde regista os seus próximos passos, mostrando ser uma dona de casa organizada.
Sentada no escadote, onde está pendurado um pano do pó, tem a seus pés um balde e um alguidar de plástico, símbolos da modernidade doméstica, na época.
Uma imagem surpreendente para os nosso dias, que então fazia todo o sentido. Ou não fosse Augusto Cabrita um conceituado fotógrafo.

sábado, 3 de setembro de 2011

Objecto Mistério Nº 26. Resposta: Tesoura para cortar ovos quentes

O último objecto mistério apresentado corresponde a uma tesoura para cortar ovos quentes.

Apertando as suas “orelhas” surgem uns dentes que permitem cortar a parte de cima do ovo, tornando o corte da casca mais regular. Torna-se assim mais fácil chegar à gema e misturar a gema com a clara.

Quem não tem este objecto corta a parte de cima do ovo com uma faca, que depois roda. O resultado é o mesmo, mas a casca restante fica sempre mais irregular.

Não se pode dizer que os portugueses tenham muito o hábito de comer ovos quentes. São poucos os que o fazem, ao contrário dos franceses e ingleses.
Contudo, existem em Portugal vários modelos de oveiros, em cerâmica e porcelana, que mostram que tiveram algum uso em Portugal.
A mim os ovos quentes lembram-se sempre pequenos almoços de Domingo. É verdade que também eu me tenho esquecido deles, mas houve tempos em que cheguei mesmo a fazer uma pequena carapuça para tapar os ovos quentes no Inverno. Era uma época em que os dias eram maiores e o tempo passava mais devagar.