quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O azeite e a inflação

 De uma colecção de rótulos de azeite isolei estes exemplares semelhantes. Aos menos atentos parecem iguais e podiam fazer parte de um passatempo tipo: «Descubra as diferenças». 
São rótulos dos anos 80 e a diferença reside apenas no aumento progressivo do preço.
 O consumidor desatento pegava na garrafa com o rótulo igual e levava para casa o mesmo produto, mas mais caro.
 É uma forma fácil de explicar o que é a inflação, mesmo às crianças.
Lembro-me de uma época em que tinha que se fazer as compras rapidamente no princípio do mês porque já sabíamos que tudo ia aumentar.
 E o mesmo se passava com todos os outros artigos.
Os rótulos de óleo alimentar mostram que não havia saída.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Fábrica de Bolachas Paupério - 2. As embalagens.

 Como prometi no último poste, vou falar das embalagens de Bolachas da Fábrica Paupério.
 A razão deste tema prende-se com o meu gosto por caixas mas tem sobretudo a ver com os novos modelos de embalagens que esta fábrica pôs agora à venda e que se baseiam em modelos antigos.
Existem ainda na fábrica 4 modelos de tampas das primitivas embalagens, encaixilhados, quando a venda de bolachas e biscoitos era feita em caixas de folha-de-flandres revestidas a papel. Por serem menos resistentes que as embalagens em folha de lata litografadas são hoje mais difíceis de encontrar.
 Através de um antigo catálogo pudemos também constatar os modelos utilizados nas décadas de 1950-1960, caixas ao gosto da época, em folha de flandres, sextavadas, com cartelas com paisagens e outras mais clássicas cúbicas em dois tamanhos.
Desde há cerca de três anos começaram a produzir caixas em cartão branco e azul, bem como pacotes mais pequenos, em cartolina nas mesmas cores, que reproduzem um dos modelos iniciais.
Nelas são visíveis as medalhas ganhas na Exposição de Filadélfia em 1876, da Exposição do Rio de Janeiro de 1879 e da Exposição Horticola-agrícola que teve lugar no Porto, em 1877, no antigo Palácio de Cristal, cuja imagem se pode ver em posição central.
Este ano, antecipando o Natal, lançaram dois novos modelos em lata, em tronco de cilindro, uma reproduzindo um dos modelos anteriores em amarelo e laranja (que Gianni Versace se ainda fosse vivo não desdenharia) e uma outra mais clássica, ao gosto inglês, com a imagem de dois meninos novecentistas.
Já estão à venda e eu fui comprá-las só para lhes mostrar. O que eu faço pela indústria nacional!.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A Fábrica de Bolachas Paupério -1

Cartaz em vidro existente na loja (década de 1940-1950)
Aproveitei uma ida ao Porto para me deslocar a Valongo e visitar a Fábrica de Bolachas Paupério. Fui acompanhada por uma das suas zelosas funcionárias, a Ana Soares, que me foi explicando as várias fases de produção das bolachas.
Fachada actual da fábrica em Valongo
Esta empresa, que começou com uma parceria entre António de Sousa Paupério e Joaquim Carlos Figueira surgiu em meados do século XIX, mas foi em 1874 que se registou como «Paupério &  Companhia».
Fotografia antiga. Note-se a semelhança com as actuais.
Como então era habitual, a firma participou em várias exposições internacionais como a Exposição de Filadélfia em 1876, e a do Rio de Janeiro em 1879, cujas medalhas se iriam juntar à anteriormente ganha na Exposição Hortícula e Agrícola que teve lugar no Porto, no Palácio de Cristal.

Após a morte de António Sousa Paupério, em 1907, os seus herdeiros venderam a sua parte ao outro sócio fundador. Hoje a fábrica encontra-se nas mãos da 5ª geração da família Figueira.

Em 28/6/1935 a firma Paupério & Cª Sucessores, pediu o registo do nome «Fábrica Paupério, Biscoitos e Bolachas»[1], com despacho em 27/4/1936[2].

Em 1938 registaram as seguintes variedades: Roscas Inglesas, Bolacha Comum, Biscoitos de Viseu, Morgadinhos e Provincianos. Alguns meses depois registaram as bolachas «Mocidade»[3], de feitio quadrado e tendo impresso as cinco quinas. No ano de 1941 foi registada a marca «Bolo Rei Paupério»[4], que continuam a produzir. Em 1946 foi feito o registo da marca «Paupério» para compotas, conservas e geleias de frutos e marmelada[5]. 
Registo do modelo de Bolachas Mocidade

Na década de 1950 a fábrica foi apetrechada com moderna maquinaria e, embora posteriormente tenham adquirido novas máquinas, em que se inclui a que faz chocolate, muitas das resistentes máquinas mantém-se ainda hoje ao serviço.
Conscientemente guardaram as máquinas que já não se encontram a trabalhar, num projecto para a instauração de um museu sobre a fábrica, que faço votos se venha a concretizar.

Presentemente produzem cerca de 32 variedades de bolachas e biscoitos, para além do Pão-de-Ló Paupério e do Bolo-rei Paupério produzidos nas épocas festivas. Algumas das receitas mantém-se inalteráveis como é o caso da «Tosta Rainha» fabricada em 1886 em homenagem à rainha D. Amélia.
Ver o funcionamento da fábrica foi um prazer para mim. Pude observar a saída ininterrupta das bolachas, de vários feitios, modeladas por um rolo em metal brilhante e colocadas depois em tabuleiros transportados pelas operárias para serem levadas aos forno, num movimento contínuo coordenado. Uma imagem que não se modificou muito ao longo dos anos, como nos mostram as fotografias antigas.
Apesar da sua idade continua impressionante o grande forno de 9 metros, onde entram os tabuleiros com as bolachas, numa viagem calma, para saírem na outra extremidade ao fim de cerca de 7 minutos, já douradinhas e prontas a embalar.
Zona Final de Embalamento
A fábrica possui uma loja de venda dos seus produtos, aberta ao público, onde recorrem as pessoas da terra para comprar as suas bolachas preferidas a peso. A avaliar pelo movimento não tenho dúvidas que são de grande agrado na região. E serão seguramente no resto do país se se divulgar mais a sua venda.
Um aspecto da loja da fábrica
Estão já a ser vendidas por várias lojas, em embalagens que reproduzem as caixas antigas ou, nos modelos mais pequenos, representando adaptações ao gosto da época.
Este ano vão reproduzir um outro modelo de caixa que já se encontra à venda. Para não me alongar mais falarei sobre as embalagens no próximo poste.



[1] BPI, 1935, Nº 6, p. 237.
[2] BPI, 1936, Nº 4,p. 182.
[3] BPI, 1938, nº9, p. 400.
[4] BPI, 1941, nº 7, p. 233.
[5] BPI, 1946, nº1, p. 55.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Pyrex no serviço de mesa

Este poste é dedicado ao meu amigo Sérgio que não gosta de Pyrex na mesa.

É um artigo de 1931 publicado na Revista ABC, de 11 de Junho.


Não é claro que se trate de Pyrex, que nunca é mencionado no artigo, mas podia bem ser, porque este foi registado em Portugal pela empresa de Nova Iorque «Corning Glass Works», em Outubro de 1919, apenas quatro anos após o seu início de produção nos Estados Unidos.
O seu uso era moderno na altura e teve o seu apogeu nas décadas de 1950-1960.
Hoje não passou de moda mesmo que haja quem não goste. Não me incluo nesse grupo. Há modelos lindíssimos e temos que reconhecer que foi um grande avanço na industria do vidro.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Objecto Mistério Nº 32. Resposta. Caixa para servir cerejas

 Agora compreendem a razão do meu encanto por esta peça.

Se fosse uma boleira ou uma compoteira não me teria entusiasmado.

De resto é demasiado grande para compoteira e como boleira, como a tampa não isola bem, as bolachas ou biscoitos iriam rapidamente ficar moles.

Não conhecia nenhum objecto para levar as cerejas à mesa, que normalmente sirvo numa taça. 

Espero que acreditem nesta utilidade. Eu acreditei.
 Foi por isso que a comprei.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Objecto Mistério Nº 32

 
Na minha última ida ao Porto não resisti aos encantos desta peça.

Não tanto pelo objecto em si, mas pelo fim que me foi dito a que se destinava.

É um utensílio em casquinha com uma base assente em 3 pés e uma tampa.

A meio tem um arco que forma duas asas que permitem segurar na peça e que envolvem um corpo em vidro. De forma cilíndrica, este recipiente apresenta-se facetado. Tem 15 cm de altura e uma circunferência de 10 cm.

Claro que como tudo pode servir para o que quisermos mas este tinha uma função específica. Para que era utilizado?

domingo, 11 de novembro de 2012

O Super Pop Limão

O Super Pop foi, a par com o Sonasol, um dos detergentes portugueses com maior prestigio.
Era produzido pelo grupo Unisol Sociedade de Distribuição e Exportação que pertencia à Quimigal desde 1967. O primeiro registo que detectámos deste detergente foi em Abril de 1973. Só em 1989 a Quimigal passou a deter a totalidade do capital social da Unisol.

Em 1990 a Quimigal fez uma alienação parcial do grupo Unisol que passou para a Colgate Palmolive. Com esse acto muitas das mais importantes marcas nacionais, tanto de higiene pessoal como de limpeza doméstica, e onde se incluíam os sabonetes Festa e Feno de Portugal, a lixívia Javisol, os produtos Feno Vert Sauvage, o detergente Xau e os detergentes para louça Pop e Super Pop, mudaram de mãos. No ano seguinte os 30% detidos pela Quimigal passariam em definitivo para a empresa internacional Colgate Palmolive.
 Em 1992 era registado o «Super Pop Creme Limão», em 1993 o «Super Pop 2000 Caça Gorduras», de que não me lembro nunca de ter ouvido falar, e em 1998 o «Super Pop Amoniacal». Todos registados pela Colgate Palmolive.
Este saco moderníssimo, oferta do Super Pop Limão, tal como o próprio logótipo do detergente, adaptava-se bem ao gosto da Pop Art, fazendo lembrar obras de Andy Warhol na fase em que abandonou a publicidade comercial para se dedicar à arte.
Este saco do Super Pop Limão, tomado como objecto de arte, podia equiparar-se à representação de objectos vulgares feitos por Andy Warhol, tal como as caixas de detergente «Brillo», realizadas em serigrafia, em 1964.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O vinho nos cartazes de Mário Costa


O cartaz com as «Regiões Vinícolas de Portugal» foi encomendado pela Junta Nacional dos Vinhos (JNV), fazendo parte das suas campanhas de propaganda a favor do vinho. Esta instituição foi criada por decreto, em 19 de Agosto de 1937, para defesa da produção e comércio do sector vinícola em Portugal, numa altura em que se procurou também incentivar outras áreas da Agricultura.
Para realizar o cartaz foi escolhido Mário Costa (1902-1975) que trabalhara já noutros projectos da JNV logo no início da actividade deste instituto.

Em Junho de 1938 foi aberto um concurso para a execução de três cartazes para propaganda do consumo da uva e do vinho. Neles deviam ser incluídas mensagens que transmitissem a ideia da uva como alimento saudável, considerar o vinho como uma bebida higiénica alimentar e valorizar o papel social do vinho.
Desse projecto, atribuído a Mário Costa, sairiam três potentes cartazes de propaganda, com a estética do Estado Novo, que marcaram a memória dos que os conheceram. Num deles encontramos a expressão: «Quem beber vinho contribui para o pão de mais de um milhão de portugueses»; no segundo a mensagem: «Uvas fonte de saúde e de alegria» e no terceiro, o mais famoso: «Beber vinho é dar pão a 1 milhão de portugueses», todos de 1938.


Mário Costa teve uma actividade variada no campo da arte. Foi pintor, tendo sido discípulo de E. Paula Campos. Fez os cursos de formação artística da Escola Machado Castro e de pintor-decorador da Escola António Arroio.
Foi ilustrador de livros, tendo feito o grafismo para o conto «O quadro Mágico» de Fernanda Mattos e Silva, publicado no «O Senhor Doutor,» a 19 de Maio de 1934, ilustrou o livro de Odette de Saint Maurice «O canto da Mocidade» e ilustrou a capa do livro de João Verdades, «Hipólito do Ó», da Editorial Século, em 1938.
Fez decorações para a Exposição do Mundo Português e ganhou o prémio Roque Gameiro do SNI em 1945.
Foi também da sua autoria a extraordinária capa do relatório comemorativo do XX Aniversário da Campanha do Trigo, 1929-1949, da Federação Nacional dos Produtores de Trigo (F.N.P.T.), publicado em 1949, bem como de cartazes de propaganda aos produtos madeirenses.
Um outro aspecto da sua actividade foi a sua acção como vitralista. Aos 23 anos, começou como aprendiz de Ricardo Leone, na sua oficina em Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, de que ainda existe o local. Nas décadas de 1920 a 1940 trabalhou com ele sendo responsável pela continuidade do trabalho de Leone na recuperação dos vitrais do Mosteiro da Batalha. Realizou os vitrais «Camões e os Dez Cantos» e, juntamente com Leone, os da «Travessia do Atlântico», evocativos do feito de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, trabalho que recebeu o Grande Prémio da Exposição do Rio de Janeiro, em 1923, e que se encontra na Sociedade de Geografia de Lisboa.
Mosteiro da batalha. Sala do capítulo. Vitrais do século XVI restaurados

Na década de 1940 reconstruiu os vitrais dos Jerónimos, bem como os vitrais da Sé de Lisboa e do Porto, e das Igreja da Conceição, no Porto. Alguns dos vitrais da Igreja de Fátima e do Santo Condestável, em Lisboa, são da sua autoria.

Foi também autor do vitral da Igreja da Lapa, no Porto, que se intitula «O Nascimento» e de um vitral, mais moderno, para a Pastelaria Mexicana.

No ano de 1963, Mário Costa pintou vitrais para a frontaria da igreja de Nossa Senhora dos Anjos, na Lourinhã, que conhecia bem, por ter casa na Areia Branca.

Dedicou-se, igualmente, ao cinema português onde trabalhou nos decors de vários filmes como: «O Fado», «O Homem do Ribatejo», o «Filho do Homem do Ribatejo», «Camões», «A Mantilha de Beatriz», «Ladrão Precisa-se», «O Costa do Castelo» e «A Vizinha do Lado».

Um homem com uma actividade multifacetada, de que pouco se sabe, e de que ficamos com a impressão de que muito outros trabalhos não foram mencionados. Vou estar alerta.


Bibliografia
Carlos Silva Barros, O vitral em Portugal, 1983.
Informação Vinícola, 30 de Junho de 1938.
Fernando Pamplona, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Livraria Civilização Editora, 1991.
Maria da Conceição Brito, Acção e Património da Junta Nacional de Vinho (1937-1986), Lisboa 2007.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Festividades alimentares do dia de Todos-os-Santos

 A festa do dia de Todos-os-Santos é celebrada a 1 de Novembro, em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não, numa tentativa da igreja para não esquecer nenhum.
Ligada a esta festa existem rituais e hábitos alimentares que, em Portugal, variam de região para região, mas que têm muito em comum, em especial o peditório cerimonial feito por crianças. A esse peditório feito porta-a-porta respondia a população com ofertas alimentares, consoante as suas possibilidades e os hábitos da terra.
Embora tenha desaparecido em muitas regiões, era tradicional um grupo de crianças andar pelas terras a cantar canções às portas e a pedir o “Pão por Deus”. As pessoas que abriam as suas portas ofereciam maçãs, romãs, castanhas, rebuçados, nozes, bolos, como broas de milho, chocolates e até dinheiro.
Já no século XV a festa de Todos-os-Santos era designada Dia de Pão por Deus[1]. Nalgumas regiões também se chama a este dia o “Dia dos bolinhos”.

Na Beira Baixa era costume os padrinhos oferecerem aos seus afilhados o Santoro. Este é um pão comprido que se tornou uma oferta cristã, mas que deriva de um costume pagão, a oferenda dos mamphula ou pão Sírio, usada pelos romanos[2].
No Tortozendo, perto da Covilhã, esse bolo era alongado e levava azeite, mas por toda a Beira Baixa existia o hábito de fazer um pão deste tipo, nalguns locais em forma de ferradura. É a este pão que se deve a expressão «Pedir o Santorinho», usado nesta região, com o mesmo sentido de «Pão por Deus». Na freguesia do Castelo (Sertã) estes «bolos dos Santos» levam farinha de trigo e milho, ovos, mel ou açúcar, canela e erva-doce[3].
Em Castelo Branco, para além dos Santorinhos, é também tradição nesse dia comer as “papas de carolo” ou “papas de milho”, decoradas com canela.
Em Coimbra estas festividades têm o nome de «Bolinhos e bolinhós» e apresentam características diferentes no comportamento das crianças, que se estendem a toda a região. Nos anos 50-60 ainda havia crianças que passeavam por Coimbra com abóboras recortadas a cantarem a cantilena com o mesmo nome[4]. Em alternativa utilizavam uma caixa de sapatos, em papelão, em que faziam recortes que semelhavam os olhos, o nariz e a boca e com uma vela lá dentro. Este costume pagão, que parece ter origens celtas, não existia só na Irlanda, mas noutras regiões europeias, e viria a dar origem ao Hallowen.

 No Alentejo em Santa Luzia (Cercal do Alentejo) o dia chama-se «Dia dos bolinhos», sendo estes feitos com pão e preparados de propósito para oferecer às crianças que andam pelos montes[5].
Também no Algarve, em Odeceixe, eram feitos estes peditórios cerimoniais e oferecidas às crianças castanhas e broas, que levavam erva-doce, mel e azeite e que estas agradeciam com cantigas[6].

Em Trás-os-Montes e até na Ilha da Madeira e Açores existia este costume, pelo que podemos dizer que era generalizado, mas que se foi perdendo em especial nas grandes cidades.

As crianças quando vão fazer o peditório de porta-em-porta cantam várias melopeias. E a letra muda consoante a aceitação do seu pedido. Estas são de agradecimento, favoráveis aos donos da casa, quando recebem oferendas ou, nos casos em que nada recebem, de insulto aos mesmos. Aqui se transcrevem algumas:

Quando pedem:

Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus.

Ou:
Lá vai o meu coração
Sozinho sem mais ninguém
Vai pedir o Pão-por-Deus
A quem quero tanto bem

Pão por Deus
Que Deus me deu
Uma esmolinha
Por alma dos seus

Na região da Sertã, a cantilena é diferente:
Bolos, bolos,
Em honra dos Santos todos
Bolinhos, bolinhos,
Em honra dos Santinhos.

Ou na região de Coimbra:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Qu'estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz

Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
Faz favor de s'alevantar
P´ra vir dar um tostãozinho."

E a cantilena muda consoante recebem o seu donativo ou não :

Quando recebem alguma coisa:
"Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa.
ou
Esta casa cheira a vinho
Aqui mora algum santinho."

Quando os donos da casa não dão nada:
Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho
ou
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto
ou
Esta casa cheira a pão
aqui mora algum papão
ou
Esta casa cheira a breu
Aqui mora algum judeu[7]



[1] Braga, Teófilo, O povo português nos seus costumes, crenças e tradições, vol II, p. 222.
[2] Braga, Teófilo, O povo português nos seus costumes, crenças e tradições, vol II, p. 223.
[3] Dias, Jaime Lopes, Etnografia da Beira, vol VII, p. 155.
[4] Informações fornecidas pela minha amiga Cecília Rosa, que viveu em Coimbra.
[5] Oliveira, Ernesto Veiga, Festividades Cíclicas em Portugal, p. 183
[6] Oliveira, Ernesto Veiga, Festividades Cíclicas em Portugal, pp.182-183.
[7] Informação fornecida por uma senhora de 90 anos que dizia que se lembrava deste costume desde sempre e desta rima que tinha caído em desuso após a 2ª Guerra Mundial.