terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Objecto Mistério Nº 6

O objecto mistério de hoje é um utensílio de cozinha.

Nos anos 50-60 era um “must” nas cozinhas requintadas, usado em dias de festa para impressionar os convidados.

Foi também usado por restaurantes refinados para aumentar a sedução das apresentações das travessas. Não sei se se recordam mas naquele tempo a comida era apresentada em travessas. Uma forma completamente racional, a que voltaremos quando acabar a moda dos empratados.

parece que foi há muito tempo!.

Estranhamente, este utensílio doméstico desapareceu, e não me recordo de ver um desde a minha infância, até que me deparei com este exemplar.

Fica exposto à vossa curiosidade.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Sonasol

O detergente Sonasol foi o produto para lavagem de louça com maior sucesso em Portugal. Era produzido pela Sociedade Nacional de Sabões (SNS), na sua fábrica em Marvila, em Lisboa.

Vem esta dissertação a propósito da embalagem de vidro que apresento, que penso tratar-se dos anos 60.

A produção de sabões em Portugal é muito antiga e seria preciso um estudo profundo para falar sobre ela.

Por agora, centremo-nos na Sociedade Nacional de Sabões que foi fundada em 1919, aproveitando as instalações de uma anterior fábrica: «A Saboaria Nacional do Beato».

O principal período de expansão da empresa deu-se dos anos 20 aos 50 do século XX, tendo-se traduzido num acréscimo progressivo do espaço industrial, que se justificava, por um concomitante aumento da produção e diversificação de produtos.

O Sonasol foi criado em 1951, de acordo com a notícia publicada em «Meios e Publicidade», em Agosto de 2006, em que se afirmava que o Sonasol fazia 55 anos. É natural que a primeira forma de apresentação fosse em barra de sabão, seguindo a tradição inicial.
De acordo com o folheto, de que apresentamos imagens, datado de 1959, estabelece-se a afirmação da existência de «um sabão português para lavar à portuguesa» referindo-se à lavagem da roupa.
Terá sido provavelmente nesta data que começou a surgir uma necessidade de separação da utilização do sabão em barra e da de um detergente com a forma líquida, sob a mesma designação Sonasol.
O detergente líquido Sonasol, embora inicialmente fosse lançado como um produto multi-usos, com indicação para louça, roupa, tapetes, superfícies pintadas, etc, como informava na própria embalagem, foi a sua utilização na lavagem de louça, que acabou por se sedimentar.

Em 1961, a Sociedade Nacional de Sabões, ainda se apresentava próspera e chegou a estabelecer um contrato com a Colgate-Palmolive para a produção dos sabonetes Palmolive em Portugal. O dentífrico Colgate e os produtos para a barba Palmolive foram produzidos pela Colgate-Palmolive em linhas de produção instaladas na antiga fábrica em Marvila.

Em 1975 a fábrica produzia, para além do Sonasol, outros detergentes líquidos das marcas Lavax, Lavax Rosa, Lavax Lãs e Soflan (Portaria 416/75 de 1975 que estabelecia as margens de comercialização).

A fábrica de Marvila manteve-se em laboração até aos anos 80.
Em 1989, a multinacional alemã Henkel, fundada em 1879, que já havia entrado em Espanha em 1960 através da aquisição de fábricas espanholas do ramo, comprou a Sociedade Nacional de Sabões. A Henkel, ainda chegou a ter uma fábrica em laboração em Alverca até 2004, que transferiu para Espanha. Desde então a representação em Portugal passou a ser uma sucursal ibérica e não se produz qualquer produto no nosso país.
A marca Sonasol, de origem completamente portuguesa, continuou a fazer parte da linha de detergentes para louça e limpeza da Henkel, embora hoje de portuguesa só tenha o título.
Por razões que desconhecemos, nós os portugueses, temos o péssimo hábito de dizer mal das coisas portuguesas. Mas há marcas que entraram no coração dos portugueses e ficaram.
Quando a TAP passou um dos seus piores momentos económicos, um inquérito feito a nível nacional, veio mostrar o afecto dos portugueses à transportadora aérea. A empresa não podia acabar porque já era considerada um «produto nacional».
O Sonasol, em barra ou líquido, foi uma dessas marcas que os portugueses aceitaram como sua.
Hoje continua um símbolo nacional, recordado com saudade, quer os alemães queiram ou não.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Resposta ao Objecto Mistério Nº5: Base para espargos

O objecto mistério faz parte de um conjunto de prato para espargos.
Nesta base ou berço eram colocados os espargos, de forma a libertarem alguma água que sempre deles escorre.

O prato inferior que apresento não faz parte do conjunto, mas infelizmente já não consegui adquirir a travessa que o devia acompanhar.

Este é uma versão moderna da Fábrica Bordalo Pinheiro, que se extinguiu no mês passado, para desgosto de todos os verdadeiros portugueses.

Apresento um outro modelo em que o princípio é semelhante, isto é, tem um tabuleiro superior para colocar os espargos.
A maior parte dos pratos, porém, são circulares e caracterizam-se por terem saliências, que permitem separar os espargos dos molhos, que habitualmente os acompanham. Alguns têm orifícios numa placa central amovível, que permite também escorrer a água.













Os modelos são imensos e há coleccionadores apenas destes pratos, em especial em França.

Durante o século XIX os espargos estiveram muito na moda, pelo que a maioria dos pratos são dessa época. Mas existem outros, mais rústicos, em faiança, do século XVIII, que também têm muita procura.
São todos interessantíssimos e eu morro de inveja pelos vários modelos que gostaria de ter e não tenho. Agora os invejosos vão ser mais.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Objecto Mistério Nº 5


O objecto mistério de hoje é um utensílio de mesa.

Foi sobretudo utilizado no século XIX.

Podem apresentar-se em prata, em Christofle ou em qualquer outro metal.

O que se apresenta na foto mede 20 cm entre as extremidades das duas hastes.

É utilizado com um prato próprio inferior, demasiado óbvio da sua utilização, razão porque não o apresento.

Aceitam-se sugestões.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Livreiros de gastronomia: Rémi Flachard


Não são muitas as livrarias especializadas em livros de gastronomia e culinária.

Na grande maioria das vezes os amantes deste tipo de livros procuram-nos em livrarias ou catálogos gerais.
Mesmo para os livros novos as livrarias normais são muitas vezes decepcionantes porque em número e qualidade deixam muito a desejar.
Além disso, hoje em dia, é impossível encontar um vendedor, numa livraria não especializada, que saiba alguma coisa sobre livros.
Ainda me lembro do António que trabalhava na Férin e que nos aconselhava sobre os livros que tinham acabado de sair ou sobre os antigos. Quando se foi embora a livraria nunca mais foi a mesma.

Nas grandes lojas onde vendem livros, o máximo que se consegue é perguntar a um empregado se tem um determinado título. Ele procura no computador e responde-nos. Às vezes mal. Mas livreiros, daqueles com quem ficamos a conversar, já só é possível encontrá-los nas lojas de livros antigos. É sobre esses que irei falando.

Portugal é um mercado pequeno para especializações, mas nos outros países este tipo de lojas também não abundam.

Falo hoje na Livraria de Rémi Flachard, em Paris. Situa-se na Rue du Bac, 9, perto do Sena e existe há cerca de 19 anos.
É uma loja de pequenas dimensões onde se podem encontrar preciosidades.
O seu trato não permite grandes familiaridades. Conheço-o há pelo menos 15 anos e ainda hoje me trata com imensa reserva. Apesar disso fala de Portugal , que visitou há muitos anos, com afecto. Descreve as suas recordações com pormenor embora, com o tempo, os nomes já lhes escapem.
A pequena loja tem sempre a porta fechada. Quando entramos olha-nos sem grande entusiasmo. O máximo de tecnologia que se permitiu ao longo do tempo foi o telefone. Não tem computador, não aceita cartões ou cheques. Apesar do preço elevado dos livros afirma sempre que ali perto existe uma máquina que dá dinheiro a todos os estrangeiros que lá vão, levando-nos a crer que para os franceses o pagamento em dinheiro é do conhecimento geral.

Os seus catálogos são uma fonte de conhecimento. Neles se encontram as maiores raridades nesta área, surpreendentemente, em estado impecável e com encadernações da época. O pior de tudo são os preços que não são minimamente acessíveis à bolsa dos portugueses.

Para além disso, conhece tudo o que foi publicado e os livros actuais que têm interesse na área da culiária ou vinhos.
Pergunta-nos o que procuramos e vai buscar o que se adequa às nossas necessidades. Se não tiver, diz-nos que saiu um título que nos pode interessar. Fala-nos de exposições relacionadas com o tema e tem sempre à venda algum objecto especial.

Da última vez que o visitei tinha à venda, por um preço inimaginável para portugueses, uma colecção de potes de mostarda. Mostro-lhes algumas fotos que me permitiu tirar com o telemóvel.
Não vou muitas vezes a Paris, mas quando lá vou procuro sempre arranjar algum tempo para dar um salto. É sempre um visita excitante para mim e que realizo antes de tudo. Paris pode esperar.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Istambul e o Café Turco

Voltei a Istambul e cruzei-me novamente com o café turco e a sua história.

O café foi introduzido em Istambul em 1543 no reinado do Sultão Suleimão, o Magnifíco. Atribui-se essa acção a Ozdemir Pasha, um egípcio da tribo dos Mamelucos, grande responsável por multiplas vitórias otomanas e mais tarde governador Otomano no Iemen, onde aprendeu a degustar esta bebida

No palácio de Suleimão depressa o café se tornou apreciado, estendendo-se esta agrado a toda a corte. Nas famosas cozinhas palacianas surgiu uma nova função: a de “Cafezeiro” Chefe (kahvecibaşı), isto é, a pessoa de confiança para fazer o café do Sultão. A sua importância foi tal que, ao longo da história, muitos dos que exerceram essa função chegaram a Grão Vizir do Sultão.

Como sempre acontece, estes gostos espalharam-se pelas grandes casas e depois pelo público em geral.

Até quase ao final do século XIX os grãos de café eram comprados em grão ainda verde, torrados em casa e depois moídos em pequenos almofarizes. O café era depois fervido lentamente em cafeteiras chamadas "cezve", como já descrevi anteriormente (ver post de 9 de Outubro de 2008).

No final do século XIX um comerciante de nome Mehmet Efendi, herdou por morte de seu pai uma loja de especiarias e de grãos de café. Em 1871, começou a torrar os grãos de café e a moê-lo, vendendo-o já pronto para fazer o café turco.
As pessoas podiam agora fazer com facilidade o café turco, comprado já em pó fino a Kurukahveci Mehmet Efendi.

Quando em 1931, Mehmet Efendi morreu, o negócio passou para os seus três filhos que, em 1934, tomaram o nome de "Kurukahveci” para si e para o negócio que dirigiam.

No local da antiga loja, em Tahmis Sokak, mesmo à saída de uma das portas do chamado «Mercado das Especiarias», mandaram construir um edifício nos anos trinta, em estilo Art Deco, projectado por um conhecido arquitecto da época, Zühtü Başar. É nesse local que se mantém a sede e uma loja.

Foi com surpresa que descobri uma fila de compradores que, em silêncio, se aproximavam da janela, já com o dinheiro na mão, e sem necessitarem de palavras, recebiam um pacote de café moído, embalado em papel creme com letras castanhas, onde se encontrava a marca do café.

O movimento da rua é tal que não me foi possível tirar boas fotografias, porque somos empurrados pela multidão, à excepção da fila silenciosa que se desloca junto à parede da loja.
Lá dentro três jovens, de bata castanha, trabalham sem parar. Um introduz o café nos pacotes com uma velocidade vertiginosa, outro fecha o pacote e o terceiro entrega-o ao cliente.

Já no aeroporto encontrei este pacote metalizado e caixas com apresentação Art Deco, com o mesmo produto que havia visto à venda. Identifiquei o logótipo e comprei um pacote para descobrir a sua história.
Hoje esta empresa que começou com uma pequena loja, tem representações em vários países, onde a apreciação pelo café turco se mantém.
Pessoalmente fiquei contente por ter descoberto um local importante na história do café, por acaso, talvez pelo cheiro, sem guia turístico e por ter sido capaz de “colar” as pontas soltas desta história de sucesso.




Duas formas de apresentação do café, que ostentam a data de 1871.