terça-feira, 22 de outubro de 2019

Um "Triclinium des Anciens" com mistério


 Esta oferta do meu amigo Bernardo Trindade deixou-me cheia de alegria. É uma gravura lindíssima que representa um banquete romano que teve lugar no triclinium, que à época correspondia à sala de jantar. No Império Romano, as casas dos cidadãos mais abastados possuíam um pátio rodeado por colunas designado peristilo. Era ao redor deste que se encontravam as salas mais importantes e entre elas o triclínio, ou sala destinada aos banquetes. Designados symposium tiveram a sua origem na Grécia, influenciados pelo reino da Lídia, passaram à Etrúria, e posteriormente ao Imperio romano.
Nesta gravura vê-se a mesa em U aberta para o exterior e, à sua volta, os leitos onde se deitavam os convidados confortavelmente vestidos e normalmente descalços, como é o caso. Os simposium gregos era exclusivamente masculinos enquanto nos romanos encontramos a presença feminina. 
A refeição é acompanhada por música e os escravos servem a refeição e oferecem as bebidas. Esta presença de bebida durante a refeição leva-nos a orientar para o banquete romano, uma vez que no grego as bebidas tinham lugar no final da refeição. A gravura mostra-nos a presença do anfitrião no lugar de honra, dito do cônsul (o locus consularis) e, como era de regra, a presença de 3 pessoas em cada um dos leitos.
Pensamos hoje como foi possível comer deitado e achar isso confortável ou luxuoso. Terá sido no séc. VII a.C. que os banquetes, que decorriam sentados, passaram a ser deitados, posição que os etruscos assimilaram dos gregos e posteriormente o fizeram os romanos.
Nesta gravura de que eu desconheço a origem uma vez que não consegui localizar a obra, (embora saiba que se encontrava no tomo IV na p. 220, como se encontra escrito na parte superior da gravura), existe uma discrepância: o anfitrião e uma das figuras apresentam-se com a cabeça coberta. Como interpretar este facto sobretudo sem ter noção da obra e da data da gravura?.
Como esta é uma área que não domino minimamente fica aqui o desafio para quem souber mais. Não é um Objecto Mistério mas uma imagem mistério de que agradeço a ajuda no esclarecimento.

sábado, 12 de outubro de 2019

Uma compota de gamboas

Um presente de gamboas obrigou-me a ir para a cozinha fazer doces. Esta fruta é muito semelhante aos marmelos, mas menos ácida, pelo que se pode comer crua (facto que não experimentei).
Quando falo num fruto ou planta gosto de ir ver o nome latino e a família a que pertence, sobretudo quando o conheço mal. Neste caso foi difícil porque não sei o nome da gamboa em inglês e em português, mesmo artigos científicos dizem que o marmelo é a Cydonia Oblonga Miller. Apenas num dos casos é feita a distinção entre o marmelo, (Cydonia vulgaris Pers.) e a gamboa, (Cydonia oblonga Miller), dizendo que são semelhantes em aspecto, mas como a gamboa é menos ácida não precisa ser transformada em geleia ou marmelada. De qualquer modo ou a gamboa é desconhecida ou então não percebo como as duas designações são sinónimas. 
Como a compota de marmelo é a minha preferida dos doces feitos com esse fruto resolvia aplicar a mesma receita à gamboa. Bem, a mesma receita não foi. Primeiro porque estava preguiçosa e deixei os quadrados da fruta maior que o habitual e em segundo lugar porque os cozi directamente em água, com especiarias e só depois juntei o açúcar. No final adicionei umas gotas de limão para aumentar a pectina (não sei se tem a mesma que os marmelos). De qualquer modo o resultado foi excelente.
Claro que não será uma conserva muito duradoira, devido ao baixo ponto de açúcar. O que me fez lembrar o autor anónimo de Arte Nova e Curiosa para Conserveiros, Confeiteiros e Copeiros, livro publicado em 1788 que dava uma receita em que as pêras depois de uma primeira fervura eram metidas em açúcar em ponto de espadana para acabarem de cozer. Iam à mesa com a calda, quentes ou frias, «e durão assim nesta calda perfeitas quatro dias». Era por essa razão que o autor designou a receita: «Compota de peras para logo».
A minha vai ser mesmo para logo, mas dada a quantidade há-de dar para muitos mais dias.