segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Objecto Mistério Nº 21. Resposta: Mastigador de Carrier

À minha primeira pergunta “como se chama” tenho que responder que o objecto mistério apresentado no post anterior é um «mastigador».
Embora a verdadeira designação seja «masticador», tal como está identificado no objecto, e é esse o nome porque é habitualmente conhecido, em português correcto deve dizer-se mastigador. Da mesma forma como o músculo que tem o mesmo nome.
Este é um «masticador de Carrier», embora, para ser sincera, desconheça se existem outros tipos.

Num anúncio publicado na revista”Caras e Caretas”, uma revista popular publicada no Brasil e na Argentina, desde os finais do século XIX até pelo menos aos anos 40, surgia uma imagem de um objecto idêntico ao aqui apresentado. O número em que tal foi publicado datava de 18 de Dezembro de 1900, e identificava-o como sendo útil à mesa para facilitar a mastigação dos alimentos.

Foi realmente no final do século XIX que este utensílio, com seis lâminas, foi inventado. Era aconselhado pela sua acção de mastigação prévia à humana, ou melhor dizendo, que a substituía nos casos em que a dentição não era adequada, como acontecia com as crianças e os idosos, considerando estes últimos o “masticador Carrier” um verdadeiro alívio. A sua maior utilização era na trituração da carne.
E o anúncio concluía que este era recomendado também  pelos médicos para os doentes de estômago.
É por esta última razão que o mastigador tanto é apresentado em catálogos médicos como em catálogos de culinária. Faz parte também do espólio de museus de odontologia.
Hoje vende-se em lojas de especialidade de culinária, a par de outros utensílios de cozinha mais comuns.
A Victorinox, a marca que associamos aos canivetes suíços, tem no seu catálogo de utensílios de cozinha um mastigador semelhante ao apresentado.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Objecto Mistério Nº 21

O objecto mistério de hoje é em aço inoxidável, mede 18 cm e, como podem ver, é articulado.

As perguntas são as seguintes:

            - Como se chama?
            - Para que serve?
Nota:
Não é por acaso que as perguntas estão no presente. Este objecto, embora esquecido, encontra-se ainda hoje à venda.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Peixes perigosos comestíveis

Foram dois peixes embalsamados que comprei que me levaram a uma reflexão sobre peixes perigosos usados na alimentação.
Os dois peixes em causa, de pequenas dimensões, são um peixe balão e uma piranha.
Sobre a piranha sempre me foi transmitida a ideia de que comem pessoas, o que é verdade. Nunca no entanto tinha pensado que também são usadas em culinária. A piranha é um peixe de água doce, carnívoro, com uma capacidade para detectar quantidades ínfimas de sangue à distância. Por isso mesmo é também fácil de apanhar utilizando animais sangrantes como isco.
O modo mais comum de utilização é em caldo, isto é, como sopa de peixe, sendo o mais conhecido o “caldo de piranha matogrossense”. Mas é também usado em filetes.
Em 2006, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia (Inpa), em Manaus, assinou um registo de patente de uma sopa de piranha solúvel. Baseada em estudos levados a cabo pelo pesquisador Edison Lessi, destinava-se a ser comercializada industrialmente. A patente foi comparada por um empresa, a Manausrio Alimentos Orgânicos Ltda, do Rio de Janeiro. A intenção era distribuir o produto no mercado asiático, com o atractivo do seu suposto poder afrodisíaco, como acreditam os indígenas localmente.
Uma tragédia, porém, veio parar este projecto. No regresso da assinatura do contrato, em 29 de Setembro de 2006, o empresário da Manausrio, Márcio Aquino de Oliveira, foi uma das vítimas do maior acidente aéreo do Brasil. Depois disso não encontrei mais qualquer informação sobre esta comercialização de sopa de piranha, que continua a ser uma especialidade da região de Mato Grosso.

Quanto ao segundo peixe trata-se do “peixe balão”, nome que se deve ao facto de inflar o seu corpo, em situações de perigo, tomando a forma de um balão e apresentando então os múltiplos espinhos, que lhe dão um aspecto ameaçador. Dá também pelo nome de “fugu”, sendo conhecido que é extaordináriamente apreciado na Coreia e Japão.
Se não for correctamente preparado pode levar a uma morte cruel, que se deve ao efeito de uma toxina que se encontra nos órgãos internos, em especial no fígado, e que é 1200 vezes mais mortal que o cianeto, Apesar de se saber do risco desta neurotoxina (tetradotoxina) que, pode levar a paragem respiratória, sem alterações da consciência, e de que não se conhece antídoto, nada faz desistir os seus apreciadores de darem somas elevadas para o saborearem. Apresentado de várias formas é como «sashimi», que é mais apreciado.
O Japão tem desde o século XVI legislação que restringe o seu consumo e presentemente apenas chefes de cozinha credenciados o podem preparar. O facto de apenas a contaminação dos tecidos com a toxina poder levar à morte, faz com que, apesar de todos os cuidados,  todos os anos morram pessoas por o consumirem. Gostos perigosos!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O café restaurante Santa Cruz em Coimbra

O café Santa Cruz é um local de visita obrigatória na cidade de Coimbra. Beber um chá ou um café no seu interior transforma-se num momento de repouso e contemplação. Eu diria: «como se estivessemos no interior de uma igreja». E na realidade é disso que se trata, estamos mesmo dentro da antiga igreja paroquial de São João das Donas ou de Santa Cruz . Fica anexa à igreja do mosteiro de Santa Cruz e possuía um porta de comunicação, entretanto fechada, entre as duas.
O espaço à esquerda corresponde à antiga zona do altar
O espaço ocupado pelo café tem planta rectangular e corresponde à nave da antiga igreja. Ao fundo existe ainda a zona da antiga capela mor, agora transformada em zona expositiva. Nos dois espaços conservaram-se os tectos em abóbada de nervuras.
A igreja foi obra de Diogo de Castilho que, em 7 de Abril de 1524 fora nomeado “mestre das obras dos paços reais” e que em 1533 era “mestre das obras de Santa Cruz”.
Diogo de Castilho era mestre da pedraria e foi um importante artista da renascença coimbrã que, juntamente com João de Ruão, exerceu a sua actividade nesta cidade.
A ementa em várias línguas
Após a extinção das ordens religiosas o edifício, com fachada muito simples, foi afecto a várias actividades não seculares. Nele estiveram instaladas várias empresas como um depósito de materiais de construção, um armazém de ferragens, uma agência funerária e foi ocupado por uma esquadra de polícia, entre outras. 
Por iniciativa de Mário Pais, Adriano Ferreira da Cunha e Adriano Lucas o espaço foi adaptado a café-restaurante. A fachada foi alterada de acordo com o projecto do arquitecto Jaime Inácio dos Santos. Pela sua obra, que foi sobretudo importante na região de Aveiro, podemos constatar que era um defensor da Arte Nova. Para este espaço ele concebeu uma fachada neo-manuelina, com vitrais realizados pelos irmãos Almeida e por Afonso Pessoa. No interior foi colocado mobiliário em madeira, com mesas com tampo em mármore, de feitio hexagonal, e cadeiras em madeira com assento e costas em couro gravado. Mais tarde foram colocados paineís de madeira nas paredes, que se integram perfeitamente na restante decoração.
No dia 8 de Maio de 1923, em alegoria ao local onde se encontra, o Largo 8 de Maio (anteriormente Terreiro de Santa Cruz, Terreiro de Sansão, entre outros nomes), foi inaugurado, após grande polémica sobre esta nova adaptação.
Desde então lá está, mantendo a sua função de café-restaurante e de local de tertúlia e dando abrigo a turistas curiosos e naturais da cidade, rendidos à beleza do espaço.

domingo, 16 de janeiro de 2011

As faltas do cozinheiro preto

Quando olhei para ele reconheci-o imediatamente. Mas ao observar melhor, notei algumas diferenças.
Falo do “cozinheiro preto”, como naquela altura se dizia. Não tinha ainda surgido o eufemismo “negro”, que só viria a usar-se umas dezenas de anos depois.
Para quem em criança leu a «Mariazinha em África», de Fernanda de Castro, com ilustrações de Sarah Afonso, sabe bem o sentido carinhoso de «pretinho».
Enfim, conversas que não têm nada a ver com a lista de compras em plástico, pois é sobre isso que falo.
Refiro-me portanto a uma prática lista em que figuravam alimentos e produtos domésticos e que as donas de casa dos anos 60 ostentavam na sua cozinha.
Ao lado de cada um dos produtos existia um pequeno orifício onde se colocava uma espécie de dardo em plástico encarnado, posicionados na parte inferior, e que já desapareceram, para marcar as faltas. O cozinheiro fazia-se acompanhar por um pequeno bloco de papel e um lápis, também já não existentes, onde se registavam depois as faltas, antes de ir ás compras.
Tenho um destes cozinheiros na parede da minha cozinha desde há alguns anos juntamente com outros cozinheiros que tinham outras funções.
Quando surgiu o segundo cozinheiro preto senti-me como quando folheamos o jornal e encontramos um daqueles passatempos:«Veja as 10 diferenças». È que este cozinheiro era igual mas tinha mais alguns produtos escritos que eu não me lembrava de ver no anterior.
Fui comparar e lá estavam alguns furos, perfeitos, que haviam sido adicionados e, ao lado, escrito à mão, sem relevo, produtos como “solarine, Tide, café, peixe, carne, vinho e bacalhau”.
Percebi então que esta lista tinha pertencido a uma dona de casa meticulosa que a havia personalizado, para nada faltar na sua cozinha.
Apenas posso imaginar a ordem e organização daquele lar e agradecer-lhe esta surpresa.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Chá Lipton

Mostro-lhes hoje esta interessante lata de chá Lipton. É uma lata de Orange Pekoe, com o peso de uma libra e foi feita para o mercado americano, onde foi vendida nos anos trinta. Não chegou a ser aberta e conserva o papel exterior em muito bom estado.
Nela se pode ver a foto do seu fundador, sir Thomas Lipton (1850-1931), aqui apresentado como plantador de chá no Ceilão. O seu desenho mostra-o com farda e chapéu de marinheiro numa alusão ao seu gosto por velejar. Foi essa paixão que o fez participar na regata mais famosa do mundo a “America’s Cup” entre os anos de 1899 e 1930.
Começando assim parece tratar-se de alguém nascido em berço de ouro, mas na realidade Lipton era oriundo de uma pobre família escocesa. Como tantos outros conterrâneos os seus pais imigraram para os Estados Unidos em meados do século XIX, levando o seu filho. Este trabalhou em vários ramos entre os quais uma mercearia, onde aprendeu alguns segredos da profissão que lhe valeriam uma mudança radical de vida.
Regressando à Escócia em 1869, abriu ao fim de dois anos a sua própria mercearia em Glasgow. Com o passar do tempo novas sucursais foram abrindo e de 20 lojas em 1880 passou para 300 em 1890.
Este sucesso ficou a dever-se à tenacidade do seu proprietário e ao uso de técnicas de publicidade, ainda nos seu primórdios, em que usou o serviço de um desenhador de nome Willie Lockhart.
Lipton começou por comercializar chá a preços mais baixos através de intermediários mas, em 1890, uma visita ao Ceilão (Sri Lanka), iria mudar o seu destino e o do comércio do chá. O Ceilão era famoso pela produção de café, aí introduzido pelos holandeses em 1740. Tanto o café como o preço dos terrenos de plantação no Ceilão estavam no seu máximo quando uma praga por fungos, que começou em 1869, arruinou a cultura do café em menos de 20 anos.
Quando em 1890 Lipton visita o Ceilão conhece James Taylor (1835-1892), um inglês que introduziu aí a cultura do chá. Lipton decide comprar várias propriedades a produtores falidos e, em conjunto com Taylor, desenvolvem a produção de chá em grande escala. A produção foi de tal modo grande que praticamente se abandonou a importação do chá da China, passando a ser substituída pela do Ceilão e da Índia. Na sua publicidade Lipton anunciava o seu chá: «Directamente dos Jardins do Chá para o Bule».
Os Estados Unidos tornaram-se o seu cliente principal e, só na Feira Mundial de Chicago, de 1893, foram vendidos mais de um milhão de pacotes. Pelo seu sucesso a rainha Victoria nomeou-o “Sir” em 1898 e em 1902 receberia o título de baronete.
Foi também nomeado “Fornecedor da Casa Real”, título que ostentava nas latas: “Fornecedor do rei Afonso, do rei e rainha de Itália e do rei Jorge V”. Por esta altura já Lipton recebia na sua bela casa de Londres a família real e a melhor sociedade.
Uma história de sucesso de um “self-made man” que todos gostam de ouvir e a explicação para a caixa de chá de proveniência americana.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O Chocolate em pó «Dois Frades»


Encontrei uma caixa de chocolate em pó da Nestlé «Dois Frades». Data dos finais dos anos 80 e tem ainda o pó no seu interior.
Devo dizer que não me recordava desta embalagem, o que é natural, pois vim a constatar que foi feita para o mercado brasileiro.

O que inicialmente me chamou à atenção foi o tacho em cobre que um dos frades utiliza para fazer o chocolate que, por coincidência, é praticamente igual a um que eu tenho. Até a parte terminal do cabo em ferro apresenta uma argola, embora não visível na minha foto.
Ia ficar por aqui. Tencionava apenas falar nesta coincidência. Mas como sempre, as histórias são mais complexas. Descobri que a presença dos frades nesta embalagem de chocolate não foi casual.
Imagem idêntica aprecia já numa embalagem de chocolate em pó, produzida numa fábrica inaugurada em S. Paulo, em 1921 por um brasileiro de nome Mário Gardano. Tratava-se dos «Chocolates Gardano», cujo proprietário produziu também outros doces e dropes sob a marca Dulcora. A fábrica situava-se em S. Paulo, no bairro Mooca, e o chocolate era vendido numa loja situada na Rua D. João de Barros.
A escolha dos frades para a imagem ficou-se a dever ao gosto de Mário Gardano por um pintor do século XIX, italiano, Alessandro Sani. Este natural de Florença, pintou vários quadros em que utilizava a figura dos frades para se referir à luxuria e à gula. O referido tacho aparece igualmente em, pelo menos, dois dos seus quadros, embora a imagem não corresponda exactamente a nenhum deles, mas tenha sido adaptada.
A imagem dos frades ficou de tal modo associada ao Chocolate Gardano, que este era conhecido como o “chocolate dos padres”.
Em 1957 a Gardano foi comprada pela Nestlé, mantendo no entanto esse nome durante mais dois anos, em virtude do sucesso das vendas deste tipo de chocolate.
As embalagens depois dessa data deixaram de mencionar o nome Gardano mas mantiveram a imagem que a associava aos dois frades gulosos a comer chocolate.
E tudo isto foi desencadeado por um tacho de cobre que, por acaso, também tem uma história interessante, que fica para uma próxima vez.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A romã de Maluda ... e a minha

Claro que esta é uma homenagem a Maluda, no dia de reis.

Já anteriormente falei sobre a tradição da romã neste dia.

Hoje, para recordar a necessidade de comer romã para manter a prosperidade, realidade em que nenhum analista económico acredita, resolvi fazer uma versão minha do quadro de Maluda. Uma foto rápida em que tento reproduzir o quadro e em que fico nitidamente a perder.

Maluda (Maria de Lurdes Ribeiro), que nasceu na Índia portuguesa em 1934 e faleceu em Lisboa em 1999, tinha um modo próprio de simplificar as paisagens e os objectos que tornou inconfundível toda a sua obra.

Utilizo a sua memória como lembrete para que mantenham esta tradição tão simples.

Feliz dia de reis.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Modelos de aventais para criadas e senhoras

Apresento vários modelos de aventais. Foram publicados em duas revistas de características distintas.

Uma espanhola, intitulada «Lingerie e Blouses», sem data, que apresenta apenas modelos de roupa, enquanto a outra portuguesa «Actualidades femininas», de Novembro de 1952, apresenta os desenhos de moda, alternando com notícias e histórias.
A avaliar pelo número de telefone do importador português estamos perante duas revistas da mesma década.

Achei interessante o contraste entre o rigor dos aventais brancos das criadas, de feitios convencionais, e a ligeireza e modernidade dos aventais de suas patroas.
Para além do contraste nos modelos, há ainda a salientar o facto de que os aventais destinados às donas-de-casa podiam ser feitos com vestidos antigos reaproveitados. Preocupações económicas do pós guerra. Ou modelos para as novas donas-de-casa que já não podiam ter criadas fardadas, com aventais brancos, imaculados, com rendas e bordados?.