terça-feira, 30 de março de 2010

O menino da TODDY

Hoje em dia as empresas recorrem às chamadas figuras públicas ou até a artistas famosos para a promoção de produtos. Exemplo disso é o caso de sucesso obtido pela Nexpresso em que participou na publicidade George Clooney. O êxito de vendas levou á criação de novos spots publicitários, com histórias diferentes, mas em que se mantinha a imagem de marca, transmitida pelo famoso actor.

Já anteriormente a Lux tinha obtido um grande sucesso ao utilizar, na sua divulgação, várias estrelas de cinema e frase comum: «Nove em cada dez estrelas de cinema usam LUX». Havia aqui uma mensagem subliminar de que, se as mulheres mais bonitas o usavam, a mulher comum ao usá-lo se podia tornar mais bela.
Mas antes de existirem “embaixadores de marcas” existiam mascotes publicitárias. Um boneco ou a imagem de um animal eram os mais utilizadas. Veja-se o exemplo do boneco da Michelin, ou do coelho rosa das pilhas Duracell, mas também de figuras humanas como o homem de cabelo branco da Quaker Oats ou, no caso aqui apresentado, o menino da Toddy. Este menino de boina branca com as letras TODDY a encarnado nele escritas, espreitava a cabeça nos anúncios ou aparecia de corpo inteiro. Pretendia dar a imagem de uma criança saudável e era essa a sua mensagem: aquela bebida fortalecia e era boa para a saúde.

A sua representação em boneco de plástico é extremamente rara. Penso tratar-se de um boneco em celulóide, um termoplástico que foi muito usado em brinquedos, até aos anos 50. A sua fragilidade fez com que muitos desses objectos não chegassem aos nossos dias em boas condições. Este que consegui tem, como podem ver, fracturas na cabeça e faltam-lhe as extremidades dos pés. Mas provavelmente não vou encontrar outro, pelo que não hesitei em adquiri-lo.

A imagem do menino Toddy, de autoria desconhecida, não resistiu ao tempo. Após a aquisição pela Pepsico, em 2003, a marca decidiu apostar numa nova imagem publicitária e passou a usar uma vaca estilizada como mascote.
Nos anos 80, o produto apresentado em bebida líquida levou à criação de um novo ícone publicitário: o Toddynho, criado pela empresa Mc-Cann-Erickson, para o mercado brasileiro.
Hoje o menino da Toddy só se cruza connosco em momentos raros, como este.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Comer sobre carris

Encontrei num livro «The Pictural Encyclopedia of Railways», de 1968, uma imagem de uma cozinha eléctrica de um comboio. Achei interessante mostrá-la e referir a evolução do seu interior no que se refere à zona das refeições.
Nos Estados Unidos o primeiro vagão-restaurante completo tinha surgido já em 1868 no Pullman “Delmonico”. Em Inglaterra foi introduzido no “Prince of Wales”, do Great Nothern Railway, em 1879. Este último comboio, o Royal Train, foi feito para comemorar o Jubileu de Diamante da rainha Vitória. Esta era uma grande entusiasta dos comboios e foi a primeira monarca reinante a andar de comboio, logo em 1842.
Após os festejos em Londres a rainha viajou para Balmoral, para o seu palácio. Utilizou, para se deslocar, o comboio "Prince of Wales" que possuía um vagão restaurante. Foi este precisamente o primeiro comboio na Europa a ter uma uma carruagem cozinha acoplada.

Foi também a mesma empresa Great Northern que introduziu, em 1921, uma cozinha eléctrica, moderna e racional, como podemos ver na foto. Bem organizada, utilizava conceitos espaciais que se baseavam nas noções propostas pela americana Catherine Beecher e que se divulgaram para a Europa, modernizando o conceito das cozinhas.
Temos sempre mais dificuldade em conhecer pormenores da história do quotidiano do nosso país, do que dos outros. Apesar de haver tantos apreciadores de comboios em Portugal não consegui descobrir quando apareceu o primeiro vagão-restaurante ou quando começaram a circular comboios com cozinha. Parece-me lógico que tenha sido em 1887, data em que se deu a inauguração do SUD Express Lisboa/Paris, que era um comboio de luxo com carruagens cama e restaurante.
Lembro-me de pequenina de ouvir falar das carruagens restaurante, mas penso que, em Portugal, só existiam no serviço internacional. A única coisa que recordo com precisão, era dos pratos de mesa, que eram em azul acinzentado com um monograma grande, em preto, no centro, com as letras CP, em estilo gótico. A partir dos anos sessenta do século XX, começaram a surgir as carruagens bar, versão mais simplificada das carruagens restaurante.

As duas últimas imagens que apresento, igualmente extraídas do mesmo livro, mostram-nos, na primeira foto, um bar americano e um vagão-bar do chamado “Blue Train”, na África do Sul, imagens modernas dessa década.

sábado, 20 de março de 2010

Os meus frascos de Bovril

O Bovril é a marca registada de um extracto de carne salgado usado, após diluição com água quente, como bebida alimentícia.
Foi desenvolvido em 1870 por John Lawson Johnston, um comerciante de carnes de Edinburgo.
Quando Napoleão invadiu a Prússia, sentiu a necessidade de criar formas alternativas para alimentar o seu exército. Encomendou então, um milhão de latas de carne para alimentar os seus soldados. O escocês que aceitara a encomenda, John Lawson Johnston, não conseguiu arranjar no seu país quantidade suficiente de carne para esse fim, pelo que desenvolveu um extracto de carne, então chamado «Bife líquido Johnston», que mais tarde tomou o nome de Bovril.
No ano seguinte milhares de lojas começaram, em Inglaterra, a vender este extracto e em 1889 criava-se a Companhia Bovril. O sucesso foi tal que em 1909, em Londres, em Picadilly Circus, havia anúncios eléctricos ao Bovril.
Ainda hoje o Bovril é feito em Burton upon Trent, em Staffordshire e é distribuído pela Unilever, continuando a ser exportado. Tudo isto nos parece muito moderno para época, mas na realidade já em 1865 tinha surgido um outro extracto de carne da marca Liebig. E se recuarmos ainda mais, podemos constatar que, nos nossos registos da Casa Real, no século XVIII, havia referências ao «molho de jus».
Era um pleonasmo, uma vez que «jus» já significava o suco que sai da carne.
Explicando de forma simples corresponde ao molho que a carne liberta ao ser assada, após retirar a gordura. Fervido e reduzido dá um molho concentrado. Mas podia também ser feito pela fervura lenta em utensílios próprios para o efeito, fechados, em que a carne fervia muito lenta e demoradamente. Em França, no século XVIII a palavra «restaurant» significava um caldo de carne concentrado. Era um termo médico, no sentido em que restaurava a saúde. Passou a ser vendido nas ruas, por vendedores ambulantes, que apregoavam o seu produto. Seria essa palavra que iria dar nome ao local externo ao domicílio onde hoje se servem refeições.
O Bovril foi sempre vendido em frascos de vidro de cor castanha, provavelmente para a luz não adulterar as qualidades do liquido. Os frascos aqui apresentados foram comercializados para o mercado português e eram inicialmente vendidos em farmácias. São garrafas do início do século XX com um corpo bojudo e gargalo alto e largo. Apresentam letras moldadas com as palavras «Bovril Limited» e a quantidade em onças, em ambas as faces.
O meu primeiro contacto com o Brovil foi há mais de 20 anos. Visitei uma amiga minha francesa e em vez de me oferecer um chá, ofereceu-me Bovril. Foi um choque para mim e para as plantas de um vaso próximo, que devem ter ficado fortalecidas. O seu gosto não faz parte dos nossos hábitos e só posso recomendá-lo como experiência.
No entanto esta bebida continua ainda hoje a ter os seus apreciadores, tanto em França como em Inglaterra e o mesmo sucede na Malásia, em Singapura e na China.

terça-feira, 16 de março de 2010

O mês de Janeiro nos «Livros de Horas»

Os livros de horas eram livros com iluminuras destinados a serem usados nas orações, pelos laicos. Eram encomendados por reis, rainhas e nobres e, apesar de serem por vezes personalizados, obedeciam a um esquema geral.
Com o tempo foram-lhe sendo introduzidos alguns elementos profanos como um calendário, tornando-os hoje num objecto de uso para a compreensão do quotidiano na Idade Média.
Nos livros de horas a cada um dos meses corresponde uma actividade.
O mês de Janeiro, sendo frio, não convida ao trabalho no campo, pelo que a sua representação em calendário mostra habitualmente uma refeição de um camponês, ou de um burguês ou, no caso de grandes senhores, um banquete. No Livro de horas de Margarida d'Orléans (c. 1430), existente na Biblioteca Nacional de França, no Departamento de Manuscritos, o que se observa na cartela superior é a imagem de um burguês à mesa. Sobre a toalha branca podem ver-se os alimentos essenciais nas refeições, nesta época e para este estrato social: o pão, o vinho, a carne e o sal.

Num período em que não eram ainda usados talheres para comer, a presença da faca indica-nos que se trata de uma faca de trinchar. Na ausência de um outro elemento humano, o trinchante, nobre que na casa real ou de príncipes exercia a conceituada função de trinchar a carne, podemos concluir estar na presença de um burguês. O mesmo raciocínio se pode aplicar ao facto de beber ao mesmo tempo que come, sem que seja servido pelo copeiro.
Mas a mesa tem uma riqueza que o afasta da mesa do camponês, como nos mostra a iluminura do mês de Janeiro, de um Livro de Horas Francês, do século XV, depositado no Museu Histórico de Moscovo e cuja imagem retirei do blog Iluminura. No mais importante livro de horas, Les trés riches heures do Duque de Berry, o mês de Janeiro mostra-nos um banquete onde o próprio duque é servido pelos oficiais de sua casa. À sua frente pode observar-se o trinchante que lhe escolhe e corta as peças de carne, aliviando assim o seu senhor de uma função que lhe não competia. O meu fascínio por esta obra é enorme. Há uns anos, tive a satisfação de ver o original no Palácio de Chantilly, onde faz parte dos tesouros existentes na sua biblioteca.
O pormenor que apresento é apenas um aperitivo para uma apresentação mais pormenorizada, ou , se não quiserem aguardar, para uma busca mais detalhada.

sábado, 13 de março de 2010

As refeições nos tempos modernos. A visão da "The New Yorker"

Encontrei à venda num alfarrabista um lote de antigas revistas The New Yorker.
Não resisti e fiz uma selecção das mesmas, como é evidente, focando temas relacionados com a alimentação.
A revista foi fundada em 1925 por Harold Ross e tem mantido uma publicação regular semanal, embora tenha já passado por várias mãos.
Começou por ser uma revista dedicada ao nova-iorquinos sofisticados onde eram publicadas as distracções culturais e sociais da cidade de Nova Yorque. Posteriormente passou a ter uma dimensão mais global com artigos de literatura, politica, cinema e outros tópicos.
Foi sempre considerada uma revista civilizada e com sentido de humor.
Os seus cartoons correm mundo.
Mas foram sobretudo as capas, com um desenho inventivo e humorado, da autoria de cartoonistas famosos, que a tornaram mais conhecida noutros países.
Apresento hoje as primeiras capas do lote escolhido e penso que não faltarão oportunidades para voltar a utilizar as revistas.
As capas seleccionadas são uma crítica à forma que as refeições tomaram nos tempos modernos, com a intromissão da tecnologia à mesa.
Um tipo de humor que dá para pensar.

terça-feira, 9 de março de 2010

Significado dos "ovos partidos" na pintura

O quadro «Ovos Partidos», de 1756, foi pintado por um francês, Jean-Baptiste Greuze (1725–1805), e encontra-se hoje na colecção do Metropolitan Museum of Art, em Nova Yorque.

Embora o quadro tenha sido pintado em Itália, usando fatos e ambientes da época, utiliza como modelo um tema do pintor holandês, do século anterior com o mesmo título. O quadro da autoria de Frans van Mieris the Elder, encontra-se no Hermitage, em S. Peterbourg. De acordo com Diderot, Greuze era um moralista, que escondia as suas preocupações com a sexualidade. Uma outra obra sua «O pote quebrado» remete-nos para o mesmo tema.
A sua pintura integra-se no que se considera «pintura de género» e representa uma cena do dia-a-dia.
Os ovos partidos simbolizam a perda de virgindade. No lado direito da pintura uma criança tenta reconstruir um dos ovos, o que é interpretado como uma imagem da inocência. A figura da idosa não dá direito a dúvidas no que respeita à sua atitude agressiva para com o jovem, que se apresenta com ar culpabilizado.
No século anterior um outro pintor, Jan Steen, havia-nos dado uma imagem com a mesma simbologia: «O interior da Estalagem», também conhecido por «Ovos quebrados» (c.1665-70).
Jan Steen, de origem holandesa, ficou famoso pelas sua cenas moralizantes da vida doméstica.
O quadro «Interior de Estalagem» encontra-se na National Gallery de Londres e mostra-nos uma cena de taberna, com vários pormenores com referências eróticas como o cabo do cachimbo, a forma como o cliente pega na saia da estalajadeira feminina, as conchas de marisco no chão e, por fim, os ovos partidos.
A simbologia dos ovos, na pintura, tem, noutras obras, um significado inverso. Quando íntegros e apresentados em guirlandas junto a um jovem, são interpretados como elementos afrodisíacos e símbolos da sua capacidade sexual, ou, ao invés, quando rachados, tomam o significado de impotência.
Uma interpretação que nos torna a leitura da pintura mais fácil e rica.

sábado, 6 de março de 2010

Um segredo que modificará a sua vida

Este é um daqueles segredos que têm que ser partilhados.
Aprendi-o com Nigella Lawson, no seu programa de culinária “Nigella Bites”, que presentemente pode ser visto no Canal SIC Mulher.

Nigella é uma figura controversa. Penso que o seu atractivo vem disso mesmo.
Vemo-la cozinhar e percebemos que não nasceu para aquilo. Não tem destreza de mãos e ela sabe-o. Tem dificuldade em efectuar determinadas tarefas, o que contorna de forma inteligente usando a batedeira frequentemente e picando os legumes e ervas com um pequeno cutelo.
Como o nome «Bites» indica come tudo o que faz, com grandes dentadas e um ar de prazer.
Percebe-se que gosta verdadeiramente de comer e o seu físico começa a indicar uma evolução para o redondo. Por essa razão faz dietas com poucos hidratos de carbono, mas o seu ar guloso dá-nos a indicação que esses períodos de restrição alimentar não serão prolongados.
É a antítese do cozinheiro chefe e identifica-se nesse papel. Nos seus programas apresenta-se como uma dona-de-casa, uma espécie hoje em vias de extinção.
Devo dizer que a princípio não gostava nada dela. Achava-a pouco higiénica e um pouco descoordenada. Penso que os primeiros programas a que assisti foi por uma espécie de relação amor-ódio. É uma mulher bonita, com uma imagem atraente e usa expressões bem estruturadas e carinhosas em relação aos alimentos.
Demonstrando o seu apreço constante pelos pratos que confecciona, dá-nos ao mesmo tempo a sensação de que a confecção em si é apenas um meio de chegar ao resultado. Por isso é prática e os resultados rápidos.
O seu comportamento fez-me crer que seria australiana, mas afinal é inglesa. Essa ideia foi-me transmitida pelo ar informal que demonstrar nas refeições e pela presença frequente do sol. As refeições são muitas vezes ao ar livre e é frequente vê-la comer com as mãos, tanto ela como nos convidados.
É autora de vários livros que são best-sellers.
Com o tempo fui-a adoptando e hoje vejo com interesse os seus programas, procurando sempre aprender alguma coisa.
Num dos últimos programas anunciou que ia mostrar um truque ou segredo que iria modificar as nossas vidas: como tirar os bagos de uma romã.
Sabe-se o trabalho que isso dá e como as mãos ficam escuras depois de o fazer.
De forma simples, cortando ao meio a romã e dando pequenas pancadas na casca com as costas de uma colher de pau, os bagos vão saindo com uma facilidade espantosa.
Eu, que adoro saladas de frutas com diferentes misturas, já elegi, nesta época, a romã com fazendo parte dos seus elementos. Fica óptima.
É um autêntico ovo de Colombo e não posso deixar de partilhar esta informação tão útil.

terça-feira, 2 de março de 2010

Objecto Mistério Nº 15. Resposta: Quebra-nozes

A resposta correcta foi dada pelo Carlos Garcia, que foi o primeiro a acertar.

Trata-se efectivamente de um quebra-nozes.

O que me surpreende, tanto nos que acertaram como em quem errou, é que não se espantaram com as dimensões.
É que este objecto tem 14 com de comprimento, demasiadamente pequeno para cataplana, mas muito grande para quebra-nozes. Pessoalmente é o primeiro que vejo com estas dimensões.

A forma mais frequente de quebra-nozes é em feitio de alicate e é também a menos funcional. Existem imensas variantes, mas apresento apenas os mais simples.
Este último modelo que têm também uma câmara com o feitio de uma noz, mais pequena que o apresentado como objecto mistério, tem depois uma pega o que torna mais prático. Tem a vantagem de manter no seu interior a casca, e além disso, só permite uma determinada força, não esmagando tanto a noz como nos modelos de alicate.
Para já é o meu preferido. Nem a última criação de design, um objecto criado por Bruno Christensen, para a empresa escandinava Menu, feito de borracha e aço, que não experimentei, me parece tão eficaz.