quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Fábrica de Chocolates Iniguez

Anúncios à Fábrica de Chocolates Iniguez surgem em várias revistas do início do século XX. Normalmente sem morada, publicitam o cacau, a cakula e o chocolate.
Foi um novo anúncio, mais completo, publicado num «Annuario Commercial de Portugal», que me levou a procurar o seu rasto.

Na revista “O Occidente”, de Abril de 1906, a propósito da Exposição Colonial, que tivera lugar na Sociedade de Geografia, falava-se na grande variedade de chocolates da fábrica a vapor de António Joaquim Iniguez e prometiam voltar ao tema. Efectivamente, em Junho do mesmo ano, era apresentada uma extensa reportagem sobre a mesma.
 Ficámos assim a saber que a fábrica havia sido fundada em 1886, na Travessa das Mercês, junto à Igreja com o mesmo nome. Apesar de pequena, conseguiu concorrer à Exposição Industrial de 1888, onde apresentou os seus produtos da torrefação do café, que lhe permitiram ganhar um medalha de ouro. Mas, determinado a expandir-se, e com o intuito de produção de chocolates e cacau, decidiu adquirir um terreno no início da Avenida D. Carlos, I, nos nº 2 a 40, no quarteirão onde está hoje a escola do IADE (1).
Para isso adquiriu também modernas máquinas de transformação destes produtos, em especial do chocolate vindo de S. Tomé e Príncipe.
Uma das suas especialidade era o cacau “Porto Cabello”, mas os seus “chocolates em pau” competiam com os chocolates estrangeiros. Um outro produto, que muito me intrigava, era o que o sr. Iniguez decidiu chamar «Cakula Iniguez» e que se tratava de uma mistura de cacau, noz de cola e açúcar. Era um alimento reparador destinado a pessoas debilitadas, portanto um fortificante alimentar.

A qualidade dos seus produtos permitiu-lhe ganhar várias medalhas de ouro em exposições nacionais e também internacionais como a da Exposição Internacional de Londres, de 1903 e a da Exposição Universal de S. Luís, de 1904.
A descrição da fábrica mostra-nos não só a sua grande extensão mas também a modernidade das suas máquinas alemãs que permitiam o fabrico do chocolate pelo método holandês. 
Exposição e empacotamento

Apesar das dimensões a fábrica tinha características familiares, trabalhando as filhas como guarda-livros e um dos seus filhos com  ajudante do pai, o que levou a que este lhe desse sociedade, passando a firma a designar-se A. J. Iniguez & Iniguez.
Em 1911 a fábrica estava nas mãos do filho Manuel que, ajudado pelo irmão mais novo António, mantinham a tradição de empresa familiar. 
Manuel António Iniguez

No dia 1 de Janeiro de 1911 o jornal "O Século" dava grande destaque às novas instalações da grande fábrica a vapor de chocolate, torrefacção de café e moagem, de A. J. Iniguez & Iniguez, sita na Rua 24 de Julho.  A esta inauguração assistiram o então ministro do Fomento e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que incluiu uma visita às novas instalações.
Em data que desconheço, mas posterior a 1918, porque a Avenida D. Carlos se designava então Avenida Presidente Wilson, a Sociedade Industrial de Chocolates (SIC), ficou com as marcas da firma A. J. Iniguez & Iniguez, Ltd. e adoptou, modificadas, as da firma União & Frigor, Ltd.. A fachada da fábrica ficava então na Rua 24 de Julho, onde se situavam os escritórios e as oficinas.

A fábrica de chocolates tinha também uma sucursal na Baixa, na Rua do Ouro que, em data não especificada, foi fechada, passando os artigos  a ser vendidos «no estabelecimento do Sr. Mácario M.Ferreira, na Rua Augusta, Nº 272 e 274, primeiro quarteirão do Rocio», como informavam os seus proprietários num rótulo de uma caixa de chocolate.

 (1) Chamado Edifício Dom Carlos, é mais conhecido como "Totobola". Foi construído em1973 e é um projecto do arquitecto Tomás Taveira.

domingo, 24 de abril de 2011

Flores de courgette fritas

Fiz para acompanhar o cabrito assado um puré de brócolos e flores de courgette que comprei no mercado da Ribeira.
Costumo passá-las por polme mas desta vez fritei-as passando-as apenas por ovo batido e semolina.
Ficaram estaladiças e agradáveis.
Felizmente cresceu uma para eu poder fotografar e mostrar-lhes.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Votos de Páscoa Feliz

Postal impresso na Dinamarca em 1956
Desejos de Feliz Páscoa na companhia da família e amigos.
Enfim, de quem mais gostarem.
Figuras recortadas que nos saltam aos olhos quando abrimos o postal

Um dia alegre como o destes pintainhos saídos do ovo, num postal desdobrável, imagens associadas ao aparecimento da Primavera e tomadas como símbolo da ressureição que se convencionaram associar à Páscoa. 


Com pratos deliciosos, de preferência feitos pelos homens da casa, enquanto as mulheres se distraem a ver televisão como na imagem do The New Yorker ou simplesmente, o que ainda é melhor, a conversar umas com as outras.

E no que respeita a doces... esqueçam os conselhos médicos.

De qualquer modo, um dia feliz.

Aproveitem e esqueçam que o FMI veio passar a Páscoa connosco.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Le Livre de Cuisine de Mme E. Saint-Ange

Há autores cujo nome nos é familiar e no entanto nunca o lemos ou vimos. Vem isto a propósito da obra «Le Livre de Cuisine de Mme E. Saint-Ange». O nome da autora não me era desconhecido. Devo-o ter ouvido há muitos anos e entretanto ficou no meu subconsciente.
Quando há dias comprei o livro, procurei saber mais sobre ele.
Madame Saint-Ange era o pseudónimo de Evelyn Ébrard, de seu nome de solteira, nome por que optou.
A primeira edição do livro foi publicada em França pelas Editions Larousse, em 1927.
É um livro “gordo”, de 1375 páginas, pormenorizado e representa o que de melhor se fazia nas boas casas francesas. Em oposição aos livros de cozinheiros, este é um bom exemplo do que se convencionou chamar cozinha burguesa do início do século XX.
 É uma obra completa que abarca temas como as formas de cozinhar, molhos, sopas, ovos, carnes, peixes, legumes, entremeses, pastelaria, doces e bebidas. Tem cerca de 1300 receitas e traduzia a experiência já demonstrada pela autora, durante 20 anos, ao escrever uma coluna para a revista do marido “Le Pot-au-Feu” e também a sua prática profissional.
Apesar de escrito para as donas-de-casa foi um livro que influenciou vários chefes de cozinha, como Madeleine Kamman, ou Paul Aratow, um dos fundadores de Chez Panisse, que foi também o responsável pela tradução do livro para inglês. No entanto isso apenas se passou em 2005, o que significa que o livro, durante décadas, só esteve disponível para quem sabia ler francês. Foi também esta obra que influenciou Julia Child, na suas publicações iniciais.
O livro foi um enorme sucesso e, a pedido da própria Larousse, a autora fez uma versão mais simplificada intitulada «La Bonne Cuisine de Madame E. Saint-Ange». Este título, publicado em 1929, manteve reedições sucessivas até ao presente. A edição actual traz reproduzidas as notas que Julia Child escreveu em 1956 para o seu editor: «Este é o melhor livro de cozinha francesa que eu conheço».
Nos anos 50 a Larousse transformou o livro adicionando receitas da primeira edição e mantendo o título da segunda. É esta versão a mais divulgada, mas a verdadeira “bíblia” continua a ser a primeira edição.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

«O Retrato» de René Magritte


Na minha última vista ao Museu of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque, fotografei este quadro de René Magritte (1898-1967), o pintor surrealista de nacionalidade belga. O quadro, um óleo sobre tela, foi pintado em Bruxelas, em 1935.

Para se interpretar melhor é necessário saber que se intitula «O retrato».

Um olhar rápido pode levar-nos a pensar que se trata de uma natureza morta mas a sensação inquietante do consumo do olho, remete-nos para o universo do surrealismo e para outros quadros do autor em que novamente o olho se torna num objecto importante, como o «Falso espelho», de 1929.

Em matéria de alimentação, podemos dizer que o gosto de comer olhos de animais é dos mais controversos. A cultura ocidental não a acarinha, embora todos conheçamos os apreciadores de olhos de peixe que, frequentemente, coincidem com os apreciadores das grandes cabeças de peixe. Em linha de apreciação seguem-se os olhos de carneiro servidos em sopa e apreciados nalgumas culturas, em especial no Médio Oriente.

 Uma pintura surpreendente que nos deixa sem palavras. Para quem quiser, aconselho a ler uma análise mais aprofundada deste quadro, feita por Janine Catalano, em «Distasteful: An Investigation of Food’s Subversive Function in René Magritte’s The Portrait and Meret Oppenheim’s Ma Gouvernante—My Nurse—Mein Kindermädchen».

terça-feira, 12 de abril de 2011

O azeite da Herdade do Esporão

 
Depois de uma visita à Herdade do Esporão, conhecida sobretudo pelos seus vinhos, falar-lhes de azeite, pode parecer estranho.
Sobretudo após ter tido duas óptimas refeições acompanhadas por excelentes vinhos e reconfirmados numa prova de vinhos.
Mas foi a presença sobre a mesa das quatro pequenas taças, em forma de gota, com as designações das variedades identificadas no fundo das mesmas, cujas características nos foram explicadas no início da refeição, que me pareceu concretizar todas as sensações do dia.

Pelos nosso olhos entraram a quietude alentejana, as impressionantes dimensões da adega, com os seus barris de madeira e as gigantes cubas metálicas de vinho, a traduzir o resultado das colheitas de um vinhedo que se estende para cada lado para que olhamos.
Uma imensidão de pés de vinha perfilados, só interrompidos por um lago artificial, próprio da herdade que eu pensava ser o Alqueiva.
A planura da paisagem verde é pontuada pela brancura do casario esparso, onde se salienta a torre de defesa do século XIII, a espreitar, altiva.
Sentimos-nos bem durante a visita, ajudados pelo profissionalismo e simpatia do pessoal da herdade que nos fala no plural. A cada pergunta responde:«nós», identificando-se com um todo, que é a propriedade.
Uma visão do Alentejo que nos fez sentir orgulho de ser portugueses.
Imagens serenas que nos apetecem recordar, tão em contraste com o Portugal em crise, com que os telejornais nos afrontam diariamente.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

2- A bordo do navio Gelria

Entremos hoje no interior do Gelria.
Apesar de o navio ter sido construído em Inglaterra, toda a decoração interior foi executada na Holanda, tendo ficado a cargo da Companhia Mobiladora de Roterdão Allan & Co, que fizeram a instalação dos salões, dos trabalhos de madeira e demais acessórios, ao gosto holandês.
Comecemos pela «Sala de jantar». De grandes dimensões estendia-se por toda a largura do barco. Era decorada em estilo império branco mate, com tapeçarias verde e cinzento claro, tectos altos e paredes apaineladas em estuque de porcelana da fábrica holandesa Thooft & Labouchere.
Na parte superior estendia-se uma galeria com balaustrada, onde durante as refeições e nas festas a bordo, uma orquestra tocava. A encimá-la uma cúpula de vidro colocada a treze metros de altura. Por entre as mesas deslizavam os empregados, com uniformes azuis que, com passos abafados por um pavimento em caoutchouc, serviam as iguarias. Para tal todo o pessoal da despensa e cozinha começava cedo a sua tarefa. O cozinheiro chefe iniciava as suas funções colocando uma toalha em volta do pescoço e entrava no grande frigorífico. Aí, juntamente com o carniceiro, demorava cerca de meia hora a cortar a carne gelada, a escolher as aves, o peixe, etc. Cá fora os padeiros enchiam os barris de farinha e os moços faziam rolar os barris de cerveja. Da despensa saíam as frutas e legumes. Daí  saíam também centenas de ovos para a cozinha e a confeitaria. Às seis da manhã todas as secções estavam em plena actividade. As provisões adquiridas em cada paragem atingiam números enormes. Mas era motivo de orgulho fazer os 13-15 dias que separava Lisboa do Rio de Janeiro sem necessidade de fazer qualquer abastecimento.
Dessas refeições apenas encontrei registo de um menu, pertença do Maritiem Digitaal, que aqui reproduzo.

Menu do GELRIA de 31 de Julho de 1929. Impresso dos dois lados tem o nome do navio, o emblema da empresa e três anúncios publicitários à BOLS, BRASSERIE AMSTERDAM e à SCHWEPPES
  Depois das refeições os viajantes podiam dirigir-se à «Sala de conversação», de dimensões idênticas às da sala de jantar e em estilo Luís XVI ou à «Sala de Leitura», num sóbrio estilo Rainha Anna.
 Mas as senhoras podiam também recolher-se no «Salão para as Damas» em estilo Chariton, onde a lareira com azulejos de Delft era rematada por uma chaminé em mármore branco de Kyros. Mas, apesar deste ambiente agradável, constatava-se que as senhoras preferiam reunir-se com os homens na «Sala de Fumo». Era esta que mais chamava a atenção neste tipo de vapores. Para ela foi escolhido um estilo renascença holandês, inspirado em desenhos do Museu Nacional de Amesterdão. Aí era servido o café, os licores e as bebidas geladas, acompanhadas por charutos da Holanda, cigarros do Egipto e da Argentina e tabaco de várias nacionalidades.
Para não me alongar não falo na «Varanda do convés», na «Biblioteca» ou no «Quarto para crianças», cujas imagens são bastante explícitas.
Mas não posso passar por alto as instalações da «Sala de Ginástica», apresentadas como permitindo às senhoras e homens fazer passeios a cavalo eléctrico, a passo, a trote ou a galope. Ou até andar lentamente sobre o camelo. Bastante diferente dos nossos ginásios de hoje, mas seguramente um êxito na época.
Falo ainda dos camarotes de luxo em que cada compartimento era composto por um quarto de dormir, uma sala, um toucador e uma sala de banho. A estes se seguiam os de segunda classe, de classe intermédia e por fim de terceira classe.
Blaise Cendrars visto por Amadeo Modigliani
Foi numa destas cabines do Gelria que embarcou, em 1924, o poeta Blaise Cendrars (1887-1961), no regresso do Brasil a França. Nele escreveu um poema dedicado à sua cabine e ao próprio navio, posteriormente publicados em França no livro «Feuilles de Route» e que não traduzo para não alterar o sentido.

Cabine N°6
C'est la mienne
Elle est toute blanche
J'y serai très bien
Tout seul
Car il me faut beaucoup travailler
Pour rattraper les neuf mois au soleil
Les neuf mois au Brésil
Les neuf mois aux Amis
Et je dois travailler pour Paris
C'est pourquoi j'aime déjà ce bateau archibondé où je ne vois
personne avec qui faire causette
Blaise Cendrars, Feuilles de Route, VII / Le Gelria.
La Brise

Pas un bruit pas une secousse
Le “Gelria” tient admirablement la mer
Sur ce paquebot de luxe avec ses orchestres tziganes dans
chaque cache-pot on se lève tard
La matinée m'appartient 
Mes manuscrits sont étalés sur ma couchette
La brise les feuillette d'un doigt distrait
Présences
Blaise Cendrars, Feuilles de Route

Quantos navios se podem orgulhar de ter poemas a eles dedicados ou por eles inspirados?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

1 - A importância do transatlântico “Gelria” do Lloyd Real Holandez

Os blogs temáticos têm, por vezes, limitações. Mas quando me apetece falar sobre um tema, aparentemente não relacionado, procuro encontrar outro caminho.
É o caso presente em que após me ter apercebido da beleza de um catálogo sobre viagens transatlânticas do paquete “Gelria”, da Lloyd Real Holandesa, e da pouca informação sobre ele, me decidi a partilhá-lo. Não tenho fotos da cozinha e o único menu que encontrei não me pertence, mas vão ver como vale a pena conhecê-lo.
Começo pela empresa “Lloyd Real Hollandez” (Koninklijke Hollandsche Lloyd), com sede em Amesterdão, que existiu entre 1899 e 1981 e que foi responsável pela sua encomenda. Inicialmente estava destinada a fazer carregamentos de gado e carga entre Amsterdão e a América do Sul. Mas em 1903 o governo inglês proibiu a importação de gado vivo da Argentina por ter sido detectada a febre aftosa nos animais. A empresa reconverteu-se e em 1906 começou um «serviço rápido de vapores de luxo para a América do Sul». A escala era a seguinte: Amsterdão, Southampton, Cherbourg, Vigo, Lisboa, Las Palmas, Pernambuco, Baia, Rio de Janeiro, Santos, Montevideo e Buenos Aires. Entre 1917 e 1919 a companhia fez também viagens para Nova Yorque. Terminou em 1935 o serviço de passageiros e a empresa passou a dedicar-se apenas ao transporte de carga. Em 1981 a empresa Lloyd foi comprada pela Nedlloyd.
Falemos agora no grande vapor “Gelria”, que tal como o seu irmão “Tubantia” que foi torpedeado a 16 de Março de 1916 no Mar do Norte, saiu das oficinas de Alexander Stephen & Sons, em Glasgow. O Gelria, construído em 1913, esteve ao serviço da companhia holandesa até 1935. De 1935 a 1940 pertenceu à Lloyd Triestino e em 1940 passou para a Marinha italina. A partir de 1935 passou a designar-se "Gradisca".
Se o seu início foi luxuoso, como justificavam as suas características, já os seus últimos tempos foram conturbados. Ao serviço da empresa italiana foi usado na Guerra da Abissínia para transporte de tropas e hospital e serviu novamente como hospital na segunda Grande Guerra. Foi capturado pelos alemães e recapturado pelos ingleses em 1944. Seria abatido ao activo em 1949.
Mas a história do “Gelria” não acaba aqui. Este luxuoso transatlântico teve também um papel importante na emigração para a América do Sul. É verdade que estes passageiros não viajavam nas cabines de luxo, mas habitualmente em 3ª classe. Mas em todos o navio deixava recordações.
Durante os anos de 1922 a 1925 a emigração açoriana para o Rio de Janeiro fez-se através da carreira da Companhia de Navegação do Lloyd Brasileiro, denominadas pela publicidade da época de "Viagens em Direitura"(1). Esta empresa tinha como representante em Angra do Heroísmo os agentes "Elias Pinto & Rego", que faziam parte da casa Bancária e de Navegação "Borges do Rego", estabelecida em Lisboa.
No Brasil, a Lloyd Real Holandês era representada por Manoel José do Conde, que, em 1838, fundara na cidade de Salvador uma empresa dedicada a importação (bacalhau entre outros alimentos) e à exportação de cacau e tabaco. Segui-se-lhe Charles Miller que, em 1904, tomou posse da empresa fundada por seu tio. Em Santos a Lloyd Real Hollandez tinha como agente S.A. Martinelli, como publicitado no jornal Commercio de Santos em 26 de Junho de 1930.
É interessante referir que nos portos brasileiros de desembarque dos navios desta empresa houve um grande desenvolvimento na época. Eram locais de chegada de emigrantes estrangeiros e partida de brasileiros para a Europa e Estados Unidos. Um filme mudo brasileiro de 1925, intitulado «Veneza Americana», mostra o desenvolvimento do porto de Recife, com a construção de armazéns e do cais, de forma a capacitá-lo para receber navios de grande porte como o Ayuruoca, do Lloyd Brasileiro, e o transatlântico Gelria, do Lloyd Real Hollandez.
Porque o post vai grande e ainda não falei no vapor em si, faço aqui um intervalo, como antigamente nos cinemas, e volto brevemente.

(1) Artigo § 4.º do DEC 70.198/1972 (Brasil). Considera-se viagem de direitura a que a embarcação realizar até dar entrada, por inteiro, no porto de destino, e a torna-viagem é o regresso do navio saído do porto no qual dera entrada por inteiro. Quando houver alteração na rota e a embarcação for em primeiro lugar ao porto de destino, a entrada neste porto é considerada o fim da viagem de direitura, e a saída será o início da torna-viagem.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Objecto Mistério Nº 23. Resposta: Colher para servir salsichas

O objecto mistério de hoje é uma colher para servir salsichas.
Faz parte do grande número de utensílios de mesa que surgiram na segunda metade do século XIX.
Os serviços de talheres de mesa, nessa época, passaram a integrar peças de diferentes formas, de acordo com a sua função. Por esse motivo, muitos destes serviços chegaram a ter mais de cem modelos diferentes.
Uma das razões para a diversidade dos talheres, ficou a dever-se ao aumento do número de pratos sucessivos apresentados à mesa, quando se introduziu o chamado «serviço à francesa».
Mas a ostentação desta variedade indicava também requinte e conhecimento das normas de etiqueta, tema muito valorizado então, como se pode constatar pelo elevado números de livros de etiqueta e civilidade publicados nessa época.