quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O livro «Arte de Bem Comer»

Chegou-me hoje às mãos o livro «Arte de Bem Comer», de Curnonsky.
Fiquei radiante porque não tinha a edição original, nem a versão portuguesa. Mais contente fiquei quando descobri a história e a origem do livro.

A obra é a tradução do título «À l' Infortune du Pot» de Curnonsky e foi publicada pela Editorial Minerva, em 1950.
Foi seu tradutor, que também escreveu a introdução, com uma «Carta a Curnonsky», Alfredo de Moraes (1886-1958).
O gosto pela Gastronomia de Alfredo de Moraes estava-lhe no sangue. Herdara-o de seu pai o célebre Faustino que deixou o seu nome ligado a um dos famosos bifes lisboetas. O pai fora cozinheiro num café que se situava na esquina da Calçada da Glória, no local onde viria a surgir o Café Palladium.
Ele próprio terá participado na criação do «Coq d’Or», restaurante situado na Rua Serpa Pinto, e publicitado em 1930 no “Notícias Ilustrado”, e no «Majestic Club». Este último localizava-se onde hoje é a Casa do Alentejo, nas Portas de Santo Antão, em Lisboa. O edifício pertenceu à família Paes do Amaral e foi um dos primeiros clubes de Lisboa, com salas de jogo e dancing. Para isso o edifício sofreu obras, entre as quais se destaca o pátio interior, de influência árabe, concebido pelo Arquitecto Silva Júnior. Foto de Curnonsky

Alfredo de Moraes escreveu no jornal «O Cronista» (1954-1958), sob a direcção de Alberto Xavier, uma coluna na área da Gastronomia.
O seu gosto pelo tema devia ser bem conhecido e seria ele que esteve na origem desta tradução.
Este livro tem uma extensa dedicatória, que é também um agradecimento, ao Arquitecto António Varela, arquitecto do Movimento Moderno e autor, juntamente com Jorge Segurado do projecto da Casa da Moeda (1934), entre outros. Foi também a ele que se deveu o projecto da casa da rua de Alcolena nº28/44 (1951-1955), no Restelo, em que a fachada apresentava um mural de azulejos de Almada Negreiros e cujo projecto de destruição tanta celeuma levantou nos jornais, nos últimos tempos.

Pela dedicatória depreende-se que António Varela, trouxe de França, e ofereceu a Alfredo de Moraes, o livro em francês de Curnonsky, À l' Infortune du Pot, a que este último se refere como «Tratado».
Foi com base nesse original que foi feita a tradução da obra do alcunhado «príncipe eleito dos gastrónomos franceses», o que justifica a dedicatória, que é, ao mesmo tempo, uma prova de agradecimento pela acto e de admiração pela sua arte.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Objecto Mistério Nº 11 - Resposta: Prensa para frutos

A resposta correcta para este objecto mistério é prensa para frutos e desta vez houve respostas certas ou muito aproximadas.
E digo aproximadas porque não se destinavam a qualquer tipo de fruta mas sim a objectos em baga como as uvas ou, em países como a França, as groselhas ou outros semelhantes.
Estes objectos podem ser em madeira ou em metal e são formados por um receptáculo fixo metálico, de secção circular ou quadrada, de paredes perfuradas, onde penetra um pilão accionado por uma manivela.
O sumo é recolhido numa base fixa, que tem um bico para drenagem.
Existem também pequenas prensas para mel e para queijo que se podem confundir com estas*.

Este outro exemplar de prensa para fruta, que apresentamos, tem uma base diferente amovível. Falta-lhe o copo perfurado para receber os frutos. A sua função mais habitual em Portugal era para fazer sumo de uvas para beber. É possível que também fosse usado para recolher o sumo de uvas, o mosto, para fazer jeropiga, uma vez que esta é feita com a adição de mosto com aguardente, em proporções variáveis. No entanto a pequena capacidade do copo perfurado tornam-no pouco prático para esse fim, mesmo para
pequenas produções caseiras.
*Bibliografia: Objets Civils Domestiques, Paris, 1984.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Objecto Mistério Nº 11


O objecto mistério de hoje é em ferro e tem de altura cerca de 36 cm.

A base tem, de diâmetro, cerca de 16 cm.

É feito em ferro e a taça é em ferro esmaltado.

Foi sobretudo usado durante o século XIX mas, nas zonas rurais, foi ainda utilizado no início do século XX.

sábado, 17 de outubro de 2009

O fogão de brincar "Little Chef"

Falamos hoje no pequeno fogão eléctrico presente no livro «Susie’s New Stove».
O livro ensinava as crianças a cozinhar de verdade, enquanto brincavam, utilizando um fogão que era o «Little Chef» .

O fogão foi um dos brinquedos produzidos pela fábrica Tacoma Metal Products. A fábrica foi fundada por John Schack (1909-2004), depois da Depressão, e produziu outros brinquedos até aos finais dos anos 50.
Os fogões começaram a ser produzidos em 1945 e eram distribuídos juntamente com o livro referido. A publicidade anunciava que o fogão «Cozinhava, assava e era seguro».

Em 1948 saíram 3 modelos de fogão tendo o modelo de luxo 2 fornos. O fogão era feito em alumínio, normalmente pintados de branco, mas num anúncio que encontrei num catálogo de brinquedos de 1951, eram já anunciados modelos em cor. A publicidade destes fogões, e a encomenda dos mesmos à Tacoma, esteve a cargo de George Gardner da empresa de publicidade Gardner-Jacobson.
A campanha de publicidade foi importante e anúncios sobre os «Little Chef» surgiram na Saturday Evening Post, na Life e na American Home, o que explica a sua grande venda a nível nacional.
As imagens que apresentamos estão em arquivo na Tacoma Public Library, juntamente com outras que podem ser consultadas online. Mas não foi esta a única empresa a produzir fogões eléctricos para crianças. Também a Ohio Art Company, empresa fundada em 1908, produziu fogões «Little Chef» idênticos, nos anos 40-50. Um dos que encontrei à venda na e-bay era cor-de-rosa.

Não ia falar no Easy-Bake Oven, produzidos pela firma Kenner a partir de 1963, se não fosse o comentário da Rita ao último post. Inicialmente tinham uma luz que fingia ser a luz do forno. Foram evoluindo ao longo dos anos e hoje, sinal dos tempos modernos, assemelham-se a um micro-ondas.

Na Europa, em meados do século XX; foram também fabricados fogões eléctricos para brincar, incitando as crianças a seguir o exemplo das suas modernas mães. É que os fogões eléctricos continuavam a ser uma novidade e não estavam ainda disseminados por todos os lares. Este exemplar que apresentamos é de origem alemã e foi “descoberto” em Portugal. Tem uma tomada na face posterior e permitia cozer os alimentos. Alguma menina felizarda terá brincado com ele.
Hoje, a preocupação com as regras de segurança com os brinquedos, certamente que levaria os pais a não o adquirir. Outros tempos. Outros brinquedos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O livro infantil «Susie's New Stove»

Numa das minhas últimas idas à Feira da Ladra comprei um pequeno livro para crianças. A palavra “stove” no título fez tilintar campainhas no meu cérebro. O título do livro, Susie's New Stove - The Little Chef's Cookbook, de Annie North Badford, nada me dizia. Ao folheá-lo constatei que se tratava de um livro de culinária para crianças, sob a forma de livro de histórias.

Fazia parte de uma série de livros para crianças, que havia começado a ser publicada em 1942. Com cerca de 30 títulos publicados à época, «The Little Golden Library», o nome da série, era distribuída em Londres, por Frederick Muller. O livro data de 1949, mas todas as referências que encontrei na Internet referiam-se a 1950. Só depois percebi porquê. O livro foi reeditado nos Estados Unidos, em 1950, e embora não seja um livro publicitário, passou a ser divulgado porque as receitas executadas pelas crianças que surgiam no livro eram feitas num verdadeiro fogão eléctrico em miniatura, designado «Little Chef».
Este brinquedo «The Little Chef Electric Stove»», era feito por uma fábrica a Tacoma Metal Products Company, situada em Washington.
Na edição americana do livro, na página de copyright, são atribuídos créditos ao “Little Chef”, da empresa Tacoma, embora o nome do fogão não apareça em mais lado nenhum. Embora não tenha tido acesso à edição americana, as duas edições parecem-me em tudo iguais.

Os desenhos a cores são da autoria de Corinne Malvern (1905-1956), responsável pelas gravuras de 17 dos livros da colecção citada, e são deliciosos, como podem constatar.
Parece assim claro, que a edição inicial, impressa na Austrália e distribuída em Inglaterra, tenha sido subtilmente apropriada pela Tacoma Company, ao constatar que um dos seus produtos se apresentava em tão grande evidência no livro. Se não estou em erro, passou-se aqui um fenómeno contrário ao habitual. Não foi a empresa fabricante do fogão que encomendou o livro como publicidade, mas soube aproveitar, com inteligência, a divulgação de uma obra que ajudaria à venda de milhares de fogões de brincar, como veremos no próximo post.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Plásticos Pretensiosos

A indústria de plásticos tem já mais de um século de história. O grande desenvolvimento deu-se contudo nas décadas 30-40 do século XX.

Em Portugal a primeira fábrica surgiu em 1935. Era a Nobre & Silva e situava-se na região de Leiria. Outras se lhe seguiriam em 1945. E para quem quiser acompanhar a história dos plásticos em Portugal aconselho o livro de Maria Elvira Callapez «Os Plásticos em Portugal. A origem da indústria transformadora». A grande vantagem do plástico foi sempre a sua versatibilidade e a capacidade de resistência, quando comparada com outros materiais como o vidro e a cerâmica.

Quando nos anos 50-60 se deu a grande divulgação do plástico para uso doméstico, não era ainda claro o seu posicionamento. De repente todos os objectos domésticos eram produzidos em plásticos. Ao olhar para alguns desses objectos ocorreu-me a expressão que usei no título: «plásticos pretensiosos». Chamei-lhes assim porque pretendiam imitar o vidro ou a cerâmica.

Hoje estão na moda copos de plástico, com vantagens em diversas situações, como por exemplo para uso nas piscinas. Ao caírem não há o problema de ficarem fragmentos de vidro dispersos. Mas são evidentemente de plástico. Não pretendem parecer que são de vidro.
Estes objectos a que chamei plásticos pretensiosos são cópias de vidros lapidados e existe uma extensa gama que inclui copos, pratos, compoteiras, caixas, etc. Há ainda outros que semelham a cerâmica.
Fizeram-me lembrar algumas peças em faiança do século XVIII, como as terrinas, moldadas ou copiadas de peças em prata. Também estas, na altura, não tinham ainda descoberto o seu caminho. Apesar do nome que lhes chamei acho-as agora objectos encantadores na sua ingenuidade. Aqui ficam alguns exemplos que fui guardando. Espero que gostem.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Pudim Flan Jané

A embalagem que se apresenta é de um pudim instantâneo da marca Jané.
Pouco consegui apurar em relação à fábrica que o produziu. Através de um comentário publicado pela sua neta, Carla Jané, fiquei a saber que a fábrica de seu avó se situava em Porto Salvo, perto do local onde hoje fica o Tagus Park.
O comentário dizia respeito a um anúncio apresentado pela T, no blog «Rua dos Dias que Voam, em Abril de 2009, que havia sido publicado na Revista Eva em 1933.
Publicitava-se o Pudim instantâneo Jané, «a sobremesa mais deliciosa e barata», feita apenas com meio litro de leite, 4 colheres de açúcar e o conteúdo do pacote .
A fábrica de Produtos Jané foi fundada por Januário Palhares Mesquita Jané, nascido em Lisboa, na Pena, em Dezembro de 1898 e falecido em Novembro de 1983. A leitura do pacote faz-me crer que iniciou a sua actividade no dia 2 de Janeiro de 1922. Produzia também sopa de tomate, como se encontra escrito na mesma embalagem. A fábrica viria a fechar no início dos anos 80, após a morte do seu fundador.
Nada mais consegui saber, mas aqui fica a informação disponível, à espera de novas achegas.

sábado, 3 de outubro de 2009

Objecto Mistério Nº 10 - Resposta: Fatiador de alimentos

O objecto apresentado é um cortador da marca “SAGO”. É sueco e, de acordo com o escrito na embalagem, (que me deu um trabalhão a traduzir), serve para cortar pão, salsichas, queijo e legumes de forma rápida e fácil.

No cabo possui um, grande parafuso, que ao ser desapertado, permite regular a altura da lâmina, e portanto a espessura das fatias.
O mais interessante é a sua forma que se integra no movimento «streamline». Trata-se de um movimento estético em que foi usada uma linguagem aerodinâmica, então moderna, baseada em razões técnico-científicas.
As formas aerodinâmicas permitiam uma maior velocidade, razão porque foram inicialmente usadas em objectos móveis, como os comboios e os carros. Mas o simbolismo veio a prevalecer sobre a função principal, pelo que estas formas passaram a ser aplicadas noutros objectos de uso comum, como utensílios de cozinha, de que o ferro eléctrico foi um dos primeiros exemplos, ou em objectos de escritório.
Os principais designers deste movimento foram Norman Bel Geddes (1893 - 1958), Raymond Loewy (1893 - 1986) e Henri Dreyfuss (1904 - 1972). Afiador de lápis desenhado por Raymond Loewy

O «streamline» marca o final da Art Deco e as suas formas, muito decorativas, tinham por fim estimular o consumo, num período, entre 1932 e 1940, que correspondeu ao intervalo de tempo entre as duas grandes guerras. Podemos também encontrar estas formas na arquitectura.
Após a 2º grande guerra a dominância americana no design esbateceu-se e países como a Itália, a Suécia e o Japão tomaram a dianteira.
A época exacta do objecto apresentado é por mim desconhecida. A sua forma aerodinâmica, a preocupação com o design, manifestado em pormenores como a concavidade estriada para o polegar, numa das faces, e a superfície estriada na face oposta, para permitir aos restantes dedos segurar a peça sem escorregar, mostram uma preocupação não só com a forma, mas também com a função.
O material de que é feito, o alumínio permite-me pensar que se poderá situar nos anos 40-50. É apenas uma suposição, na falta de outros elementos.
Por último falo na lâmina onde se encontra escrito «Sago Rostfrei», que significa à letra “sem ferrugem”. É a expressão alemã usada para o aço inoxidável. Ao contrário do que se pode pensar não é uma marca e surge noutras lâminas como por exemplo nas conceituadas lâminas Solingen.