sábado, 27 de fevereiro de 2010

Objecto Mistério Nº 15

O objecto de hoje é novamente um utensílio doméstico.

É uma caixa articulada, feita em latão, e tem cerca de 14 x 7 x 6 cm..

É mais frequentemente usada na sala, embora também seja útil na cozinha.

Apresenta-se sob várias formas, sendo esta uma das mais inteligentes.

É um desafio fácil.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Fábrica Santo António. 2 - Os produtos

Na sequência do post anterior, falamos hoje nos produtos comercializados pela Fábrica Santo António, no Funchal.

Com referimos, a principal produção desta fábrica, no seu início, foi de bolachas.
Ainda hoje a variedade de bolachas fabricadas é grande e nela se incluem as bolachas Petit-Beurre, Maria, digestiva de aveia, dietética de amêndoa e de avelã, gengibre e integral.

Para além disso produzem também biscoitos como os biscoitos de canela e de mel e outros.
Produzem também rebuçados como os de eucalipto e os típicos rebuçados de funcho.
No campo da compotas a variedade é grande, sendo interessante notar a utilização de frutas tropicais e semi-tropicais usadas na sua confecção. Assim podemos encontrar, a par de doces mais tradicionais como os de amora ou limão, os doces de tamarilho, pitanga, manga, banana e maracujá, papaia e maracujá, etc.
Frasco de doce tendo em baixo o tecido típico da Madeira, que cobria os frascos, agora substituído por papel idêntico

E como é evidente uma das suas maiores vendas está no tradicional bolo de mel de cana de açúcar da Madeira, cujo berço madeirense se atribui ao Convento de Santa Clara do Funchal, onde começou a ser produzido, pelo menos desde o século XVII. Este bolo, resultado do encontro entre o doce e as especiarias, não foi durante muito tempo considerado, tal como outras doçarias, um manjar popular. Era então associado à época natalícia, mas hoje está disponível todo o ano. Tendo como característica uma longa duração, pode ser consumido tardiamente em relação ao seu fabrico.
João José Abreu de Sousa*, afirma que o bolo de Mel de cana de açúcar nasceu no convento franciscano masculino de Monchique, no Algarve. Foi frei Jordão do Espírito Santo, quem, nos finais do século XV, embarcou para a Madeira levando consigo esta receita. Seriam as freiras franciscanas do Convento de Santa Clara que, ao tomarem conhecimento desta, lhes adicionaram as especiarias vindas do Oriente, com destaque para o cravinho, iniciando assim uma tradição na doçaria madeirense.
Nota final:
Estes meus post tiveram origem numa visita à Ilha da Madeira, há cerca de 2 semanas.
Hoje, perante as notícias da tragédia que atingiu a Madeira, interrogo-me se a fábrica, situada junto a uma das ribeiras que atravessa o Funchal e de que se podem ver as grades que o ladeiam na foto do post anterior, terá sido poupada à destruição.

* João José Abreu de Sousa, O bolo de Mel - Ex libris da Doçaria Madeirense, Funchal, Associação Cultural Memórias Gastronómicas, 2008.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Fábrica Santo António. 1 - A história

Uma reunião na Ilha da Madeira permitiu-me uma curta, mas útil, incursão pelo Funchal.
A reunião começava ás dez e trinta. Levantei-me cedo e às oito horas já estava no mercado a tirar fotografias. Sobre isso falarei numa próxima ocasião.

Hoje quero falar no meu segundo ponto de visita: a Fábrica Santo António.
Ia por uma rua e ao virar da esquina lá estava um edifício branco com uma grande tarjeta azul onde se podia ler o nome da fábrica. Entrei e deparei-me com uma loja à antiga, com móveis de madeira e prateleiras com caixas antigas nas filas superiores e modernas nas mais baixas. Os vários produtos preenchiam-nos, bem como os armários com portas de vidro nas paredes opostas. Por trás de um balcão corrido, também de madeira, encontrava-se um senhor amável a quem expliquei os meus interesses. Sugeriu-me falar com um responsável pelo pelouro da higiene e qualidade, o sr. Bruno Vieira que, habituado à curiosidade dos visitantes, me disponibilizou a história da fábrica.
A fábrica foi fundada em 1893 por Francisco Roque Gomes da Silva. Desde o início que a fábrica e loja têm permanecido no mesmo local, na Travessa do Forno. Começou por produzir bolachas e biscoitos, em que se torna evidente a influência inglesa, tanto no que respeita às receitas como ao logótipo das latas de 5 Kg onde estas eram acondicionadas. Podemos ver as latas antigas, em folha de Flandres forradas a papel, ao lado de latas da Huntley & Palmers, fábrica inglesa fundada em 1822 e que se tornou na maior fábrica de biscoitos do mundo e perceber a sua influência. Do mesmo modo as bolachas de gengibre remetem-nos imediatamente para Inglaterra. Em 1948, a fábrica, parcialmente visível por detrás do balcão, foi remodelada e adaptada à electricidade. A modernização poupou contudo a principal máquina, uma moldadora de bolachas, que data de 1900 e que foi apenas adaptada à nova força motriz.
Com a morte do fundador a fábrica passou para seu filho Américo Ciríaco Silva e deste para António Manuel Carregal Côrrea da Silva. Permanece ainda na posse da família, sendo sua actual proprietária Christiane Bettencourt Sardinha. É a esta sucessão familiar que se atribui a persistência desta fábrica, uma das mais antigas fábricas de bolachas do país.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A goiabada brasileira, uma herança portuguesa

A goiabada está bastante divulgada em Portugal, onde é utilizada da mesma forma que a marmelada. Pode-se encontrar em qualquer supermercado desde há vários anos, mesmo antes de os brasileiros viverem em Portugal.
O que me levou a escrever sobre ela foi o facto de me ter surgido uma caixa antiga de goiabada. É uma caixa da marca Regina, que interessantemente copia um pouco o “lettering” da nossa conhecida fábrica de chocolates Regina.

A goiaba, fruto mais difícil de encontrar em Portugal continental, é o fruto da goiabeira, uma árvore da espécie Psidium guajava, da família Myrtaceae e existem mais de 2.800 espécies. Para nós leigos, chega-nos saber que existem duas variedades, de polpa branca e vermelha, sendo esta última a mais frequentemente utilizada.
Pensa-se que o seu local de origem corresponde à área que se estende do México até à América central e transformou-se numa das árvores de fruto mais comuns na América do Sul.
Foi cultivada pelos Incas e já existia no Brasil antes dos portugueses lá chegarem. Foram os navegantes europeus que levaram a goiaba da América do Sul e Central, para as suas colónias africanas e asiáticas, com clima tropical. É por essa razão que na Ilha da Madeira se encontram tantas goiabas, agora transformadas em fruto local.
Gabriel Soares de Sousa, um português que emigrou para o Brasil e que se transformou em agricultor e empresário, escreveu em 1587 o «Tratado Descritivo do Brasil». Nele se refere à goiaba afirmando que se chamava “araçaguaçu”. Ainda hoje no Brasil ela tem vários nomes como araçaíba, araçá-guaçu, araçá-goiaba. O autor do Tratado Descritivo foi também proprietário de um engenho de açúcar. Foi a estes proprietários de engenhos de açúcar, e a outros colonos portugueses, que se atribuiu a origem da goiabada, como substituto da marmelada.

Embora a investigadora Rosa Belluzzo, especialista em história da alimentação e autora do livro Os Sabores da América e co-autora de Cozinha dos Imigrantes e de Doces Sabores, afirme que a mistura da goiaba com o açúcar nasceu nos engenhos cubanos, não é esta a opinião mais aceite. Podem ter sido feitas compotas, associando a fruta ao açúcar, mas não goiabada. Ainda hoje na Ilha da Madeira a goiaba é utilizada para a confecção de doces, mas não para goiabada, porque dificilmente competiria com a marmelada.
A marmelada é uma doçaria tipicamente portuguesa e que foi sempre muito apreciada.
É natural que os portugueses no Brasil tenham utilizado a sua receita, substituindo o marmelo por goiaba. Ficava assim aliviada a saudade da marmelada.
No livro “Açúcar”, de Gilberto Freyre, a goiabada é mencionada como um dos grandes doces das casas-grandes no período colonial.

O que é considerado brasileiro é a associação da goiabada-cascão (a forma mais sólida em que se incluem algumas cascas), acompanhada de queijo branco ou de requeijão, que Gilberto Freyre refere ser “saborosamente brasileira".
Esta sobremesa é hoje em dia conhecida no Brasil por "Romeu e Julieta". Este nome deve-se a uma campanha publicitária feita por Maurício de Sousa, nos anos 60, para um anúncio da goiabada «Cica», em que o queijo era Romeu e a goiabada Julieta. A associação foi tão perfeita que o nome ficou.
Nada de estranho para um português que esteja habituado a comer queijo com marmelada.
Será que também aqui não andou mão portuguesa?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ópera no Mercado Central de Valência

Desde há algum tempo que penso em introduzir um tema sobre os mercados nacionais e internacionais, que vou visitando.
Entretanto enviaram-me as imagens de uma ópera no mercado de Valência, que é um dos que já visitei e que, pela curiosidade da forma de apresentação, merece ser visto.

Por coincidência o meu amigo A. Teixeira ensinou-me ontem a inserir as imagens do Youtube no blog.
Aqui ficam e numa próxima oportunidade falaremos do mercado.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Os brindes do OMO

O OMO foi um dos primeiros detergentes em pó introduzidos em Portugal.
O seu lançamento foi feito em 1955 pela empresa Lever, hoje conhecida por Unilever. Até então as donas de casa usavam sabão em barra para lavar a roupa e foi necessário incutir-lhes a ideia da eficácia desta forma alternativa de lavagem.

Para isso foram usados argumentos que passavam pela transmissão da ideia de que a lavagem era fácil. Tão fácil que nem era preciso esfregar.
Embora inicialmente tivesse sido lançado para roupa delicada, as campanhas passaram depois a ter como indicação toda a roupa de casa. Foi assim que surgiram na publicidade crianças e homens. Estes últimos para mostrar a brancura das suas camisas. A frase «OMO lava mais branco» foi extraordinariamente feliz e ficou na memória de todos.
Imagem retirada de Santa Nostalgia

A publicidade foi feita em jornais e revistas e, a partir de 1964, pela televisão.
Mas para além destas campanhas publicitárias, a aquisição do detergente era incentivada por ofertas de objectos para o lar, a troco de tampas e algum dinheiro. Eram os chamados “brindes OMO”.
Foi assim que em 1959 forma oferecidos baldes de plásticos, em 1960 panos de cozinha e cestos para roupa, fundos, para a roupa lavada recolhida e planos para a roupa passada a ferro, de que tenho uma exemplar de cada, em plástico encarnado.
Foi em 1961 que foram oferecidas as facas de cozinha como a apresentada, que felizmente se encontra ainda na caixa. Como se pode ler no exterior da embalagem, o cabo era efeito em melamina. Existiam também com cabos pretos e penso que em branco, mas sobre estas ultimas não estou certa.
Em 1963 foram oferecidos tabuleiros para o forno e em 1965/1966, colheres de chá, pratos e facas com cabo de plástico. As caçarolas com cabo comprido preto são também um brinde desta época e ainda hoje tenho uma a uso.
Em 1970 foram panos do pó, tabuleiros e pegas. Devo dizer que destes brindes não tenho qualquer recordação. Algumas das informações aqui referidas, em especial as que dizem respeito a datas, foram obtidas a partir de um estudo de caso, de que desconheço o nome do autor, publicado em Publicitor, pp 60-64, e acessível em http://tvsabao.no.sapo.pt/estudos.htm e que poderão consultar se desejarem saber mais pormenores.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A "Arte de Cozinha": o primeiro livro de culinária português

Em 1680 foi editada, em Lisboa, a obra "Arte de Cozinha" de Domingos Rodrigues.
Tratava-se do primeiro manual de cozinha redigido, impresso e publicado em Portugal. Poucos anos depois, em 1683, sairia de novo da oficina de João Galrão, tipógrafo de Lisboa, uma edição da obra com uma dedicatória do autor ao Conde do Vimioso, casa onde Domingos Rodrigues serviria muitos anos. A edição aqui apresentada é a terceira.

Quando se comparam as diferentes edições que se lhe seguiram, constata-se que cada uma delas sofreu alterações ou acrescentos da mão do editor/tipógrafo. A Arte de Cozinha continuaria a ser reeditada até 1849, num total de, pelo menos, quinze edições. Durante este longo período de 169 anos o livro foi sofrendo várias alterações.

As duas edições iniciais eram constituídas por duas partes. A primeira Trata do modo de cozinhar vários manjares e diversas iguarias de qualquer casta de carne, e de muita variedade de pastéis, tortas, empadas e outras muitas curiosidades. A segunda Trata do modo de cozinhar diversos pratos de peixe, mariscos, ervas, frutas, ovos, lacticínios, conserva e toda a sorte de doces. Incluía ainda a Forma como se hão-de dar os Banquetes em todos os meses do ano, que, a partir da edição de 1693, passa a constituir uma terceira parte individualizada. No início do século XIX, pelo menos a partir da edição de 1814, a Arte de Cozinha passou a integrar uma quarta parte que tratava de Fazer Pudins e preparar Massas. As informações sobre Domingos Rodrigues são escassas. Diogo Barbosa de Machado na Bibliotheca Lusitana, afirma que Domingos Rodrigues nasceu em Vila Cova à Coelheira, Bispado de Lamego, no ano de 1637, vindo a falecer em Lisboa a 20 de Dezembro de 1719, com a idade de 82 anos. Segundo este, terá trabalhado na casa dos Marqueses de Valença e Gouveia antes de ser Mestre da Casa Real. Esta última afirmação necessita contudo de confirmação que nunca foi feita. Até lá, pode considerar-se que, seguramente, Domingos Rodrigues trabalhou como cozinheiro extraordinário nos banquetes oferecidos pela Casa Real, mas não foi ainda possível encontrar documentos que o confirmem como cozinheiro da Casa Real.

A primeira edição deste livro é hoje tão rara que o único exemplar que alguma vez consultei se encontra numa biblioteca fora de Portugal. Vou continuar a procurá-la, tal como o rasto de Domingos Rodrigues nos arquivos portugueses.