domingo, 30 de dezembro de 2012

Votos de Bom Ano Novo

Desejar um “Feliz Ano Novo”, quando se avizinha o que todos esperam ser um mau ano, tem um significado diferente para os portugueses.
 Manifestar  votos de «Bom Ano» deixou de ser uma expressão rotineira para ganhar verdadeiramente sentido.  
Num país que sempre foi pobre retomamos os valores não materiais que se foram perdendo numa ilusão de riqueza. Estamos agora mais unidos e solidários e descobrimos um orgulho no que é nacional que se havia perdido.
Concentremo-nos no lado positivo e esperemos dias melhores, que inevitavelmente hão-de vir.
Dito isto, já  posso desejar um Bom Ano?.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Natal com Chocolates Regina

Durante o ano vou guardando imagens sobre o Natal esperando a época natalícia para as mostrar.
Constato depois que o tempo é pouco para tudo o que há que fazer e não dá para pensar no blog.
Os chocolates eram ofertas raras e sofisticadas destinadas a momentos especiais, que ocuparam nas últimas décadas um espaço importante nos Natal.
Em meados do século passado a Fábrica Regina não perdia a oportunidade de publicitar os seus produtos na época principal de vendas.
A publicidade de 1946 e 1947 na revista «Voga» são um exemplo. O requinte chegava ao ponto de usar artistas internacionais, como Audrey Totter e Lucious Maxwell, artistas da Metro Goldwin Mayer, cujos nomes hoje nada nos dizem.
Em 1950 a Regina, mais à medida das nossas possibilidades, registou a marca «Natal Feliz», para tabletes de chocolate.

Aqui ficam estas imagens como curiosidades natalícias doces antes da vulgarização do chocolate a que chegámos hoje.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Um rótulo de «Boas Festas»

O meu cartão de Boas Festas é um rótulo de Vinho do Porto, cuja designação de marca é precisamente «Boas Festas».

Foi uma das marcas comercializadas pela empresa António Pinto dos Santos Júnior & Cª, fundada em 1872, em Vila Nova de Gaia, onde funcionavam como armazenistas de vinhos tintos de mesa, Porto licoroso, Porto velho e Porto Malvasia. Nas primeiras décadas do século XX exportavam para o Brasil vinhos e azeites.
 Nos ano de 1944 o nome desta firma surgia no Anuário Comercial de Portugal como sendo armazenistas e exportadores.
Foi mais tarde vendida ao grupo Barros Almeida, que iniciara a sua actividade em 1913. Em 2006 esta firma, por sua vez, passou a fazer parte do grupo de produção e comercialização de Vinho do Porto designada Sogevinus.

Saúdo o Natal com um Porto velho. Um Feliz Natal para todos

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Natal dos Animais

No Natal de 2009 tentei saber qual a Alimentação do Pai Natal, mas esse assunto revelou-se profundamente misterioso.
Mais sorte tive com este livro que nos mostra o «Natal dos Animais».
Com o titulo em inglês «The Animal’s Merry Christmas», conta 23 histórias de Natal de vários animais humanizados.
Foi publicado em 1950 e o texto é de Kathryn Jackson, que escreveu dezenas de livros infantis, muitos deles publicados nesta série «Golden Books».
 O mais interessante contudo são os desenhos de Richard Scarry (1919-1994) que foi autor e ilustrador de mais de 300 livros, sempre com um enorme sucesso devido aos seus animais antropomórficos.
As crianças adoraravam as histórias com animais, o que lhe permitiu vender um número impressionante de exemplares, mais de 300 milhões de livros, em 30 línguas.
Logo ao abrir a capa salta-nos um Pai Natal em «pop-up», a entrar na chaminé, que ocupa duas páginas.
 Depois começam as histórias profusamente ilustradas com as aventuras dos vários animais.
O que me impressionou no livro, e se adapta bem a este blogue, são as inúmeras imagens que retratam cozinhas onde se confeccionam os pratos natalícios ou as salas onde a família animal se reúne à volta da mesa para a consoada.
Não faltam mesmo os sonhos sobre comida que inevitavelmente incluem outros animais.
 Um livro que é um prazer para os olhos e extremamente informativo para quem tinha dúvidas de como os animais passam o Natal.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Os puzzles da B-OM

 Estes são dois puzzles de uma série, provavelmente de doze, oferecidos na década de 1960 pela B-OM, um medicamento estimulante de apetite.
 O primeiro mostra Branca de Neve a dar aos sete anõesinhos uma colher de xarope de B-OM, enquanto no segundo puzzle as figuras do «Vamos Dormir»: a Xana, o To-Zé, a Tuxa e o Tico surgem como exemplo de crianças com bom apetite graças a este medicamento. Apenas este está assinado por Mário Neves e tem a data de 1968.
 Dentro dos pacotes encontra-se um puzzle muito simples, evidentemente destinado a crianças.
 Na parte detrás pode-se ver a publicidade em forma de prescrição (meio em francês, meio em português) que nos revela que se trata de um produto com vitamina B12. O nome sugestivo «B-OM» devia resultar e acredito que muitas crianças devem ter tomado este medicamento.
 As vitaminas estavam então na moda. Na década de 1950 fora descoberto o processo para produzir vitaminas em grandes quantidades a partir de culturas bacterianas. A vitamina B12 é armazenada no fígado e devido a uma circulação eficiente entre o intestino e o fígado são raras as deficiências nutricionais desta vitamina. Por outro lado, sempre aprendi que a vitamina B12 é muito mal absorvida por via oral.
Apesar de tudo isto era uma terapêutica eficaz. Numa época em que as crianças não gostavam de comer (não sei explicar como as coisas se inverteram) acredito que os meninos passavam a comer melhor. Mistérios insondáveis da Medicina.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Cartazes Publicitários de Bebidas

Falei já anteriormente sobre a Laranjada Invicta. Volto hoje ao tema a propósito de um outro cartaz publicitário que faz parte da colecção das simpáticas proprietárias da loja Collectus, no Porto.
Esta marca  de refrigerante «Invicta» surgiu em 1956 e foi comercializada nas variedades de Laranjada, Cidra e Lima. Era produzida pela Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes - Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada (CUFP), do Porto, que laborava já desde 1904.
O cartaz em causa, que as proprietárias me permitiram fotografar, por si só justificava já um poste. Foi feito pela Empreza do Bolhão, sucessora da Empresa Técnica Publicitária, fundada em 1910 por Raul Caldevilla e que seguiria também esta, no que respeitava à elevada qualidade dos seus cartazes.
A imagem é muito simples: uma jovem aprumada com chapéu na cabeça, bebe um copo de refrigerante com manifesto prazer. Em fundo a identificação de três refrigerantes Invicta: a Laranjada, a Cidra e a Lima.
Em última linha e a encarnado surgia o aviso: «Cuidado com as imitações» e a informação «Vende-se aqui», o que mostra que era feito para ser colocado nos estabelecimentos que a comercializavam. Não existe qualquer assinatura que possa identificar o autor.
Fez-me lembrar um outro cartaz, anterior a este e sem qualquer relação com ele, destinado a publicitar o vinho do Porto Rainha Santa. Este cartaz foi feito em 1946 na Litografia Progresso do Porto e do mesmo modo apresenta no canto a frase «Vende-se aqui».
A imagem feminina que surge igualmente na parte esquerda do cartaz é mais sensual, como acontecia com outro tipo de publicidade ao Vinho do Porto. De pescoço estendido pega delicadamente, com a mão direita, num cálice de vinho do Porto e dirige os lábios para ele.

Há portanto mensagens diferentes em ambos os cartazes. A primeira figura feminina podia ser uma tenista num intervalo de um jogo, enquanto a segunda, de ombros desnudados, nos leva a  pressupor que veste um vestido de noite.
Não devem ser da mesma autoria contudo, e apesar das diferenças referidas, há uma semelhança que vai para além do uso de cores idênticas que me leva a associá-los.
Talvez seja a simplicidade da mensagem, que através de frases directas e da beleza da suposta consumidora nos fica no cérebro, provocando uma sensação agradável. Penso que não se deve pedir mais à publicidade.

sábado, 8 de dezembro de 2012

As pinças dos cozinheiros

O meu interesse pela gastronomia vem de há muitos anos. Por isso mesmo posso olhar para as coisas com recuo.
A evolução da cozinha nos seus vários aspectos suscita a minha curiosidade e um deles, o empratamento e o uso de guarnições, tem agora características que merecem uma reflexão.
É cada vez mais frequente ver cozinheiros a usar pinças para colocar nos enormes pratos as porções minúsculas que os compõem. Os alimentos posicionados no centro do prato, equilibram-se sobre si, numa pilha que leva a uma apresentação agradável à vista, enquanto são rodeados por pingos ou fios de um molho colorido. Em alternativa o molho, mais espesso, é estendido debaixo dos alimentos. Para aumentar a complexidade são colocadas sobre os alimentos flores ou pequenas folhas de rebentos comestíveis.
Ver utilizar a pinça na alimentação é para mim extremamente desagradável. Vendo bem faço dela uma associação totalmente diferente. O meu primeiro contacto com a pinça foi no Liceu onde, na aula de Ciências Naturais, a usávamos para a dissecação de animais, como pombos e rãs. Depois na Faculdade utilizávamo-la na dissecação de cadáveres. Já formada o seu uso era indispensável para abrir feridas para as inspeccionar ou ajudar a fechar bordos para suturas. Era então colocada na mão esquerda, enquanto a direita segurava a agulha ou o porta-agulhas.
Um outro tipo de pinças mais pequenas tinha uma aplicação doméstica. Do lado feminino foram sempre usadas para arranjar as sobrancelhas enquanto, o lado masculino a utilizava na manipulação dos selos, tornando-se num objecto indispensável de qualquer filatelista cuidadoso.
A minha sensação ao ver a pinça associada à alimentação é de desagrado, pelas razões expostas, mas também pelo ridículo. Que raio, não há quem explique aos cozinheiros que uma das características humanas, que nos distingue dos animais, é a possibilidade de oponibilidade do polegar aos outros dedos. É essa característica que nos permite fazer da mão humana pinças.
De resto são essas “pinças “ que os cozinheiros usam para mexer as saladas, agora que descobriram que estas só ficam bem mexidas com as mãos, ignorando os garfos ou as pás para salada.

Foto tirada do blog Design byproxy
Esta disseminação acrítica de exemplos vindos de fora, adoptados como modernos, têm sempre o tempo contado. Entretanto as empresas de cutelaria agradecem.
Pelo meu lado tenho sérias desconfianças em relação a um prato confeccionado por um cozinheiro que coloca comida no prato com pinças. Por mais bonito que seja o resultado.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma fatura do Palace Hotel da Matta do Bussaco

 
Uma simples papel, neste caso uma fatura do «Palace-Hotel da Matta do Busaco», pode fornecer imensas informações.

A fatura em nome de Domingos Pestana, antecessor de pessoa ligada à minha família, data de 23 de Setembro de 1911. Sob o título do hotel surge o nome de Paul Bergamin, a quem o estado português o havia entregue em concessão.
O Palace Hotel do Buçaco é uma edificação neomanuelina e foi  construído a partir de 1888, ano da aprovação do projecto de Luigi Manini (1848-1936) e em que colaborariam também Nicola Bigaglia, Manuel Norte Junior e José Alexandre Soares.
Uma outra fatura anterior deste hotel surge no livro do meu amigo Jorge Tavares da Silva intilulado «Bussaco. Palace Hotel». Datada de 1891 mostra que já então o hotel estava em funcionamento sob a responsabilidade de Paul Bergamin, mas designava-se então «Hotel da Matta do Bussaco».
Paul Bergamin, de origem suiça, teve um hotel em Pampilhosa, num chalet que foi construído em 1886, e que era conhecido como o “Chalet suiço” ou «Hotel Bergamin». Este hotel situava-se perto da estação de caminhos de ferro, cujo bufete também era explorado por Bergamin e que serviu, em 1906, para efectuar a escritura para a construção do Teatro Grémio de Instrução e Recreio de Pampilhosa, em terrenos oferecidos por Paul Bergamin, tendo contribuído para a sua construção vários industriais locais, como sócios mecenas.
De Bergamin diz-se que tinha a formação de cozinheiro chefe e pasteleiro, mas não há dúvidas de que a sua função à frente do Palace Hotel do Busaco era bem mais vasta.
Com ele trabalhavam Conrad Wissman (1859-1947) e um seu familiar R. Wissman, cujos nomes surgem também na fatura referida.
Conrad Wissmann, era de origem alemã e trouxe para Portugal os seus sobrinhos. Para além do nome já referido veio também Emília Wissmann (1884-1979), que conheceu Afonso Rodrigues Costa (1875-1947) que trabalhava no Palace com quem veio a casar. Emília foi responsãvel pela criação de doçaria, entre as quais um pastel folhado recheado de doces de ovos moles, que presentemente foi recriado pela Confraria do Leitão da Bairrada e designado “Amores da Curia”, sendo apresentado em forma de coração, para justificar o nome.
Também Conrad Wissman é referido como cozinheiro-pasteleiro no Palace do Buçaco, mas do mesmo modo o seu papel foi muito maior. Em 1907, Conrad Wissmann e o casal Emília Wissmann e Afonso Rodrigues Costa, arrendaram a Villa Figueiredo, na Curia, que se iria converter no Grande Hotel da Curia. No parque das termas Emília Wissmann abriu a Pastelaria Bijou onde vendia os doces que confeccionava para o seu hotel e para o Palace da Curia, entre os quais o já referido.

Conrad Wissmann foi membro honorário da Sociedade de Propaganda de Portugal[1], proprietário do Hotel Central de Lisboa e do Hotel da Curia, gerente deste hotel, onde era coadjuvado por seus sobrinhos, também hoteleiros no Grande Hotel do Bussaco e também proprietário do Grande Hotel Avenida, em Vila do Conde.
Em 1911 quando decorreu o Congresso de Turismo em Portugal Conrad Wissmann era diretor do Hotel Central em Lisboa e vemos o seu nome surgir também no Palace Hotel do Bussaco.
Em 1916 Paul Bergamin convidou Alexandre Almeida para a gestão do Palace Hotel do Bussaco. Em 1922 assinou um contrato de trespasse iniciando remodelações no hotel que iriam durar até 1936 e que tornariam o hotel no que é hoje.
Aqui ficam as achegas à história deste hotel, onde entram muitos cozinheiros- pasteleiros em funções distintas das suas. Numa época de início de desenvolvimento do turismo em Portugal, tiveram um papel activo na hotelaria nacional.
Se também fizeram doces, não foi isso que lhes deu notoriedade. Nesse campo apenas Emília Wissmann deixou um doce com tradição.



[1]Primeira estrutura de incentivo ao turismo em Portugal.

domingo, 2 de dezembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O azeite e a inflação

 De uma colecção de rótulos de azeite isolei estes exemplares semelhantes. Aos menos atentos parecem iguais e podiam fazer parte de um passatempo tipo: «Descubra as diferenças». 
São rótulos dos anos 80 e a diferença reside apenas no aumento progressivo do preço.
 O consumidor desatento pegava na garrafa com o rótulo igual e levava para casa o mesmo produto, mas mais caro.
 É uma forma fácil de explicar o que é a inflação, mesmo às crianças.
Lembro-me de uma época em que tinha que se fazer as compras rapidamente no princípio do mês porque já sabíamos que tudo ia aumentar.
 E o mesmo se passava com todos os outros artigos.
Os rótulos de óleo alimentar mostram que não havia saída.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Fábrica de Bolachas Paupério - 2. As embalagens.

 Como prometi no último poste, vou falar das embalagens de Bolachas da Fábrica Paupério.
 A razão deste tema prende-se com o meu gosto por caixas mas tem sobretudo a ver com os novos modelos de embalagens que esta fábrica pôs agora à venda e que se baseiam em modelos antigos.
Existem ainda na fábrica 4 modelos de tampas das primitivas embalagens, encaixilhados, quando a venda de bolachas e biscoitos era feita em caixas de folha-de-flandres revestidas a papel. Por serem menos resistentes que as embalagens em folha de lata litografadas são hoje mais difíceis de encontrar.
 Através de um antigo catálogo pudemos também constatar os modelos utilizados nas décadas de 1950-1960, caixas ao gosto da época, em folha de flandres, sextavadas, com cartelas com paisagens e outras mais clássicas cúbicas em dois tamanhos.
Desde há cerca de três anos começaram a produzir caixas em cartão branco e azul, bem como pacotes mais pequenos, em cartolina nas mesmas cores, que reproduzem um dos modelos iniciais.
Nelas são visíveis as medalhas ganhas na Exposição de Filadélfia em 1876, da Exposição do Rio de Janeiro de 1879 e da Exposição Horticola-agrícola que teve lugar no Porto, em 1877, no antigo Palácio de Cristal, cuja imagem se pode ver em posição central.
Este ano, antecipando o Natal, lançaram dois novos modelos em lata, em tronco de cilindro, uma reproduzindo um dos modelos anteriores em amarelo e laranja (que Gianni Versace se ainda fosse vivo não desdenharia) e uma outra mais clássica, ao gosto inglês, com a imagem de dois meninos novecentistas.
Já estão à venda e eu fui comprá-las só para lhes mostrar. O que eu faço pela indústria nacional!.