quinta-feira, 27 de junho de 2013

Um cestinho feito com postais ilustrados

 

Olhei para ele e fiquei imediatamente fascinada. Refiro-me a um pequeno cesto feito com postais recortados. A habilidosa autora da obra utilizou postais do fim do século XIX e início do século XX recortou-os e coseu-os com linha vermelha.
De acordo com o modelo de pontos apresentados no trabalho manuscrito do «Curso de Bordadora Rendeira» feito em 1952, por Georgina G. da Costa trata-se de um dos pontos de “remate usados para unir ourelas”. 
Os postais foram utilizados interior e exteriormente e para completar a cesta foi feita uma asa envolta em seda encarnada que remata com dois laços.
Uma doçura que me fez recordar um trabalho da minha avó. Quando o meu avô esteve em França na 1ª Guerra Mundial, entre 1914-1918, enviava à minha avó postais de cor sépia.
 Com eles a minha avó construiu um quadro que tinha espaço para a sua fotografia e a do marido. À volta, fazendo passe-partout, estavam os postais recortados e cosidos com um ponto semelhante a este, em cor castanha.
Penso que este tipo de trabalho deve ter sido uma moda das primeiras décadas do século XX, mas estranho aparecerem tão poucos trabalhos destes. Por isto partilho estas imagens para alegrar almas sensíveis.

domingo, 23 de junho de 2013

Um cartão recortado de Cottinelli Telmo

José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948) ficou conhecido principalmente como arquitecto e cineasta. Como arquitecto trabalhou para a CP entre 1923 e 1948 e dele podemos ver a emblemática estação ferroviária de Sul e Sueste, no Terreiro do Paço em Lisboa (1931). Em 1939 foi nomeado arquitecto chefe da Exposição do Mundo Português (1940) tendo sido responsável por vários pavilhões.
Só isto já chegava para lembrar a sua memória mas foi também realizador do filme que mais ficou no coração dos portugueses: «A canção de Lisboa», onde as personagens interpretadas por Beatriz Costa, Vasco Santana e António Silva nos fazem sorrir sempre que revemos o filme.
A sua obra foi ainda mais diversificada e abrangeu outras áreas como o desenho, a música e a banda desenhada. É esta actividade que queremos aqui recordar com este recorte de uma banda de música recortada, com figuras móveis, que no fundo integra vários dos seus interesses.
Cotinelli Telmo foi um dos fundadores da revista infantil ABCzinho onde criou um dos primeiros heróis da banda desenhada portuguesa: o «Pirilau».
Escolhi uma das suas capas adequada à época com a representação do Santo António com um menino ao colo. À volta da sua imagem pode ler-se: «Dentro uma linda construção com movimento. Vejam!».
Estes recortes conservaram-se menos do que as revistas e é provável que este fizesse parte de uma dessas publicações. Um desenho de traço simples e cheio de humor que permite despertar a magia do movimento num cartão e é uma oportunidade para aqui recordar Cottinelli Telmo, uma personalidade multifacetada, que a memória foi esquecendo.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Curso: A Mesa Aristocrática no século XVIII

 

O palácio de veraneio do Marquês de Pombal em Oeiras é um local privilegiado para o estudo da habitação e modos de vida no século XVIII.
Dinamizado pela Divisão de Património Histórico e Museológico da Câmara Municipal de Oeiras, vai realizar-se nos dias 29 e 30 de Junho o curso «A Mesa Aristocrática no século XVIII» de que serei palestrante.

Aqui fica o convite para quem se interessar pelo tema.

sábado, 15 de junho de 2013

Um painel de azulejos Knorr

Este painel de azulejos Knorr suscitou-me alguma perplexidade e a vontade de saber mais sobre ele.
Foi Carl Heinrich Theodor Knorr (1800-1875), um alemão com conhecimentos de técnicas de produção agrícola, que um dia decidiu iniciar experiências para conservar vegetais, por meio de secagem. Em 1838, fundou na cidade de Heilbronn, no sul da Alemanha, uma empresa com o seu nome, Knorr, tendo começado por produzir chicória desidratada, destinada à indústria do café.
Em 1870, passou a dedicar-se à produção de farinhas de vegetais como ervilhas, lentilhas, feijão e mandioca e, na sua sequência, começou, em 1873, a produzir as primeiras misturas de vegetais, a que adicionava temperos, destinados a sopas rápidas. Estas eram vendidas em saquinhos, em lojas de comércio alimentar. Após a morte do fundador em 1875 foram os filhos Eduardo (1843-1921) e Alfredo (1846-1895) que deram continuidade ao projecto, fundando novas fábricas em 1885 na Áustria e na Suiça. Às sopas já produzidas em pó iriam juntar-se outras em tabletes.
Cartaz tirado da internet
Em 1867 uma cozinheiro alemão de nome Johann Heirich Grüneberg (1819-1872), criou uma sopa concentrada de ervilha em pó que era vendida com a forma de uma salsicha, designada Erbswurst. Este vendeu a patente ao exército prussiano, que construiu fábricas para a produzir em grande escala, distribuindo-a pelos seus soldados durante a guerra franco-prussiana (1871-1872). Em 1889 a Knorr retomou esta licença e manteve a sopa em forma de salsicha (Erbswurst), que foi um sucesso tão grande no seu país que ainda hoje é vendida pela Knorr alemã.
Em 1912 surgiu a sopa desidratada em forma de cubos. Nas décadas que se seguiram, este tipo de sopas foi-se implantando em vários países. Em 1948, a Knorr anunciava que era já possível conseguir uma sopa rápida feita em menos de 10 minutos, que então era vendida em saquinhos de alumínio.
Em Portugal o primeiro registo desta marca surgiu em 1949  feito pela Knorr-Nahrmittel Aktiengesellschaft (Societè Anonyme des Produits Alimentaires). O logótipo da empresa, com a assinatura do fundador “Knorr”, surgia de forma simples. Mais tarde manter-se-ia mas o fundo foi-se modificando com o tempo. É possível que a este registo não tenha correspondido um comercialização imediata. Em maio de 1953 foi novamente registado, desta vez pela Knorr-Nahrmittel Aktiengesellschaft, que o repetiu em 1964.
Em 1958 a empresa foi vendida à americana CPC (Corn Products Company), precursora da Bestfoods. Foi a empresa Knorr Bestfoods Portugal que mandou fazer esta placa de azulejos em que se festejam trinta anos da sopa Knorr. Utilizando um cartaz publicitário, com ar de fim de século XIX, reproduzido também nas latas de folha onde eram vendidos os caldos, foi utilizada para comemorar os trinta anos da Knorr Portuguesa (1963-1993). Esta data misteriosa, que não corresponde a nenhuma que encontrei, leva-me a concluir que deve ter a ver com a empresa que a comercializava (Knorr Bestfoods Portugal) e não com o produto em si.
Em 2000 a Bestfoods passou para a Bestfoods Unilever Portugal e em 2005 passou a designar-se FimaVG, uma associação Unilever e Jerónimo Martins.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Olhares sobre os Santos Populares

Consoante as épocas olha-se para as coisas de forma diferente e cada um tem a sua interpretação. Neste pequeno poste percorremos o tema das festas populares através dos olhos de alguns autores, a que tive a ousadia de acresentar a minha visão.
Começo com o desenho de Tom (Thomaz de Mello, 1906-1990) para a capa da revista Magazine Bertrand, publicada em Junho de 1931, que representa duas figuras populares, coloridas e risonhas a caminho da festa.
Mais comedido, mas igualmente colorido, é o desenho de capa de um catálogo para a revista «Lisboa em Festa», que teve lugar no Teatro ABC, em 1958. Está assinado Garcia e foi feito na Belarte.
Por último, a minha visão preguiçosa das festas populares, um arranjo para o centro da mesa, para evocar a época.

domingo, 9 de junho de 2013

Museu Virtual: Misturadora e Máquina de Gelados Starmix

Nome do Objecto: Misturadora e Máquina de Gelados Starmix

Descrição: Base em metal com motor da máquina,com copo misturador de vidro com lâmina. Tem como acessório um copo em baquelite com espaço para colocação de gelo e que era adaptado à base.

Material: Metal, vidro e baquelite.

Época: cerca de 1950.

Marcas: Starmix. Electrostar.

Origem: adquirido no mercado português.

Grupo a que pertence: equipamento culinário.

Função Geral: Equipamento para preparar os alimentos

Função Específica: Equipamento culinário para misturar os alimentos junto com Equipamento para arrefecer os alimentos.

Nº inventário: 1080.

Objectos semelhantes: Não classificados.
Observações:
A designação do aparelho é a de misturadora. Contudo, os múltiplos acessórios para picar, ralar, cortar pão, centrifugar leite e fazer gelados, que se podiam agregar, fazem dela um dos primeiros processadores de alimentos, mais tarde integrados num único objecto.
Foi em 1921 que Robert Schottle fundou em Estugarda uma firma de produtos eléctricos. A sua primeira comercialização foi de um aspirador de saco designado «Ventus». Em 1925 a firma, com um longo nome alemão, passou a designar-se Electrostar. Em 1946 surgiu o conceito de uma máquina de cozinha Starmix como uma ideia revolucionária. Em 1948 foi feito o 1º exemplar, mas apenas em 1949 foi comercializado. Considerado um dos primeiros sinais da retoma da economia na Alemanha, foi apresentado em feiras industriais e tornou-se um grande sucesso nos anos seguintes.
Em 1950 iniciou-se a exportação para vários países entre os quais Portugal. Em 1951 a Starmix ganhou uma medalha de Ouro no Culinary Art Show International, em Frankfurt. No ano seguinte foi apresentado na Autumn Fair de Colónia uma nova forma da Starmix, a «Electro Estrel», que combinava o liquidificador com o misturador e que ganhou nova medalha de ouro. Presentemente a firma pertence ao grupo ALGO.

Ver apresentação em :

terça-feira, 4 de junho de 2013

Os diáfanos Pastéis de Tentúgal

Este doce conventual nasceu no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em Tentúgal. Fundado em 25 de Março de 1565 por acção de D. Francisco de Melo, 2º Conde de Tentúgal, integrou freiras da Ordem das Carmelitas Calçadas. O seu património foi saqueado durante as invasões francesas e em 1834 foi extinto, tal como os outros conventos. Contudo as freiras mantiveram-se nele até 1898, altura em que faleceu a última freira.
O fabrico e venda de doçaria para a sociedade civil foi sempre uma boa fonte de rendimento dos conventos e a fama destes pastéis vêm de longa data. A sua apreciação foi exaltada em poemas e em prosa em várias obras[1].
Em que data iniciaram a produção dos pastéis de Tentúgal não se sabe, mas é curioso que seja referida a existência nesse convento de uma «porta da farinha», alusão ao local de entrada desta, o que faz supor a aquisição de uma quantidade importante deste produto[2]. Podemos deduzir que se destinava, pelo menos em parte, à confecção dos seus doces.
Na realidade a farinha de trigo, bem alva, tem um papel importante no pastel de Tentúgal. Necessita de ser fina e bem peneirada, embora o mais difícil seja trabalhá-la, actividade que exige vários anos de experiência.


Após a extinção do convento uma das pessoas que aí exercia funções para as freiras Maria da Conceição Faria (1851-1940) começou no exterior o fabrico deste tipo de pastéis, a que se seguiu a sua filha Branca Faria Delgado. Com a morte desta suspendeu-se o fabrico mas outros pasteleiros se seguiram e hoje existem várias casas comerciais com esse fim, que se agregaram numa Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal[3].
O fabrico dos ovos moles
Visitei o fabrico deste pastel na Casa Afonso e pude verificar a mestria exigida às pasteleiras para a produção da diáfana massa.
Começando com um disco de cerca de 50 centímetros a massa vai sendo esticada até atingir a finura que lhe é própria. O movimento dado à massa, provocando ondas manualmente ou com auxílio de panos, ajuda o ar a torná-la mais branca e fina. No final a massa assemelha-se a um papel vegetal que ocupa todo o pavimento da sala e que é recortado em feitio de leque ou meio círculo para formar os “tubos” ou as “meias luas”.
A confecção do pastel
É depois recheado com ovos moles, colocados sobre a massa que é enrolada e colada com manteiga derretida pincelada com uma pena de ave. O calor do forno aloura as pontas levantadas que se derretem depois na boca.
Este ano o pastel obteve o desejado estatuto de indicação geográfica protegida[4] e os 200 pasteleiros que trabalham nesta área, ficaram mais seguros. O mesmo se pode dizer dos consumidores que saboreiam este delicioso doce conventual.



[1] O Pastel de Tentúgal na Literatura, Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal, 2013.
[2]Referida a propósito do “encerramento das grades às Avé-Marias e da porta da farinha”, Capelo, Ludovina Cartaxo, Convento de Nossa Srª do Carmo de Tentúgal, Coimbra, Arquivo de Coimbra, Inventário 2007, Anexo 3.
[3] Presentemente presidido por Olga Cavaleiro, que nos mostrou com entusiamo o fabrico do pastel.
[4] D.R., 2ª série, nº 209 de 31/10/2011 (pedido).

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Exposição "Comeres Nómadas" no CAC

Sob esta designação genérica inaugura-se no Centro de Artes Culinárias (CAC) uma exposição com objectos utilizados nos vários tipos de refeições que tem lugar fora do domicílio e que implicam transporte de comida.
Poderão ser vistos objectos usados pelos trabalhadores rurais e citadinos, pelo exército, pelas crianças na escola e nos momentos de deleite, como nos piqueniques.

Para recordar utensílios antigos e descobrir outros. A exposição, como de costume, é no Mercado de Santa Clara, em Lisboa, e inaugura na 4ª feira às 18 horas.