terça-feira, 26 de junho de 2018

As cores do pão

Foto de João Oliveira Silva da CMF

Tive o grato desafio de receber um convite da Câmara Municipal de Mafra para organizar uma exposição sobre o pão durante o Festival do Pão que irá decorrer nessa cidade entre os dias 7 e 15 de Julho.
O tema este ano tem a ver com o pão na mesa real, numa referência às estadas da corte de D. João V nessa, então, vila. Mas decidiu-se falar no «Pão de todos: da mesa do povo à mesa real», título da exposição, por ser mais abrangente.
 
Pormenor do quadro «natureza morta com pão e empada de perú» Pieter Claesz, 1627. Cortesia de Rijksmuseum Amsterdam.
Foi um desafio interessante porque me fez pensar de outra forma no pão. Um dos painéis designa-se «As cores do Pão» e remete-nos para uma realidade que presentemente se alterou.


Consumido por todas as classes sociais o pão era, contudo, o elemento base da alimentação das classes mais carenciadas. Apresentava-se com várias formas e características mas era na qualidade do pão (pão branco ou alvo para as classes poderosas, de mistura ou de cereais inferiores como a espelta e o sorgo, para o povo) que se revelava a grande diferença entre as classes sociais.
Era notória uma hierarquia nos pães tal como existia na sociedade e a cor do pão traduzia essa realidade. Até à introdução do milho na panificação as cores do pão variavam do escuro, quase preto, ao branco. A farinha de milho veio alterar a composição dos pães e a sua cor.

O padeiro (c. 1681). Job Adriaensz Berckheyde. Worcester Art Museum.
Para ilustrar esta ideia decidi utilizar um quadro «O padeiro»,  pintado por Job Adriaensz Berckheyde e existente no americano Worcester Art Museum. O preço pedido pela utilização da imagem para este fim era incomportável. Decidiu-se então fazer uma fotografia de uma natureza morta que envolvesse pão (pães de Mafra, pois claro!).
Para isso inspirei-me num quadro que Salvador Dali pintou em 1926 e adaptei a ideia com objectos da minha pertença. O resultado da foto (da autoria de João Oliveira, da CMF) superou as expectativas: ficou lindíssimo, como podem confirmar.
O cesto de pão. Salvador Dali. 1926.
Esta história tem um outro fim: o de alertar para o crescente aumento de preço que alguns museus pedem pela utilização das suas imagens. Enquanto alguns museus pensam que o facto de divulgarmos uma das suas obras já é uma forma de pagamento outros, com acontece com a maior parte dos museus portugueses dependentes da DGPC, fazem-se cobrar bem. 

Este problema surgiu-me com o meu futuro livro «Vestir a Mesa». Com o preço pedido, por exemplo, pela utilização de uma fotografia do Arquivo Fotográfico de Lisboa, eu comprava a foto no mercado, caso ela aparecesse. Resultado: o livro vai ter imagens estrangeiras de bons museus, imagens de peças e gravuras minhas, fotos de conjuntos da minha colecção mas apenas as imagens indispensáveis dos museus portugueses.
Vão ficar com as imagens guardadas nas suas colecções e não será feita divulgação do nosso espólio (com grande pena minha), tanto mais lamentável porque será uma edição bilingue. Não acham que não é por aí que vão encher-se de dinheiro para a Cultura? Praticar preços internacionais num país como o nosso é uma tontaria contraproducente. E que tal rever as tabelas?

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Palestra: «Garrafas de licor uma doce descoberta»


No próximo sábado, dia 23 de Junho às 16,30 horas, irei falar no Museu Municipal de Almada sobre este tema.
A comunicação estará focada nas garrafas de vidro e integra-se no programa que acompanha a Exposição «Uma história engarrafada. O vidro utilitário do séc. XVIII em Almada», de que já falei aqui. 

Estarão em exposição achados arqueológicos de vidro encontrados nas escavações de uma habitação desta cidade. A Exposição que foi inaugurada no dia 9 de Junho estará patente ao público até 31 de Julho.
Quanto à palestra lá os aguardo.

sábado, 16 de junho de 2018

O famoso Agar-Agar

No nosso dicionário gastronómico «Do comer e do falar…» definimos ágar-agar como: «Goma ou colóide hidrofílico extraído de algas marinhas da classe das rodofíceas, tais como Gelidium L., Gracilaria L. e de outras algas vermelhas; apresenta-se sob a forma de barra ou em flocos e é uma mistura de polisacáridos de agarose e agaropectina; serve como gelificante rápido mesmo à temperatura ambiente; derrete a 85ºC e após a dissolução deve ferver 3-5 minutos. 
Do ponto de vista nutricional, funciona como uma fibra alimentar, por ter baixa digestibilidade e consequentemente um valor energético baixo. Gelose.»
Algas vermelhas. Foto tirada do blog Plant Life
Informativo mas pouco atraente sobretudo se o compararmos com a deliciosa história infantil intitulada «O famoso Ágar-ágar».
Achei curioso este pequeno livrinho de histórias, de pequenas dimensões, da colecção Juvenil Bambina. A narrativa é maravilhosa e nas suas 6 folhas, sem gravuras, conta-nos como o pobre Agar-Agar, cordoeiro, casado e com cinco filhos passou a rico na sequência da aposta de dois amigos Set e Sat. A história passa-se na Índia onde o grande califa Casbá foi tomado de curiosidade ao ver um grande palácio que pertencia ao nosso herói.
Embora no início tenha recebido um saco de moedas de ouro de um dos apostadores, rapidamente o veio a perder, quando um milhano lhe roubou o turbante onde havia guardado as moedas. Sucedem-se várias peripécias que justificam o enriquecimento deste homem com nome de gelatina, que manteve contudo a sua simplicidade.
História da autoria de Feral Só
A história demasiado longa para aqui a contar é da autoria de Henriette, provavelmente um nome fictício tal como os dos restantes autores desta colecção, cujos outros nomes: Agallogay, Feral Só e Jovit completam o elenco misterioso.
Além deste livro Henriette escreveu «Baniko e as suas malaguetas» e «A princesa do mar verde», todos publicados em 1955 pelas edições H.G., 1955.
A colecção completa tinha 10 volumes e cada um dos livros incluía um pequeno cromo para recortar, colorir e colar no Albúm Gigante da História de Portugal, que provavelmente nunca chegou a existir.
 Este livro simples, de uma colecção que deve ter tido pouca divulgação, estranhamente não vem mencionado no livro «A literatura Infantil em Portugal» de Domingos Guimarães de Sá, mas daqui não posso tirar qualquer conclusão.  É bom ficarem alguns mistérios por resolver.

domingo, 10 de junho de 2018

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Exposição de Vidros do Séc. XVIII


A minha amiga Inês Coutinho, do Departamento de Conservação e Restauro e investigadora na Unidade de Investigação Vicarte, FCT do Campus da Caparica, enviou-me um convite irrecusável.

Trata-se da inauguração da Exposição de vidro utilitário do século XVIII de Almada, intitulada «Uma história Engarrafada», que terá lugar no dia 9 de Junho às 16,30h no Museu da Cidade em Almada.

Para os lisboetas é só apanhar o barco no Cais do Sodré até Cacilhas (10 min) e tomar o metro de superfície direcção Corroios e saem na Cova da Piedade (10 min).
Ficam convidados. Vai valer a pena!

domingo, 3 de junho de 2018

Crowdfunding do livro «Vestir a Mesa»



Após o 25 de Abril sobre as dificuldades de emprego dos jovens engenheiros formados no Técnico corria uma anedota que não resisto a contar. Um deles conseguiu finalmente um emprego num circo como domador de leões. Receoso entrou na jaula e aproximou-se de um leão que abriu a boca e lhe disse: «Não tenhas medo. É tudo malta do Técnico».

A entrevista apresentada feita pela minha amiga Isabel Almasqué, apoiada pela filmagem do Manuel Rosário e as fotos de Minnie Freudenthal, resultou num trabalho de qualidade extraordinária de divulgação de várias das minhas actividades mas que tem como fim principal promover o crowdfunding do livro «Vestir a mesa»

O texto e imagem podem ser vistos no site do DOMA (De Outra Maneira) que vale a pena visitar e seguir.
Espero que depois disso as pessoas se sintam motivadas para conhecer e apoiar este livro cuja edição depende da acção dos apoiantes da ideia. Não ficam a perder seguramente.

E o que tem afinal a anedota a ver com isto?. É que somos todos de Medicina, de diferentes especialidades, mas que em comum, para além da amizade, temos um gosto em ver a vida como um desafio, de uma forma diferente ou … De outra Maneira.