quarta-feira, 30 de julho de 2014

A refeição chinesa

 Quando os chineses emigraram para a América em meados do século XIX, inicialmente para trabalharem nos caminhos de ferro,  espantaram as pessoas com a sua alimentação.

Estes postais retratam refeições de chineses e referem-se ao «chow down» que correspondia à principal refeição do dia. Os americanos por volta de 1885-1860 abreviaram a expressão e criaram a palavra «chow chow» que na verdade designa uma raça de cão.
Quanto ao prato «chow mein» foi na realidade criado nos Estados Unidos, embora a massa frita fosse usada pelos chineses há séculos. Adaptando-se ao gosto americano os chineses tornaram a massa frita, que era estaladiça, mais mole e gordurosa e acrescentaram-lhe outros alimentos locais. Foi um sucesso que se generalizou.
Estes três postais mostram-nos um refeição de chineses no século XIX, nos Estados Unidos, e retratam uma época em que essa comida ainda era exótica.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A chegada dos fogões a gás

 A utilização do gás de hulha em Portugal começou pela iluminação pública e privada. Para além do seu consumo ser caro as infraestruturas necessárias, como as tubagens e aparelhos de iluminação adequados, faziam com que fosse restrito o seu uso.
É evidente que foi nas habitações em que já estava implantado para iluminação que mais precocemente se divulgou a sua utilização na cozinha. Mas também aí eram necessários fogões adequados e apesar das modificações, como se pode observar, a estética não os afastava ainda muito dos anteriores fogões em ferro assentes em pernas.

Quando no final do século XIX a Lisbonense se juntou à Gás de Lisboa para dar origem à Companhia Reunida de Gás e Electricidade (CRGE) tornou-se evidente a necessidade de publicidade ao gás para uso doméstico.
Este postal com data de 1909 é um dos exemplos bem humorados da divulgação dos fogões a gás, em substituição dos que utilizavam lenha ou carvão, enaltecendo-se o tempo livre da cozinheira que até dava para fazer meia e namorar com o seu magala. 

Antes do início da Primeira Guerra Mundial o número de consumidores de gás doméstico tinha aumentado muito, mas a guerra dificultou o abastecimento da hulha a Portugal e na década de 1920 começavam a surgir novos competidores: os fogões eléctricos. Mas o lisboeta, que teve sempre melhor acesso aos vários tipos de gás, nunca mais dispensou este tipo de fogões. 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A Fábrica de Produtos Coração

A Fábrica de Produtos Coração foi instalada no Porto em 1928, por Albrecht Löbe. As escolhas do nome «Coração», bem como da insígnia com um coração trespassado por uma seta, feitas por este cidadão alemão, atribuem-se ao facto de se ter apaixonado em Portugal. Se este facto é verdadeiro é agora difícil comprová-lo mas fica sempre bem no início de uma história.
Embalagem do período de Alberto Guimarães
Sem qualquer fundamento, não posso deixar de pensar que Löbe de algum modo poderá ter conhecido, ou trabalhado com estes produtos destinados ao lar, em Berlim, onde então estava em actividade  a firma Solarine Gessellechaft Meyers, registada em Portugal desde 1906. Mas sob este tema falarei mais tarde.
O que se sabe é que Albrecht Löbe se interessava por produtos dedicados à limpeza doméstica e já em 1929 tinha registado em Portugal o pó para facas «Luis de Camões», embora só em 1930 registasse a marca Coração. 
Encontrava-se nessa altura estabelecido no Porto na Travessa da Fábrica, nº 46 e a insígnia da marca seria o belo coração encarnado sangrante trespassado por uma seta que iria iluminar as suas latas de limpa metais.
 E o mesmo se passaria com as latas de pó «Trigo Rato» que igualmente se apresentavam nas cores verde e vermelha. Nesse mesmo ano registou também um insecticida denominado «Durma Bem» acompanhado por um cartaz publicitário que seria eficaz para a época mas que  hoje consideraríamos pouco ecológico.
Postal da Edições 19 de Abril
Em 1933 Albrecht fez o registo do nome da «Fábrica de produtos Coração» que então se situava na Travessa da França, nº 229, no Porto (antiga designação da rua D. António Barroso). Em 1935 registou uma marca de tinta para tecidos chamada «Papagaio».
Em 1938, a fábrica passou a ser gerida pela empresa Albrecht Löbe & Companhia e, a partir de 1945, em nome individual por Alberto Guimarães.
Nos anos 50 esta fábrica, nas mãos de Alberto Guimarães, encontrava-se no Porto na Rua de D. António Barroso nº 229 onde se manteve até quase aos anos 80. São deste período as facturas apresentadas e pelas quais ficamos a saber que tinha um representante em Lisboa: «Ernesto Brochado» na Rua dos Fanqueiros, 196, 2º.
Depois desta data foi feita uma cedência de quotas a Antonio Queiroga que passou a fábrica para Braga onde se manteve até 2012, data da insolvência desta firma.

Tendo o registo da marca «Limpa Metais Coração» ficado caduco registou-se como seu titular, em 2008, Paulo José Carvalho dos Santos, que em 2011, com novo sócio, constituiu a empresa «Solarine Coração», em Braga, perto do local da anterior fábrica (1).
Embalagem actual
  Manteve-se assim a produção deste conhecido limpa metais de atractivas embalagens que nos remetem para o imaginário nacional.
(1) Informações sobre a actualidade fornecidas pelo próprio.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Rótulos de Licores

A imagem da mulher em rótulos de licor sugerindo uma indicação de género, numa época em que a relação licor-sexo feminino estava bem estabelecida.

Rótulos de licor anis da «Companhia Portuguesa de Licores sucessores de Abel Pereira da Fonseca, Lda» e da «Fábrica Victória» respectivamente, imagens extraídas do livro «Licores de Portugal 1880-1980».

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Os médicos no ensino alimentar

Édouard Pomiane
Em 1904 foi criada em Paris a «Société Scientifique d’Hygiène Alimentaire et d’Alimentation rationnelle de l’homme (SSHA)» que ainda hoje existe.

Esta associação, sem fins lucrativos, destinava-se ao estudo e ensino dos problemas de alimentação e nutrição. Entre os seus fundadores, que actuavam igualmente como professores, encontravam-se nomes como Dr. Armand Hermmerdinger, Dr. Henri Labbé e Dr. Éduard Pomiane, que organizaram um curso de «ensino superior de cozinha».
As aulas teóricas eram acompanhadas de aulas práticas que tinham lugar nas instalações situadas no nº 16 da rua de l’Estrade, sede da sociedade.
E. Pomiane com as alunas numa das aulas
Os fundamentos dessas aulas foram publicados no livro “Travaux pratiques de cuisine raisonnée” escrito pelo Dr Edouard de Pomiane Pozerski (1875-1964). 
Este médico e gastrónomo era filho de pais polacos que emigraram em 1863 para França substituindo o nome polaco Pozerski por Pomiane, com que ficaria conhecido. Entre 1901 e 1919 trabalhou no Instituto Pasteur como fisiologista dedicando-se ao estudo dos sucos pancreáticos e intestinais. As suas múltiplas publicações colocaram-no no que chamavam a «gastrotecnologia», palavra que se aplica à investigação sobre as relações entre a preparação e apresentação dos alimentos e a sua digestibilidade e que, nos nossos tempos, o mais aproximado são as teorias da “cozinha molecular”.
Passando a ser conhecido apenas como “Doutor Pomiane” deu aulas na Sociedade Científica entre 1921 e 1943. Para além de artigos científicos e conferências publicou vários livros de culinária, tema a que se dedicaria em exclusivo após a sua reforma.
Pomiane notabilizou-se também por ser um dos primeiros a fazer difusão radiofónica sobre estes temas na radio Paris, nos anos de 1923 a 1929.

Além dos inúmeros artigos que escreveu Pomiane  publicou os seguintes livros: em 1922, o "Traité d'Hygiène alimentaire" e "Bien manger pour mieux vivre", com prefácio de um outro célebre gastrónomo Ali-Bab, irmão do médico Joseph Babinski, de que já falei (Os dois Babinski).
Em 1929 escreveu ”Cuisine juive. Ghettos modernes”, em que retratava os hábitos alimentares antigos dos judeus polacos que tinha conhecido em Paris.

Seguiram-se outros títulos como "Le code de la bonne chère", "La cuisine en six leçons", "La cuisine en plein air", "Réflexes et réflexions devant la nappe", "Vingt plats qui donnent la goutte", "365 menus, 365 recettes", "La cuisine pour la femme du monde", entre outros.

A importância da sua obra deixa-me pouco espaço para falar do Dr. Armand Hemmerdinger (1879-1946) que partilhava consigo o ensino da «cuisine raisonnée» ou “cozinha fundamentada”, como professor do curso de economia doméstica. Acrescento apenas que é da sua autoria a obra “Vulgarisation des notions d'hygiène alimentaire et d'alimentation rationnelle”, de 1919. 
Outro responsável pelo ensino nessa escola foi o Dr. Henri Labbé, professor agregado da Faculdade de Medicina que, juntamente com sua mulher Madame Labbé, escreveu “Cuisine diététique. Guide pratique pour la préparation des aliments destinés aux malades”, em 1935 e cujos nomes foram perpetuados por um prémio de investigação que se mantém até aos dias de hoje.
Para quem pensa que a cozinha só agora é levada a sério deve pôr aqui os olhos.

domingo, 6 de julho de 2014

O doce checo Trdelnik



Quando somos turistas sentimos-nos obrigados a executar determinados rituais que achamos nos integram na vida do local que visitamos. Como se a visita não ficasse completa sem esse passo. É por isso que temos que visitar a Torre Eifel quando vamos a primeira vez a Paris ou comer pastéis de Belém quando se visita Lisboa.

Foi o que aconteceu comigo numa rápida visita a Praga em trabalho. O único tempo livre deu para ir até ao centro histórico, ver a praça central e vivenciar o movimento das pessoas. Sentimos que fazemos um corte no dia-a-dia mas fechamos os olhos e quando damos por isso já estamos de novo em Lisboa. Deve ser por essa razão que se torna necessário cumprir rituais e os alimentares vêm sempre em primeiro lugar.
Ao aproximar-nos do centro vemos que à porta da pequena loja que vende doces locais se forma uma bicha de pessoas. Refiro-me à loja que vende Trdelník um bolo doce enrolado que é feito na altura por ser mais saboroso quando quente.
É um bolo húngaro originário da região da Transilvânia e que se tornou tradicional na Eslováquia, na Áustria e na República Checa. No seu fabrico é utilizada uma massa doce, feita em delgados tubos que é enrolada à volta de um rolo de madeira com gordura, sendo cozinhada e depois polvilhada com açúcar e avelãs. 
São também vendidos em feiras e lembro-me de os ter comido ao ar livre na época de natal, na Áustria.
É um doce agradável, meio folhado, que desde 2007 está já registado como tendo indicação geográfica protegida.

 E isso é bom porque sempre podemos experimentar noutros locais doces diferentes dos nossos. Com a vantagem de podermos constatar que boa doçaria temos no nosso país.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Objecto Mistério Nº 41. Resposta: Galheteiro

  
 Como todos adivinharam trata-se de um galheteiro que inclui dois reservatórios: um destinado ao azeite, a que presumivelmente corresponde a tampa amarela, e outro destinado ao vinagre (de vinho) identificado pela tampa encarnada.
A saída dos líquidos é feita pela tromba do elefante onde existem dois orifícios. Para que o líquido saia é necessário retirar a tampa correspondente afim de se fazer sentir a pressão atmosférica.
O corpo do elefante é em plástico fino de consistência dura que me faria pensar tratar-se da década de 1950. Contudo as cores utilizadas colocam-no mais na década de 1960.

Embora de fácil identificação é realmente um utensílio estranho e nunca tinha visto um idêntico. Não se pode dizer que seja prático e talvez por isso não terá tido grande sucesso.

Na ausência de marcas que o identifiquem ignoro se é português mas penso que é a hipótese mais provável.