domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os cereais «Grape-Nuts»

Surprendeu-me esta publicidade publicada na Ilustração Portuguesa, em 1908,  feita a um cereal chamado «Grape Nuts». Desconhecia este nome e, no entanto, este alimento faz parte da história americana desde há mais de 100 anos.
Este cereal foi desenvolvido por Charles William Post (1854-1914) em 1897. Considerado um pioneiro da industria de alimentos criou em 1895 a Postum Cereal Co, produzindo um primeiro produto que era uma bebida de cereais chamados «Postum».
 Apesar da designação «Grape Nuts» o seu cereal não tinha nem uvas nem nozes, devendo-se o nome ao cheiro e textura dos cereais.
As campanhas publicitárias que acompanharam o desenvolvimento deste produto foram variando e transmitindo novas ideias ao consumidor.
Na fase em que vendeu para Portugal os cereais eram valorizados pela força e vitalidade que o seu consumo concedia mas sobretudo pelo seu efeito cerebral. A isto não seria alheio o facto de o próprio fundador ter tido ao longo da vida problemas mentais, com depressões frequentes, que acabaram por o levar ao suicídio.
 Nos anos 20 e 30 foi usado em expedições sendo valorizado por ser compacto, ter pouco peso e alto valor nutricional, ideia que se manteve na década seguinte quando durante a II Guerra Mundial foi integrado nas rações de combate das tropas americanas.
De acordo com a publicidade que encontrei, nos anos 50 e 60 sobretudo nos anúncios feitos por Dick Sargent era transmitida a ideia de que eram extremamente eficazes para a dona de casa, aumentando a sua produção, mas também para crianças e  adolescentes. A sugestão de que as pessoas ficavam jovens e elegantes foi depois desenvolvida em anúncios na imprensa escrita e na televisão.
 Hoje ainda são produzidos e fazem parte do pequeno almoço dos americanos, mas em Portugal não voltaram a ser vistos. Estes anúncios mostram-nos que pelo menos durante algum tempo tentaram fazer parte da alimentação dos portugueses. A firma importadora Esteves & Anahory, pelos vistos, não teve grande sucesso.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CAMAL, um café maltosado descafeinado

O café maltosado Camal foi produzido pelo Laboratório Farmacológico de J. J. Fernandes, Lda. Este foi um laboratório de produtos farmacológicos, fundado em Lisboa,  em 1916, por um farmacêutico: José Joaquim da Costa Fernandes, a que se associou um professor de Química do Colégio Militar: João António Correia dos Santos, amigos, que em comum tinham o facto de serem algarvios. É sobre este oficial do exército que existe mais informação uma vez que foi também docente da Faculdade de Ciências de Lisboa e do Colégio Militar,  mas o grande impulsionador foi  J. J. Fernandes .
O laboratório chegou a ser um dos maiores do país numa altura em que se começaram a produzir medicamentos que deixaram de poder ser importados, devido à I Grande Guerra. Situado originalmente na Rua Filipe da Mata 3º-32, onde tinha umas instalações importantes que foram fotografadas pelo estúdio Mário Novais[1], tal como os seus produtos, surge posteriormente com uma outra morada na Rua Alves Correia, igualmente em Lisboa.
As várias listas de medicamentos produzidos publicadas por J.J. Fernandes a partir dos anos 20 e a sua preocupação em publicar uma nomenclatura dos produtos terapêuticos dão-lhe um lugar na história da farmácia portuguesa. É contudo um outro aspecto que quero salientar: o da produção de suplementos alimentares. Para além do «Camal» aqui apresentado, o Laboratório Farmacológico produziu também a «Farinha Lacto-Bulgara» a que voltaremos, o «Mitzi Ovochocolate», a «Farinha Integral Maltosada» o «Ovocacau», o «Cerimalte», a «Cerimaltina» e a «Carne em pó» na sua secção de produtos alimentícios. Estes produtos foram de grande utilidade numa época de dificuldades alimentares e com múltiplos caso de má-nutrição.
O «Camal» era composto por vários cereais e segundo J.J. Fernandes conservava «as propriedades tónicas do café puro» e permitia manter o aroma do café. No modo de preparação referia-se que podia ser tomado simples, isto é, com água a ferver ou com leite.
Por fim chamo a atenção para o aviso escrito na base da caixa em cartão onde se afirmava que a substituição da embalagem metálica por esta se devia à falta de folha-de-Flandres, o que nos revela um sinal desses tempos. Para além da escassez de medicamentos muitos outros produtos eram então de difícil importação.



[1] Fazem parte da colecção da Biblioteca Calouste Gulbenkian.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Manzanilha, a camomila espanhola

 Foi esta caixa de lata dos anos 40-50, de que não encontrei qualquer informação, que me fez falar na manzanilha.
 Aprendi a palavra “manzanilla” nas minhas idas a Espanha quando, depois do jantar, e evitando o café que me provoca espertina, pedia «manzanilla». Na realidade o que eu pedia, nos primeiros tempos, era «té de manzanilla». O empregado arregalava os olhos e perguntava-me se era “chá” ou “camomila” porque em castelhano faz-se a distinção entre o chá verdadeiro (camelia sinenses) e as infusões de ervas, o que não acontece em Portugal. Quando percebi a diferença passei a pedir apenas «manzanilla» e tudo corria bem.
 Dá-se o nome genérico de Camomila a várias plantas da família  Asteraceae, em que se inclui a Camomila-vulgar (Matricaria recutita), também chamada simplesmente  Camomila, Camomila-alemã, Matricária ou Manzanilla, que é a que se usa para fazer infusões e a Camomila-romana (Chamaemelum nobile), também designada Camomila-de-Paris ou Macela, que a minha mãe usava quando eu era pequenina para me aclarar o cabelo.
 Como planta medicinal o seu uso tem uma longa história. Os antigos egípcios tratavam uma doença febril semelhante à malária com o chá de suas flores. Ficou muito conhecido também um tipo de vinho aromatizado com flores de camomila. Na Espanha, por exemplo, esse vinho era usado como digestivo.
 Embora eu desconfie de muitas das afirmações que são feitas a propósito de algumas plantas não há dúvida que a camomila é repousante e ajuda na digestão.

Em 26 de Janeiro de 2005 foi publicado no American Chemical Society’s Journal of Agricultural and Food Chemistry, um estudo sobre a variante Matricaria recutita, que usamos como chá. Foram feitas análises à urina a um grupo de voluntários antes e depois de beberem este chá, diariamente, durante duas semanas. Os investigadores detectaram que ingerir este chá provocava niveís urinários aumentados de hipurato, um produto de degradação de substancias fenólicas que estão relacionadas com o aumento da actividade antibacteriana. Isso explicaria a estimulação do sistema imune e a sua aplicação para contrariar as infecções.
Foram também encontrados níveis aumentados de glicina, um amino-ácido que se tem revelado anti-espasmódico muscular. Seria esse efeito que justificaria a sua eficácia nas dores menstruais. Surpreendentemente os níveis de hipurato e glicina mantiveram-se elevados durante duas semanas após a suspensão da ingestão desta infusão. 
Mas a glicina actua também como calmante e sedativo ligeiro, e essa é a principal razão porque é vendida.
 Devo dizer que neste caso não me fazia falta um artigo científico para confirmar um efeito que eu própria constatava. Mas dada a minha formação de medicina clássica, fica sempre bem  documentar as afirmações.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Carnaval de 1973 no Cinema Paris

Parece recente, mas já passaram 40 anos. Festejava-se o Carnaval no Cinema Paris e no programa afirmava-se ser uma tradição com muitas dezenas de anos. O edifício em estilo Art-Deco tinha sido inaugurado em 1931. Será que a tradição remontava a essa data?

Nas soirées havia comédias de sábado a terça, a que se seguiam na plateia e no balcão bailes até de madrugada. A música ficava a cargo dos «Panteras Negras» e de «Faria e o seu conjunto».
Quanto ao programa das soirées passavam-se filmes divertidos para maiores de 6 anos e no palco havia espectáculos todos os dias.
 Apresentavam-se momentos de magia com a presença de «Sotam», bonecos dançantes apresentados por «Gaby», e a «Rolling Star», uma sensacional equilibrista sobre rolos. E em todas as matinées participavam os mais afamados palhaços «Armand, Lisboa & Cª».
Querem saber os preços? As soirées eram mais caras e na plateia variavam entre 17$50 e 25$00, enquanto no balcão esse preço subia para 50 a 70$00, consoante as filas.
Quanto às matinées custavam menos de metade destes preços, para facilitar a vida às crianças.  Estas eram ainda beneficiadas com um presente (tinha que meter comida): tabletes de chocolate oferecidas pela Fábrica Regina. Tempos de grande inocência perdidos, tal como o próprio cinema.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Objecto Mistério Nº 33. Resposta: Escorredor de peixe frito

A minha primeira ideia ao olhar para este utensílio foi de que se tratava de um escorredor para salgar peixe. Punha-se o peixe na grelha, cobria-se com sal e a água, que eventualmente saísse, escorria para a parte inferior.
Mas ao procurar a fábrica que produzia este objecto, guiando-me pela marca inscrita no alumínio, «Ferradura», percebi que o fim a que se destina é como escorredor de peixe frito.
Surpreendentemente é ainda hoje produzido pela Fábrica Mardouro, Metalurgica do Douro S.A., com instalações em Vila Nova de Gaia.
A firma iniciou a actividade como fabricante de loiça de alumínio em 1969 e a partir de 1983 começou a exportar a sua produção. Uma das suas marcas é precisamente a «Ferradura» que só foi registada em Julho de 1970. Estas datas permitem-me concluir que também me enganava se me perguntassem a década em que foi feito. Pensaria na década de 1950 e não me ocorreria que ainda hoje era feito. Por consequência se não acertaram não se preocupem, porque afinal não era tão fácil como parecia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Objecto Mistério Nº 33

 Quando pensei em colocar este utensílio achei que ia ser demasiado fácil.

Concluí depois que estava enganada e que a utilidade não é a que eu lhe daria e assim o desafio parece-me mais dificultado. Vamos ver.

O objecto tem um diâmetro interno de 25 centímetros e é feito em alumínio.
 Para que serve?