sábado, 28 de maio de 2011

A História do Chouriço


A Majora foi sempre um nome mágico para as crianças da minha geração. Em pequenos líamos com prazer os pequenos livrinhos e preocupavamo-nos em ter completas as várias colecções. Ainda hoje mantenho várias delas atadas com uma fitinha para lhes dar um ar mais romântico.
A empresa Majora começou em 1939 na cave da casa dos pais de Mário José de Oliveira, na Avenida da Boavista. O sucesso desta empresa familiar fê-lo mudar em 1944 para a Rua das Taipas, também no Porto. Os anos 50 e 60 foram os da divulgação de vários jogos, que permanecem igualmente no imaginário de todos. Em 1967 os seus descendentes fundaram uma grande fábrica numa das entradas do Porto, que ainda hoje existe.

Depois desta introdução mostro-lhes de forma resumida «A história do Chouriço», livro número 12 da colecção Pequerrucha. O texto é de Werner Herrmann adaptado por Maria Regina Vilela e os desenhos são de Willy Mayrl.

Esta ilustradora, que presumo de origem alemã, foi responsável pelo menos nos anos 40 e 50 pela ilustração de inúmeros livros para crianças, posteriormente traduzidos para várias línguas. É provável que o fundador da Majora, que se inspirou na sua fábrica num visita à Alemanha, tenha adaptado vários destes livros, após tradução para português.

A história do chouriço tem uma narrativa muito do agrado das crianças: uma sequência de acontecimentos à volta de um objecto, neste caso um chouriço, em que participam vários animais. Começa numa feira, outro tema infantil popular (relembro o «Em má hora foi à feira», muito semelhante), onde o Miguel, após ter perdido o dinheiro que a mãe lhe tinha dado, fica de olhos fixos na barraca dos chouriços.
Duas meninas vêm o seu olhar triste e dão-lhe o chouriço. Mas eis que no ar sobe um balão que distrai o Miguel que deixa cair o chouriço para o chão. Logo o gato Félix o apanha. Mas não vai longe, o pequeno cão Joki rouba-lho e vem em seguida o macaco Jójo que dele se apodera. Tal como os anteriores o cão murmura. «O chouriço era bem bom, mas levou-o o glutão».
O macaco encontra-se no cimo de um poste mas não tem tempo de o comer. Vem uma cegonha que lho rouba e o leva para o seu ninho. Mas assustada por um enorme cara que não é mais do que o balão que tinha distraído o Miguel, deixou-o cair e este entra para dentro de uma chaminé.
 Lá fica até que vem um limpa-chaminé que o encontra no meio do carvão. Ficou com isto admirada a menina Eva e a sua mãe que despejou fora o balde com o lixo.
Nisto passa o pai rato Flip que vê o chouriço no meio do lixo. Ao ver o «chouriço a sério» leva-o para a sua família. Comido este deitaram-se a dormir uma bela soneca e ainda hoje recordam aquele magnífico chouriço. E acrescenta o narrador: «Era chouriço para a gente mas comeu-se de repente».
Não há nesta história uma conclusão moral. Se houvesse seria: «Guardado está o bocado para quem o há-de comer».

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Feijão Mungo

Numa das lojas indianas do Martim Moniz, em Lisboa, encontrei um pequeno feijão ovóide, verde, com olho preto. Perguntei o nome e foi-me identificado como feijão mungo.
É uma leguminosa da família da fabáceas e o seu nome científico é vigna radiata L
É originária da Índia que é o maior produtor mundial, seguido da Tailândia. É também conhecido por “feijão da China” por aí ser muito consumido, ou por “Moyashi”, nome que os japoneses dão aos rebentos deste feijão. É, muitas vezes, confundido com o feijão de soja.
Como todas as leguminosas é uma boa fonte de proteínas e 1 chávena de feijão cozido fornece 14 g de proteínas. Além disso 100 gramas de rebentos de feijão mungo fornecem apenas 62 calorias. São também considerados úteis na alimentação por fornecerem fibras. Contém tiamina, ferro, magnésio, potássio, cobre e é uma boa fonte de folatos. Por tudo isto podemos concluir que é um bom alimento.
Pode ser consumido cru e para isso deixa-se de molho de um dia para o outro. Junta-se depois às saladas feitas com vários tipos de vegetais crus e tempera-se. Fica crocante.
Claro que pode ser comido cozido como qualquer outro feijão.
Outra opção interessante é pô-lo a germinar. Coloca-se o primeiro dia de molho em água e ao fim desse dia escorre-se a água. Nos dias que se seguem vai-se passando o feijão por água umas três vezes por dia. Ao fim de três dias está germinado.
Descobri entretanto, numa loja chinesa, uma caixa que parece que serve como ralador, mas acho que vai ser óptima para passar por água, enquanto germinam, uma pequena quantidade de feijão mungo.
Os rebentos usam-se depois como os rebentos de soja, passados rapidamente na frigideira, ou misturados com saladas ou noutros pratos, inclusivamente em sopa. Como se quiser. É só inventar.

domingo, 22 de maio de 2011

Uma ida a Bilbao ou como o mundo está cada vez mais pequeno

O mundo está cada vez mais pequeno. Sexta feira de manhã parti para Bilbao para uma reunião que começava nesse dia à tarde e se prolongava por sábado, tendo regressado nesse dia à noite.
Felizmente o hotel estava situado no centro da cidade e pude, ainda ao final da manhã, dar um salto ao Museu Guggenheim, que ficava perto. Tinha lá estado há vários anos, logo após a inauguração do museu, obra de Frank Gehry e inaugurado em 1997. Na altura fiquei com a impressão de que o conteúdo do museu não estava à altura do edifício em si e pensei que talvez não estivesse ainda completo.
 arquitectura é absorvente, no sentido em que não nos cansamos de a ver, pelos seus diferentes ângulos e de a fotografar. Lá dentro a sua imensidão e a mistura de materiais impressiona-nos. Novamente fiquei desiludida com as obras expostas. Algumas instalações conseguiram mesmo provocar-me claustrofobia e fiquei aliviada quando saí. Eu sei que é preciso coragem para dizer isto. Não se fica bem visto pelos intelectuais. Mas senti-me recuperada quando cheguei cá fora e pude novamente observar o cão florido, o «Puppy», obra do controverso Jeff Koons.
Pelo caminho, porque o tempo não dava para mais, entrei numa loja gourmet com frutas, legumes e conservas e fotografei uma fruta que me disseram ser da região. Uma etiqueta identificava-a como «paraguayo». No meu subconsciente aquela imagem lembrava-me alguma coisa. Efectivamente, lembrei-me depois, eu já a tinha comprado em Portugal, mas desconhecia o seu nome. Utilizei mesmo a sua imagem num post sobre pêssegos na ausência de uma outra foto minha desses frutos.
Quando cheguei descarreguei as fotos e fui procurar o que era o “paraguaio”. É por este nome que é conhecido o fruto cujo nome científico é Prunus persica var. platycarpa. É uma variante do pêssego e apresenta uma forma achatada. Resulta de uma mutação relativamente recente e é originário da China, tendo-se espalhado pela Europa. É produzido sobretudo em Espanha em zonas mais temperadas.
E ali estava eu, feita turista, a fotografar um fruto local e afinal tratava-se de um fruto de origem chinesa, que quando o comprei em Lisboa, um ano antes, me deixou alguma inquietação. Nunca sei o que são estas novas variantes.
E fiquei a pensar que não é a distância, mas a confusão do que é característico de uma determinada região, que nos mostra como o mundo está cada vez mais pequeno.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os falsos livros

Comecei a reparar na variedade de falsos livros, usados para múltiplos fins.
Como objectos em si, tomados isoladamente, não são muito entusiasmantes, mas quando começamos a compreender a sua diversidade de apresentação e de função tomam um outro interesse.
Antigamente usavam-se nas bibliotecas para guardar alguns objectos preciosos, que se queriam esconder. Eram também usados como painéis falsos para encobrir portas ou passagens que se queriam esconder.
 Nos séculos XVIII e XIX usavam-se também como mesas de apoio, com caixas no seu interior, que permitiam arrumar objectos.

Outro fim mais prosaico era o de servirem de botijas para bebidas, escondendo-as dos olhos curiosos. Eram, neste caso, feitos em cerâmica.
Mas como podem ver pelos exemplares apresentados serviam também, os mais pequenos, como paliteiros.
Outros ainda destinavam-se a guardar os baralhos de cartas ou, ainda noutro exemplo que aqui se mostra, serviam como caixa de fósforos.
E para finalizar mostro-lhes uma outra versão de falsos livros usada neste caso como decoração. Esta parede de um restaurante, situado na Ilha da Madeira, no Funchal, e que me enganou à primeira vista.
Como se encontrava praticamente ao ar livre, na altura em que passei em frente pensei que os livros se iriam estragar. Parei para ver melhor e descobri que afinal era apenas um “trompe l’oeil”, tal como os outros livros falsos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Os dois caranguejos

Os “Dois caranguejos” é o título de um quadro pintado por Vincent Van Gogh, provavelmente em Janeiro de 1889, cerca de três semanas após o episódio trágico em que este mutilou  a sua própria orelha.

Foi comprado em 1893 por um cônsul inglês na Holanda à viúva do seu irmão e protector Teodoro. Ironicamente o quadro foi posto em venda em leilão em 1906 onde seria vendido por metade do preço, facto que os seus herdeiros lamentarão hoje certamente.

Presentemente faz parte de uma colecção privada e encontra-se em depósito na National Gallery de Londres.

É um quadro pouco conhecido que me atraiu desde que o descobri. Tinha a imagem guardada para um dia falar sobre ele e hoje decidi fazer uma analogia com dois dos meus caranguejos.

À esquerda uma caranguejo português das Caldas da Rainha, de Bordalo Pinheiro, e à direita um raro caranguejo em ferro pintado, japonês, da primeira metade do século XX.

Nada em comum a não ser o facto de serem caranguejos. Tal como nós, que somos todos iguais, e felizmente tão diferentes

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Objecto Mistério Nº 24. Resposta: Cortador de feijão verde

O utensílio apresentado serve realmente para cortar o feijão verde.

A pequena lâmina lateral permite cortar a extremidade do feijão e retirar o fio, enquanto a extremidade com lâminas se destina a cortar o mesmo às fatias.

É claro que ocultei o lado em que estava escrita a sua função, facilmente descoberta pelo nome do mesmo. O utensílio é apelidado de «The Perfect Bean Stringer & Slicer».

Apresenta no cabo as iniciais K.N.C., que correspondem a Kitchen Novelty Company, que se situava em Atlantic City e tem também identificado o número de registo da patente.


Como vêem não era difícil e foi logo descoberto à primeira.

Para quem não conhecia o objecto pode agora descobrir que a vida na cozinha pode ser mais fácil.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Objecto Mistério Nº 24

Olá Bom dia,

Apresento mais um objecto mistério.

É mais um utensílio de cozinha e este, posso garantir, é fácil.

Tem 14 centímetros de comprimento.

Pergunta: Para que serve?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um Floid, dois Floids, três Floids

Bem sei que o Floid não tem nada a ver com alimentação. Podia argumentar que um homem sentado à mesa, bem escanhoado, com um agradável aftershave, é bem mais agradável do que com barba por fazer, independentemente das modas.
Mas não é esta a razão. Este post deve-se apenas a que o primeiro frasco de Floid, que havia cá em casa, ganhou companhia e me apeteceu falar neles.
O FLOID é um aftershave que começou a ser produzido em Espanha em 1932. Era então apresentado sob a forma de «mentolado suave». Foi inicialmente feito em Barcelona pela Haugron Cientifical, SA e usado nas barbearias tradicionais. Passou depois a ser feito em Madrid e New York. Presentemente é feito pela Revlon.

Em Portugal teve grande divulgação e apreciação. Recordo as memórias de Maria da Conceição de Melo Rita e Joaquim Vieira em Os meus 35 anos com Salazar”. Nesse livro, a governanta de Salazar, mais conhecida por D. Maria ou Micas, recordava como este «apreciava receber pelo Natal o tónico capilar Nally e o after-shave Floyd».
Mas o Floid não era apenas um aftershave, apresentava-se também sob a forma de loção capilar, shampoo, tónico capilar azul (para cabelos brancos e grisalhos), cremes e fixadores para o cabelo, etc.  Todos estes produtos tinham em comum a utilização de um extracto vegetal retirado de plantas com poder bactericida, designado Haugrol e, era a esse produto, que eram atribuídas as características benéficas, protectoras e desinfectantes, do produto.
A loção Floid teve também uma versão italiana menos intensa.
No frasco actual já não se vê a cara de um homem a aplicar o produto na face, que se tornou a sua imagem de marca e a tampa já não é em baquelite. Também o selo metálico preso por um fio, que validava a sua pureza, desapareceu.
O mesmo conceito foi seguido por outras marcas como a “Geniol”, de Henry-Colomer, identificado como «massagem facial vitaminada para antes e depois da barba» e de que aqui se apresenta um frasco.

A história deste produto deve-se a José Colomer um jovem cabeleireiro que, em 1931, ganhou um concurso internacional de cabeleireiros, em Paris. Voltou a Barcelona como representante único dos produtos franceses Henry para Espanha e Portugal. A empresa teve grande sucesso tendo-se internacionalizado e em 1978 foi comprada pela Revlon.
Apesar do sucesso comercial do Geniol, este nunca conseguiu o feito do Floid, o de ser reconhecido como um produto de culto masculino.