terça-feira, 24 de maio de 2016

Atum Farol de Aveiro

Esta marca de atum em azeite foi registada em 1949 pela firma M. Saldanha & Cª Lda. que tinha sede em Lisboa, na Rua Augusta 177, 1º Esq.
Era uma empresa comercial de importação e exportação, que foi fundada em 1893. Para além desta conserva registou também em 1949, uma marca de azeitonas pretas com o nome «Eixo» que, em 1943, já era exportada para o Brasil.
Na mesma data foi feito o registo de um azeite finíssimo chamado «Saldanha». Este azeite não era novidade uma vez que anteriormente tinha já sido premiado com uma medalha de ouro na Exposição Internacional do Rio de Janeiro, em 1922.
Nessa exposição ganharam ainda uma outra medalha de ouro, com a cortiça apresentada e uma medalha de bronze com os seus vinhos do Porto, Moscatel e de Mesa.
No Brasil, na Exposição de 1922, não competiram na área das conservas pelo que não é possível saber se já então as comercializavam em Portugal. Outras empresas nacionais produtoras de conservas estiveram presentes nessa exposição, em que o Grand Prix para conservas foi atribuído à Fábrica Lopes, Coelho e Cª, Lda. 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Banquete comemorativo do nascimento de Pasteur

Festejar o centenário do nascimento de alguém é seguramente um bom indício. A memória dos homens é curta, pelo que as excepções devem ser valorizadas. No caso de Louis Pasteur que nasceu em 27 de dezembro de 1822, os franceses foram pródigos nas comemorações do seu centenário.
Para o grande público é sobretudo a pasteurização que se associa ao seu nome, isto é, o método utilizado para destruir microrganismos patogénicos dos alimentos e que este cientista implementou em 1864.
Comemorações do centenário de Pasteur. Foto Galica.
Mas devemos-lhe muito mais. Para além das descobertas no campo da química, foi responsável por estabelecer uma relação entre as bactérias e a infecção, cuja compreensão levou à redução marcada de infecções cirúrgicas e outras e à redução das contaminações. Mas descobriu também o método de atenuação dos vírus que levou à produção de vacinas, a primeira das quais contra a raiva.
Quando morreu no dia 28 de setembro de 1895, em Villeneuve, em França, tinha já contribuído para mudar o mundo e a forma de o compreendermos.
Inauguração da Galeria da Batalhas
O banquete do centenário teve lugar no dia 28 de Maio de 1923 no palácio de Versalhes, na galeria das Batalhas, e foi servido pela conceituada Maison Charvin de Paris. 
A decoração floral ficou a cargo dos laboratórios Georges Truffaut, de Versalhes, químico, descendente de uma família de jardineiros, cuja formação o tornou perito na alimentação de flores para as tornar mais belas.
De cada lado da mesa central, a mesa de honra, dispunham-se os outros convidados num total de 30 mesas para cada lado, preenchendo quase totalmente a grande sala.
Esta ementa pertenceu a madame Joséphus Jitta, uma holandesa, que tinha lugar na mesa 7, seguramente com o seu marido. Este chamava-se Nicolaas Marinus Josephus Jitta, conhecido por Dr. Josephus Jitta (1858-1940) e foi um médico holandês judeu, que exerceu também funções de vereador para o partido liberal e que teve uma intervenção importante na saúde pública, na higiene municipal, e de protecção aos órfãos pobres em Amesterdão. 
Dr. Josephus Jitta
Por coincidência defendeu tese sobre hemoglobinemia e hemoglobinúria (um tema da minha área profissional), em 1885. Contudo a sua actividade foi sobretudo no campo da oftalmologia. Deve ter sido o seu papel como higienista que lhe valeu o convite para estar presente neste jantar de homenagem a Pasteur.

A sua ligação a França foi grande tendo chegado a receber uma medalha como comandante da Legião de Honra da França. Possuía uma grande colecção de objectos curiosos e de obras de arte, parte dos quais foram vendidos em França, num leilão em 1883, mas em 1934 fez uma importante doação aos museus de França de várias obras de arte.
Como a ementa veio parar a Portugal não faço a menor ideia. Mas não podia ter ido parar a melhor mãos, porque me permitiu divulgá-la. Aqui fica o registo.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Limoncello caseiro: uma agradável surpresa

 Há receitas tão fáceis que quando as descobrimos interrogamos-nos como nunca as fizemos anteriormente.
O limoncello, um licor de limão italiano, é um desses exemplos. Geralmente compra-se uma garrafa quando o queremos utilizar numa receita, mas depois de saber como se faz, passa-se a usá-lo com maior facilidade e descobre-se o prazer de beber um pequeno cálice após uma refeição.

Na sua confecção usei vodka russa que uma amiga me enviou dessas paragens, mas pode fazer-se com aguardente, embora seja mais difícil de arranjar.
Utilizei apenas 200 cc de vodka e pus o vidrado de 4 limões (sem a parte branca, portanto) a macerar dentro de um frasco de boca larga, durante 3 dias. Algumas receitas que encontrei vão de 4 dias a um mês, mas penso que não precisa de tanto tempo.
Filtram-se e retiram-se as cascas, ficando com um vodka amarelo citrino.
Num tacho colocam-se 200 gr de açúcar e 500 cc de água e leva-se ao lume até o açúcar dissolver. Quando tiver esfriado juntam-se os dois líquidos e já está feito. Pode beber-se logo ou refrescá-lo. Da próxima vez podem adaptar ao gosto as quantidades de água e açúcar, que variam de receita para receita. Eu fiquei contente com esta opção.

À nossa!

sábado, 14 de maio de 2016

O moço de recados vai à mercearia chic

Este delicioso anúncio data de 1907 e publicita uma casa de géneros alimentícios, ou de víveres, como também então se dizia, situada na Rua de S. Paulo, 43-47, fazendo esquina para a Travessa dos Remolares, 50-52.

A loja ainda lá está e é desde há cerca de 3-4 anos uma loja de indianos que vende bebidas, frutas e outros produtos de consumo rápido, sobretudo à noite. Antes foi uma loja de electrodomésticos que entretanto se mudou para outro local mais pequeno, quase em frente.
Em 1945 foi uma loja de ferragens designada Rafael Lopes, Ldª, que ainda existia em 1964.

Esta mercearia já não existia em 1921 mas não consegui determinar quando terminou e que tipo de loja lhe sucedeu.
 A loja de víveres de que falamos e que tinha o nome do seu proprietário «Martins & Comandita», já existia em 1877. “Comandita” refere-se a um tipo de sociedade em que um dos sócios apenas entra com o dinheiro, o que significa que quem percebia do ramo de géneros alimentícios seria o Martins, de que desconheço outro nome. 
Encontrei um anúncio no jornal «Diário Illustrado» de 15 de Abril de 1877, ao azeite alentejano do Monte das Flores, que era vendido a 300 réis cada garrafa em vários estabelecimentos de Lisboa e entre eles encontrava-se a loja de Martins & CTA, o que a localiza no século XIX.
O diálogo entre o cozinheiro e o moço de recados é elucidativo. Tratava-se de uma casa de mercearia chic, onde eram vendidas bebidas e comidas finas, como conservas, especiarias, chás e cafés e até patés de foie gras truffés. Isto é: «cem mil iguarias». E o jovem paquete, vestido com farda a rigor e um cesto de palha bem português, concluía: «já não vou a outra casa nem que me matem».
Exageros dos publicitários que neste caso concreto usaram duas imagens, como se pode concluir pelas duas assinaturas de cada um dos lados, que juntaram e que resultou muito bem.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

ABC Illustrado Nestlé

Este raro livro para crianças deve ter sido publicado logo no início do século XX, de acordo com a grafia que apresenta e que não obedece ainda à proposta feita em 1904 por Gonçalves Viana, que viria a ser oficializada em 1911.
Tem contudo todas as características do século XIX, data em que deve ter sido concebido na Suíça e traduzido posteriormente para outras línguas. Numa época de raros livros infantis este era oferta dos proprietários da farinha láctea Nestlé. No prologo é introduzida a ideia de que a vida de uma criança, que no início é constituída por carícias, dádivas, brinquedos e farinha Nestlé, no futuro tem maiores exigências, sendo necessário alicerçar a cultura para a qual contribui este abecedário.
Esta farinha láctea resultava da investigação do farmacêutico alemão Henri Nestlé cuja maior aspiração era solucionar o problema da desnutrição infantil. Grassava na Europa a fome e as crianças apresentavam-se mal alimentadas e em muitos casos corriam o risco de adquirem tuberculose através do leite.
Na segunda metade do século XIX os estudos sobre tuberculose obtiveram grandes progressos. Em 1865 Villemin tinha verificado, pela primeira vez, a capacidade de transmissão da doença para os animais, a partir de material proveniente de humanos e em 1882 Robert Koch identificou o agente infecioso. o Mycobacterium tuberculosis que tomaria o nome do seu descobridor como bacilo de Koch. Só mais tarde, em 1897, Smith conseguiu a diferenciação entre o bacilo humano, o bovino e o aviário.
A Nestlé é uma indústria alimentícia que foi fundada em 1866 e na sua primeira fase foi este leite, sobre a forma de farinha, que Henri Nestlé produziu com o seu nome, designando-o um alimento completo para crianças. Foi com este produto que ganhou dezenas de medalhas em exposições nacionais e internacionais que ostenta na capa posterior deste livro.
Farinha produzida em Portugal pela Soc. de Produtos Lácteos AVANCA para a Nestlé
Em Portugal foi em 1923 que ocorreu a Fundação da Sociedade de Produtos Lácteos, Lda., que tinha como principal sócio o Prof. Egas Moniz. A primeira fábrica portuguesa de leite em pó simples foi fundada em Avanca, no concelho de Estarreja, no distrito de Aveiro. Era nela que eram produzidos os produtos Nestlé que então já eram publicitados como alimentos completos para crianças, adolescentes e pessoas idosas.
Mas à época da edição deste livro a produção era ainda feita exclusivamente em Vevey, na Suíça. Neste abecedário o texto apenas nos remete para descrições directamente relacionadas com a produção, consumo e indicações da farinha alimentícia.
As gravuras, de vários autores, são na maior parte feitas por Harry Rountree (1878–1950) um notável ilustrador nascido na Nova Zelândia mas que em 1901 já se encontrava em Londres. Foi responsável por um número enorme de ilustrações de livros infantis, entre eles, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Foi também reconhecido como ilustrador de cartazes publicitários; trabalhou para a revista Punch e ilustrou livros para adultos como os de Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes.

Por tudo isto, este livro resultou tão bem do ponto de vista gráfico, informativo e publicitário.