sábado, 28 de abril de 2012

O Licor Bénédictine

A ordem de São Benedito defendia o trabalho manual como complemento do tempo dedicado à devoção. Essa actividade, concentrada no espaço conventual, na cerca e nos campos circundantes centrava-se na agricultura para sustento das necessidades próprias, uma vez que a regra estabelecia também o preceito de autonomia. Com esse fim era cultivado o horto e o pomar. Um terceiro espaço de jardim, o herbário, era contudo fundamental para a cultura de ervas para fabricar os medicamentos a administrar aos enfermos. Com a introdução da destilação nos conventos possibilitava-se a produção de licores medicamentosos e, mais tarde, dos licores usados por prazer.
A associação dos licores aos monges tornou-se indissolúvel e cedo foi compreendido como um bom argumento de venda. Mesmo quando, no século XIX, a publicidade dava os primeiros passos, um homem de grande visão utilizou esse argumento para vender o seu licor. O seu nome era Alexandre o Grande, um comerciante de bebidas que, com a ajuda de um químico inventou o licor «Bénédictine» e uma história que nunca foi provada.
Segundo ele, em 1863, descobriu um manuscrito de 1510 saído das mãos de um monge, Bernardo Vincelli e que há muito se encontrava na posse da sua família.  No seu interior estava a receita de um licor fabricado na abadia de Fécamp, abadia beneditina, que havia sido destruída durante a revolução francesa. Após várias tentativas conseguiu a reprodução desse licor, feito com 27 ervas
O fabrico iniciou-se no seu próprio palácio em Fécamp, um edifício ao gosto da época, de grandes dimensões, feito para albergar a fábrica de licores e a sua colecção de obras de arte. Para o decorar foram encomendados vários vitrais com temas alusivos ao licor Bénéctine.
Este licor foi introduzido no nosso país em 1894, data em que foi registada a marca no Boletim da Propriedade Industrial.
Este tema da associação dos monges ao licor foi também usado em Portugal. Um dos exemplos foi a Fábrica Âncora que numa publicidade ao licor «Fraditine», publicada no Anuário Comercial de Portugal, em 1959, usou a mesma temática.
Uma receita que resulta sempre bem, como já tinha descoberto Alexandre o Grande no século XIX.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Hotel Tapie na Praia das Maçãs

Este postal foi enviado em Julho de 1927 da Praia das Maçãs por um veraneante que repousava «o seu espírito depois de um ano de trabalho», como afirmava no reverso do mesmo.

Chamou-me à atenção por vários pormenores que mencionarei. Incluído numa colecção de vários postais portugueses, identifica o local como Sintra. A legenda no entanto elucida-nos de que se trata de uma imagem na Praia das Maçãs.
Representa o sr. Francisco Canadas, o mais antigo vendedor de fruta local. Este apresenta-se com longas suíças brancas, um barrete preto na cabeça e os pés descalços. A ausência de sapatos, que hoje nos surpreende, seria corrente ainda durante mais umas décadas em Portugal.
Repare-se no tamanho das pequenas maçãs, por certo saborosas, mas que não passariam no crivo dos critérios da actual CE.
Em plano de fundo surge uma imagem do Hotel Tapie, nome da sua proprietária, que já existia desde 1908, e onde funcionava o restaurante «Sintra-Praia», de que se pode ver, em parte, o letreiro.
Este hotel, situado junto à praia, funcionou até 1945 tendo sido destruído para aí construir o «Casino», projecto do arquitecto Faria da Costa.

É escassa a informação sobre este hotel, mas a importância da sua representação, justifica este poste. 

domingo, 22 de abril de 2012

Os primeiros morangos


Começou a época dos morangos. É verdade que agora já não há estações para a fruta, mas tradicionalmente os morangos surgem na Primavera. No início evito sempre comprá-los porque são ainda pouco doces, mas a experiência da semana passada foi boa e repeti.
São morangos biológicos, uma classificação absurda que agora usamos para distinguir dos outros de estufa. Não se fala já em variedades.
Dantes havia os morangos canesences que vinham de Caneças e que eram descritos como um fruto grande, vermelho, saboroso e doce. Era pelo menos esta a descrição feita no catálogo da «Arboricultura, Lda.», de Caneças, que data de 1944. Para além desta variedade são mencionadas mais sete. Uma chamada Colares, outra Lisboa, outra Setúbal, e variedades com nomes estrangeiros como La produtive, a Madame Moutot, a Tardive Léopold e a ainda a Surpresa dos mercados.
O catálogo da «Hortícula Conimbricense» de Luís Rodrigues Vicente, de 1954, também descrevia outras seis variedades de morango. Quando abri o catálogo de Alfredo Moreira da Silva & F.os, Lda, de 1974, deparei-me com 25 variedades.
 Gostava de chegar ao Mercado da Ribeira e poder escolher: «Dê-me morangos Gaia para misturar com Empereur Nicolas».
Hoje fico contente com estes que, segundo a vendedora, «sabem a morango», o que seria de esperar, mas nem sempre assim acontece.
Temperei-os com açúcar e canela a que habitualmente adiciono vinho do Porto ou limão (ou ambos) e uma erva que transforma totalmente este prato: a hortelã. A hortelã picada não altera o gosto do fruto e torna-o mais fresco. Aconselho vivamente a experiência.
Eu sei que é uma fruta tão boa que se pode comer sem nada, mas porque não melhorá-la?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Exposição sobre lacticínios

É hoje inaugurada no Centro de Artes Culinárias no Mercado de Santa Clara, em Lisboa, uma Exposição sobre Lacticínios.
Aproveite e vá ver objectos pouco usuais relacionados com este tema e comprar lacticínios diferentes.

PS.
Para mais pormenores consulte o site do Centro de Artes Culinárias que está em link.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Matter of Taste


A Cilinha, uma amiga minha de infância, enviou-me um daqueles mails que recebemos todos os dias e nos enchem a caixa de correio. Uns são engraçados, outros revolucionários ou políticos ou por vezes até piedosos.

É uma das formas de mostrarmos aos nossos amigos que nos lembramos deles e que, de alguma forma, estabelecemos uma associação entre a mensagem recebida e eles próprios.
Só que este mail era diferente. Achei-o interessante e que valia a pena partilhá-lo. As fotos fazem parte de um livro publicado por Fulvio Bonavia, um fotógrafo italiano que anteriormente foi designer gráfico.

O livro foi publicado em 2008 pela Hachette Australia e intitula-se «A Matter of Taste». O fotógrafo utilizou alimentos comuns para construir novos objectos que se situam num espaço, que não existe, entre a gastronomia e a moda.
As fotos de óptima qualidade tornam os objectos inventados ainda mais atractivos.
 Para saborear com os olhos.


sábado, 14 de abril de 2012

Um jarro de vinho espadeiro

Tenho um fascínio por cerâmica falante, isto é, por peças que têm palavras escritas. Qualquer que seja a palavra, ou melhor, os «dizeres», alarga o nosso universo e conseguimos obter mais informação de uma simples peça.

Vem isto a propósito de um jarro que comprei na Feira da Ladra com uma frase escrita no bordo superior. Não estava identificado com marca de fábrica e não correspondia a qualquer tipologia de fábricas portuguesas, que eu conhecesse.
Numa das faces tinha escrito “Restaurante Colón”. Esta designação, como sabem, corresponde ao português “Colombo” e identifica imediatamente, no país vizinho, Cristovão Colombo. O pior é que em Espanha existem um sem número de locais a que se atribuiu a designação Colón, desde praças e ruas a restaurantes e hotéis.
Era portanto impensável descobrir o seu local de origem. Tanto mais que uma dos mais conhecidos Restaurantes Colón se situa no Brasil, em São Salvador.
Em Lisboa, em 1911, foi também feito o pedido de registo de nome de um «Café Colon» por um galego de nome Alfredo Pinheiro Lourido, que tinha já um estabelecimento de Café na rua dos Correeiros, nº 125-129, em Lisboa, mas ignoro se chegou a existir.
Encontrei depois um famoso restaurante Colón, em Barcelona, de grandes dimensões de que lhes deixo a fotografia. Para a obter tive que encomendar de Espanha uma revista intitulada «La Saeta», publicada em Barcelona em 1901 e onde o mesmo vem reproduzido. Na vida nada é fácil, mas a imagem do mesmo valeu a pena. Só que, infelizmente, não me permitiu estabelecer alguma relação com esta peça cerâmica.
O jarro
de cor branca, com dourado no rebordo superior, bico e asa, apresenta pinturas de vários mariscos (lagosta, santola, mexilhão) numa alusão ao acompanhamento mais adequado à bebida nele servida. E a bebida era nem mais nem menos do que “vinho espadeiro”.
Vejamos primeiro o que é o vinho espadeiro e depois como eu lá cheguei. O espadeiro é uma casta de vinho verde que em Portugal cresce precisamente na região demarcada do vinho verde. No sul foi apenas cultivada na região de Carcavelos, que praticamente já não existe. Mas é sobretudo na Galiza e nas Astúrias que esta casta mais se cultiva, havendo mesmo quem considere que é essa a sua origem. Apresenta-se com uma cor rosada e um cheiro a framboesa e groselha.
E como cheguei eu à conclusão de que era um jarro para vinho espadeiro? É que este tem no bordo superior a seguinte frase. «Quece os peitos e as almas alumea» que, vim a descobrir, faz parte dos versos de Ramon Cabanillas (1876-1959), um dos mais apreciados poetas galegos, que se tornou famoso por defender a identidade cultural da Galiza. Na sua obra “Da terra asoballada”, publicada em 1917, encontra-se o seguinte poema de onde foi extraída a frase escrita neste jarro de vinho.
Diante dunha cunca de viño espadeiro

¡O espadeiro! ¡Asios mouros, cepas tortas
follas verdes, douradas e bermellas,
gala nas terras vivas de Castrelo,
nos Casteles de Ouviña e nas areas
de Tragove e Sisán, do mar de Arousa
e o Umia cristaíno nas ribeiras!

¡O espadeiro amante! ¡O viño doce!
¡A legría de mallas e espadelas,
compañeiro das bolas de pan quente
e as castañas asadas na lareira!

¡O espadeiro! ¡O risolio que loubaron
en namorantes páxinas sinxelas
os antigos abades do mosteiro
de Xan Daval, na vila cambadesa,
aqueles priores ledos e fidalgos
mestres na vida, na virtú e na cencia,
que sabían ¡ou tempos esquecidos!

canta-la misa, escorrenta-las meigas,
acoller e amparar orfos e probes,
rir coas rapazas, consella-las vellas,
darlle leito e xantar ós peligrinos,
pechar por fuero as portas da súa igrexa
á xusticia do Rei, cobra-los diesmos
e dispoñer vendimas e trasegas!

¡O espadeiro morno! ¡O roxo viño,
sangue do corazón da nosa terra,
que arrecende a mazáns e a rosas bravas,
quece os peitos e as almas alumea,
e sabe a bicos de mociña nova.

Não é interessante as cerâmicas falarem?.

Nota. Em negrito vão evidenciadas as frases transcritas para a caneca.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A minha TROIKA

A palavra «troika» é de origem russa e designa um trenó puxado por três cavalos. Começou depois a ser usada em política passando a designar um grupo dirigente constituído por três membros. Hoje não preciso de dizer o que é porque todos os portugueses sabem.

O que não sabem é que existem “troikas electricas” destinadas a fazer torradas. Eu também não sabia até me ter deparado com esta torradeira. Devo dizer que depois de várias buscas esta Troika se manteve um mistério para mim. Não encontrei qualquer referência. A única marca registada de artigos eléctricos que encontrei com este nome produziu também torradeiras e foi registada pela primeira vez em 1999. Situava-se em Brooklyn, Nova Iorque, e já não existe.
É de supor que não foi a produtora desta torradeira, cujas características apontam para ter sido produzida na década de 1950-1960. Nos Estados Unidos a partir de 1960 as torradeiras deixaram de ser abertas. Ao contrário do nosso país onde ainda hoje, felizmente, se podem comprar torradeiras com portas móveis que permitem colocar o pão, com a espessura que queremos, a torrar.
Ainda me lembro de levar para Nova Iorque uma torradeira deste tipo pedida por uma amiga minha portuguesa que então lá vivia.

O mundo das torradeiras é fascinante pela sua variedade e os primeiros tempos foram de grande imaginação, o que levou a uma multiplicidade de modelos que não tem fim. Com princípios conturbados pela dificuldade em encontrar uma resistência eléctrica que fosse duradoura, campo em que Edison teve uma palavra importante na aplicação desta às lâmpadas eléctricas, a sua data de início é também discutível.
Atribui-se a Frank Shailor da General Electric o primeiro registo de patente de torradeira com a designação de D-12, em 1909. Mas em 1917, a Electric Point referia num anúncio  terem sido os primeiros, 12 anos antes, isto é, em 1905, a produzir a primeira torradeira. 
Torradeira em exposição no National Museum of American History, Washington

Da grande variedade de primeiros modelos salienta-se a preocupação com a manutenção das torradas quentes, enquanto se faziam outras. Uma das soluções encontrada foi a de colocar sobre a torradeira grelhas horizontais ou, em alternativa, apresentadores de torradas verticais. Designados pelos ingleses por «toast racks» e sem tradução adequada que eu conheça, é este último tipo o que apresenta a torradeira Troika.
Para quem não sabe nada sobre a torradeira já falei demais.
Conclusão: cada um tem a Troika que merece.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Páscoa e as Amêndoas de Moncorvo

Ao ler um pequeno livro sobre «Trás-os-Montes» de Domingos Ferreira Deusdado, que reproduz uma conferência feita pelo mesmo na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1930, deparei-me com uma passagem sobre as amêndoas cobertas.
Naquela época, e segundo o autor, em quase todas as povoações de Trás-os-Montes havia uma pequena industria de amêndoas cobertas que nunca faltavam nos arraiais, romarias ou casamentos, onde estas eram obrigatórias. Acrescentava que as de maior nomeada eram as de Moncorvo, onde se fabricavam as amêndoas brancas, isto é, apenas cobertas de açúcar e as escuras, cobertas com canela.
Naquele momento percebi que era sobre estas amêndoas que eu queria falar na Páscoa. Procurei informar-me e constatei que dado o facto de serem feitas à mão e a  produção ser pequena, são apenas vendidas localmente.

Embora a forma de confecção se considere um segredo e a receita vá passando dentro de cada família de geração em geração, a demonstração feita em feiras tem levado à compreensão da sua produção.
Após a «partidela» as amêndoas são peladas e torradas. São depois cobertas  em tacho de cobre com uma calda de açúcar, num ponto determinado. Chamam-se «cobrideiras» as mulheres que fazem este trabalho que exige paciência e cuidado. A queimadura pelo açúcar é uma das mais graves, devido às temperaturas que este atinge. Estas mulheres usam dedeiras para proteger os dedos, o que não impede que muitas vezes se queimem. É um processo demorado e quanto mais tempo dura a preparação mais bicos as amêndoas apresentam no final.
A amêndoa coberta de Moncorvo quando é confecionada apenas com uma fina camada de açúcar chama-se «peladinha», designa-se por «bicuda» quando essa camada de açúcar se apresenta em grânulos sobre a amêndoa e por fim, quando é coberta de canela e agora também de chocolate, chama-se «morena».
Compreende-se que este é um processo muito antigo. De tal modo que, ao ver as imagens destas amêndoas, rapidamente nos vem à memória as drageias espalhadas sobre as mesas que enfeitam os quadros de Josefa de Óbidos (1630-1684).
À esquerda fabrico da drageias lisas e à direita das drageias perladas
Avanço um século no tempo e recordo-me da imagem publicada na Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers... de Diderot et D’Alembert (1751-1772) onde se mostra a forma de confecção dessas drageias. Passo a explicar: Numa tina colocada em agitação constante pelo confeiteiro, vão caindo uns pingos de açúcar através de um funil colocado superiormente a este. O resultado era umas belas “drageias perladas”.
No fundo um processo diferente para obter um resultado muito semelhante. Quanto mais tempo durava a fabricação mais numerosas eram as pérolas ou bicos.
Processos antigos que a tradição mantém e que não podemos deixar morrer.
Uma Feliz Páscoa para todos, com muitas amêndoas.

PS. Agradeço à minha amiga Ivete Ferreira e à sua cunhada, que se esforçaram para me conseguir estas amêndoas, trazidas directamente de Moncorvo, mesmo a tempo de eu fazer este poste.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Higiene na Habitação

Os conceitos de higiene desenvolveram-se nos meios médicos a partir de meados do século XVIII. Na base destas noções estiveram teorias como o racionalismo científico e outras, que se deviam às novas transformações sociais e industriais.
Em Portugal não se pode falar deste tema sem mencionar Ricardo Jorge (1858-1939), um pioneiro, como os seus livros «Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa» de 1884 e a «Demografia e Higiene da cidade do Porto» (1899). Mais tarde foi criado o Instituto Central de Higiene, que posteriormente foi o Instituto Superior de Higiene e que grande influência teve na divulgação e estudo desta matéria.
A divulgação na Europa, nas primeiras décadas do século XIX, da chamada doutrina higiénica ou higiene científica teve influência, numa primeira fase, no espaço urbano. Na segunda metade do século XIX essa preocupações alargaram-se também ao espaço doméstico, abrangendo sobretudo as cozinhas e as casas de banho.
Apesar dos conselhos às donas de casa para aceitarem estes princípios foram os publicitários quem primeiro assimilou estas ideias. Os anúncios aqui reproduzidos demonstram-no e têm que ser compreendidos dentro dos conceitos de divulgação da sanidade, instalações eléctricas e canalizações, que então davam os primeiros passos.
O anúncio à casa Ramiro Pinto & Cª publicado na contracapa do «Programa das Festas da República de 1913» é um bom exemplo. Situada na Rua Augusta 143-146, em Lisboa, vendia todo o tipo de candeeiros de iluminação mas também tudo o necessário para construir uma moderna casa de banho, para além de fazer a instalação de água, gás, esgotos e eletricidade.
 Como noticiado na revista «Occidente» de 1908, este estabelecimento tinha sido inaugurado a 1 de Outubro desse ano (1). Esta casa foi uma das primeiras do género o que o redactor atribuía ao facto de os seus proprietários António Cardoso de Oliveira e o sócio Ramiro Montes Pinto serem conhecedores nestas áreas do comércio e indústria. O segundo, em particular, tinha grande experiência nas actividades referidas, tendo antes trabalhado durante dez anos na casa Júlio Gomes Ferreira & Cª (2).
E o jornalista terminava o artigo regogizando-se com este progresso na nossa capital e convidando os leitores a visitarem a magnífica exposição de candeeiros e todos os artigos de bom gosto que podiam permitir a modernização das habitações.
Em 1913 esta já não era a única casa do género, como o comprovam mais dois anúncios publicados no Programa das Festas da República. Na Rua Augusta, nº 118, 3º, a firma Lobo da Costa oferecia também os seus serviços na mesma área. Com uma publicidade mais simples e cheia de humor, mas saída da mesma mão (assinadas Afonso), contrastava com a magnificência da arte–nova utilizada para a Ramiro Pinto & Cª.
Um outro anúncio menos elaborado representava o interior de uma casa de banho num modelo da casa Sampaio & Mattos, situada no Porto, na Rua Elias Garcia, 59. Nela se mostravam vários tipos de banheira e um chuveiro complexo, primórdio dos duches de jacto hoje existentes.
A higiene regular do corpo começava a ser uma preocupação.

(1) Fotos da casa Ramiro Pinto & Cª publicadas na «Occidente» tiradas da Hemeroteca Digital e trabalhadas.
(2) Responsável por obras importantes como a canalização de esgoto da Casa Professa de São Roque (Igreja e Museu de São Roque), a instalação eléctrica do Aviz Hotel e a montagem de elevadores no Hotel Aliança e do Hotel Sul Americano, entre outros.