sexta-feira, 30 de julho de 2010

O fogão da Vacuum Oil Company

A empresa Vacuum Oil chegou a Portugal em 1896 e tornar-se-ia, 60 anos mais tarde, na Mobil Oil. Destinava-se à comercialilização de petróleo e foi responsável pela introdução em Portugal de fogões, calorífero e candeeiros a petróleo.
A publicidade aos fogões da Vacuum Oil surgiu nos anos 20. Os anúncios que apresentamos foram publicados na revista ABC, nos anos de 1925 e 1926.

Seleccionei alguns deles para contar uma fotonovela de como se pretendia afastar a mulher portuguesa do uso do fogareiro de barro, o mais divulgado, substituindo-o por um fogareiro a petróleo, mais prático e limpo.

Na primeira imagem uma dona-de-casa, corta madeira em pedaços para os colocar num fogareiro de barro. Em contraponto uma outra dona de casa, possuidora do novo fogão, borda calmamente enquanto numa cafeteira aquece a água. Segue-se a imagem da mulher moderna que parte, com um martelo, o antigo fogareiro de barro « que já não se usa». Uma outra imagem mostra-nos uma mulher moderna, de cabelo curto e vestido de modelo arrojado, que usa o fogão a petróleo porque: «o seu preço é insignificante e é portátil simples, rápido e asseado». As duas últimas imagens transportam-nos já para um ambiente mais sofisticado e intimista.

Na primeira é o próprio marido que, calmamente, com o seu roupão vestido, aquece o chá.
E por último, o casal, no conforto do seu lar, sentado num sofá na sala, aguarda que o chá aqueça.
É uma história em que se enaltecem as virtudes do fogão, mas recomendando sempre a utilização do petróleo Sunflower que, aparece discretamente nalgumas das imagens com a flor do girassol, ostentada num calendário pendurado na parede, para reforçar a mensagem.
Um exemplo de boa publicidade.

domingo, 25 de julho de 2010

Duas ementas do Hotel de L'Europe em Lisboa

Adquiri hoje duas ementas do Hotel de l’Europe. Nelas se registam o cardápio dos jantares dos dias 9 e 17 de Junho de 1900.
Como era moda na época estão escritas em francês. O próprio papel onde foram manuscritas é francês, oferta promocional do Licor Bénédictine, mostrando nas suas gravuras cenas com oficiais franceses que saúdam as suas vitórias com o licor anunciado.
Vejamos a que hotel se referem estas ementas.
O Hotel de L’Europe foi inaugurado em Lisboa, em 1845, no Palácio Barcelinhos, na Rua do Carmo 2, pertença de uma francesa, Madame Langet. Tratava-se do mesmo edifício em que se instalaram os Grandes Armazéns do Chiado.
Foi um hotel importante que tinha a preferência de hóspedes famosos durante as suas visitas a Lisboa, como a grande artista Sarah Bernhardt. Mas era também frequentado por portugueses, sendo ponto de encontro de alguns dos implicados na revolução republicana de 5 de Outubro de 1910.
Viria a fechar em 1912. Em 1921 ressurgiria com o mesmo nome, agora propriedade de Alexandre de Almeida, na Praça Luís de Camões nº 6, fazendo esquina para a Rua do Alecrim e a Rua das Flores. Para simplificar, correspondia ao edifício que hoje é ocupado pelo moderno Hotel do Bairro Alto.
A cronologia permite-nos assim concluir que as ementas se reportam ao primeiro Hotel de L’Europe, onde se comia comida francesa, tal como viria a suceder no segundo hotel. Em prospecto turístico publicitário, não datado mas dos anos 30-40, com hotéis recomendados do grupo Alexandre de Almeida salientava-se, referindo-se a este último, a instalação moderna dessa instalação hoteleira, a «cuisine française» e a «cave soignée».
Como se pode constatar a estrutura da refeição começava com uma sopa, seguida de um prato de peixe, um prato de carne, um prato de legumes, e a coroar a refeição: o prato de assado. Vinha depois a salada, um doce, que num dos casos era um gelado de chocolate e no outro um doce de arroz com molho de frutos e no final o «dessert».
E o próprio papel de ementa recomendava: «Após a refeição um cálice de Bénédictine», o licor de ervas francês, inventado no final do século XIX por Alexandre Le Grand, baseando-se no licor produzido pelos frades beneditinos da abadia de Fécamp.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Os Armazéns Herminios na visão da Parisiana

Foi uma agradável surpresa o achado da “Parisiana, jornal de 1914, que se identificava como «Revista ilustrada da elite»». Publicado no Porto, duas vezes por mês, teve o seu início em 1914, tendo como directora Maria de C. Pereira.
O exemplar de que vamos falar é o número 12, de 30 de Janeiro de 1914, que, por estranha providência, é um número comemorativo do 1º de Julho de 1914, data do 21º aniversário da inauguração dos Herminios. Na vida as coisas são assim: quando as descobrimos passam a cruzar-se no nosso dia-a-dia.
Este número é em grande parte dedicado aos Grandes Armazéns Herminios. Logo na primeira página tecem-se elogios ao armazém, que se equipara aos seus congéneres internacionais, e a que se seguem rasgados elogios à pessoa do seu Director, o sr. Alberto Mulders, num artigo assinado por Jean de France e intitulado «Homenagem da Parisiana».
Um outro extenso artigo da redacção dá-nos a saber que a inauguração dos Herminios teve lugar a 1 de Julho de 1893, levando o Porto a sair «da velha rotina dos seus costumes modestos e morosos». Enaltecem-se os melhoramentos constantes como o alargamento das vastas galerias, a iluminação eléctrica e «um dos melhores progressos da mecânica, o novo elevador eléctrico», de início recente. Era elogiada a confecção realizada num dos ateliers locais, mas também importada de França, o que explicava a existência de empregados franceses e a preferência da colónia francesa. A publicação dos catálogos anuais que permitiam a exportação de centenas de produtos diariamente para o resto do País, mas também para Angola, Ilhas e Brasil, era igualmente mencionada. Os Herminios eram também considerados uma instituição social, uma vez que abrangia cerca de 1.500 funcionários de todas as categorias. Dentro destas actividades sociais salientavam-se as excursões dos empregados, os grandiosos concertos, os”bodos aos pobres”, os saldos de ocasião e os balões oferecidos ás crianças.

Mas não só as crianças beneficiavam de presentes. Embora não fosse referido no jornal, sabemos que era costume oferecer brindes aos clientes fiéis. Os copos aqui apresentados (1), destinados a uso termal, são disso um exemplo. Manifestações precoces de marketing comercial.
(1) Agradeço ao Carlos Caria o envio das fotos de copos da sua colecção, que permitiram completar este poste. Segundo o mesmo, estes copos das termas eram pintados ou serigrafados a óleo e tinham uma escala de graduação, para que a água tomada pelos aquistas correspondesse ao receituário médico.

domingo, 18 de julho de 2010

Um catálogo dos "Grandes Armazéns Herminios"

De um extraordinário lote de catálogos comerciais, que o meu fornecedor mais habitual me arranjou, seleccionei hoje o de “Os Grandes Armazéns Herminios”.
Este estabelecimento comercial foi construído no Porto no local do antigo Teatro Baquet, nome que se deveu ao seu fundador António Pereira Baquet e que foi inaugurado em 1853. Um grande incêndio, em 20 Março de 1888, destruiu-o completamente. Foi um dos grandes armazéns portugueses, a par do Grandela e do Chiado, influenciados pelos grandes armazéns parisienses, como o Bon Marché, que foi o primeiro grande armazém construído em Paris. Com início em 1852 foi alterado em 1878 pelo arquitecto L. A. Boileau e pelo engenheiro Gustave Eiffel. A introdução dos novos conceitos do uso do ferro e do vidro na arquitectura levou à construção de uma armazém luminoso, com cúpula de vidro central e grades de ferro circundando cada piso e deixando um espaço central, modelo que viria a servir de inspiração para vários outros edifícios comerciais. Os Grandes Armazéns Herminios eram na altura o maior estabelecimento comercial do Porto, visitado pela melhor sociedade. Tinham entrada pela Rua 31 de Janeiro e pela Rua de Sá da Bandeira.
Não consegui apurar quem foi o seu fundador mas sei que Henry Burnay (1838-1909), o financeiro que era chamado na imprensa "O Senhor Milhão" e a quem D. Luís, em 1886 , concedeu o título de Conde de Burnay teve, entre outras actividades, participação na exploração dos Grandes Armazéns Herminios. Em 1894 a casa tinha já um moderno sistema de iluminação, ainda antes de o mesmo ser introduzido nos Grandes Armazéns Grandela de Lisboa, o que foi motivo de regozijo para a cidade do Porto.
Não sei dizer quando fecharam estes armazéns mas existem catálogos, pelo menos, até 1918.
Este catálogo é de Outubro de 1911, data em que tinha sido nomeada uma nova direcção para os Herminios, ficando como Director-gerente o sr. L. Hubert.
O catálogo incluía os modelos de confecção para senhora, homem e criança, roupa branca para senhora e criança, camisaria, perfumaria, sapataria, papelaria, passemanaria, faianças e porcelanas, artigos para cozinha e casa, etc. É interessante notar que vendiam também postais ilustrados, de edição própria, que são hoje objecto de coleccionismo.
Proximamente darei a conhecer outros catálogos destes e de outros grandes armazéns.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pickles de salicórnia

Ficaram prontos os pickles de salicórnia. Agora há que esperar que se impregnem de vinagre e fiquem saborosos.

Pela foto pode ver-se como o vinagre aquecido lhe mudou a cor, passando de um verde vibrante para um verde escuro, que lhes dá agora um aspecto de algas.
Quando estava a fazer os pickles pensei: quantas pessoas no mundo estarão a fazer pickles de salicórnia?.
Quando nasce uma criança ou morre uma pessoa acontece, ao mesmo tempo, o mesmo a milhões de pessoas em todo o mundo.
Mas a fazer pickles de salicórnia nesse preciso momento serão seguramente poucas.
Este pensamento deu-me uma sensação de isolamento estranha.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A salicórnia ou cachelro

Numa visita às salinas da Figueira do Foz e ao Núcleo Museológico do Sal, que recomendo, tomei conhecimento com uma planta designada salicórnia e que naquela região tem também a designação de cachelro.

É uma planta anual que cresce nas salinas mas também nos sapais, e nas arribas temporariamente encharcadas por água salgada ou salobra ou que sofrem o efeito da maresia. É uma planta carnuda, um pouco semelhante aos espargos selvagens, razão porque também é conhecida por espargos do mar.

Deve ser colhida no fim da Primavera ou início do Verão, porque depois se torna mais fibrosa. Sempre me fascinaram as plantas que se adaptam a habitats difíceis e esta é uma delas. Tem a grande vantagem de ser comestível, apresentando fresca um sabor salgado, dispensando por isso o uso do sal.
Com o aquecimento global e a carência de água doce a cultura de plantas halófitas (isto é que crescem em solo salgado), como a salicórnia, para uso como fonte alimentar é extremamente atractiva e há já nalguns países campos de cultura desta planta. Para além de fonte alimentar pode também ser convertida em “biofuel”.


Do ponto de vista ecológico a sua produção em campos ajuda a diminuir as quantidades de dióxido de carbono e a ajustar o nível dos mares, que têm vindo progressivamente a subir.
Portanto, apesar de ser uma planta antiga, tem agora possibilidades futuras de desenvolvimento. Vejamos o seu uso como alimento: Do ponto de vista calórico 75g (1/2 chávena) têm 100 calorias, 70 g de sódio (cerca de 3% da nossa ingestão diária), hidratos de carbono 2,5 g e 10 g de proteínas. É portanto uma planta rica em proteínas. Pode ser comida crua, cortada em pedaços e misturada em saladas, por exemplo com tomate, ou outros legumes. Temperar como habitualmente, mas omitir o sal. Pode também ser cozida e nesse caso utiliza-se sobretudo em pratos de peixe ou por exemplo com mexilhões. Pode cozer-se ao vapor, no microndas ou alourar-se em manteiga ou azeite para acompanhar salmão ou outro peixe. Usa-se também para quiches ou pratos de ovos. Ainda se pode adicionar em molhos como o molho tártaro ou molhos de iogurte.
Ainda só a experimentei crua mas logo vou fazer uma omelete. E como consegui uma quantidade razoável vou experimentar fazer pickles. Andei à procura de receitas de pickles de salicórnia. Encontrei poucas mas todas diferentes. Uns deixam a salicórnia com sal durante 24 horas e cozem-na depois. No final adicionam o vinagre. Outros cozem-na no vinagre.
Já me decidi e não vou usar nenhuma das receitas. Vou fazer como faço com alguns legumes, como a couve-roxa. Costumo deixá-los macerar em sal, passo que vou saltar dado o seu teor elevado em sal. Fervo o vinagre com açúcar e especiarias e quando estiver pronto (cerca de 10 minutos), deito-o, ainda quente, nos frascos onde já introduzi a salicórnia. Daqui a umas 3-4 semanas vou poder dizer se esta receita é boa.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pérolas Publicitárias. "Casa dos Fogões e Candeeiros"

A Casa dos Fogões e Candeeiros é também conhecida pelo nome dos seus fundadores Américo Roldão e Tarquínio Caldeira, que deram início à empresa há cerca de 75 anos.

A Casa Roldão e Caldeira situa-se na Baixa, na Travessa Nova de São Domingos nº 28 e começou por ser um ponto de venda e distribuição dos produtos fabricados pela Casa Hipólito de Torres Vedras.


O cartaz publicitário colocado no exterior da loja mostra-nos um desses produtos, um fogareiro a petróleo. Outro produto comercializado com êxito foram os candeeiros de iluminação, igualmente a petróleo.
Com o apareceimento do gás associaram-se à Casa Hipólito para a distribuição do primeiro fogareiro a gás fabricado em Portugal, denominado Lusogás, que a viria a ser adquirido pela Cidla.


Hoje a loja modernizada mantém-se na mão dos descendentes.

Felizmente perdurou na sua fachada o cartaz publicitário que apresentamos, para nosso deleite.

(Informações recolhidas em http://roldaoecaldeira.com/)

sábado, 3 de julho de 2010

A Aguardente Foguetão e as aventuras de Tim Tim

A lua sempre exerceu uma grande fascínio sobre o homem. Mesmo antes de Neil Amstrong ter chegado à lua, em 1969, a bordo da Apolo 11, já tinham sido escrito livros sobre viagens à lua.

Embora haja livros mais antigos sobre este tema não podemos deixar de falar em Julio Verne que, em 1865, escreveu «Da terra à lua» e, em 1870, «Viagem ao redor da lua». Hergé seguiu-lhe o exemplo ao colocar o seu herói Tim Tim na lua. Em 1953 era publicado «Objectif Lune» (Objectivo lua) e em 1954 «On a marché sur la Lune» (Explorando a lua).
Acontece que a nave em que Tim Tim se deslocou, acompanhado dos seus companheiros habituais, serviu de modelo a uma espectacular garrafa de aguardente portuguesa.
Encontrada num mercado de velharias da Covilhã, a garrafa, em grés, sem identificação de fábrica, foi produzida para as caves de S. Pedro, em Aguada de Baixo, Águeda, sob a marca «Foguetão».
Poucas semanas antes, ao visitar o Museu do Chocolate, em Barcelona, tinha fotografado a mesma nave do Tim Tim que inspirara um chocolateiro que reproduziu uma cena do livro de Hergé. Coincidências!.