quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A Casa Natal em Beja

Ao folhear o livro Monografias Alentejanas, de Pedro Muralha, publicado em 1945, deparei-me com uma notícia sobre a Casa Natal em Beja. Era uma antiga mercearia e foi pertença de Armando Inácio Gonçalves, natural de Graça dos Padrões, em Almodôvar. Aos doze anos começou a trabalhar numa mercearia na Rua de Mértola e em 1910, após o exame do então 2º grau entrou como marçano no estabelecimento do comerciante José António Coelho. Ao fim de 2 anos já era caixeiro e posteriormente subiu a gerente. Com a morte do proprietário passou a patrão do estabelecimento.
Mas não ficou por aqui. Em 1925 tomou de trespasse uma outra casa melhor situada na cidade: a Casa Jaldon uma conceituada mercearia que tinha sido fundada em 1880. 
Foto tirada da internet
Armando Gonçalves para além do comércio dedicou-se à industria e montou uma torrefacção e moagem de café que comercializava com o nome da casa. Foi com este café que concorreu à "Feira de Amostras de Produtos Portugueses", no Rio de Janeiro, em 1930, onde ganhou uma medalha de ouro.

Ao pesquisar informação sobre esta casa deparei-me com um artigo escrito pelo meu amigo Manuel Paula e publicado no Diário do Alentejo em 7/7/2017, a propósito do encerramento deste estabelecimento. Manuel Paula havia entrevistado o sobrinho Sr. José Inácio Gonçalves que então, já com 83 anos, se encontrava à frente da casa. Pediu-lhe fotos antigas e foi possível recuperar uma placa de vidro com a imagem primitiva do exterior da loja que encima este poste. É visível o tipo de pintura exterior do edifício que à época era pintado de grenat com letras em branco contornadas a preto.
Casa Natal em 1945
A imagem publicada no livro Monografias Alentejanas mostra-nos que em 1945 a pintura da fachada tinha sido alterada, embora mantivesse as duas portas de entrada e a pequena montra central. Posteriormente, segundo Manuel Paula, a loja mudou de ramo e o seu interior foi destruído.

Infelizmente mais uma mercearia antiga que já não existe, tal como o seu fundador sobre quem o redactor do referida monografia terminava o texto da seguinte maneira: «Como chefe de família tem vida exemplar». 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O Natal visto por Laura Costa

 Cresci a estudar em livros escolares com desenhos feitos pela Laura Costa. Não sabia na altura quem tinha desenhado as figuras mas, tal como os textos que líamos nas aulas, tudo me ficava na memória. Ainda hoje é com entusiasmo que revejo ou descubro novos livros infantis ilustrados por ela.
Para além desses livros, feitos especialmente para as crianças, Laura Nogueira Costa (1910-1992) desenhou uma série de postais de Natal que foram publicados pelos CTT durante vários anos, na década de 1940.
Ninguém interpretou o Natal infantil com maior pureza e beleza que, de resto, caracteriza toda a obra de Laura Costa. Hoje mostro-lhes algumas imagens desses postais e remeto-os para um outro texto que escrevi em 2015 sobre a capa de um disco de Natal (Natal em Portugal) desenhada pela mesma artista.
Pergunto a mim mesma como é que apenas uma vez me referi à obra de Laura Costa, mas prometo que para o ano haverá mais Natal da sua autoria. Por agora ficam os meus votos de Feliz Natal, ilustrados de forma mágica.



sábado, 16 de dezembro de 2017

Objecto Mistério Nº 55. Resposta: Couronne d'office

Pode dizer-se que houve um consenso e que as respostas de que se tratava de um objecto destinado a pendurar carnes ou enchidos estavam correctas. O facto de esta apresentar uma decoração com pássaros ajudou também muito, porque a maioria eram mais simples. Infelizmente ninguém arriscou uma designação porque seria muito útil saber se alguma vez em Portugal se utilizou este tipo de utensílio em ferro e qual o seu nome em português, que eu ignoro.
Claro que se usaram ganchos de carniceiro ou de açougue para o mesmo fim. Recordo-me de ver num dos anexos das cozinhas do Palácio Ducal de Vila Viçosa ganchos deste tipo numa das paredes. Já não falo nos fumeiros porque esses eram normalmente feito com tiras ou barras de madeira.
Há alguns anos atrás, quando corri o país a visitar cozinhas para o meu livro (Cozinhas. Espaço e arquitectura) que só parcialmente foi publicado, encontrei em Soajo uma objecto semelhante em madeira, com vários braços, feito a partir de um tronco único de árvore e seus rebentos, colocado ao contrário e em que cada um dos quais tinha um cancho. Passados estes anos não encontro a foto e esqueci o nome (galheiro?).
Por todas estas razões vi-me forçada a publicar o nome em francês. Conhecem-se este tipo de utensílios, feitos em ferro forjado, pelo menos desde o século XVI. Nos ganchos eram suspensas as carnes salgadas ou fumadas para as conservar, mas também os animais de caça para amadurecerem. 
No livro Opera dell'arte del cucinare de Bartolomeu Scappi, publicado pela primeira vez em 1570, podemos ver representações deste tipo de objecto tanto na cozinha como na copa.
Os ingleses chamam-lhe Dutch crown, mas a designação é considerada incorrecta porque a sua origem não é holandesa. Mesmo os ingleses usam a expressão francesa couronne d'office que podia traduzir-se por circlet of pantry em inglês. O mais interessante é que estas coroas não eram usadas nas copas (office), mas nas cozinhas das grandes casas. 
Na Casa Real inglesa eram colocadas na Pantry ou no Larder. Lembro-me de ter visto uma num dos anexos das cozinhas de Hampton Court, magnificamente reconstituídas, de onde pendiam aves, supostamente para faisander.
Em várias pinturas encontramo-las representadas nas cozinhas, o que faz sentido uma vez que aproveitavam o calor e o fumo que saía da lareira para secagem das carnes. Nos quadros de David Teniers, o jovem (1610-1690) encontram-se frequentemente representações destes objectos, discretamente colocadas a um canto, de onde se suspendem peças de fumeiro, como no Banquete dos Macacos, por exemplo. Eram descidas por meio de uma corda presa ao arco superior ou às correntes que as suportam.
Recentemente foram feitas versões modernas destas couronne d’offfice para colocação de alguns utensílios de cozinha, embora a sua função seja mais decorativa. 
PS: Agradeço à minha amiga Graça Pericão a oferta deste belo objecto, provavelmente francês e do século XIX, que veio enriquecer a minha colecção.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Objecto Mistério Nº 55

Este utensílio doméstico tinha uma função específica. 
Feito em ferro tem de diâmetro cerca de 35 cm (não medi).
A que se destinava?

Como se chamava?

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Ó amor, ajunta a roupa.......

Foto da minha autoria para o futuro livro «Vestir a mesa»
Ó amor, ajunta a roupa,
Que eu ta quero ir lavar,
Já me dói o coração
De te ver assim andar.

De te ver assim andar,
De te ver andar assim.
A roupa do meu amor
É lavada no jardim.

É lavada no jardim,
Coradinha na roseira,
Ó amor ajunta a roupa,
Vai-a dar à lavadeira.*

*Canção tradicional portuguesa recolhida na freguesia de São Paio. Publicada no Cancioneiro Popular do Concelho de Oliveira do Hospital, por Francisco Correia das Neves. 2005.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O livro «Ginjinha Portuguesa»

Acabaram de chegar a casa, saídos do “forno” da gráfica, mais dois livrinhos meus. Digo meus de foram enfática porque foram escritos por mim, pensados por mim e editados por mim.
A minha relação com as editoras não tem sido a mais feliz porque, segundo já me disseram, não escrevo para as massas. Como o lucro de ser autora não é nenhum então prefiro perder dinheiro e fazer os livros à minha maneira.
Há maneiras piores de gastar dinheiro e esta dá-me total independência. Tenho mais trabalho, demoro mais tempo, mas fico cheia de livros para dar de presente. Aos amigos claro! Mas também às livrarias que ficam com eles à consignação e nunca me pagam.
O que escrevi anteriormente foi apenas um desabafo, resultado das experiências vividas. Mas agora abre-se novo ciclo e, como sempre, tenho esperança que com este corra melhor.
O livro chama-se «Ginjinha portuguesa» e é uma pequena história desta bebida e da sua evolução em Portugal. Termina com um roteiro das ginjinhas lisboetas, de que eu tenho falado nas minhas conferências e que é uma característica verdadeiramente nacional. 
Fiz também uma versão em inglês «Portuguese Ginjinha» porque penso que é um assunto que interessa aos estrangeiros. Curiosamente houve já vários estrangeiros que compraram (sem saberem uma palavra de português) o meu livro «Licores de Portugal» por acharem o tema interessante. 
De pequenas dimensões tem apenas 54 páginas e custa 10 euros. Se estiverem interessados escrevam-me para o mail (garfadasonline@gmail.com) e eu envio por correio.