terça-feira, 30 de agosto de 2022

As rendas de plástico

 

Há alguns anos publiquei uns postes em que apresentava peças em plástico que imitavam o vidro e chamei-lhes “plásticos pretensiosos”.

Hoje ao encontrar estes naperons e toalhas em plástico, não me ocorreu a mesma designação. Não sei porquê, mas imagino que quando surgiram devem ter feito um sucesso enorme e olho para estes exemplares mais antigos como os antecessores dos modernos plásticos.

É verdade que algumas pessoas ainda não conseguiram distinguir entre os plásticos descartáveis e os reutilizáveis, que continuam a ter uma função importante.

Neste caso alguns já estavam gomosos e outros apresentavam manchas. Qualquer outra pessoa agarrava neles e mandava-os para a reciclagem. E lá ia uma parte da evolução dos hábitos domésticos.

Eu lavei-os, restaurei os que tinham rasgos (como se fossem papel porque não conheço outra técnica), endireitei-os, coloquei-lhes pó de talco para se não colarem e separei-os com folhas de papel de seda. Depois meti-os num saco de plástico e vão ficar guardados à espera de melhores dias.

Talvez no futuro possam ser usados como exemplos da evolução dos hábitos domésticos. E as donas de casa mais antigas vão olhar para eles com um sorriso.

domingo, 21 de agosto de 2022

Rótulos de vinho

 


Escolhi este rótulo pela sua beleza simples, muito Estado Novo e muito minhoto.

O “Casal da Seara” que ainda hoje se vende, mas seguramente de outro produtor, era um vinho verde da freguesia de Louro (região demarcada), que pertence ao Município de Famalicão, distrito de Braga.

No início do séc. XVII (1607) o lugar de Casal da Seara aparecia já como uma propriedade foreira que fornecia vinho verde para abastecer a casa monástica do mosteiro de Santo Tirso.

No rótulo salienta-se o xaile minhoto franjado, encarnado, com flores amarelas e verdes e uma vinheta, que se repete no rótulo do gargalo com a palavra “Vencer” à volta de uma cruz. Não consegui informações sobre a data mas deve ser da década de 1940-50.

Não o provei, pelo que não posso dizer nada sobre o seu sabor, mas presumo que na época devia ser um vinho “Destalo”, como o aqui apresentado, neste rótulo da Companhia Velha.

sábado, 6 de agosto de 2022

A sardinha perfumada

 

Dentro de 3 anos faz um século que este pequeno jornal foi publicado. Trata-se de um suplemento infantil do Diário de Notícias que teve início em 1924. A revista Notícias Miudinho era assim anunciada: «É a revista infantil mais barata de Portugal. Lê-se de graça quem leia o DN».

Na primeira metade do século XX várias revistas publicavam suplementos infantis com grande sucesso. Foi o caso O Gafanhoto, com início em 1903, mas em 1921 apareceu o ABCzinho que se ficou a dever a Cottinelli Telmo. Ainda durante esta década surgiu o Pim-Pam-Pum, um suplemento infantil de O Século e as Notícias Miudinho de que apresentamos um exemplo, para além de várias outras, que ficaram muito famosas e que faziam a alegria das crianças.

Esta história de uma sardinha vaidosa que se perfuma só por ir ser servida na mesa de um Marquês, ao lado de outros peixes mais prestigiados.

Contada como uma história, começa por «Era uma vez..», o que nos remete logo para a nossa infância.

E a história é simples. Conclui a nossa sardinha que o que a prejudicava era o cheiro (como eu lhe dou razão). Assim sendo resolveu o problema perfumando-se, o que segundo ela «já lhe permitia ser recebida em qualquer mesa, …. rica de bens ou de nobreza».

Lemos esta história simples e sorrimos. E eu que me espanto sempre com a falar de graça das histórias humorísticas do século XIX, revejo-me aqui num tipo de humor diferente, de um século XX mais familiar.