sábado, 27 de junho de 2009

Cafés Gelados Gregos: 1 - Frappé

Para um estrangeiro que visite a Grécia, mesmo que seja português, é uma surpresa o deparar-se com um tão grande número de esplanadas, sempre cheia de pessoas.
Os gregos passam horas nas esplanadas conversando, com uma bebida à frente. E o que bebem? Sobretudo café sob diversas formas. Já falámos do café turco, mas hoje vamos falar nos cafés frios, que são os mais pedidos nas esplanadas.
O mais difícil para os estrangeiros é acertar no nome certo da bebida. Olha-se para a mesa do lado e pede-se a bebida dos vizinhos. Depois de algumas experiências já sabemos distinguir as principais variedades.

A mais frequente é o “Frappé” ou café grego gelado. Experimentamos e ficamos surpreendidos quando descobrimos que é feito com café instantâneo ou Nescafé. Trata-se de um batido de Nescafé com gelo e açúcar, que se apresenta espumoso.
A história do “frappé” data de 1957, quando um representante da Nestlé, presente numa Feira Internacional em Tessalónica, decidiu fazer um Nescafé. Não tendo água quente usou água fria e agitou num shaker. Deve ter sido imediatamente um sucesso, mas desconheço como se divulgou a bebida de modo a tornar-se numa bebida nacional grega, servida em todas as esplanadas, acompanhada de um copo de água.
Foto do café Nine Muses em Chicago

Mas existe também o fredo que é um cappuccino gelado, a que os italianos chamam cappuccino fredo. Este é feito com café expresso, servido frio em copo, e encimado por leite batido em espuma, como no cappuccino. Ambos são servidos com palhinha e segundo uma afirmação publicada num livro intitulado Frappe Nation”, da autoria de Young e Constantinopoulos, dedicado ao tema, pode demorar em média por pessoa 93 minutos a beber.

A explicação é que à medida que o gelo se vai derretendo, a espuma, que contém café, se mistura com este e a bebida vai-se reconstituindo. O que justificaria o tempo prolongado que as pessoas estão nas esplanadas e o preço habitualmente elevado destas.
À volta destas bebidas existe todo um negócio que inclui a venda de café, batedores manuais e mecânicos, palhinhas, etc. e discussões sobre a melhor receita de cada uma das bebidas, que podem ter variantes, como a adição de uma bola de gelado ou de uma bebida alcoólica.

Receita do FRAPPÉ
2 colheres de chá de café instantâneo
2-3 colheres de chá de açúcar
3-4 colheres de sopa de água fria
4-5 cubos de gelo

Num copo de cocktail dissolver o café com a água fria. Cobrir e agitar, ou usar um batedor manual, até obter espuma espessa.
Num copo alto colocar alguns cubos de gelo. Lentamente deitar a espuma sobre o gelo. Juntar um pouco de leite simples ou evaporado, se se desejar. Encher o resto do copo com água fria até que a espuma chegue ao bordo. Servir com palhinha.

Mas se esta bebida é agradável em tempo quente, esperem até eu lhes apresentar o Freddoccino, de que falarei no próximo post.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Planta Mistério Nº 1- Resposta : Physalis

Foto de Pierre Marcel em http://www.flickr.com/photos/pierremarcel/2258458761/

Sim é verdade, a foto é de uma planta de Physalis como acertou o "Pirata Vermelho".
A Physalis (L.) pertence á família das Solanaceae, de que também fazem parte os tomates e as batatas.
É uma planta arbustiva que produz frutos redondos, semelhantes a pequenos tomates, de cor que varia do amarelo até alaranjado, envolvidos por uma capa de protecção parecida com um balão, chamado cálice. Cada planta pode dar 2 a 4 quilos de frutos.

É originária da Amazónia e do Andes e tem sido usada tradicionalmente como erva medicinal no Peru e no Brasil. O mais interessante é que há estudos fitoquímicos recentes que mostram que alguns dos seus constituintes, em que se incluem flavonóides, alcalóides e diferentes tipos de esteróides vegetais, alguns dos quais desconhecidos pela ciência, tem um eficaz efeito de estimulação imune. Para além de serem tóxicos para alguns linhagens de células cancerosas e de células leucémicas, têm propriedades anti-microbianas e antivirais.

Para isto não parecer uma afirmação pouco cientifica cito o artigo «Supercritical carbon dioxide extract of Physalis peruviana induced cell cycle arrest and apoptosis in human lung cancer H661 cells», da autoria de Wu SJ, Chang SP, Lin DL, Wang SS, Hou FF, Ng LT , e foi publicado na Food Chem Toxicol. 2009 Jun;47(6):1132-8.
Os autores confirmaram que os extractos da Physalis peruviana L. induziam paragem celular na fase S das células do cancro do pulmão e induziam apoptose, através da via dependente do p53. Concluíram que estes resultados forneceram um importante aporte para o potencial uso destes produtos na prevenção do cancro.
Estes dados vêem fundamentar o seu uso empírico pelos índios, desde há vários séculos.

Na realidade na sociedade ocidental é o seu fruto que é utilizado na alimentação .
A Physalis (L.) possui variedades cultivadas na América, Europa e Ásia.
Na Colômbia é conhecida como Uchuva e no Japão como Hosuki.
No Brasil é designada camapum, joá-de-capote, saco-de-bode, bucho-de-rã e mata-fome.
Em Portugal é nas Ilhas que se encontra a maior produção. Enquanto que nos Açores é chamada tomate de capucho, na Madeira dão-lhe o nome de tomate inglês, tomate lagartixa e tomate barrela. Se bem que hoje o mais frequente é encontrarmos a Physalis na decoração de pratos, em especial de sobremesas, embelezando-os e conferindo-lhes um aspecto de requinte, uma vez que é uma fruta cara, nos locais em que a sua cultura é abundante é utilizado em receitas de doces.
O mais conhecido é o Doce de Capucho, muito divulgado nos Açores. É um doce que pode ser comido como compota, ou para acompanhar queijo.
Pode também ser usado em gelado, para fazer licor ou em sobremesas como o Clafoutis, substituindo a tradicional cereja por Physalis.

Como a planta se dá bem em Portugal (a planta que fotografei é da região de Coimbra) e é fácil de cultivar utilizando as sementes dos frutos comprados no supermercado, aqui fica a Receita de Doce de Tomate Capucho:

«De véspera picam-se os tomates de capucho maduros e deixam-se em infusão em água até ao dia seguinte. Leva-se igual peso de açúcar ao lume, até se obter ponto de rebuçado. Retira-se do lume e deixa-se amornar, juntando os tomates de capucho bem escorridos. Vai novamente ao lume até se obter a consistência desejada».

(Receita extraída do livro Cozinha Tradicional da Ilha de Santa Maria de Augusto Gomes)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Planta Mistério Nº1

- A planta que apresentamos é arbustiva, de crescimento rápido.

- Possui variedades cultivadas na América, Europa e Ásia.

- Embora cresça em Portugal continental é nos Açores e na Madeira que é mais fácil encontrá-la.

- O fruto que produz é considerado raro, o que justifica um preço elevado.

- São lhe atribuídas tradicionalmente propriedades médicas, apoiadas ultimamente por experiências científicas levadas a cabo em universidades de referência.

- Tem várias aplicações culinárias.

Como se chama?

A que família pertence?

Qual o nome que tem nos Açores?

Quais os nomes porque é conhecida na Madeira?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Bolo de Mel de Cana da Ilha da Madeira

A cana-de-açúcar, importada de Sicília, foi cultivada na ilha da Madeira a partir da 2ª metade do séc. XV.
No século XVI existiam cerca de 33 engenhos, a maioria de reduzidas dimensões, mas no século XIX apenas 5 destes se dedicavam realmente à produção de açúcar.
A produção do açúcar, bem como dos derivados da cana, como o mel de cana, foi importante do ponto de vista económico para a Ilha e tem-se mantido até aos dias de hoje.

O mel de cana é utilizado no Carnaval, para acompanhar os "sonhos" e as "malassadas", doçarias consumidas nessa época.

É também com mel de cana que se confecciona o célebre “Bolo de mel da Madeira”, a que se associa a farinha, açúcar, gordura, especiarias e frutos secos.
Depois de cozidos e frios, embrulham-se em papel vegetal ou celofane e guardam-se em caixas. Estes bolos podem conservar-se durante um ano inteiro.
Tradicionalmente o bolo de mel era preparado nas casas a 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, para estar presente na mesa, no dia de Natal.

Hoje é possível consumi-lo durante todo o ano graças à produção de várias marcas que competem entre si pela originalidade das embalagens.
Marcados com um selo que os autentica, desde 2006, apresentam várias formas, em caixas, em cestos com forma de coração ou até mesmo com a forma da própria ilha.
Nas fotos mostramos alguns das variedades disponíveis no mercado, para os apreciadores desta doçaria.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"As papas" de José Malhoa

O quadro intitulado “As Papas” de José Malhoa foi pintado em 1898.

Esteve exposto na exposição Nacional do Centenário de José Malhoa que foi inaugurada em 15 de Maio de 1955 e pertencia nessa data a um coleccionador privado.
Na introdução do catálogo da exposição encontra-se uma biografia que o próprio havia escrito anos antes. Nela se refere ao seu nascimento nas Caldas da Rainha, em 28 de Abril 1855, e ao trajecto da sua vida, até se dedicar em exclusivo à pintura.

Foi pioneiro do Naturalismo em Portugal, tendo feito parte do Grupo do Leão (1881-1889). Este grupo que se reunia na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa, restaurante ainda hoje existente na Rua 1º de Dezembro, integrava figuras como Silva Porto, Columbano, Rafael Bordalo Pinheiro, António Ramalho, João Vaz, Henrique Pinto, Ribeiro Cristino, Moura Girão, Rodrigues Vieira e Cipriano Martins, entre outros.
Foram as discussões estéticas e artísticas que tiveram lugar no seu seio que influenciaram o gosto de Malhoa pela representação da natureza, pintada ao ar livre e pela pintura de cenas rústicas ou de hábitos típicos que mostravam práticas aldeãs.
Foi sobretudo depois de 1885, após a aquisição da sua casa em Figueiró dos Vinhos, onde contactou mais de perto com a vivência no campo, que adquiriu o gosto por temas populares, que retomaria ao longo da vida. Seria este aspecto que levaria Diogo de Macedo a chamar-lhe um «historiador da vida rústica de Portugal».

É dentro deste conceito que se integra o seu quadro “As papas”, em que representa uma camponesa idosa, desdentada, a comer ou a mexer, com uma colher de pau, um prato de papas, aparentemente de milho, também chamadas papas de carolo.