sábado, 31 de maio de 2014

Uma máquina de sumos japonesa National

  
A marca “National”, que já não existe, foi fundada por Konosuke Matsuhita (1897 -1989). Este camponês de uma aldeia do Japão partiu para a grande cidade e, após muitas dificuldades, conseguiu construir uma empresa de sucesso que, a partir da década de 1980, se passou a designar Panasonic.
A empresa Matsushita fez o registo da marca National em 1925 e começou por fabricar faróis para bicicletas. Antes de passar a produtor de materiais electrónicos produziu também um gama variada de electrodomésticos de que este espremedor de sumos é um exemplo .
O seu eletrodoméstico de maior sucesso seria contudo a panela para cozer arroz, criada em 1956, que se tornaria num objecto indispensável em todos os lares asiáticos.

A insígnia que caracterizou a empresa National surgiu em 1937, ainda em japonês. Em 1959 adoptou como insígnia o “N” gordo que a iria caracterizar, mas ainda com um lettering em japonês. Só em 1966 passaria a ostentar a palavra “National” em inglês.
Esta conversa serve para tentar datar a máquina aqui apresentada. É que apesar de a empresa possuir um museu e um site onde se mostra a evolução dos seus produtos não consta este espremedor eléctrico. Também não me foi possível determinar com exactidão o início de produção deste tipo de espremedores por outros fabricantes.
Microondas National de 1966
Foi também no ano de 1966 que a Nacional criou o primeiro microondas, um aparelho espantoso, vertical, estreito para caber num pequeno espaço, que nada tem a ver com os de hoje. Mas a sua produção para o mercado doméstico incluiu ventoinhas, frigoríficos, aspiradores, ferros eléctricos, etc.
Em 1967 foi lançado um gravador de cassetes, que aqui menciono por achar que esta máquina de sumos tem imensas semelhanças com os gravadores da época. Como se pode constatar apresenta-se na forma paralelipídica, com botões na frente e até tem uma asa para transporte, à semelhança de um rádio ou gravador.

Foi a partir da década de 1930 que nos Estados Unidos surgiu a moda dos sumos, em especial por acção de Norman Walker que defendia a «alimentação viva» com frutas e legumes crus, mas a sua máquina de sumos, que ainda hoje tem um sucesso enorme e é vendida por mais de 2000 dólares, não era eléctrica.
Nas décadas seguintes, começaram a entrar na cozinha os primeiros aparelhos eléctricos. Na década de 1940 surgiram os espremedores de citrinos eléctricos de que a marca Sunkist é um interessante exemplo. Mas aparelhos do tipo do apresentado (juice extractor) só surgiram nas décadas de 1960-1970. Existe um pedido de patente de uma máquina semelhante a esta, feito pela Matsushita para o mercado americano, que seria aprovada em 1980.

Em Portugal foi após os anos 70 que se começaram a usar estes electrodomésticos. Antes as pessoas faziam os sumos nas liquidificadoras, ou máquinas de batidos, que actuam por processos diferentes. Os sumos de tomate que eu bebi em criança eram feitas com essas máquinas.

Para não me alongar mais sobre este assunto, concluo dizendo que me parece bastante raro o aparecimento desta máquina de sumos em Portugal, felizmente acompanhada pelo livro de instruções e receitas, e que deve datar da década de 1970.
E porque o texto ficou um pouco denso decidi aligeirá-lo com um vídeo promocional dos ABBA aos electrodomésticos National , numa adaptação da canção «Fernando». Uma pérola publicitária!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

É Quinta-feira de Espiga

Para recordar a tradição, de que já falei anteriormente,  comprei um raminho e vou deitar fora o do ano passado. 
Vendem-se agora em vários pontos da Baixa. Mais pequenos, mais caros, com menos simbolismo, como tudo o que vai surgindo neste país. 
Daqui a uns anos faço um estudo comparado dos vários ramos.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um serviço para caril do século XVIII


Esta fascinante peça faz parte do espólio do Museu Biblioteca Conde de Castro Guimarães (MBCCG), em Cascais.
Como preparação para o curso sobre «Mesa aristocrática», de que já falei, tive oportunidade de contactar de perto com as peças de mesa aí existentes e posso dizer que esta foi a que mais me fascinou.
Pela sua beleza é claro, mas sobretudo pela sua raridade. Encontrei muito pouca informação sobre este tipo de serviço destinado a levar à mesa o arroz de caril. E digo assim porque o único que encontrei, com algumas semelhanças, foi um «rice curry set», que lhes apresentarei.

O conjunto existente no MBCCG é constituído por um total de sete pratos cobertos em porcelana branca decorada com um friso em vermelho ferro e ouro. Foi feito na China, cerca de 1770, e é uma peça da Dinastia Qing / Reinado de Qianlong. À volta de um prato central circular dispõem-se os restantes pratos em forma trapezoidal, sendo o conjunto apresentado dentro de uma caixa lacada redonda. Na sua tampa estão presentes duas letras que poderão estar relacionados com o seu anterior possuidor, mas é um tema que levanta outras questões que não se justificam agora.
É verdade que se pode confundir com uma caixa de doces chinesa, usada para oferecer doces, embora muitos sejam frutos cristalizados como a raiz de lotus (por ex.). Este tipo de caixas são usadas como ofertas no Ano Novo chinês e também nos casamentos. Têm 6 ou 8 compartimentos que correspondem aos número da sorte chineses e a escolha dos doces não é arbitrária, uma vez que cada fruto ou semente tem um significado, interpretado como uma mensagem por quem recebe.

Interessa realçar a raridade deste serviço de que não encontrei outro semelhante. O mais aproximado foi o serviço de 15 peças independentes, em bronze e prata, em que o conceito é o mesmo, um conjunto de pratos cobertos para o serviço de caril, com um prato central e vários pratos satélites.
Foi feito na Síria e é proveniente do espólio do rei Farouk do Egipto (1920-1965), que o poderá ter herdado do seu Fuad I, ou do avô Ismail Pasha.
Imagem tirada da internet
Os ingleses orgulham-se de ter receitas de caril publicadas no século XVIII. No livro de Hannah Glasse The Art of Cookery made plain and easy, publicado em 1747, pode encontrar-se uma dessas receitas. 
Pouco tempo antes Vincent de La Chapelle, um cozinheiro francês que trabalhou em Inglaterra, na Holanda, na Alemanha, nas Índias Orientais e em Portugal, publicara em inglês, em 1733, o livro The modern cook, que em 1735 seria publicado em francês. 
Na sua obra propõe receitas internacionais como uma espécie de caril à indiana e sobre ele diz«é preciso ter estado nas Índias e em Portugal como eu para conhecer estas variedades de açafrão e pimento».
Mas no que se refere ao caril o nosso conhecimento foi mais precoce e Domingos Rodrigues no livro Arte de Cozinha, publicado em 1680, apresentava já uma receita de caril, o que também nos confirma Vincent la Chapelle que conheceu este prato em Portugal.
Assim se explica a existência deste serviço do século XVIII para caril em Portugal. O que fica por explicar é porque não são conhecidos outros exemplares com esta tipologia.

terça-feira, 20 de maio de 2014

As Artes Culinárias na Lusofonia


 Vai inaugurar na 5ª feira dia 22 de Maio, às18,30 horas, no Centro de Artes Culinárias, uma exposição sob o tema referido.
Compareçam para ver a exposição ou numa das múltiplas actividades que vão acompanhar a exposição e de que daremos notícias.

sábado, 17 de maio de 2014

Exageros da publicidade: A casa Brito das Carteiras

A propósito de algumas campanhas de publicidade dizia-se há alguns anos: «Estes publicitários são uns exagerados».
Este anúncio publicado na Ilustração Portugueza de 1917 é um bom exemplo.
No exterior, junto à entrada da loja pela Travessa de Santo Antão formava-se uma fila de clientes que saiam depois felizes por outra porta, com vários modelos de malas nas mãos, pela actual rua das Portas de Santo Antão em Lisboa.
E lá dentro o que se passava?
Um outro anúncio já publicado na Ilustração Portugueza  em 1914 mostrava-nos que era grande a azáfama. Para usar uma outra frase feita: «Não brincavam em serviço».

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Convite: Palestra «A Ginjinha Lisboeta»

 Integrado nas comemorações do «Dia dos Museus» (18 de Maio), que este ano calha a um domingo, os museus vão ter as portas abertas com actividades contínuas no sábado e domingo.

O Museu da Cidade, em Lisboa, tem um programa preenchido e eu vou falar sobre Ginjinha lisboeta no sábado às 18,40 horas.
 Se lhes interessar o tema e tiverem disponibilidade, apareçam.

domingo, 11 de maio de 2014

Objecto Mistério Nº 40 Resposta: Porta-oveiros

 Desmontando as peças pode verificar-se que o suporte tem seis cavidades onde são incluídos os oveiros e daí ter optado por este termo: porta-oveiros. Não sei se a designação mais correcta seria porta-ovos, mas ficava sempre o risco de se confundir com as caixas para ovos. Sendo o objecto em que se coloca o ovo quente ou o ovo cozido designado oveiro parece-me mais lógica a designação que escolhi.

Não devem ser confundidos com os escalfadores para ovos, em que o ovo é cozido em água quente até ao ponto desejado, enquanto que neste tipo de peças foram cozinhados previamente num outro recipiente.
Este objecto é em porcelana e não está marcado. Apesar da imagem que nos faz lembrar um barco moliceiro e andorinhas a voar, temas que consideramos portugueses, não me parece de fabrico nacional. É verdade que a Vista Alegre utilizou este tipo de pintura em alguns serviços, com um esfumado rosa e uma paisagem polícroma, mas desconheço que tenha feita este tipo de objectos. Poderá ser de origem francesa mas é apenas uma suposição. 
Se tiverem sugestões agradeço que as expressem. Ficamos todos a ganhar.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Objecto Mistério Nº 40

Esta peça, feita em porcelana, é de fácil identificação. Tem de base cerca de 20 cm por 15 cm.

O mais difícil será encontrar a designação correcta, porque não são comuns estes utensílios em Portugal.

Para que serve e como se designa?

sábado, 3 de maio de 2014

Os Biscoitos de Água de Karlsbad

  

Chamou-me à atenção um anúncio aos «Biscoitos de Água de Karslbad», publicado no Diário de Notícias de 12 de Dezembro de 1935. 

Publicitados como «o único pão digerível» para doentes do estômago, fígado e intestino, eram recomendados também aos diabéticos. Eram vendidos nas farmácias, pastelarias e boas mercearias e tinham um representante em Lisboa e um depósito no Porto na Farmácia Central.
Que tipo de pão era este? Trata-se das ainda existentes «Wafers de Karslbad», ou mais concretamente de obreias, também designadas oblatas. Karlsbad (Karlovy Vary) faz parte de um famoso triângulo de termas da Boemia (Karlsbad-Marienbad-Franzensbad). 
Situa-se na República Checa e tem uma longa história no que respeita a estes dois produtos: águas minerais e obreias, conhecidos desde há séculos. A associação de ambos, isto é, as obreias confeccionadas com água das termas tornou-se parte da terapêutica dos seus visitantes e constituíam um bom presente para trazer no regresso.
Conhecidas desde 1640 as obreias eram feitas com duas placas de ferro quente, mas industrializaram-se em 1856. Tornaram-se afamadas e chegaram à mesa de reis e presidentes, numa época em que a estância termal entrou também em moda. Foi visitada por Pedro o Grande, pelo Imperador Francisco José e por músicos famosos como Beethoven, Liszt e Chopin e escritores como Goethe e Tolstoi. Tal como outras termas passaram a ser um local de vista obrigatória da sociedade abastada nos séculos XIX e início do século XX, que intervalava as curas de águas com passeios, bailes e jantares.
Os banhos por imersão e a ingestão das suas águas eram recomendadas para um grande número de patologias. Daí a extensão à sua utilização no fabrico das obreias que lhes conferia um gosto específico mas tinha também um efeito terapêutico.

E foi assim que, sob a designação de biscoitos ou pão, chegaram a Portugal, o que mostra a importância do termalismo nesta época e a influência que os spas internacionais exerceram no nosso país.