quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Mostra de Frutos Secos e Passados no CAC

Dia 1 de Novembro

Abrem-se as portas do Centro das Artes Culinárias especialmente para comemorar consigo a tradição da festa de Todos os Santos, também chamado Dia do Pão por Deus ou Dia dos bolinhos.

  • 18 horas- Jacinto Palma Dias, historiador e produtor de figos, fala-nos de figos e territórios, na sua intervenção “Chamem-lhe um figo”.

  • 18h 30m – Rosa Dias - traz-nos a sua experiência no trabalho de valorização e divulgação dos produtos locais.

  •  18h 45m - Isabel Pires, da propriedade agrícola O Disco, em Ferreiras, dá-nos a conhecer e a degustar 8 castas de figos, algumas verdadeiramente raras.
 Para os restantes dias veja o programa no sitío do Centro de Artes Culinárias .

domingo, 28 de outubro de 2012

Uma geleira quase centenária

Este tipo de caixas para fazer gelado foram feitas em Inglaterra na década de 1920-1930 pela empresa Beldray.

A firma foi fundada em 1872 por Walter Smith Bradley, a que se seguiram os seus filhos Herman e Hector. O nome da empresa era um anagrama do sobrenome da família (Bradley) e o logotipo apresentava um sino (Bell) sobre um carro de transporte, cujo nome antigo era «dray».
Começaram por fabricar baldes, leiteiras e outros utensílios com fins domésticos e agrícolas. Num segundo período produziram objectos decorativos, em metal, como por exemplo jarras arte-nova. Foi após a 1ª Guerra Mundial que a sua produção se modificou e foi nessa época que foi feita esta geleira. Durante a 2ª Guerra Mundial a sua produção iria novamente mudar para acompanhar o esforço de guerra e produzir material bélico.
Esta geleira destinava-se a fazer gelados e apresentava-se em quatro tamanhos. Tem duas tampas, uma na parte superior onde se metia a mistura para gelar, como se fosse um termo, e em baixo tem uma outra tampa que dá acesso a um compartimento onde se introduzia o gelo picado e sal. A mistura do gelado devia ser mexida cada dez minutos e ao fim de 30 minutos o gelado estava pronto.
A caixa podia também ser usada para colocar frutos ou sandes e ser transportada por exemplo para um pic-nic.

Nos Estados Unidos foram também produzidas caixas muito semelhantes pela Auto Vacuum Freezer Co, Inc New York, entre 1912 e 1923.
Foi ao tentar encontrar uma ligação entre as duas empresas que descobri uma figura interessantíssima: Beulah Louise Henry (1887–1973) que foi uma inventora americana e uma mulher muito moderna para o seu tempo. Registou pelo menos 49 patentes e criou mais de 100 invenções. O número de invenções que concebeu foi tão grande que passou a ser designada como a «Srª Edison». A sua primeira invenção, em 1912, foi precisamente o «vacuum ice cream freezer» (Patente US 1037762). Este modelo foi comercializado em Inglaterra e nos Estados Unidos e daí o nome comum.
Nos Estados Unidos, imagens deste modelo apareceram num famoso livro de cozinha o «Boston Cooking School Book» escrito por Fannie Merritt Farmer, em 1923 e que se tornou um clássico nesse país.
O exemplar aqui apresentado veio de uma casa portuguesa e ignoro como terá vindo parar ao nosso país. No rótulo que apresenta na sua face anterior está escrito em inglês: «Uma necessidade em todas as casas» e do outro lado:«Um prazer usá-lo». Provavelmente tratar-se-ia de grandes apreciadores de gelado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Uma ementa poética

 Chamou-me à atenção a beleza desta ementa transformada em papel de suporte para uma poesia dedicada ao 14º aniversário de uma menina, de nome Palmira Guimarães Romano. A festa de aniversário decorreu no Porto a 14 de Outubro de 1903 e a poesia foi escrita por seu pai, Joaquim Ferreira d’Almeida Romano Júnior, de que apenas consegui descobrir que frequentou a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto de 1897 a 1899.
 A ementa, destinada muito possivelmente para distribuição em restaurantes que consumissem os produtos nela anunciados, foi feita pela firma Menéres & Cª para o vinho do Porto «Victoria». No fundo da ementa uma frase simples dizia: «Após a refeição bebei um cálice de vinho Victoria».
Do lado direito podia ver-se a imagem de uma garrafa do referido vinho e, do lado esquerdo, uma fita em espiral abraçava as várias medalhas ganhas nas exposições mundiais, com indicação das datas: Lisboa 1884, Paris 1889, Chicago 1893, Anvers 1894, Filadelfia 1876 e Bordéus 1895.
 A empresa que comercializava este vinho tinha começado em 1874 pela mão de Clemente Joaquim da Fonseca Guimarães que fundou a firma Clemente Menéres & Cª, após o regresso do Brasil onde esteve de 1859 a 1863.
Destinada inicialmente à produção de rolhas de cortiça, posteriormente alargou a sua acção e passou a comercializar vinhos, vinhos do Porto, malvasia e licores, que produzia ou representava. Em 1895 após a morte da primeira mulher a designação passou a Menéres & Cª, mas esta sociedade foi extinta em 1905, dando origem à Companhia Vinícola do Porto e em 1908 à Companhia Vinícola Portuguesa.
 A poesia tem a data de 1903 que corresponde precisamente ao período «Menéres & Cª». A parte superior do papel de ementa apresenta-se decorada com sete leques, em estilo Arte Nova, que representam figuras femininas correspondendo aos sete pecados capitais.
Damos relevo à «Gula», mais adaptada à temática deste blog, mas todas elas são interessantes. Uma utilização diferente de uma ementa.

domingo, 21 de outubro de 2012

A Laranjada Invicta da CUFP

 A década de 1950 foi de grande expansão no mercado de refrigerantes em Portugal. Várias fábricas dispersas pelo país produziam gasosas, laranjadas e outros refrigerantes. No Anuário Comercial de 1956 surgem várias fábricas, mas salientamos, na zona sul, a Larangina-Orangina na venda do Pinheiro, a Supersumos em Cabo Ruivo; no Porto a Fabolina & Cª e a Fábrica de Licores e Refrigerantes Montizé, para além de inúmeras outras dispersas pela província.
Com elas competia a Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes - Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada. As suas instalações fabris, de grandes dimensões para a época, ficavam situadas no Porto, na esquina da Rua de Júlio Dinis e da Rua da Piedade, e existiram desde 1904 até 1977, data em que foram destruídas.
Foto do Jornal de Notícias publicada no blog Porto Antigo 
Conhecida pelo acrónimo «CUFP», esta empresa foi fundada em 1890 e resultou da fusão de sete fábricas de cerveja e bebidas gasosas já existentes no Porto, desde 1801[1].
A marca «Invicta» foi registada em 1956 pela CUFP e destinava-se a refrigerantes. O cartaz aqui apresentado diz respeito ao refrigerante de laranja e, de acordo com a publicidade, era feito com elementos naturais.
A CUFP veio a constituir a Unicer, por fusão com outras duas fábricas de cerveja: a Imperial e a Copeja.





[1] Fábrica da Piedade, Fábrica do Mello, M. Achvek & Cia., J.J. Chentrino & Cia, J.J. Persival & Cia., M. Schereck e Fábrica de Ponte da Barca.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Glória. História de uma Cozinheira

Este livro de Armando Ferreira (1893-1968) é, segundo o seu autor, uma «novela de costumes populares lisboetas».

A capa, onde surge uma rubicunda cozinheira, é da autoria de Roberto Santos.

O livro humorístico, como toda a numerosa obra do autor, dá-nos um retrato fiel da sociedade lisboeta da época.
Como o autor acrescenta o livro está sugeito a mote e este surge logo nas primeiras páginas com um anúncio de jornal em que se pede um cozinheira «que conheça muitíssimo bem de cozinha, pastéis e pratos para banquetes. Muito boa apresentação. Exigem-se excelentes referências».

Muitas exigências que a criada Glória consegue ultrapassar. Um livro de sucesso na época que o tempo fez esquecer.

sábado, 13 de outubro de 2012

O filme «Mon Oncle» de Jacques Tati

 Este poste é uma sequência natural do anterior. Na foto, com ambiente típico português, tirada no restaurante Faia, surge Jacques Dutailly um cantor francês, hoje desconhecido em Portugal, que foi o interprete de uma música do filme «Mon Oncle».
 No filme de Jacques Tati, de 1958, rodado numa vila Arpel, de enorme modernidade ainda hoje, assiste-se às desventuras do Sr. Hulot, o tio do menino Gérad, um francês típico, que sofre com as inadaptações a um ambiente desumanizado.
O filme, de grande humor, é uma crítica à aceitação pós-guerra pelos franceses dos conceitos de modernidade americana.
Considerado controverso este filme, com som que se sobrepõe aos diálogos, acabou por ganhar o prémio da Academia para o melhor filme estrangeiro, em 1959.

Embora não tenha canções foram posteriormente criadas letras adaptadas às suas músicas, como as interpretadas por Jacques Dutailly, que foram um sucesso na época.
Um filme que se vê com um sorriso na cara até ao fim. Fica aqui, apenas para recordar, a cena do sr. Hulot na cozinha.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Há uma linha que une o Palm Beach e a Tágide

Na década de 1940 as zonas de Estoril e Cascais fervilhavam de actividade. Aí chegavam e viviam, durante algum tempo, refugiados internacionais que fugiam à guerra. Numa época em que Portugal se tornou um centro de espionagem era aqui que se concentrava a fina flor da aristocracia, onde se incluíam reis e príncipes, mas também magnatas ou outros industriais. Procuravam um país em paz, numa Europa turbulenta e Portugal transformou-se num destino mítico. Acompanhando a moda vieram depois figuras importantes ligadas a outras áreas, como a do cinema ou da escrita.
Esta internacionalização levou ao desenvolvimento de novos hotéis e de restaurantes modernos na que chamamos «a linha».

Falamos hoje do Palm Beach, restaurante e boite, como então se dizia[i], onde se organizavam bailes com orquestras, que tinham lugar também no Casino.

Situado na Praia da Conceição, em Cascais, começou a sua actividade na década de 1940. Há um pedido de registo da marca «Palma Beach» feito em Setembro de 1943[ii], mas não consegui confirmar se corresponde a este estabelecimento.
É provável que o Palm Beach pertencesse aos mesmos donos da Tágide, um restaurante que tinha também espectáculos de «music-hall». Este último, em 15 de Maio de 1958, promoveu um espectáculo no Coliseu do Porto, onde estiveram entre outros Madalena Iglésias.

Mas pela Tágide passaram artistas como Charles Aznavour, ainda jovem, e outros.
Numa ementa do Palm Beach de 1978 encontrámos entre os batidos duas variedades: «Tágide» e «Palm Beach».
Por outro lado, na contracapa do programa de music-hall de 1958 constata-se uma publicidade explícita aos dois locais: «Se almoçar no Palm Beach jantará no Tágide». O primeiro é designado como «restaurante- bar-boite» e o segundo como «boite de nuit-restaurante de luxo».
Em comum, ambos os locais eram servidos por um dos grandes distribuidores de vinhos dos anos 40, A. Serra Campos Ferreira[iii] que, em publicidade publicada no programa de music-hall, nos revela as mesmas bebidas que eram vendidas na Tágide.

Diário Popular 5/11/1960
Campos Ferreira teve grande actividade comercial em várias empresas[iv], tendo vindo a casar com a filha de Elpídio Martins Semedo, fundador da Semedo & Filhos que viria a dar origem às Caves do Solar de São Domingos, ainda hoje existentes na Anadia.
Campos Ferreira á direita, com Guilherme Pereira de Carvalho ao centro e Jacques Dutailly, no Faia, em 8/1/1953

Numa das fotos a que tive acesso Campos Ferreira aparece com Guilherme Pereira de Carvalho, uma interessante figura do tempo de Salazar e que trabalhou no Secretariado da Propaganda Nacional, com António Ferro. Foi responsável pela vinda de vários artistas internacionais a Portugal e é aqui que entra Campos Ferreira, que surge ligado a artistas que actuaram na Tágide, numa ligação que não me é possível comprovar de outra forma.
O restaurante Tágide sofreu uma transformação profunda em 1973 perdendo-se os elementos que permitiriam completar este puzzle. Novamente alterado em 2007 mantém-se em funcionamento activo, mantendo a soberba vista sobre Lisboa.

Quanto ao Palm Beach, que chegou a fazer com a que a «Praia da Conceição» mudasse o nome para «Praia do Palm Beach», manteve-se uma discoteca de sucesso nos anos 60 e 70. Foi depois um local de musica rock por onde passaram muitos DJ, até que ficou abandonado no início do século XXI. Já neste século transformar-se-ia na "Pizzaria Capriciosa".
Em definitivo, rompia-se a linha invisível que os ligou nas décadas de 40 a 70.



[i] Boite foi a designação que se usou para designar os locais dançantes até há cerca de 5-10 anos. A palavra discoteca que hoje se usa destinava-se a lojas de venda de discos.
[ii] Publicado no Boletim da Propriedade Industrial por Palm Beach Company. em Setembro 1944.
[iii] Juntamente com J. A. da Costa Pina; J. Cândido da Silva, A. L. Simões e Pina; J. Nunes da Silva e Vinalda, numa época em que por Lisboa faziam escala as tropas americanas a caminho dos Estados Unidos.
[iv] Foi sócio gerente da Semedo & Filhos, Lda, da Fábrica de Licores Mundial, da Sociedade Comercial Reicarrera, Lda e da Sociedade Comercial Semira, Lda.

domingo, 7 de outubro de 2012

Em boa hora fui à feira

 O título deste poste veio-me à cabeça quando me recordei de um livro de infância «Em má hora foi à Feira», da colecção Tonecas. A história contava as desventuras de Zé Gaspar, um saloio ganancioso, que ia à feira vender o seu porco «Chiquito». O que se passava a seguir deixava o meu irmão às gargalhadas, embora eu lhe achasse menos graça.

Bolo do Tortozendo

Hoje porém é da Feira de S. Miguel que referi no poste anterior que eu lhes quero falar.

Fui a meio da manhã para fazer umas compras e ver se encontrava covilhanenses. Encontrei um amigo meu de infância a quem tive de perguntar o nome e que não me identificou de início. Coisas que acontecem quando as pessoas não se vêem há mais de trinta anos.

Como sempre acontece em Portugal as bancas ainda não estavam todas instaladas. Isso contudo não me impediu de fazer boas compras.
 Comecei por comprar uns enchidos com muito bom aspecto, pastéis de molho com um ar apetecível e um bolo do Tortozendo. É claro que este não me vai saber como o da minha infância, a própria vendedora me disse que nunca mais ninguém conseguiu fazer este bolo como o homem que os fazia no Tortozendo e que morreu com o segredo.
Comprei uma réstia de alhos e de cebolas que como podem ver se metia pelos olhos.
Comprei ainda dois queijos caseiros feitos na região do Fundão. São queijos de mistura curados feitos em Alcaria por Vasco Machado dos Santos e vendidos por uma simpática Paula Serra. Um deles foi o melhor queijo que comi nos últimos tempos e só a preguiça me impede de lá voltar e comprar mais queijo.

 Para manter este espírito beirão fiz um almoço com ervilhas tortas, ovos escalfados e enchidos que estava delicioso.
 É muito feio ser invejoso!.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Feira de São Miguel no Mercado da Ribeira

No domingo, dia 7 de Outubro, realiza-se uma réplica da Feira de São Miguel, uma feira tradicional do Tortozendo, uma freguesia da Covilhã.

Esta feira que tem lugar a 29 de Setembro é também conhecida por «Feira das Cebolas» e, apesar do nome, é um feira pagã com longa tradição. Vai ter uma festa no Mercado da Ribeira apoiada pela Câmara da Covilhã e de Lisboa e organizada pela Casa da Covilhã.
Bolo do Tortozendo
A Covilhã é a minha terra de adopção onde passei a infância e a adolescência, por isso aconselho a experimentar as coisas boas que só existem na região, como a cherovias, os pastéis de molho e, espero, o «Bolo do Tortozendo».
Se não sabem de que falo podem ler os meus postes sobre estes alimentos e ir lá experimentar.

Uma oportunidade para os covilhanenses se encontrarem e para os lisboetas irem à província, sem se deslocarem.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Notícias Perdidas: Um belo porco!

 Esta notícia foi publicada inicialmente no jornal Correio de Chaves e chamou à atenção ao redactor do Jornal de Abrantes que a reeditou a 1 de Fevereiro de 1942.

Notícias de um tempo mais simples em que o volume de um animal ou de um legume era valorizado. Durante décadas os chamados «fenómenos do Entrocamento» ocuparam um importante espaço nas notícias nacionais.
Hoje já não interessam nada. Mas não se pense que se deixou de valorizar a volumetria. Só que nos últimos anos os portugueses descobriram a sua vocação para estabelecerem recordes internacionais e entrarem no Guiness.
A diferença entre as duas visões era que os primeiros eram fenómenos naturais, enquanto os segundos representam um esforço para mostrar que somos grandes. Coisas de um país pequeno.