sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Objecto Mistério Nº 43. Resposta: Fonte de vinho

 
Talvez que a designação de «Fonte de vinho» não seja a mais apropriada por se prestar a confusões. Pareceu-me contudo mais adequada do que «Fonte para vinho» para traduzir a expressão «Wine fountain».
Na realidade trata-se de uma fonte com água no seu interior, destinada à lavagem dos copos durante uma refeição de cerimónia ou banquete, no século XVIII. 
Nessa época os copos nunca eram colocados sobre a mesa e era o criado ou copeiro que levava o copo com vinho, sobre uma salva, quando o conviva fazia sinal. Este, depois de beber o vinho simples ou com água, devolvia o copo ao criado. Como o número de copos era inferior ao número de convidados, e cada copo servia para várias pessoas, estes eram passados por água, para serem utilizados por outra pessoa.
Estas fontes são extremamente raras e o exemplar apresentado pertence ao Museu Victoria & Albert. É em prata e foi executada por Pierre Platel em 1713. Esta peça tem de altura 64 cm e pesa 12,8 Kg.
Platel foi um dos mais famosos ourives da sua época em Inglaterra. Foi o mestre do mais considerado ourives do século XVIII, Paul de Lamerie, francês huguenote que, tal como o seu mestre saíram de França para trabalhar em Inglaterra.

Esta fontes podiam fazer parte de um «serviço para servir vinho» constituído por um refrescador de grandes dimensões, em prata, colocado no chão, onde se introduziam as garrafas no gelo. Estes refrescadores faziam-se acompanhar por uma fonte do tipo da apresentada, que ficava colocada numa copeira e a que se associava uma cisterna semelhante ao refrescador mas de menores dimensões, destinada a receber a água de enxaguar os copos.

Apresenta-se um exemplo desse tipo de serviço para servir vinho da autoria de Anthony Nelme, datado de 1719-20. Foi feito para Thomas Parker, 1º conde de Macclesfield, Lord Chanceler de Inglaterra e apresenta as suas armas gravadas na prata.
Este tipo de fontes de vinho são diferentes das utilizadas como lavabos, para lavagem das mãos antes das refeições, embora o princípio seja o mesmo: um reservatório com torneira e uma taça para recolha da água. Igualmente do século XVIII são estas fontes em porcelana da China que fazem parte do espólio da Casa Museu Anastácio Gonçalves, que se apresentam como exemplos destes últimos. 
China, Dinastia Qing, Período Kangxi, CMAG,  invº 132-133
China, Dinastia Qing, Período Kangxi, CMAG, invº 182-183
Estes reservatórios de água são completamente diferentes, em forma e função, das «urnas para chá», bem como dos «samovares», utilizados para manter a água quente e de que falaremos noutra oportunidade. 

2 comentários:

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Extraordinário. A ideia de beberem vários pelo mesmo copo mas passado por água nos entretantos é, no mínimo, curiosa.

Ana Marques Pereira disse...

Sofia,
Isto de passar o copo por água era um requinte extraordinário, destinado a poucos. Não podemos esquecer que durante séculos várias pessoas comeram do mesmo prato/tigela. Bj