Talvez que a designação de
«Fonte de vinho» não seja a mais apropriada por se prestar a confusões. Pareceu-me
contudo mais adequada do que «Fonte para vinho» para traduzir a expressão «Wine
fountain».
Na realidade trata-se de uma
fonte com água no seu interior, destinada à lavagem dos copos durante uma
refeição de cerimónia ou banquete, no século XVIII.
Nessa época os copos nunca
eram colocados sobre a mesa e era o criado ou copeiro que levava o copo com
vinho, sobre uma salva, quando o conviva fazia sinal. Este, depois de beber o
vinho simples ou com água, devolvia o copo ao criado. Como o número de copos
era inferior ao número de convidados, e cada copo servia para várias pessoas,
estes eram passados por água, para serem utilizados por outra pessoa.
Estas fontes são
extremamente raras e o exemplar apresentado pertence ao Museu Victoria &
Albert. É em prata e foi executada por Pierre Platel em 1713. Esta peça tem de
altura 64 cm e pesa 12,8 Kg.
Platel foi um dos mais
famosos ourives da sua época em Inglaterra. Foi o mestre do mais considerado
ourives do século XVIII, Paul de Lamerie, francês huguenote que, tal como o seu mestre saíram de França para trabalhar em Inglaterra.
Esta fontes podiam fazer
parte de um «serviço para servir vinho» constituído por um refrescador de
grandes dimensões, em prata, colocado no chão, onde se introduziam as garrafas
no gelo. Estes refrescadores faziam-se acompanhar por uma fonte do tipo da
apresentada, que ficava colocada numa copeira e a que se associava uma cisterna
semelhante ao refrescador mas de menores dimensões, destinada a receber a água
de enxaguar os copos.
Apresenta-se um exemplo
desse tipo de serviço para servir vinho da autoria de Anthony Nelme, datado de 1719-20.
Foi feito para Thomas Parker, 1º conde de Macclesfield, Lord Chanceler de Inglaterra
e apresenta as suas armas gravadas na prata.
Este tipo de fontes de vinho são
diferentes das utilizadas como lavabos, para lavagem das mãos antes das
refeições, embora o princípio seja o mesmo: um reservatório com torneira e uma
taça para recolha da água. Igualmente do século XVIII são estas fontes em
porcelana da China que fazem parte do espólio da Casa Museu Anastácio Gonçalves,
que se apresentam como exemplos destes últimos.
China,
Dinastia Qing,
Período Kangxi, CMAG, invº 132-133
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China,
Dinastia Qing,
Período Kangxi, CMAG, invº
182-183
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Estes reservatórios
de água são completamente diferentes, em forma e função, das «urnas para chá»,
bem como dos «samovares», utilizados para manter a água quente e de que
falaremos noutra oportunidade.
2 comentários:
Extraordinário. A ideia de beberem vários pelo mesmo copo mas passado por água nos entretantos é, no mínimo, curiosa.
Sofia,
Isto de passar o copo por água era um requinte extraordinário, destinado a poucos. Não podemos esquecer que durante séculos várias pessoas comeram do mesmo prato/tigela. Bj
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