quinta-feira, 10 de abril de 2014

Um amolador nas ruas de Lisboa,

 
Estava em casa e ouvi o som característico da flauta de amolador. Há anos que o ouço mas nunca tinha falado com ele. Quando ia à janela já tinha desaparecido.
Hoje fui a correr e vi-o a tocar enquanto subi a rua com a bicicleta pela mão. Chamei-o e perguntei-lhe se amolava tesouras. Disse-me que sim e fui buscar uma tesoura de cabelo que nos últimos tempos não tem cortado bem.
Sentou-se na bicicleta e, parado, foi dando aos pedais movimentando a roda que afia as facas e tesouras. Quando terminou tocou à campainha e desci para lhe pagar. Antes porém mostrou-me como a tesoura estava bem afiada utilizando um pano velho que cortou em pedaços. 

Não resisti a pedir-lhe se me deixava fotografá-lo. Vão sendo raras estas profissões e não podia deixar de o fazer, lamentando não saber recolher o som. Em conversa soube que o sr. Simão tem 46 anos e há 30 que é amolador. Vive do lado de lá do rio e vem para Lisboa percorrendo a cidade. Na minha zona passa às 4ª feiras. Perguntei-lhe se ainda tinha clientes. Diz-me que se vai safando com os restaurantes. Não tem outra profissão e nos tempos que correm ninguém está bem. 


Subo com um sorriso nos lábios contente por ainda encontrar um profissional de antigos ofícios. As minhas ideias entrecruzam-se e lembro-me de uma conversa que tive ontem com um informático que me dizia que agora há novas profissões, como as pessoas que escrevem conteúdos de blogues para outros. Lembrei-me dos escritores fantasmas de livros de autores conhecidos que não sabem escrever uma frase e publicam best-sellers. São tempos de mudança.

4 comentários:

Susana Laires disse...

Em que zona mora?
Gostava muito de fazer uma reportagem sobre amoladores, mas está a ser difícil encontrar um que tenha uma rotina fixa...

Ana Marques Pereira disse...

Susana Laires,
Escreva-me para o mail garfadasonline@gmail.com
par lhe responder SFF.
Há algumas semanas apareceu um outro à 2º feira.

Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória disse...

Gostei do que li. Em criança, na minha aldeia, estes homens apareciam duas ou três vezes por ano. Na verdade, sempre em alturas do ano em que, ou estava a chover, ou tinha chovido, ou ia chover dentro em pouco. Recordações que ficaram, e que é bom recuperar. Obrigado.

Ana Marques Pereira disse...

Manuel,
Agora que o diz lembro-me também que quando era pequena e se ouvia o apito do amoladar alguém dizia: «Vai chover». Desconheço a relação. Obrigada.