Estava em casa e ouvi o som característico da flauta de amolador.
Há anos que o ouço mas nunca tinha falado com ele. Quando ia à janela já tinha
desaparecido.
Hoje fui a correr e vi-o a tocar enquanto subi a rua com
a bicicleta pela mão. Chamei-o e perguntei-lhe se amolava tesouras. Disse-me
que sim e fui buscar uma tesoura de cabelo que nos últimos tempos não tem
cortado bem.
Sentou-se na bicicleta e, parado, foi dando aos pedais
movimentando a roda que afia as facas e tesouras. Quando terminou tocou à
campainha e desci para lhe pagar. Antes porém mostrou-me como a tesoura estava
bem afiada utilizando um pano velho que cortou em pedaços.
Não resisti a pedir-lhe se me deixava fotografá-lo. Vão
sendo raras estas profissões e não podia deixar de o fazer, lamentando não
saber recolher o som. Em conversa soube que o sr. Simão tem 46 anos e há 30 que
é amolador. Vive do lado de lá do rio e vem para Lisboa percorrendo a cidade.
Na minha zona passa às 4ª feiras. Perguntei-lhe se ainda tinha clientes. Diz-me
que se vai safando com os restaurantes. Não tem outra profissão e nos tempos
que correm ninguém está bem.
Subo com um sorriso nos lábios contente por ainda encontrar
um profissional de antigos ofícios. As minhas ideias entrecruzam-se e lembro-me de uma conversa que tive ontem com um informático que me dizia que agora há
novas profissões, como as pessoas que escrevem conteúdos de blogues para
outros. Lembrei-me dos escritores fantasmas de livros de autores conhecidos que
não sabem escrever uma frase e publicam best-sellers. São tempos de mudança.
4 comentários:
Em que zona mora?
Gostava muito de fazer uma reportagem sobre amoladores, mas está a ser difícil encontrar um que tenha uma rotina fixa...
Susana Laires,
Escreva-me para o mail garfadasonline@gmail.com
par lhe responder SFF.
Há algumas semanas apareceu um outro à 2º feira.
Gostei do que li. Em criança, na minha aldeia, estes homens apareciam duas ou três vezes por ano. Na verdade, sempre em alturas do ano em que, ou estava a chover, ou tinha chovido, ou ia chover dentro em pouco. Recordações que ficaram, e que é bom recuperar. Obrigado.
Manuel,
Agora que o diz lembro-me também que quando era pequena e se ouvia o apito do amoladar alguém dizia: «Vai chover». Desconheço a relação. Obrigada.
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