quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O livro «Como devo governar a minha casa»

Devo dizer que, a princípio, nada me fazia estabelecer uma relação entre a italiana Giulia Ferraris-Tamburini e a portuguesa Virgínia de Castro Almeida.
Da condessa Giulia Tamburini pouco consegui saber para além de que publicou em Milão, para a editora Ulrico Hoepli, o livro «Come devo governare la mia Casa?», em 1898. 
Em 1900 a autora publicou «Come posso mangiar bene. Libro di cucina con oltre 1000 ricette di vivande comuni facili ed economiche per gli stomachi sani e per quelli delicati », que a iria tornar na primeira autora feminina de livros de culinária em Itália. Este facto não foi exclusivo deste país e, em toda a Europa, à excepção de Inglaterra, só neste período começaram a surgir livros de culinária saídos de mãos femininas. A vida estava a mudar, as criadas começavam a rarear e da mulher esperava-se que ocupasse então o papel de vários funcionários domésticos. A função de dona de casa passou a ser mais valorizada, mas exigia-se uma mulher mais culta e com múltiplos conhecimentos caseiros.
Nasciam as noções de Economia Doméstica que mais tarde seriam ensinadas nas escolas. No final do século XIX, na Europa, o ensino era dado pela leitura de livros de que é exemplo «Come devo governare la mia Casa?». O livro incluído na colecção «Biblioteca delle famiglia» fornecia ensinamentos sobre a forma de governar a casa, noções de etiqueta, como educar os filhos, sobre lavagem de roupa, receitas, utilidades, medicina doméstica, etc.
Quanto a Virgínia de Castro Almeida (1874- 1945), que em 1907 viria a dirigir a colecção Biblioteca para os meus Filhos e publicaria vários livros destinados a crianças, aceitou o convite da Editora Sá da Costa, para a tradução e adaptação do livro de Giulia Ferraris-Tambourini. Editado com o título «Como devo governar a minha casa», foi publicado em 1906. 
Na introdução a escritora revela o interesse do livro mas diz ter cortado capítulos inteiros, substituído outros e introduzido nova doutrina, de modo a adoptar a obra italiana ao meio português. Adaptando o texto ao que chamava a “vida peninsular” encarava a dona de casa como «administradora, esposa, mãe, enfermeira e senhora da sociedade».

O resultado foi um livro realmente diferente, ajustado à realidade nacional e onde não falta mesmo, nos “modelos de menus”, o caldo verde.

2 comentários:

Manuel Tomaz disse...

Bem necessário seria uma edição atual para os nossos tempos... Mas também seria necessária a vocação própria...

Ana Marques Pereira disse...

Manuel Tomaz,
Realmente nunca devem ter sido tão úteis estes conceitos, só que agora são aprendidos por necessidade.
Cumprimentos