quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Manzanilha, a camomila espanhola

 Foi esta caixa de lata dos anos 40-50, de que não encontrei qualquer informação, que me fez falar na manzanilha.
 Aprendi a palavra “manzanilla” nas minhas idas a Espanha quando, depois do jantar, e evitando o café que me provoca espertina, pedia «manzanilla». Na realidade o que eu pedia, nos primeiros tempos, era «té de manzanilla». O empregado arregalava os olhos e perguntava-me se era “chá” ou “camomila” porque em castelhano faz-se a distinção entre o chá verdadeiro (camelia sinenses) e as infusões de ervas, o que não acontece em Portugal. Quando percebi a diferença passei a pedir apenas «manzanilla» e tudo corria bem.
 Dá-se o nome genérico de Camomila a várias plantas da família  Asteraceae, em que se inclui a Camomila-vulgar (Matricaria recutita), também chamada simplesmente  Camomila, Camomila-alemã, Matricária ou Manzanilla, que é a que se usa para fazer infusões e a Camomila-romana (Chamaemelum nobile), também designada Camomila-de-Paris ou Macela, que a minha mãe usava quando eu era pequenina para me aclarar o cabelo.
 Como planta medicinal o seu uso tem uma longa história. Os antigos egípcios tratavam uma doença febril semelhante à malária com o chá de suas flores. Ficou muito conhecido também um tipo de vinho aromatizado com flores de camomila. Na Espanha, por exemplo, esse vinho era usado como digestivo.
 Embora eu desconfie de muitas das afirmações que são feitas a propósito de algumas plantas não há dúvida que a camomila é repousante e ajuda na digestão.

Em 26 de Janeiro de 2005 foi publicado no American Chemical Society’s Journal of Agricultural and Food Chemistry, um estudo sobre a variante Matricaria recutita, que usamos como chá. Foram feitas análises à urina a um grupo de voluntários antes e depois de beberem este chá, diariamente, durante duas semanas. Os investigadores detectaram que ingerir este chá provocava niveís urinários aumentados de hipurato, um produto de degradação de substancias fenólicas que estão relacionadas com o aumento da actividade antibacteriana. Isso explicaria a estimulação do sistema imune e a sua aplicação para contrariar as infecções.
Foram também encontrados níveis aumentados de glicina, um amino-ácido que se tem revelado anti-espasmódico muscular. Seria esse efeito que justificaria a sua eficácia nas dores menstruais. Surpreendentemente os níveis de hipurato e glicina mantiveram-se elevados durante duas semanas após a suspensão da ingestão desta infusão. 
Mas a glicina actua também como calmante e sedativo ligeiro, e essa é a principal razão porque é vendida.
 Devo dizer que neste caso não me fazia falta um artigo científico para confirmar um efeito que eu própria constatava. Mas dada a minha formação de medicina clássica, fica sempre bem  documentar as afirmações.

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