Há autores cujo nome nos é familiar e no entanto nunca o lemos ou vimos. Vem isto a propósito da obra «Le Livre de Cuisine de Mme E. Saint-Ange». O nome da autora não me era desconhecido. Devo-o ter ouvido há muitos anos e entretanto ficou no meu subconsciente.
Quando há dias comprei o livro, procurei saber mais sobre ele.
Madame Saint-Ange era o pseudónimo de Evelyn Ébrard, de seu nome de solteira, nome por que optou.
A primeira edição do livro foi publicada em França pelas Editions Larousse, em 1927.
É um livro “gordo”, de 1375 páginas, pormenorizado e representa o que de melhor se fazia nas boas casas francesas. Em oposição aos livros de cozinheiros, este é um bom exemplo do que se convencionou chamar cozinha burguesa do início do século XX.
É uma obra completa que abarca temas como as formas de cozinhar, molhos, sopas, ovos, carnes, peixes, legumes, entremeses, pastelaria, doces e bebidas. Tem cerca de 1300 receitas e traduzia a experiência já demonstrada pela autora, durante 20 anos, ao escrever uma coluna para a revista do marido “Le Pot-au-Feu” e também a sua prática profissional.
Apesar de escrito para as donas-de-casa foi um livro que influenciou vários chefes de cozinha, como Madeleine Kamman, ou Paul Aratow, um dos fundadores de Chez Panisse, que foi também o responsável pela tradução do livro para inglês. No entanto isso apenas se passou em 2005, o que significa que o livro, durante décadas, só esteve disponível para quem sabia ler francês. Foi também esta obra que influenciou Julia Child, na suas publicações iniciais.
O livro foi um enorme sucesso e, a pedido da própria Larousse, a autora fez uma versão mais simplificada intitulada «La Bonne Cuisine de Madame E. Saint-Ange». Este título, publicado em 1929, manteve reedições sucessivas até ao presente. A edição actual traz reproduzidas as notas que Julia Child escreveu em 1956 para o seu editor: «Este é o melhor livro de cozinha francesa que eu conheço».
Nos anos 50 a Larousse transformou o livro adicionando receitas da primeira edição e mantendo o título da segunda. É esta versão a mais divulgada, mas a verdadeira “bíblia” continua a ser a primeira edição.
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