terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um hotel de Niemeyer em Portugal

Quantos portugueses saberão que é na Ilha da Madeira que se situa a única obra portuguesa da autoria de Oscar Niemeyer? Presumo que poucos. É por isso que quero falar no Hotel Pestana Carlton Park.

Como todas as grandes obras só foi conseguida pela acção conjunta de várias pessoas excepcionais. O início da história teve lugar em Goa quando António Xavier Barreto, nos anos vinte, partiu com a sua mulher rumo a Moçambique. Na Beira, para onde foi viver dedicou-se a várias actividades antes de enveredar pelo negócio das madeiras, com o qual viria a enriquecer.
Quando em 1965 decide investir em Portugal, decide investir na Madeira onde adquiriu um casino falido.
É extraordinário que este homem venha a escolher Oscar Niemeyer para realizar o projecto de um novo casino e de um hotel anexo.

Desenho de Niemeyer no individual do pequeno-almoço
 Niemeyer, após várias tentativas desenha num papel um circulo radiado, o futuro casino, duas curvas paralelas, o futuro hotel e um rectângulo para o cine-teatro, hoje centro de congressos. Estava decidida a planta do complexo a construir numa escarpa da ilha, junto ao porto, que depois se revelaria um grande desafio de engenharia.
Com Niemeyer ausente foi o arquitecto Viana de Lima, os engenheiros José Lampreia e Madeira Costa que desenvolvem e acompanharam toda a consolidação da escarpa e a construção do complexo arquitectónico. Para a decoração interior do hotel colaboraram Eduardo Anahory, que já havia trabalhado no Hotel Ritz, e Daciano Costa.
O resultado desta acção conjunta foi um hotel de oito pisos dividido em dois corpos paralelos, assentes em pilares e um casino circular, que nos faz lembrar uma nave espacial que aterrou na Ilha da Madeira, apresentando semelhanças com a catedral de Brasília. Este liga-se ao hotel por uma rampa aérea, que serpenteia pelo jardim, até se transformar numa plataforma externa que se estende pelas fachadas laterais do hotel.
O casino
Dentro do hotel, no extenso lobby, sentimos-nos rodeados pela natureza, para todos os lados em que olhemos. As vidraças protegem-nos, mas permitem-nos ver o mar e a flora típica da ilha, que o envolve.
Do lobby podemos ver toda a zona aberta do restaurante, igualmente envidraçada e com vista para a piscina, que se encontra no mesmo plano. Descemos por uma rampa larga e sentimos a imensidão da sala.
Fotografar o hotel é um prazer inesgotável em qualquer dos seus ângulos. Descobrimos enquadramentos tão belos que transformam o comum dos mortais num grande fotógrafo.
Sentimos-nos subjugados pelo espaço, pela imensidão e pela modernidade antevista em 1966 por Niemeyer.

Sem necessidade de palavras percebemos de forma clara o que é um grande arquitecto. A estética conforta-nos a alma mas para além disso há ali uma “habitabilidade” do espaço que nem todos os arquitectos conseguem atingir.
Só havia tido uma sensação idêntica quando, há anos, visitei a capela de Santa Maria dos Anjos em Monte Tamaro, perto de Lugano, da autoria de Mario Botta.

Bibliografia: Santos, Carlos Oliveira, O nosso Niemeyer, Lisboa, Campo de Letras, 1991.

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