quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Chá Lipton

Mostro-lhes hoje esta interessante lata de chá Lipton. É uma lata de Orange Pekoe, com o peso de uma libra e foi feita para o mercado americano, onde foi vendida nos anos trinta. Não chegou a ser aberta e conserva o papel exterior em muito bom estado.
Nela se pode ver a foto do seu fundador, sir Thomas Lipton (1850-1931), aqui apresentado como plantador de chá no Ceilão. O seu desenho mostra-o com farda e chapéu de marinheiro numa alusão ao seu gosto por velejar. Foi essa paixão que o fez participar na regata mais famosa do mundo a “America’s Cup” entre os anos de 1899 e 1930.
Começando assim parece tratar-se de alguém nascido em berço de ouro, mas na realidade Lipton era oriundo de uma pobre família escocesa. Como tantos outros conterrâneos os seus pais imigraram para os Estados Unidos em meados do século XIX, levando o seu filho. Este trabalhou em vários ramos entre os quais uma mercearia, onde aprendeu alguns segredos da profissão que lhe valeriam uma mudança radical de vida.
Regressando à Escócia em 1869, abriu ao fim de dois anos a sua própria mercearia em Glasgow. Com o passar do tempo novas sucursais foram abrindo e de 20 lojas em 1880 passou para 300 em 1890.
Este sucesso ficou a dever-se à tenacidade do seu proprietário e ao uso de técnicas de publicidade, ainda nos seu primórdios, em que usou o serviço de um desenhador de nome Willie Lockhart.
Lipton começou por comercializar chá a preços mais baixos através de intermediários mas, em 1890, uma visita ao Ceilão (Sri Lanka), iria mudar o seu destino e o do comércio do chá. O Ceilão era famoso pela produção de café, aí introduzido pelos holandeses em 1740. Tanto o café como o preço dos terrenos de plantação no Ceilão estavam no seu máximo quando uma praga por fungos, que começou em 1869, arruinou a cultura do café em menos de 20 anos.
Quando em 1890 Lipton visita o Ceilão conhece James Taylor (1835-1892), um inglês que introduziu aí a cultura do chá. Lipton decide comprar várias propriedades a produtores falidos e, em conjunto com Taylor, desenvolvem a produção de chá em grande escala. A produção foi de tal modo grande que praticamente se abandonou a importação do chá da China, passando a ser substituída pela do Ceilão e da Índia. Na sua publicidade Lipton anunciava o seu chá: «Directamente dos Jardins do Chá para o Bule».
Os Estados Unidos tornaram-se o seu cliente principal e, só na Feira Mundial de Chicago, de 1893, foram vendidos mais de um milhão de pacotes. Pelo seu sucesso a rainha Victoria nomeou-o “Sir” em 1898 e em 1902 receberia o título de baronete.
Foi também nomeado “Fornecedor da Casa Real”, título que ostentava nas latas: “Fornecedor do rei Afonso, do rei e rainha de Itália e do rei Jorge V”. Por esta altura já Lipton recebia na sua bela casa de Londres a família real e a melhor sociedade.
Uma história de sucesso de um “self-made man” que todos gostam de ouvir e a explicação para a caixa de chá de proveniência americana.

4 comentários:

A.Teixeira disse...

É sempre um prazer ler estes postes, mas também é verdade que eles estabelecem um padrão de rigor que torna menos aceitáveis certas incorrecções que se lêem que, não perturbando o essencial da narrativa, sempre estão… incorrectas.

Assim, “a rainha Vitória NÃO nomeou Thomas Lipton “Sir” em 1898”. Esse tratamento por “Sir” não é objecto de uma nomeação específica mas é antes uma consequência da atribuição de uma Distinção com o grau de Knight (Cavaleiro), Knight Grand Cross (Cavaleiro Grã-Cruz) ou Knight Commander (Cavaleiro Comandante) de qualquer das Ordens britânicas – à época Jarreteira, Cardo, Banho ou São Miguel e São Jorge.

Sendo de origem escocesa, é provável que Sir Thomas Lipton (escreve-se sempre com maiúscula…) tenha passado a ser tratado assim depois de ter sido distinguido com o grau de Cavaleiro da Ordem do Cardo (Thistle) que é uma ordem originária da Escócia. Refira-se ainda que a atribuição do título de Baronete que ele recebeu posteriormente em 1902 dar-lhe-ia direito, só por si, ao tratamento por Sir…

Ana Marques Pereira disse...

A. Teixeira
Realmente seria mais correcto dizer que a rainha Victória o nomeou cavaleiro, o que lhe deu direito ao tratamento por Sir. Mas penso que se subentende.
Não consegui saber qual a ordem que lhe foi atribuída.
Obrigada pela tua leitura sempre atenta.

Carlos Caria disse...

Parabéns pelo excelente tratamento de imagens e texto. É sempre um prazer ler os seus trabalhos.
Abarço amizade
Carlos Caria

Ana Marques Pereira disse...

Carlos Caria,
Obrigado pelas suas palavras.
Um abraço