Ao folhear uma revista Modas e Bordados, de Novembro de 1935, deparei-me com um artigo enviado por uma correspondente em Londres, de nome Miss Edy Gray, intitulado «Aqui Londres». Tratava-se de uma pequena crónica em que dava notícias da corte inglesa e das últimas modas na capital britânica.
Entre as várias notícias podia ler-se: «os chás mais raros e perfumados como o Lapsang, o Souchong e o Orange Pekoe, são vendidos como a última moda do militarismo, nas montras que primam e se excedem em originalidade, metidos numa embalagem do feitio de balas, polvarinhos, com esta simples legenda sugestiva “Chá pólvora”».
Vista à distancia, e sabendo nós hoje que se estava num período entre duas guerras mundiais, esta moda do militarismo, levada até ao chá, choca-nos.
Parece também haver aqui alguma confusão. Na realidade o chá pólvora (gunpowder tea) é uma variedade de chá verde que nada tem a ver com alguns dos tipos de chá mencionados na notícia.
Este chá é originário da província de Zhejiang, na China, e o seu nome advém do facto de apresentar as folhas enroladas em pequenas pérolas. Era um trabalho manual, hoje feito por máquinas, de que resultam pequenas bolas escuras que parecem grãos de pólvora e daí o nome.
O início da sua produção data da dinastia Tang (618–907). Continuou a ser produzido na China mesmo após a Segunda Guerra Mundial, mas com o advento do comunismo passou de grande exportador de chá, com mais de 50% do consumo, para 6% de exportação mundial. O chá marroquino é um variante do chá pólvora, feito com uma mistura deste, a que se adiciona açúcar e folhas de menta. Para quem já o esperimentou, de preferência in loco, é uma agradável recordação.
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